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organização terrorista alemã Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Fração do Exército Vermelho (em alemão: Rote Armee Fraktion, pronunciado [ˌʁoː.tə aʁˈmeː fʁakˌt͡si̯oːn] (ⓘ) ou RAF, alemão: [ɛʁʔaːˈʔɛf] (ⓘ)), também conhecida como Grupo Baader-Meinhof,[1] (em alemão: Baader-Meinhof-Gruppe, Baader-Meinhof-Bande, alemão: [ˈbaːdɐ ˈmaɪ̯nˌhɔf ˈɡʁʊpə] (ⓘ)) foi uma organização guerrilheira alemã de extrema-esquerda, fundada em 1970, na antiga Alemanha Ocidental, e dissolvida em 1998. Um dos mais proeminentes grupos extremistas da Europa pós-Segunda Guerra Mundial, seus integrantes se autodescreviam como um movimento de guerrilha urbana comunista e anti-imperialista,[2] engajado numa luta armada contra o que definiam como um "Estado fascista".[3]
Fração do Exército Vermelho (Grupo Baader-Meinhof) | |
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Datas das operações | 1970 a 1998 |
Líder(es) | Primeira Geração Andreas Baader Gudrun Ensslin Ulrike Meinhof Horst Mahler Segunda Geração Siegfried Haag Brigitte Mohnhaupt Christian Klar Terceira Geração Wolfgang Grams Birgit Hogefeld |
Motivos | Revolução do proletariado, resistência armada ao Estado alemão considerado fascista |
Área de atividade | Alemanha Ocidental |
Ideologia | Comunismo Marxismo-leninismo Maoismo Antifascismo |
Principais ações | Assaltos, assassinatos, sequestros, atentados à bomba |
Ataques célebres | Outono Alemão Ataque à embaixada alemã em Estocolmo Ataque ao QG do Exército dos Estados Unidos na Alemanha |
Status | Extinto desde 1998 |
A RAF foi formada no início dos anos 70 por Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhof e Horst Mahler. Durante seus 28 anos de existência, nos quais contou com três gerações diferentes de integrantes, o popularmente assim chamado Grupo Baader-Meinhof foi responsável por inúmeras operações de guerrilha e atentados na Alemanha, especialmente os cometidos no segundo semestre de 1977, já por sua segunda geração de militantes, que levou a uma crise institucional no país conhecida como Outono Alemão. Durante três décadas de operações, o grupo foi responsabilizado por 34 mortes,[4] incluindo alvos secundários como motoristas e guarda-costas, e centenas de ferimentos em civis e militares, nacionais e estrangeiros em território alemão, além de milhões de marcos em danos ao patrimônio público e privado.
A organização sempre referiu-se a si própria como Fração do Exército Vermelho. Os termos Grupo Baader-Meinhof ou Bando Baader-Meinhof, pelos quais ficaram popularmente conhecidos e temidos, vem da designação dada a eles pela mídia alemã, como maneira de evitar a legitimização do movimento como organização política verdadeira, tratando-os apenas como uma associação criminosa comum. Apesar de Ulrike Meinhof, uma de suas fundadoras, não ter tido verdadeiramente uma posição de liderança intelectual dentro da cúpula da organização, papel este exercido por Gudrum Ensslin,[5] ela passou a ser designada como Baader-Meinhof após o resgate de Andreas Baader da prisão onde se encontrava, em maio de 1970, por um comando liderado por Meinhof, já uma nacionalmente conhecida jornalista, escritora, documentarista e militante radical de esquerda, que a partir dali entrou na clandestinidade e na luta armada. A organização teve três encarnações sucessivas, a primeira consistindo de Andreas Baader e seus associados, quase todos mortos ou presos já na segunda metade dos anos 70; a segunda, que operou a partir da prisão dos principais líderes e fundadores até o fim da década, formada por ex-integrantes de grupos de militância estudantil radical como o SPK (Sozialistisches Patientenkollektiv), nascido na Universidade de Heidelberg em 1970, que se juntaram aos remanescentes do grupo original; e a terceira geração, que operou nos anos 80 e 90.
Em 28 de abril de 1998, uma carta de oito páginas, datilografada em alemão, foi enviada à agência de notícias Reuters, assinada com o logotipo da RAF - com a metralhadora MP5 sobre a estrela vermelha - comunicando o fim das atividades do grupo, depois de 28 anos de existência como organização.[6] Em 2008, dez anos após sua extinção, o filme alemão Der Baader Meinhof Komplex foi lançado mundialmente - e concorreu ao Oscar[7] e ao Globo de Ouro[8] de melhor filme em língua estrangeira - pretendendo jogar luzes sobre o grupo e sua história para as gerações presentes e futuras.
“ | Eles vão nos matar a todos. Vocês agora sabem o tipo de porcos contra os quais nós estamos lutando. Esta é a geração de Auschwitz. Você não pode dialogar com as pessoas que criaram Auschwitz. Eles tem armas e nós não. Nós precisamos nos armar! | ” |
— Gudrun Ensslin, falando após a morte do estudante Benno Ohnesorg por um policial, durante uma manifestação estudantil em junho de 1967, contra a visita do Xá do Irã a Berlim[9]. |
As raízes da RAF podem ser encontradas no movimento estudantil alemão dos anos 1960. Nações industrializadas do fim da década experimentavam o aparecimento de movimentos culturais ortodoxos, produto do amadurecimento da geração dos baby boomers - as crianças nascidas depois do fim da II Guerra Mundial - da Guerra Fria e do fim do colonialismo. Novas subculturas como as comunas e assuntos como racismo, movimentos feministas e anti-imperialismo, estavam na linha de frente das preocupações das políticas de esquerda. Muitos jovens viviam alienados de suas famílias e descrentes das instituições do Estado.
