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O termo leninismo é utilizado para designar a corrente política surgida pelo rompimento político com o economicismo da social-democracia europeia no começo do século XX. Apesar de levar o nome de seu principal fundador, o leninismo também carrega contribuições de revolucionários como Grigory Zinoviev (por formular junto com Lenin a teoria do desenvolvimento desigual) e Lev Kamenev.
Lenin procurou adaptar a teoria marxista do século XIX à realidade do século XX e foi um dos principais teóricos marxistas e o principal líder da Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia.
Após a Revolução de Outubro de 1917, o leninismo foi a versão dominante do marxismo na Rússia, e em seguida, a ideologia oficial do estado na República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR), antes de sua fusão unitária para a União Soviética (URSS), em 1922.[1] Além disso, no período pós-Lenin na Rússia, Josef Stalin integrou o leninismo na economia marxista, e desenvolveu o marxismo-leninismo, que, em seguida, tornou-se a ideologia de Estado da URSS.[2]
Karl Marx defendia a revolução do proletariado contra a burguesia, a tomada do poder e a construção de uma sociedade comunista. Marx dizia que isto só seria possível em um país onde o capitalismo já estivesse em um estágio avançado e onde o operariado, trabalhadores da indústria, tivesse uma mentalidade revolucionária. Essas concepções vinham do fato de que apenas num país onde o proletariado adquirisse uma consciência revolucionária, poder-se-ia concretizar o levante que criaria a ditadura do proletariado.
A Segunda Internacional, organização herdeira do marxismo e liderada por Karl Kautsky, defendia uma linha economicista, na qual a contínua luta da classe trabalhadora por melhores salários e condições de trabalho levá-los-ia a uma consciência revolucionária. Para os países atrasados, o kautskismo defendia o etapismo, no qual uma revolução liderada pela burguesia nacional, estabeleceria a condição prévia para uma revolução proletária num futuro incerto.
A formulação de Lenin das leis do período histórico do imperialismo, no qual a maioria dos países são explorados por alguns poucos (imperialistas), combate essa concepção de evolução capitalista igual de todos os países do mundo. Este pensamento está expresso principalmente no livro Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo. Para ele, essa linha não se aplicaria aos países de industrialização tardia, onde apenas o proletariado poderia cumprir as tarefas antes designadas como da revolução burguesa, como a reforma agrária, o fim do imperialismo, as condições básicas de educação, saúde, etc. Da mesma forma, combatia a visão da social democracia, na qual a rotina da classe operária em suas lutas econômicas poderia determinar uma consciência revolucionária de maneira objetiva. Para Lenin, adquirir essa consciência revolucionária dependia de um fator subjetivo, a intervenção do partido revolucionário nas massas.
De certa forma, Lenin resolve um problema que Marx deixa em aberto. No modo de produção capitalista, a classe trabalhadora é condicionada a uma progressiva alienação de suas potencialidades, tanto pelo papel no qual é forçada a se enquadrar no trabalho (alienação do trabalho intelectual), quanto pelos meios de comunicação, pelas religiões, etc. Um partido composto por toda a classe trabalhadora, no formato dos partidos da Segunda Internacional, tendia, em momentos de contra-revolução, a adquirir um caráter rebaixado, que reproduzia a alienação de grande parte da classe. Foi o que aconteceu na Primeira Guerra Mundial, na qual todos os partidos social-democratas da Europa se voltaram para o campo nacional para apoiar suas burguesias, esquecendo-se do internacionalismo operário e caindo num nacionalismo chauvinista típico de uma influência burguesa na classe operária.
A solução de Lenin foi a constituição de um partido centralizado, baseado na defesa de um programa revolucionário, no qual só seria permitida a entrada mediante concordância básica com esse programa e captação para o partido apenas dos elementos mais avançados da classe trabalhadora e da vanguarda que a compõe. Esse centralismo deveria se refletir em todas as intervenções públicas externas deste partido. Apesar de parecer restritivo e anti-democrático, o centralismo se contrapunha com uma característica interna democrática, na qual a disputa entre diferentes tendências era livre pelo controle da linha geral do partido em seus congressos, fóruns e plenárias. Uma vez decidida a posição de maioria dentro do partido, entretanto, todos os seus membros (mesmo os de minoria) devem defender publicamente apenas a concepção dominante. Esse tipo de funcionamento é aquele que serve para melhor combater a influência de ideologias burguesas e pequeno-burguesas entre a classe operária, evitando conflitos de pontos de vista partidários fora dos fóruns do partido.
