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infeção viral Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A rubéola, do latim rubella, é uma doença infetocontagiosa causada pelo vírus da rubéola e pode ser transmitida entre seres humanos por via aérea através do contacto direto com secreções de indivíduos infetados.[1][2][3][4]
Rubéola | |
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Erupções cutâneas causadas pelo vírus da rubéola nas costas de uma criança. | |
Sinónimos | Sarampo alemão. |
Especialidade | Infectologia. |
Sintomas | Erupções cutâneas de tonalidade avermelhada, aumento do tamanho dos nódulos linfáticos, aumento da temperatura corporal e dor ou irritação na garganta. |
Complicações | Problemas hemorrágicos, inchaço dos testículos, inflamação dos nervos, síndrome da rubéola congénita e aborto. |
Início habitual | 2 semanas após o contacto com o vírus da rubéola. |
Duração | 3 dias. |
Causas | Vírus da rubéola. |
Método de diagnóstico | Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA). |
Prevenção | VARSP |
Tratamento | Cuidados de apoio. |
Frequência | Comum em muitas regiões. |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | B06.9, B06 |
CID-9 | 056 |
CID-11 | 410022648 |
DiseasesDB | 11719 |
MedlinePlus | 001574 |
eMedicine | 802617, 966220 |
MeSH | D012409 |
Leia o aviso médico |
Em alguns casos, os sintomas desta doença são ligeiros, o que faz com que os indivíduos infetados não se apercebam de que estão infetados.[1][5] Cerca de duas semanas após o contacto com o vírus da rubéola, é frequente o aparecimento de erupções cutâneas de tonalidade avermelhada que tendem a desaparecer ao fim de três dias.[1] Na maioria dos casos, o aparecimento destas erupções cutâneas tem início na cara, alastrando-se posteriormente para o resto do corpo.[1] O risco de contágio é mais elevado uma semana antes e uma semana depois do aparecimento das erupções cutâneas.[1]
A rubéola foi descrita pela primeira vez em meados do século XVIII por dois médicos alemães que a denominaram por roteln, no entanto, a doença ficou globalmente conhecida como sarampo alemão.[1][6]
Os sintomas da rubéola eram frequentemente confundidos com os do sarampo, uma vez que o aparecimento de erupções cutâneas de tonalidade avermelhada é comum a ambas as doenças.[6] As erupções cutâneas podem causar prurido e as que resultam da infeção pelo vírus da rubéola adquirem uma coloração menos avermelhada do que as que resultam da infeção pelo vírus do sarampo.[1]
A rubéola foi oficialmente reconhecida como uma doença distinta do sarampo em 1881 durante o International Congress of Medicine que decorreu em Londres.[3][6][7]
A linfadenopatia é caracterizada pelo tamanho, consistência ou número anormais dos nódulos linfáticos e encontra-se comummente associada à rubéola.[8] O aumento do tamanho dos nódulos linfáticos é o sintoma mais comum e tende a durar algumas semanas.[1] É também possível que ocorra febre, garganta inflamada e cansaço.[1][9] Em indivíduos adultos são também comuns as dores nas articulações.[1] Entre as complicações que a infeção pelo vírus da rubéola pode causar estão problemas hemorrágicos, inchaço dos testículos e inflamação dos nervos.[1]
A infeção pelo vírus da rubéola é particularmente preocupante no início da gestação, podendo resultar na morte do feto ou no desenvolvimento da síndrome da rubéola congénita (SRC) no recém-nascido, no entanto, a evolução do estado gestacional tende a estar relacionada com a diminuição do risco de desenvolvimento de defeitos congénitos.[3][4]
A estratégia mais eficiente para a prevenção da infeção pelo vírus da rubéola é a vacinação dos indivíduos durante a infância a uma escala global.[10] A vacina contra a rubéola é combinada com a vacina contra o sarampo e a vacina contra a parotidite epidémica.[1][11] Esta combinação é denominada por VASPR e a administração de uma única dose tem uma eficácia superior a noventa e cinco porcento, no entanto, o Programa Nacional de Vacinação (PNV) recomenda a administração de duas doses, a primeira aos doze meses e a segunda aos cinco anos de idade.[1][4][11]
A rubéola é uma doença comum em várias regiões do mundo, sendo que ocorrem cerca de cem mil casos de síndrome da rubéola congénita por ano, no entanto, a incidência da doença diminuiu significativamente em diversas áreas do globo como resultado da vacinação.[4][5][9] Estão atualmente a ser desenvolvidos esforços no sentido de erradicar totalmente a doença.[4] Em Portugal, a eliminação da rubéola e do sarampo foi confirmada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 29 de outubro de 2015.[12]
Em alguns casos, a infeção pelo vírus da rubéola não produz qualquer manifestação clínica percetível, contudo, os sintomas mais comuns são:
Outros sintomas são o cansaço, a dor articular, a inflamação ocular, a dor de cabeça, a dor aquando da deglutição de alimentos sólidos e líquidos, a desidratação cutânea, a congestão nasal e a esternutação.[1][9]
O oftalmologista australiano Norman McAlister Gregg foi quem reportou a síndrome da rubéola congénita pela primeira vez em 1941 depois de ter ocorrido uma epidemia de rubéola no ano anterior que provocou a opacidade reticular nas crianças cuja mãe foi infetada pelo vírus da rubéola durante a gravidez.[3][6][13]