Inicialmente centrados na crítica à instituição universitária, os estudantes alemães da época viraram suas atenções para eventos internacionais, como a Guerra do Vietnã, a pobreza no Terceiro Mundo e a questão da energia nuclear. Eles criticavam igualmente aquilo que lhes parecia ser a relutância da sociedade alemã em confrontar-se com seu passado nazista. Para alguns, o Estado que vigorava na República Federal da Alemanha era uma continuação do antigo Reich. O legado histórico do nazismo havia criado uma fenda entre as gerações e aumentado a suspeita de estruturas autoritárias na sociedade. Na juventude esquerdista alemã, havia raiva com as falhas no processo de desnazificação da Alemanha no pós-guerra, visto como ineficiente.[10][11] O Partido Comunista alemão havia sido posto fora da lei desde 1956.[12] Cargos eletivos e não-eletivos da administração pública, dos mais altos a nível nacional até pequenos cargos municipais, eram frequentemente ocupados por ex-nazistas. Até o primeiro chanceler da então Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer, tinha um antigo nazista em seu gabinete.[13] A mídia conservadora era vista por eles como tendenciosa, controlada por empresários como Axel Springer - dono do tablóide sensacionalista Bild-Zeitung e do jornal Die Welt, entre os de maior circulação na Europa - um implacável oponente do radicalismo estudantil.
Alguns dos homens e mulheres que viriam a fundar e exercer funções importantes na RAF já tinham envolvimentos esquerdistas anteriores: a jornalista Ulrike Meinhof possuía uma antiga relação com o Partido Comunista; Holger Meins estudava cinema e era um veterano das revoltas em Berlim, seu curta-metragem Como Produzir um Coquetel Molotov tinha sido visto por grandes platéias; Jan-Carl Raspe vivia em comunas há longo tempo; Horst Mahler, já um advogado estabelecido, era um dos líderes dos protestos e marchas contra os jornais de Springer desde o começo e defendia causas pró-direitos humanos.[14] Por suas próprias experiências socioeconômicas na vida alemã, eles logo seriam profundamente influenciados pelo Leninismo e o Maoismo, depois definindo-se com um grupo marxista-leninista. Uma crítica contemporânea da visão que o Baader-Meinhof tinha do Estado, publicada numa edição pirata do jornal francês Le Monde diplomatique lhes atribuía um 'fetichismo do Estado' - uma leitura obsessiva e ideologicamente errada da dinâmica da burguesia e da natureza e do papel do Estado nas sociedades ocidentais pós-guerra, incluída a Alemanha Ocidental.[15]
Muitos dos pensadores radicais da época sentiam que os legisladores alemães continuavam a criar leis autoritárias e que a aparente aquiescência da sociedade a isso, era uma continuidade da doutrinação que os nazistas haviam feito sobre a população trinta anos atrás. A Alemanha Ocidental, então já uma das economias mais ricas da Europa, estava exportando armas para ditadores africanos e reestruturando seu próprio rearmamento com uma ferrenha posição pró-Estados Unidos contra o Pacto de Varsóvia.
Fatos subsequentes catalisariam a situação que causou a formação da RAF. Em 2 de junho de 1967 o Xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi, realizou uma visita oficial à cidade de Berlim. O movimento estudantil aproveitou a ocasião para efetuar uma manifestação de protesto contra as violações de direitos humanos que aconteciam no Irã, denunciando o descaso que o Xá e a sua esposa, a imperatriz Farah Diba, demonstravam perante as classes mais desfavorecidas de seu país. Nesta mesma noite, após um dia inteiro de manifestações de exilados iranianos na Alemanha, apoiados pelos estudantes, centenas de manifestantes concentraram-se junto à Ópera de Berlim, onde o casal real deveria comparecer a um espectáculo. A manifestação, a princípio pacífica, desembocou em violência entre estudantes, seguranças do Xá e a polícia, ao fim da qual um estudante, Benno Ohnesorg, casado e com a esposa grávida, foi morto a tiros por um policial, Karl-Heinz Kurras, mais tarde inocentado de todas as acusações e em 2009 exposto como antigo agente duplo da Stasi, o serviço secreto da Alemanha Oriental.[16] Sua morte, ao lado das manifestações contra a Guerra do Vietnã e a percepção de que o país se tornava um estado policial, galvanizou a juventude esquerdista alemã. Entre os líderes dos manifestantes naquele dia, encontrava-se Gudrun Ensslin, uma estudante de literatura alemã e inglesa na Universidade Livre de Berlim que, indignada com a morte de Ohnesorg, discursou aos estudantes dizendo que 'a única forma de responder à violência seria com violência'.[9] Até então, o monopólio da violência estatal nunca havia sido posto em questão por oposicionistas alemães desde 1945.
