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doença causada pelo vírus zika Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Febre zica[1] ou febre zika[2], também denominada febre por vírus zica, é uma doença causada pelo vírus zica.[3] A maior parte dos casos não apresenta sintomas. Quando se manifestam, são geralmente ligeiros, podem-se assemelhar aos do dengue[3][4] e geralmente têm duração inferior a sete dias.[5] Os sintomas podem incluir dores de cabeça leves, febre baixa, mal estar, dores nas articulações leves, conjuntivite, prurido e exantema maculopapular.[3][5][6] A doença ainda não causou mortes registadas durante a infeção inicial.[4] A infeção tem sido associada à síndrome de Guillain-Barré.[4]
Febre por vírus zica | |
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Exantema durante uma infeção por vírus zica | |
Especialidade | infecciologia, neonatologia |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | U06.9, alteração no código em 21 de dezembro de 2015 |
CID-9 | 066.3 |
CID-11 | 1401438580 |
DiseasesDB | 36480 |
MedlinePlus | 007666 |
MeSH | D000071243 |
Leia o aviso médico |
A febre por vírus zica é transmitida principalmente pela picada dos mosquitos do género Aedes.[5] Pode também ser potencialmente transmitida por contacto sexual e transfusões de sangue.[5] A doença pode também ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez e causar microcefalia.[3][4] O diagnóstico é feito com análises ao sangue, urina ou saliva, que detectam a presença do ARN do vírus quando a pessoa está doente.[3][5]
A prevenção envolve a diminuição das picadas dos mosquitos em áreas onde ocorre a doença.[5] Entre as principais medidas estão a utilização de repelente de insetos, cobrir a maior parte do corpo com roupa, redes mosquiteiras e eliminação de águas estagnadas onde os mosquitos se reproduzem.[3] Não existe vacina eficaz.[5] As autoridades de saúde recomendam que as mulheres nas áreas afetadas por surtos considerem adiar a gravidez e que as grávidas não viajem para áreas onde estejam a ocorrer surtos.[5][7] Embora não exista tratamento específico, o paracetamol pode ajudar a aliviar os sintomas.[5] Raramente é necessário tratamento hospitalar.[4]
O vírus que causa a doença foi isolado pela primeira vez em 1947.[8] O primeiro surto documentado entre pessoas ocorreu em 2007 nos Estados Federados da Micronésia.[5] À data de janeiro de 2016, a doença ocorria em vinte regiões do continente americano.[5] Há também ocorrências conhecidas na África, Ásia e Pacífico.[3] Devido a um surto que teve início no Brasil em 2015, e com a suposta correlação com casos de microcefalia registrados em recém-nascidos de mães que tiveram a doença, a Organização Mundial de Saúde declarou em fevereiro de 2016 a febre por vírus zica uma emergência de saúde pública global.[9]
Aproximadamente 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas. Nos casos sintomáticos, costumam ocorrer dores de cabeça leves, febre baixa, mal-estar, dor articular leve, conjuntivite, prurido e exantema maculopapular (erupção cutânea que não se eleva acima da superfície da pele).[10][11] Ainda se desconhece o intervalo de tempo entre a picada e o início dos sintomas, mas provavelmente situa-se entre alguns dias e uma semana.[12] A doença dura entre 3 e 7 dias, costuma causar sintomas leves e raramente requer atendimento hospitalar.[13] Só existe um caso documentado de hemorragia, com sangue no sémen.[14]
As infeções por vírus zica têm sido associadas à síndrome de Guillain-Barré (SGB), que é a fraqueza muscular de início rápido que pode progredir para paralisia.[15] Embora ambas possam ocorrer na mesma pessoa ao mesmo tempo, é difícil apontar conclusivamente o vírus zica como causa da SGB.[16] Vários países afetados pelos surtos de zica têm relatado aumentos nos casos de SGB e há registo na Colômbia de 3 mortes devido a SGB relacionada com o zica.[17]
Acredita-se que a doença possa ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez e causar microcefalia.[18] Até 2015, existiam poucos casos relatados na literatura científica.[19]
Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde do Brasil detectou na Região Nordeste dois casos de fetos com microcefalia grave e presença de vírus zica no líquido amniótico confirmada por amniocentese.[20][21][22][23] Em ambos os casos, as ecografias demonstraram que o perímetro cefálico reduzido (microcefalia) se devia à destruição de diversas partes do cérebro.[24] Um dos fetos também apresentava calcificações nos olhos e microftalmia. O Ministério reportou posteriormente pelo menos 2400 casos suspeitos de microcefalia no país até 12 de dezembro de 2015 e 29 mortes.[25][26][27][28]. Debora Diniz, antropóloga brasileira, tem arletado sobre o risco de uma contaminação mundial devido ao alastramento no nordeste brasileiro.[29] Uma equipe de cientistas, incluindo a Escola de Saúde Pública de Yale, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Rockefeller, descobriram que as mães produzem alguns anticorpos para combater a infecção pelo zika. E, segundo os cientistas, os anticorpos eram possíveis culpados que contribuíam para os defeitos congênitos.[30]
O vírus zica é um flavivírus transmitido por mosquitos, bastante relacionado com o vírus da dengue. Embora os mosquitos sejam o vetor, o reservatório natural ainda é desconhecido, embora tenham sido encontradas evidências serológicas em macacos e roedores da África ocidental.[31][32]
A transmissão da doença dá-se através da picada de mosquitos do género Aedes, principalmente o Aedes aegypti em regiões tropicais. A doença foi também isolada nas espécies Ae. africanus, Ae. apicoargenteus, Ae. luteocephala,[33] Ae. vittatus e Ae. furcifer.[31] Durante o surto de 2007 na ilha de Yap no Pacífico sul, o vetor foi o Aedes hensilli, enquanto na Polinésia Francesa em 2013 o vetor foi o Aedes polynesiensis.[34]
Existem relatórios de dois casos de possível transmissão por via sexual[35] e casos de transmissão perinatal.[36] Tal como outros flavivírus, pode ser potencialmente transmitido por transfusões de sangue e vários países afetados têm vindo a tomar medidas para realizar rastreio a dadores de sangue.[37]
É difícl realizar o diagnóstico de febre por vírus zica com base apenas nos sinais e sintomas clínicos devido à semelhança com outros arbovírus endémicos de regiões semelhantes.[38] Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americanos recomendam que "com base nas características clínicas típicas, o diagnóstico diferencial para a infeção por vírus zica é amplo. Para além da dengue, são consideradas outras infeções como leptospirose, malária, rickettsia, rubéola, Streptococcus pyogenes, sarampo e infeções por parvovírus, enterovírus, adenovírus e alfavírus (por exemplo, chicungunha, febre de Mayaro, febre do rio Ross, vírus da floresta de Barmah, vírus O'nyong-nyong e vírus Sindbis)."[39]
Em pacientes com doença aguda, o vírus zica pode ser identificado através de RT-PCR. No entanto, o período de viremia pode ser curto[40] e a Organização Mundial de Saúde recomenda que as análises RT-PCR sejam feitas em amostras de soro recolhidas entre 1 a 3 dias após o aparecimento de sintomas, ou em amostras de urina recolhidas nos primeiros 3 a 5 dias.[34] Posteriormente, pode ser utilizada serologia para deteção de anticorpos IgM e IgG específicos do vírus zica. Os anticorpos IgM são detetáveis até 3 dias após o aparecimento da doença.[31] No entanto, é possível a ocorrência de reações serológicas cruzadas com flavivírus semelhantes, como os da dengue e do Nilo Ocidental.[40][41][42] Estão disponíveis ensaios para os anticorpos do vírus zica, embora a sua comercialização ainda não tenha sido aprovada.[38][43][44]