Como na maioria dos períodos anteriores à Revolução este partido não representaria a opinião da maior parte da classe operária e seria composto sempre por uma ínfima parcela desta, era necessário intervir em inúmeros meios de debate, lutas por reformas e outras oportunidades que possibilitassem ao partido influenciar a consciência das classe para a Revolução. Essa tática ganhou o nome de frente única e geralmente reúne tanto o partido revolucionário quanto os partidos reformistas como os da social-democracia. Nesses campos, o partido leninista disputa a liderança dos trabalhadores com outras linhas políticas, o que também lhe permite recrutar novos membros. Dentre algumas frentes únicas estão os sindicatos, as eleições do Estado burguês e mesmo os sovietes(conselhos operários) que em momentos revolucionários são a forma operária de exercer o poder de Estado.
Lenin reconheceu e aceitou a existência do nacionalismo entre os povos oprimidos, defendendo os seus direitos nacionais à autodeterminação, e se opôs ao chauvinismo étnico da "Grande Rússia", porque tal etnocentrismo era um obstáculo cultural ao estabelecimento da ditadura do proletariado nos territórios do deposto Império Russo Czarista.[3][4] Na sua obra Direito das Nações à Autodeterminação (1914), Lênin citou:[5]
Lutamos contra os privilégios e violência do país opressor, e de forma alguma esqueceremos os esforços por parte da nação oprimida... O nacionalismo burguês de qualquer nação oprimida tem um conteúdo democrático que é dirigido contra a opressão, e é este o conteúdo que apoiamos incondicionalmente... Pode uma nação ser livre se ela oprime outros povos? Não pode
As filosofias internacionalistas do bolchevismo e do marxismo são baseadas em luta de classes que transcende o nacionalismo, o etnocentrismo e religião, que são obstáculos intelectuais à consciência de classe, pois as classes dominantes burguesas manipulam o cultural status quo para dividir politicamente a proletária classe trabalhadora. Para superar a barreira política do nacionalismo, Lênin disse que era necessário reconhecer a existência de nacionalismo entre os povos oprimidos, e para garantir a sua independência nacional, como o direito de secessão, e que, com base na autodeterminação nacional, era natural que Estados socialistas transcendessem o nacionalismo e formassem uma federação.[6]
Dessa forma, as principais características do leninismo podem ser resumidas a seguir:
Tanto o ponto "1" como o "2" foram levantados por Lenin no II Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), em 1903. Foi nesse congresso que se deu o histórico "racha" do POSDR nas frações menchevique (minoritária, representada pela ala que perdeu o debate encabeçado por Lenin) e bolchevique (majoritária, representada pela ala vitoriosa). Esses dois pontos caracterizaram um importante avanço para o marxismo e foi a defesa dos mesmos que permitiu que os bolcheviques não se degenerassem em 1914 em uma corrente "social-nacionalista", como ocorreu com boa parte da social-democracia.
Em A Questão das Nacionalidades na Revolução Russa (1918), Rosa Luxemburgo criticou os bolcheviques e suas políticas por: sua supressão da Assembléia Constituinte de Toda a Rússia (janeiro de 1918); a partição das propriedades feudais para as comunas camponesas; e o direito à autodeterminação de todos os povos nacionais da Rússia. Como marxista, Luxemburgo disse que os erros estratégicos (geopolíticos) dos bolcheviques criariam grandes perigos para a Revolução Russa, como a burocratização que surgiria para administrar o país de grande porte que era a Rússia bolchevique.[7] Em defesa dos expedientes da prática revolucionária, em Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, Lenin criticou os pontos políticos e ideológicos de críticos anti-bolcheviques que reivindicavam posições ideologicamente corretas que estavam à esquerda.
Na filosofia marxista, o termo esquerda comunista identifica uma série de perspectivas políticas comunistas que são a esquerda entre os comunistas. O comunismo de esquerda critica as ideias políticas que o Partido Bolchevique praticou em certos períodos de sua história como um partido revolucionário de vanguarda. Ideologicamente, a perspectiva da esquerda comunista é apresentada como mais autenticamente marxista e orientada ao proletariado do que a ideologia leninista da Internacional Comunista, em seus primeiros congressos (1919) e segundo (1920). Os defensores da esquerda comunista incluem Amadeo Bordiga, Herman Gorter, Anton Pannekoek, Otto Rühle, Sylvia Pankhurst e Paul Mattick.[8]
Noam Chomsky ("The Soviet Union Versus Socialism", 1986) disse que o stalinismo não era um desvio ideológico das políticas de Lenin, mas uma extensão lógica do leninismo. O modelo soviético resultante do comunismo na Rússia apresentava um sistema político que organizava o trabalho pela coletivização e aplicava a lei com um estado policial, continuamente apoiado com uma ideologia política totalitária.[9][10]
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