No começo de 1968, Gudrun, separada do marido e mãe recente, conheceu Andreas Baader, um carismático militante de esquerda vindo de Munique, onde tinha ficha policial por pequenos crimes comuns, que se tornaria seu namorado. Juntos, decidem alastrar sua contestação ao sistema com algum ato simbólico e deixam Munique em direção à Frankfurt, acompanhados de dois companheiros de militância, Thorwald Proll e Horst Söhnlein. Em 2 de abril, ateiam fogo a duas lojas de departamentos da cidade, provocando incêndios sem vítimas mas com grande prejuízo material. Logo após os incêndios começarem, Ensslin telefona para uma agência de notícias e comunica: "Foi um ato de vingança política!". Dois dias depois são presos.[17]
Por outro lado, uma semana depois, o mais conhecido orador do movimento estudantil, Rudi Dutschke, amigo de Gudrun mas adepto da não-violência, sofre uma tentativa de assassinato levando um tiro no rosto no meio da rua, dado por um estudante de extrema-direita, Josef Bachmann, e apesar de sobreviver sofre sequelas permanentes até sua morte anos mais tarde, depois de ajudar a fundar o Partido Verde Alemão.[18] Os estudantes colocam a culpa da tentativa de homicídio em Axel Springer e nos jornais da extrema-direita, que a seu ver insuflavam os conservadores contra Rudi, com manchetes como "Parem Dutschke!"[19] e convergem para a sede da Springer AD, a editora dos jornais e revistas do Springer, fazendo uma barreira de carros na porta, impedindo a saída e entrada de pessoas e caminhões de distribuição da empresa e entrando em choque com a polícia. Ulrike Meinhof está lá, anotando o que vê, junto a um de seus jovens editores da Konkrete - Stefan Aust, mais tarde biógrafo da RAF- a revista de esquerda para a qual escrevia e editava, e lhe é sugerido que participe do protesto também usando seu carro como barricada. Ulrike ainda não está certa se quer participar efetivamente das manifestações que ocorrem contra o Sistema mas mesmo assim concorda em colocar seu carro como último veículo das dezenas de automóveis que impedem o acesso à editora. Presa, convence os policiais que é culpada apenas de ter estacionado mal para cobrir a manifestação e é solta. Este foi seu primeiro ato físico contra o Estado. Não seria o último.[17] Em sua coluna na Konkret, escreve: "Se alguém incendeia um carro, isso é um crime comum. Se alguém incendeia centenas de carros, isso é um protesto político".[20]
“ | A Segunda Guerra Mundial tinha terminado apenas há 20 anos. Os que comandam a polícia, as escolas, o governo, eram as mesmas pessoas que estavam no comando durante o nazismo. O chanceler, Kurt Georg Kiesinger, era um ex-nazista. As pessoas só começaram a discutir isso nos anos 60. Nós éramos a primeira geração nascida desde a guerra, e estávamos fazendo perguntas aos nossos pais. Por causa do passado nazista, tudo de ruim era comparado ao Terceiro Reich. Se você ouvia falar de brutalidade policial, diziam que era igual à SS. No momento em que você vê seu próprio país como a continuação de um Estado fascista, você se dá a permissão de fazer quase qualquer coisa contra ele. Você vê as suas ações como a resistência que seus pais não tiveram. | ” |
Os quatro incendiários foram condenados a três anos de prisão por incêndio provocado e por colocarem a vida humana em perigo.[17] Entretanto, em junho de 1969, eles receberam uma condicional temporária, revogada em novembro de mesmo ano, quando foram intimados a reapresentarem-se para cumprir o resto da pena. Dos quatro, apenas Horst Söhnlein acatou a ordem do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, enquanto Baader, Ensslin e Thorwald Proll fugiram para Paris, onde durante algum tempo, com a ajuda da irmã de Thorwald, Astrid Poll, se refugiaram num apartamento de propriedade do jornalista e revolucionário Régis Debray[22] famoso por sua amizade com Che Guevara e por seus trabalhos teóricos sobre a criação de focos de guerrilha urbana. Dali, eles mudaram-se para a Itália onde foram visitados por Horst Mahler, seu advogado no caso dos incêndios, que os encorajou a voltarem juntos para a Alemanha e fundarem um grupo guerrilheiro, nos mesmo moldes dos Tupamaros no Uruguai.[23]
De volta ao país, vivendo na clandestinidade com Gudrun e com os laços estreitados com Meinhof - a quem pediu abrigo na própria casa e foi apresentado junto com Gudrun às filhas pequenas dela como "tio Hans" e "prima Grete"[23] - Andreas Baader acabou sendo novamente preso numa batida policial portando documentos falsos em 3 de abril de 1970, quando se dirigia, com Astrid Poll, a irmã de Thorwald, já integrante do grupo, para um suposto depósito de armas enterrado num cemitério. Na prisão de Tegel, Andreas foi visitado por vários membros do grupo, disfarçados ou com a identidade própria como Ulrike Meinhof, trabalhando com jornalista. O objetivo de Gudrun era libertar o namorado de qualquer maneira e o plano criado surgiu com a possibilidade levantada de Meinhof - ainda com uma vida normal de profissional reconhecida - conseguir um encontro dela com Baader no Instituto para as Questões Sociais, em Berlim, um local onde presos podiam ter acesso à biblioteca, para uma entrevista e a confecção de um livro com Baader. Mesmo relutante, por entender que a partir dali sua vida de mãe de duas filhas com uma profissão estável chegaria ao fim, Meinhof concordou com o plano. Na data marcada, 14 de maio de 1970, enquanto Baader e Meinhof encontravam-se na sala de leitura, escoltados por guardas, um grupo formado por Gudrun, Astrid, Ingrid Schubert,[24] Irene Goergens e Peter Homann,[25] entrou no local armado, ocorrendo um tiroteio no qual um dos guardas foi ferido e os outros rendidos. Baader e o grupo fugiram pela janela da sala e Meinhof seguiu-os, caindo na clandestinidade.