O CDC recomenda o rastreio em algumas mulheres grávidas, mesmo que não apresentem sintomas ou infeção. As grávidas que tenham viajado para regiões afetadas devem ser testadas entre uma e doze semanas depois do regresso da viagem.[45] Devido à dificuldade na interpretação das análises para o vírus do zica, o CDC também recomenda que os prestadores de cuidados de saúde contactem as autoridades para pedir assistência.[45] Para mulheres que vivam nas regiões afetadas, o CDC recomenda que sejam feitos exames durante a primeira consulta ou a meio do segundo semestre, embora isto possa ser ajustado mediante os recursos locais disponíveis e o custo económico local do vírus.[45] Se existirem sinais da doença por vírus zica, deverão ser realizados exames adicionais. As mulheres com resultados positivos devem ter o feto monitorizado por ecografia a cada três ou quatro semanas, de modo a acompanhar a anatomia e crescimento do bebé.[45]
Nas crianças em que haja suspeita de doença congénita provocada pela febre zica, o CDC recomenda exames tanto serológicos como moleculares, como o RT-PCR, ELISA IgM e o teste de neutralização por redução de placas (PRNT).[46] Os recém-nascidos de uma mãe que tenha sido potencialmente exposta ao vírus e que tenham tido resultados positivos nas análises ao sangue, microcefalia ou calcificações intracranianas devem realizar mais exames, incluindo uma investigação detalhada para anormalidades neurológicas, características dismórficas, esplenomegalia, hepatomegalia e exantema ou outras lesões da pele.[46] Entre outros exames recomendados estão a ecografia craniana e avaliação da audição e visão.[46] Devem ser realizados exames a todas as anomalias encontradas, assim como a outras potenciais infeções congénitas, como sífilis congénita, toxoplasmose, rubéola, infeções por citomegalovírus, coriomeningite linfocitária e herpes simplex virus.[46]
O vírus é transmitido por mosquitos, o que faz do evitar o mosquito um elemento fundamental do controlo da doença. O CDC recomenda que :[47]
O CDC também recomenda estratégias para controlo dos mosquitos, como a eliminação de poças de água estagnada, a reparação das fossas séticas e a proteção de portas e janelas com redes mosquiteiras.[48][49] Em contentores de água podem ser usados larvicidas, enquanto que os mosquitos em voo podem ser mortos com inseticida.[3]
Uma vez que o vírus zica pode ser transmitido por via sexual, recomenda-se que as pessoas que tenham viajado para regiões onde a doença esteja a ocorrer, ou que tenham contacto com quem tenha viajado, que usem sempre preservativo. No caso da mulher estar grávida, devem-se abster de relações sexuais ou usar igualmente preservativo.[50]
Devido ao aumento do número de evidências da relação entre o vírus zica e microcefalia, o CDC emitiu um alerta de viagem que aconselhava as grávidas a considerar adiar a deslocação para os seguintes países e territórios:[51][52]
As autoridades de saúde também recomendam que as mulheres que estejam a considerar uma gravidez consultem um médico antes de viajar.[51][59]
Não existe atualmente tratamento específico para a infeção por vírus zica. Os cuidados de apoio consistem no alívio da dor, febre e prurido.[34] Algumas autoridades de saúde recomendam que não sejam tomadas aspirinas ou outros anti-inflamatórios não esteroides, uma vez que estes têm sido associados a síndrome hemorrágica quando usados em outros flavivírus.[40] Para além disso, o uso de asprina não é recomendado em crianças devido ao risco de síndrome de Reye.[60]
Até ao surto de 2015, o vírus zica tinha sido relativamente pouco estudado e não existem atualmente tratamentos antivirais. Os conselhos dados às mulheres grávidas incidem sobre evitar o risco de infeção o máximo possível, já que uma vez contraída a infeção pouco ou nada há que possa ser feito para além do tratamento de apoio.[61]
O primeiro caso conhecido de febre por vírus zica ocorreu no Uganda em 1947, num macaco rhesus na floresta de Zika.[31] Os estudos populacionais feitos na época no Uganda verificaram uma prevalência de 6,1%.[36] Os primeiros casos entre seres humanos foram registados na Nigéria em 1954.[63] Desde então, têm sido registados alguns surtos nas regiões tropicais de África e em algumas regiões do Sudeste Asiático.[64] Não há casos documentados de vírus Zica no subcontinente indiano, embora alguns estudos tenham encontrado anticorpos de zica em pessoas saudáveis na Índia, o que pode indicar exposição no passado ou ser devido a uma reação cruzada com outros flavivírus.[65] Com recurso a análises filogenéticas das estirpes asiáticas, estimou-se que o vírus zica se deslocou para o sudeste asiático por volta de 1945.[36] Em 1977-78, o vírus foi descrito como causa de febre na Indonésia.[66]