No dia seguinte, cartazes começaram a aparecer pelo país com a fotografia de Baader e Meinhof e os jornais de Axel Springer traziam a notícia em manchete, chamando o grupo de Gang Baader-Meinhof, pelo qual ficariam popularmente conhecidos. O filme Bambule, com roteiro de Meinhof, sobre a vida de jovens mulheres num reformatório e programado anteriormente para estrear na televisão alemã dez dias depois da fuga, é retirado da grade de programação.[26] Em 2 de julho, o jornal anarquista 833 publica um manifesto do grupo, que assina com o nome oficial de Rote Armee Fraktion (Fração do Exército Vermelho) pela primeira vez.[27]
“ | O Grupo Baader-Meinhof teve um apoio popular que esquerdistas violentos dos Estados Unidos, como o Weather Underground, jamais conseguiram. Uma pesquisa popular feita nos primeiros anos de sua atividade, mostrou que 1/4 dos alemães com menos de 40 anos tinham simpatia por eles e 1/10 destas pessoas confessavam que esconderiam seus membros de fosse necessário. Quando a RAF começou a assaltar bancos, telejornais comparavam seus membros a Bonnie & Clyde. Andreas, um carismático do tipo psicopata, reforçava a imagem dizendo que seus filmes favoritos eram Bonnie & Clyde e A Batalha de Argel. O icônico cartaz de Che Guevara era pendurado em sua parede, enquanto ele pagava a um desenhista para criar a marca da RAF, a submetralhadora MP5 sobre a estrela vermelha. Proeminentes intelectuais falavam da justiça dos atos praticados pelos membros da gangue, quando a sociedade alemã dos anos 70 ainda era uma sociedade baseada na culpa coletiva. | ” |
Depois da fuga e antes das ações armadas que empreenderiam, Baader, Meinhof e Ennslin foram para a Jordânia através da Alemanha Oriental, acompanhados de outros militantes, onde participaram de treinamento de guerrilha num campo da Frente Popular para a Libertação da Palestina, comandados por Ali Hassan Salameh, criador do grupo terrorista palestino Setembro Negro,[28] durante o verão europeu de 1970. De regresso à Alemanha, eles planejaram e realizaram assaltos conjuntos a três bancos na mesma hora para arrecadar dinheiro e armas. Também foram realizados ataques à bomba contra instalações militares dos Estados Unidos, postos policiais e edifícios do império jornalístico de Axel Springer, além da tentativa de assassinato de um juiz. Novos recrutas uniram-se à organização: Jan-Carl Raspe, Marianne Herzog e 'Ali' Jansen. Num período de dois anos, o Baader-Meinhof assaltou bancos, roubou carros, falsificou documentos, colocou bombas no centro de Inteligência Militar do Exército dos Estados Unidos em Frankfurt am Main, em instalações militares em Heidelberg e em centrais de polícia em Augsburg e Munique.[29]
Em setembro de 1970, um dos fundadores e líderes da facção, o advogado Horst Mahler, é surpreendido numa tocaia policial a um apartamento em Berlim com outros integrantes do grupo e preso. No início de 1971, Ulrike Meinhof publica clandestinamente seu livro-manifesto, O Conceito da Guerrilha Urbana, influenciada pelo Minimanual do Guerrilheiro Urbano, do líder comunista brasileiro Carlos Marighella, publicado em 1969, que, entre outros, também influenciou as táticas de guerrilhas das Brigadas Vermelhas, na Itália.[30] A RAF continua seus atentados durante o ano, em que vários de seus membros são presos ou mortos. Os carros BMW roubados, preferidos para os assaltos a bancos, passam a ser tão identificados com a organização que os populares o apelidam jocosamente de "Baader-Meinhof Wagen".[31] Dirigindo um destes carros, um BMW 2002, Petra Schelm, uma das primeiras a se juntar aos líderes da RAF e com treinamento na Jordânia, morre numa troca de tiros com polícia em Hamburgo, com 20 anos de idade. Caçados pelo governo e temidos pela população em geral, sua aceitação em certos círculos da sociedade, entretanto, continuava em alta. O Baader-Meinhof começou a ser aceito, senão admirado, por liberais 'livres de culpas' que viam seu suposto brio como uma crítica contracultural violenta à 'aborrecida vida burguesa alemã', e que se ressentiam da associação de seu país com os esforços dos norte-americanos na Guerra do Vietnã.[32] O Prêmio Nobel de Literatura Heinrich Böll, publica uma carta na revista Der Spiegel - a de maior circulação na Alemanha[33] - em que critica violentamente os jornais sensacionalistas de Springer, por afirmarem em manchetes que a RAF havia assassinado um policial sem que houvesse qualquer indício disso e escreve que a cobertura deste tipo de imprensa sobre a RAF "não é mais somente cripto-fascista, nem fascistoide, é fascismo nu e cru, agitação, mentiras e sujeira". A carta criou grande polêmica na sociedade, com a revista recebendo enorme número de cartas de leitores apoiando o texto de Pöll e o Baader-Meinhof, assim como tantas outras criticando e demonizando o grupo. Com a descoberta posterior de que a RAF havia realmente assassinado o policial, o escritor ficaria para sempre marcado como um simpatizante de terroristas.[34]
Em maio de 1972, a RAF comete alguns de seus mais sangrentos atentados: em Frankfurt, Baader, Ensslin, Jan-Carl Raspe e Holger Meins, auto-denominando-se 'Comando Petra Schelm', colocam três bombas de efeito retardado no edifício central do QG do Exército dos Estados Unidos na Alemanha. As bombas destroem o lugar e matam um tenente-coronel norte-americano, condecorado no Vietnã. Assumindo a responsabilidade, o Baader-Meinhof emite um comunicado exigindo a fim da colocação de minas pelos Estados Unidos nos portos do Vietnã do Norte.[34] No dia seguinte, Angela Luther e Irmgard Möller colocam duas bombas de retardo dentro da central de polícia de Augsburg deixando cinco policiais feridos.[34] Um carro-bomba é deixado por Baader no estacionamento do Departamento Nacional de Investigações Criminais em Munique e explode destruindo 60 veículos. Por seu lado, Ulrike Meinhof, acompanhada de três militantes - entre eles a estudante secundária Ilse Stachowiak, que se juntou à RAF com apenas 16 anos,[35] coloca seis bombas escondidas em mochilas nos escritórios da editora Springer em Hamburgo. Apesar de serem avisados com antecedência por telefone para deixarem o prédio, as telefonistas não levam a sério a ameaça. Três delas explodem e 17 funcionários da editora são feridos. No dia 24 de maio, as mesmas Möller e Luther que bombardearam a delegacia de Augsburg dias antes, deixam 25 quilos de explosivos dentro de um carro no estacionamento do Comando Europeu Supremo do Exército dos Estados Unidos em Heidelberg. O carro explode, destrói a parede externa do clube dos oficiais e mata três militares instantaneamente, um deles cortado ao meio pela força da explosão. Dois dias depois, o Baader-Meinhof distribui um comunicado assumindo o atentado em 'resposta aos bombardeios norte-americanos no Vietnã'.[34]
A caçada humana realizada pela polícia alemã finalmente consegue resultados no mês seguinte, quando toda a direção e os principais militantes da RAF são presos em um espaço de quinze dias:
Em princípio aprisionados em locais diferentes da Alemanha, quase todos em celas de isolamento total como Ulrike Meinhof, que passou oito meses sem contato com ninguém do mundo exterior na prisão de Ossendorf, em Colônia, a partir de 1974 os principais líderes do grupo foram todos encarcerados na mesma prisão, o presídio de segurança máxima de Stammheim, em Stuttgart. Nesta prisão fora construída especialmente uma ala para abrigar os membros do grupo Baader-Meinhof, ligada a um anexo onde também foram construídas as instalações de um tribunal, ao custo de milhões de marcos, de maneira que eles não precisassem ser removidos do presídio durante as audiências de seu julgamento. Para protestar contra as condições da prisão e o confinamento em isolamento a que foram submetidos - que chegou a provocar protestos da Anistia Internacional contra o governo alemão[36] - antes e depois de Stammheim os presos fizeram várias greves de fome, sendo eventualmente alimentados à força - amarrados a mesas e com tubos enfiados na garganta[37] - e, numa delas, Holger Meins morreu, pesando menos de 40 quilos, em 9 de novembro de 1974, em sua cela na prisão de Wittlich.[38] Os protestos públicos resultantes disso levaram as autoridades a afrouxarem as condições em Stammheim, permitindo um maior contato entre os presos. Pouco depois de sua morte, por insistência de Meinhof, o governo permite que o filósofo francês Jean-Paul Sartre visite e entreviste Andreas Baader na prisão.[39] O motorista e intérprete de Sartre é Hans Joachim Klein, que em dezembro de 1975 tomará parte no sequestro dos ministros da OPEP, em Viena, integrando o grupo guerrilheiro de Carlos, o Chacal.[40] No dia 28 de novembro, Ulrike Meinhof é sentenciada a oito anos de prisão por sua participação na libertação de Baader, em maio de 1970, e em janeiro do ano seguinte o Legislativo promulga leis de exceção, as "Leis Baader-Meinhof", entre elas a que permite que os juízes impeçam que advogados que tenham qualquer ligação com a organização possam atuar na defesa de seus integrantes, e as que permitem que os julgamentos continuem independentemente da ausência no tribunal de qualquer deles.[36]
Foi neste período que a assim chamada segunda geração da RAF começou a emergir, depois da reorganização da facção feita pelo advogado e simpatizante Siegfried Haag,[41] entre os sobreviventes em liberdade com integrantes de outros grupos simpatizantes da RAF. Em fevereiro de 1975, um grupo sequestra o candidato a prefeito de Berlim Ocidental Peter Lorenz,[42] três dias antes das eleições e exige a libertação de seis prisioneiros, inclusive o fundador Horst Mahler, o que está há mais tempo preso entre os ex-dirigentes da organização. Mahler, já com suas convicções mudadas sobre o papel da RAF na luta contra o Estado, declina da oferta mas os outros, nenhum deles acusado por crimes de sangue, são libertados pelo governo e enviados a Aden, no Iémen. Lorenz é libertado no dia seguinte.[41]
Em 24 de abril de 1975, um grupo de seis militantes da RAF, escolhidos por Haag e comandados por Siegfried Hausner, de 23 anos, invade a embaixada alemã-ocidental em Estocolmo, e faz onze reféns, entre eles o embaixador alemão. Pelo resgate dos reféns, o grupo exige a libertação de todos os líderes do Baader-Minhof presos em Stammheim, além de outros militantes. Desta vez o governo alemão não se mostra disposto a negociar, o que faz com que os guerrilheiros matem dois reféns, o adido militar e o adido econômico. Com a embaixada toda minada pelos invasores, durante a noite, acidentalmente, uma carga de trinitrotolueno (TNT) explode, matando um terrorista, e na confusão que se segue a polícia sueca invade o prédio e liberta os reféns, prendendo os sequestradores.[41] No dia 21 de maio, começa o julgamento - que seria o mais longo da história da Alemanha Ocidental - de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhoff e Jan-Carl Raspe, todos presos em Stammheim.