O primeiro grande surto, com 185 casos, ocorreu em 2007 nas ilhas Yap nos Estados Federados da Micronésia.[19] Foram confirmados 108 casos com PCR ou serologia, acrescidos de 72 casos suspeitos. Os sintomas mais comuns foram febre, exantema, artralgia e conjuntivite. Não foram registadas mortes. O mosquito Aedes hensilli foi a espécie predominante durante o surto, tendo sido o provável vetor da transmissão. Embora ainda não se tenha a certeza sobre a forma como o vírus entrou nas ilhas, é provável que tenha ocorrido através da introdução de mosquitos infetados ou de uma pessoa portadora de uma estirpe semelhante à do sudeste asiático.[19][36] Foi também a primeira vez que a febre zica foi reportada fora de África ou da Ásia.[6] Antes do surto das ilhas Yap, tinham sido registados apenas 14 casos humanos de febre zica.[67] Em 2013 ocorreu outro surto significativo na Polinésia Francesa, que se pensa ter tido origem numa introdução independente daquela das ilhas Yap.[36]
Desde o seu aparecimento no hemisfério ocidental em fevereiro de 2014, o vírus propagou-se rapidamente por toda a América do Sul e América Central, atingindo o México em novembro de 2015.[36][68] Embora tenha sido observado esporadicamente em viajantes nos Estados Unidos e na Europa, nessas áreas não ocorreu contágio de pessoa para pessoa,[68] exceto um caso em fevereiro de 2016 onde se suspeita de contégio por via sexual a partir de uma pessoa que viajou para uma região de surto.[35]
Em maio de 2015, o Brasil divulgou oficialmente os seus primeiros 16 casos da doença.[69] De acordo com o Ministério de Saúde brasileiro, à data de novembro de 2015 não havia ainda contagem oficial do número de pessoas infetadas com o vírus no país, uma vez que a doença não está sujeita a declaração obrigatória. Ainda assim, foram relatados casos em 14 Estados. Suspeita-se também que o vírus transmitido por mosquito seja a causa de 2400 possíveis casos de microcefalia e 29 mortes de crianças no Brasil em 2015. Destes 2400 casos suspeitos em 2015, em dezembro estavam a ser investigados 2165 casos, dos quais 134 foram confirmados e em 102 foi eliminada a suspeita de microcefalia.[27]
Em 24 de janeiro de 2016, a Organização Mundial de Saúde advertiu que é provável que o vírus se propage para praticamente todos os países do continente americano, uma vez que o seu vetor, o mosquito Aedes aegypti, se encontra em todos os países da região, exceto no Canadá e no Chile continental.[70][71]
Tanto a Organização Pan-Americana da Saúde como a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiram comunicados de preocupação com o impacto na saúde pública da propagação do vírus zica e a sua ligação com a SGB e a microcefalia.[72][73] A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, emitou uma declaração em fevereiro de 2016 em que afirmava que o recente foco de casos de microcefalia e outros distúrbios neurológicos reportados no Brasil, na sequência de um foco semelhante em 2014 na Polinésia Francesa, constitui uma emergência de saúde pública de preocupação internacional.[74] A declaração de emergência permite à OMS coordenar a resposta internacional à propagação do vírus, dando também às suas recomendações força de lei internacional ao abrigo dos regulamentos de saúde internacionais de 2005.[75][76]
Entre alguns métodos experimentais de prevenção estão a reprodução e libertação de mosquitos geneticamente modificados de forma a não serem capazes de transmitir patógenos, ou que tenham sido infetados com a bactéria Wolbachia, que se acredita inibir a propagação do vírus.[77]
Um estudo in vitro observou que o vírus zica pode ser sensível a tratamento com interferões, que são frequentemente usados contra outras infeções virais. No entanto, estes resultados ainda não foram testados em animais ou seres humanos.[78]
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