Em 9 de maio de 1976, ainda durante o período de julgamento e quando se festejava o Dia das Mães na Alemanha, Ulrike Meinhof foi encontrada morta em sua cela, enforcada com uma corda improvisada de uma toalha. A investigação oficial concluiu que se tratara de suicídio, laudo contestado por acusações públicas de que a jornalista havia sido assassinada. Massivas demonstrações de protesto de esquerdistas ocorreram por todo o país e bombas explodem em Nice e Paris, na França e na base da Força Aérea dos Estados Unidos em Frankfurt.[43] Nos últimos tempos em que esteve presa, entretanto, Ulrike estava deprimida por conflitos internos com os outros integrantes da organização, que a relegaram ao ostracismo no grupo.[44] Apesar disso, Jan-Carl Raspe declarou de público em corte, que eles acreditavam que ela havia sido assassinada e que as difíceis relações entre ela e Baader-Ensslin na prisão, não eram qualquer evidência de que ela quisesse se suicidar.[43]
Ulrike foi enterrada em Berlim, entre milhares de simpatizantes e discursos de intelectuais de esquerda. O poeta Erich Fried enviou para as cerimônias do funeral um telegrama chamando-a de "a maior mulher da Alemanha desde Rosa Luxemburgo".[45] Algumas décadas após sua morte veio à tona a notícia de que seu cérebro fora retirado pelos patologistas antes do enterro, sem conhecimento da família, e conservado durante vinte e seis anos em formol para estudos num hospital de Magdeburg.[46] Sua filha, a jornalista Bettina Röhl, moveu uma ação contra o Estado e o cérebro foi enterrado na sepultura junto com os restos de Ulrike em 2002.[47]
Após a morte de Meinhof, algumas das integrantes do Baader-Meinhof foram transferidas para a prisão de Stammheim, entre elas Brigitte Mohnhaupt e Irmgard Möller. Monhaupt, presa desde junho de 1972, é libertada em fevereiro de 1977, após cumprir quase cinco anos da sentença por porte ilegal de armas, falsificação de documentos e associação criminosa. Treinada por Baader e Ensslin para assumir a liderança da RAF em liberdade, depois da prisão de Siegfried Haag em fins de 1976,[48] ela imediatamente volta à clandestinidade, e passa a comandar a segunda geração de militantes, com o objetivo de realizar ações para libertar seus companheiros. As ações deste grupo, principalmente durante a segunda metade de 1977, ficariam conhecidas na história da Alemanha Ocidental como Outono Alemão, quando sequestros e assassinatos em série levaram a uma crise sem precedentes no país.
Finalmente, em 28 de abril de 1977, depois de 192 dias de julgamento e a um custo de quinze milhões de dólares, Andreas Baader, Gudrum Ensslin e Jan-Carl Raspe são declarados culpados de quatro assassinatos, trinta tentativas de homicídio e de formação de organização terrorista, sendo conjuntamente sentenciados à prisão perpétua.[49] Três semanas antes, uma dupla da RAF, em uma motocicleta, emboscou e matou o procurador-geral da República Federal da Alemanha, Siegfried Buback, numa avenida da cidade de Karlsruhe, em Baden-Württemberg, perto da fronteira francesa.[50] O atentado abriu uma série de crimes da RAF, e foi seguido da tentativa de sequestro e do assassinato do presidente do Dresdner Bank, Jürgen Ponto, em sua villa ao norte de Frankfurt, concebido e perpetrado por Monhaupt, Christian Klar e Susanne Albrecht, uma integrante da RAF amiga da família Ponto e afilhada do banqueiro.[51]
Em 5 de setembro, o mais importante homem de negócios e símbolo do capitalismo alemão,[52] Hanns-Martin Schleyer, presidente da Federação de Empregadores da Alemanha e da Confederação das Indústrias alemã, foi sequestrado num atentado sangrento em Colônia, no qual seus guarda-costas e seu motorista foram metralhados pelo comando do Baader-Meinhof,[53] integrado entre outros por Peter-Jürgen Boock e Sieglinde Hofmann. Schleyer, um ex-nazista e ex-oficial da SS que após a guerra galgou a hierarquia econômica e social do país até se tornar um dos homens mais importantes da Alemanha e um símbolo da continuidade entre o Terceiro Reich e a estrutura do poder na Alemanha pós-guerra,[52] era um dos alvos da esquerda alemã em seus protestos e críticas desde a década anterior. Uma carta dos sequestradores foi divulgada, na qual a libertação de onze presos políticos era exigida em troca de sua vida, entre eles, todos os líderes da RAF. Seu sequestro provocou uma grande crise no governo e um comitê de emergência foi formado pelo chanceler Helmut Schmidt em Bonn, de maneira a criar táticas para alongar as negociações, permitindo que a polícia tivesse tempo de localizar o cativeiro de Schleyer.
Enquanto isso acontecia, os presos de Stammheim eram submetidos a um completo isolamento em suas celas, com o contato mútuo proibido e recebendo visitas apenas de funcionários do governo e do capelão da prisão.
A crise arrastava-se há mais de um mês, sem o governo ceder e com Schleyer sendo levado em cativeiro para países diferentes, quando, no dia 13 de outubro, o Boeing 737 que fazia o voo 181 da Lufthansa entre Palma de Maiorca, na Espanha, e Frankfurt, na Alemanha, é sequestrado com mais de 90 pessoas a bordo.[49] O sequestro, levado a cabo por quatro membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina, em cooperação com os integrantes da RAF que capturaram Schleyer, foi realizado para reforçar a exigência pela libertação dos presos alemães, mais a libertação de dois terroristas palestinos presos na Turquia e quinze milhões de dólares.
Durante quatro dias, o mundo e os líderes da RAF, em suas celas de Stuttgart, acompanharam a rota do avião sequestrado, desviado primeiro para Roma, depois Chipre, Barém, Dubai, Aden, no Iémen, onde o piloto da aeronave, Jürgen Schumann, foi assassinado em 16 de outubro[49] e finalmente pousando em Mogadíscio, na capital da Somália, pilotado pelo co-piloto Jürgen Vietor e onde o corpo de Schumann foi jogado na pista. Enquanto isso acontecia, Baader, Gudrun Ensslin e demais prisioneiros em Stammheim, completamente isolados em suas celas por um anteparo de madeira colado às portas que vedava qualquer ruído vindo do exterior, acompanhavam a evolução do sequestro pelo rádio, num sistema criado por Baader usando a fiação da tomada da cela.[49]
Na noite de 17 de outubro de 1977, o comando antiterrorista GSG 9, grupo de elite da polícia federal alemã, levado em segredo até a Somália enquanto as negociações se desenrolavam, invade o avião sequestrado, mata três dos quatro palestinos e liberta todos os passageiros e tripulantes.
O que acontece nas horas posteriores em Stammheim é motivo de controvérsia até os dias de hoje e ficou conhecido como A Noite da Morte.[54] Na manhã seguinte ao fim do sequestro da Lufthansa, a guarda da prisão abre as celas dos presos e encontra Andreas Baader morto com um tiro, Gudrun Ensslin enforcada, Jan-Carl Raspe agonizando também com um tiro - morreria no hospital - e Irmgard Möller seriamente ferida com quatro facadas no peito e no pescoço. A versão oficial do governo é suicídio coletivo. O comunicado suscita uma série de protestos e acusações de assassinato por parte do Estado, na medida em que dúvidas surgem quanto ao fato de Baader ter sido morto com um tiro na nuca e não haver impressões digitais na arma, Rasper não ter vestígio de pólvora nas mãos[55] e Möller ter conseguido dar quatro facadas profundas em si mesmo antes de desmaiar. Ela, que foi a única sobrevivente e passou meses em solitária vigiada vinte e quatro horas por dia com guardas na cela após o incidente, sem poder comunicar-se com o mundo exterior, passou os anos seguintes afirmando que todos tinham sido dopados e assassinados.[56]
Horas depois de saberem das notícias de Mogadíscio e de Stammheim, dois dos sequestradores de Hanns-Martin Schleyer, Rolf Heissler e Stefan Wisniewski, o retiraram do cativeiro, na Bélgica, o assassinaram a tiros em algum lugar perto da fronteira francesa e deixaram seu corpo no porta-malas de um carro na cidade de Mulhouse. O comunicado em que anunciavam a morte do empresário, enviado ao jornal francês Libération, dizia: "Após 43 dias, acabamos com a existência corrupta e patética de Hanns Martin Schleyer.... A luta apenas começou. Liberdade por meio da luta armada antiimperialista."[53]
A morte de Schleyer e dos líderes do Baader-Meinhof encerrou o Outono Alemão e a escalada de atentados em larga escala da RAF, mas uma terceira geração de militantes continuaria a desafiar, ainda que esporadicamente, o Estado alemão por mais duas décadas.
Ainda em liberdade após as mortes de Stammheim, Brigitte Mohnhaupt, Sieglinde Hofmann, Rolf Clemens Wagner e Peter-Jürgen Boock, todos envolvidos nas mortes de Ponto e Schleyer, fogem para a Iugoslávia e são presos em Zagreb, em maio de 1978. Com o governo alemão se nega a trocá-los por fugitivos croatas asilados no país com o governo de Tito, são novamente postos em liberdade e desaparecem.[57] Em junho de 1979, Clemens lidera a tentativa de assassinato do general norte-americano Alexander Haig, ex-Chefe de Gabinete da Casa Branca no segundo mandato de Richard Nixon e então comandante da OTAN.[58] Em agosto de 1981, um carro-bomba colocado pela RAF explode no estacionamento da Base Aérea de Ramstein, na Renânia-Palatinado e em setembro, outros militantes, denominando-se Comando Gudrun Ensslin e liderados por Christian Klar e Mohnhaupt, se envolvem na tentativa de assassinato de outro general, Frederick Kroesen, comandante das forças norte-americanas na Alemanha, ferido num atentado contra sua limusine blindada por um foguete antitanque nas ruas de Heidelberg, em Baden-Württemberg.[59]
Mohnhaupt e Klar são finalmente presos em 1982, mas uma nova geração de militantes continua a cometer assassinatos e atentados pela Alemanha em nome da RAF. Um carro-bomba explode na Base Aérea de Rhein-Main, próxima da Frankfurt, em 1985, matando duas pessoas e ferindo outras vinte, num atentado comandado por uma nova integrante, Birgit Hogefeld, que na véspera, junto com Eva Hause, havia sequestrado e assassinado um soldado da base para roubar o cartão de identidade que permitia a entrada nela.[60]
O colapso da União Soviética ao final da década de 1980 provocou uma grande implosão entre os grupos extremistas de esquerda - após a reunificação alemã em 1990, documentos foram descobertos confirmando que o Grupo Baader-Meinhof recebeu apoio financeiro e logístico da Stasi, o serviço de segurança da Alemanha Oriental, que forneceu abrigo e novas identidades a membros do grupo escondidos no lado leste.[61] Mesmo assim a RAF continua a atuar. O presidente da Siemens, Karl Heinz Beckurts, e seu motorista, são assassinados num atentado com um carro-bomba. Em novembro de 1989, o presidente do Deutsche Bank, Alfred Herrhausen, morre quando seu carro blindado explode, ao cruzar uma fotocélula infravermelha no caminho para o trabalho, um atentado com uma bomba de fabricação sofisticada, colocada no bagageiro de uma bicicleta encostada em determinado lugar da rua a ser percorrida por ele e seus carros de escolta.[62] Seus assassinos nunca foram devidamente identificados, mas as suspeitas caem sobre Wolfgang Grams e Andrea Klump, dois guerrilheiros da terceira geração da RAF. Em 1 de abril de 1991, o líder da Treuhandanstalt, órgão responsável pela privatização da economia estatal da ex-Alemanha Oriental, é morto a tiros.[63]
Em 1992, o governo alemão avaliou que o principal empenho da RAF na ocasião era o de realizar ações para conseguir a libertação de ex-companheiros. Em vista disso, para enfraquecê-la, através do ministro da Justiça, anunciou publicamente estar pronto para a reconciliação e que alguns dos presos da organização poderiam ser libertados, caso a guerrilha se abstivesse de ações violentas no futuro. Posteriormente a este passo do governo, a RAF anunciou, através de um comunicado à agência France-Press, uma diminuição na escalada de atentados e de 'renúncia a atividades significativas contra líderes da indústria e do governo'.[64]
Sua última ação de vulto aconteceu em março de 1993, quando uma prisão em final de construção em Weiterstadt, no estado de Hesse, foi quase totalmente destruída por bombas colocadas em suas fundações. Cobertos por máscaras, armados com pistolas e carregando explosivos, membros da organização autodenominados Kommando Katharina Hammerschmidt invadiram as instalações do moderno presídio em fase final de construção, algemaram dez pessoas que se encontravam no edifício numa grande van no estacionamento e colocaram 200 quilos de TNT entre as fundações. Pela madrugada, cinco explosões transformaram o mais moderno presídio da Alemanha em ruínas, sem vítimas mas com um prejuízo de 100 milhões de marcos, o maior da história do terrorismo na República Federal da Alemanha.[64]
Esta ação levou à caça da principal suspeita de liderar o grupo, Birgit Hogefeld, e à última e controversa operação da polícia antiterror alemã contra membros da RAF. Atraídos a um emboscada, por um informante infiltrado no grupo pela polícia, na pequena cidade de Bad Kleinen, no norte da Alemanha, Hogefeld e seu namorado e co-líder Wolfgang Grams, um dos principais suspeitos da morte do presidente do Deutsche Bank quatro anos antes[65] são surpreendidos por comandos do GSG 9 na estação ferroviária do lugar, em 27 de junho de 1993.[66]
Na ação que se seguiu, Hogefeld é presa e Grams reage a tiros ao cerco, matando um dos homens do GSG 9, Michael Newrzella. Pouco depois, aparece morto com um tiro, caído na linha do trem. As condições de sua morte são controversas. A conclusão do Ministério Público após o incidente, foi de que, cercado na plataforma, Grams suicidou-se com um tiro na cabeça antes de despencar nos trilhos. Durante os anos seguintes, entretanto, a esquerda da opinião pública, da intelectualidade e da imprensa alemã sempre acusou a polícia de execução a sangue-frio, de um Grams amarrado e desarmado, mesmo depois de capturado, fato este corroborado por testemunhas oculares da ação,[67] em depoimento dado à revista Der Spiegel. O incidente e as acusações de tentativa de encobrimento de um assassinato pelo Estado, além das críticas com relação à eficiência da operação policial em si feitas dentro do próprio governo, causou a renúncia do ministro do Interior e foi considerado um dos maiores escândalos políticos da RFA.[68]
Durante cinco anos, após a morte de Grams e a prisão de Hogefeld, a RAF desapareceu dos noticiários e nenhum outro ato de violência foi cometido em seu nome. Em 20 de abril de 1998, uma carta de oito páginas assinada com a logomarca da organização foi enviada por fax à agência Reuters, declarando em um de seus pontos:
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— Último comunicado da RAF, 20 de abril de 1998[64]. |
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