Na síndrome da rubéola congénita, o vírus da rubéola passa do sangue da mãe para a placenta através do cordão umbilical, podendo provocar deficiências auditivas, problemas oculares, defeitos cardíacos ou craniofaciais, bem como defeitos temporários, tais como púrpura, meningoencefalite, dilatação do fígado ou do baço e doenças ósseas associadas à radiolucidez dos ossos longos do recém-nascido.[7][10]
Taxonomia:
O vírus da rubéola foi isolado pela primeira vez em 1962 por Parkman e Weller.[3] Este agente patogénico pertence à família Matonaviridae em homenagem ao médico e botânico britânico William George Maton que reconheceu a rubéola como uma doença distinta do sarampo pela primeira vez em 1814.[14] Até 2018, o vírus da rubéola era classificado como membro da família Togaviridae.[7][14] Esta mudança taxonómica foi levada a cabo pelo International Committee on Taxonomy of Viruses (ICTV), uma vez que a rubéola é considerada uma doença exclusiva dos seres humanos e os restantes membros da família Togaviridae infetam tanto insetos como mamíferos.[1][4][7][14]
A base molecular desta doença ainda não é totalmente conhecida.[15] Estudos in vitro revelaram que o vírus da rubéola tem um efeito apoptótico em determinadas células, contudo, este mecanismo depende da proteína p53, responsável pela regulação do ciclo celular e supressão tumoral.[15]
A replicação do vírus da rubéola está associada a danos mitocondriais.[7] As mitocôndrias são os componentes celulares responsáveis pela produção de energia, assim sendo, ao serem danificadas, o desempenho das suas funções fica comprometido, fazendo com que as células não sejam capazes de desempenhar processos vitais, o que pode culminar na morte celular.[7]
Este agente patogénico é relativamente instável, pelo que fica num estado de inatividade em meios cujo pH seja baixo, cuja temperatura seja elevada e onde haja incidência de radiação ultravioleta.[3]
Tendo em conta a generalidade dos sintomas, a única evidência com total fiabilidade é a deteção do vírus da rubéola através da reação em cadeia da polimerase, do inglês Polymerase Chain Reaction ou PCR.[3]
O vírus da rubéola pode ser isolado a partir do muco nasal, do sangue, da urina e do líquido cefalorraquidiano, no entanto, apesar da cultura viral constituir um importante meio de diagnóstico, este não é utilizado com muita frequência, uma vez que não é prático, na medida em que exige um trabalho intensivo.[3]
Atualmente o meio de diagnóstico utilizado com mais frequência é o Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA), uma vez que é um método de fácil e rápida realização, baseado numa análise serológica sensível ao aumento significativo da produção de anticorpos contra a rubéola.[3]
A vacina contra a rubéola é composta por vírus da rubéola enfraquecido e pode ser produzida em associação com o sarampo (dupla viral) ou com o sarampo e a parotidite epidémica (tríplice viral).
A vacina contra a rubéola não deve ser administrada a mulheres grávidas e as mulheres vacinadas devem evitar engravidar durante o mês seguinte à vacinação, uma vez que, mesmo enfraquecido, o vírus da rubéola pode passar do sangue da mãe para a placenta e infetar o feto.
A prevenção dos efeitos da rubéola nos fetos é o principal objetivo da vacinação, uma vez que estes contribuem significativamente para a ocorrência de abortos espontâneos ou para o desenvolvimento da síndrome da rubéola congénita.[10] O risco de desenvolvimento da síndrome da rubéola congénita é mais elevado em países cuja vacina não consta no programa de vacinação ou cujas mulheres em idade fértil apresentam um elevado nível de suscetibilidade.[4][10]
A atual política de vacinação contra a rubéola é bastante eficaz no que diz respeito à manutenção dos níveis de anticorpos produzidos pelos indivíduos de uma determinada população, no entanto, é importante destacar que a resposta à vacina é extremamente variável.[16]
Não existe um tratamento específico para a infeção pelo vírus da rubéola, assim sendo, é comum que o tratamento se restrinja ao controlo dos sintomas enquanto o organismo dos indivíduos infetados desenvolve resistência ao vírus.[9] A utilização de analgésicos e antipiréticos, tais como o paracetamol ou o metamizol, pode amenizar a dor e a febre. Durante a gravidez é frequente a administração de gamaglobulinas como forma de prevenir problemas futuros.
Tendo em conta a dificuldade de tratar doenças causadas por vírus, as políticas de saúde estão focadas na prevenção através da administração da vacina contra a rubéola.
A realização de cirurgias pode corrigir alguns defeitos congénitos do recém-nascido, tais como a surdez e as cataratas, contudo, na maioria dos casos as cirurgias são de difícil realização e extremamente dispendiosas.[17][18]
A eliminação de uma doença causada por um agente patogénico específico é o resultado dos esforços intencionais para a redução total da sua incidência sob a forma endémica numa determinada área geográfica.[10]
O usufruto de um sistema de vigilância eficaz constitui um dos princípios fundamentais para a eliminação da rubéola.[8] Para um sistema de vigilância ser eficaz necessita de ser baseado em casos de rubéola, ter a capacidade de os confirmar laboratorialmente, ser nacional e de base populacional.[8] Estes componentes permitem a rápida deteção de casos de rubéola, a notificação dos funcionários da saúde pública, a rápida investigação de casos suspeitos, a classificação dos casos como confirmados ou descartados e a rápida resposta a fim da prevenção da transmissão da doença.[8]
Globalmente, a descrição de um caso suspeito de rubéola é “a person with fever and maculopapular rash”, no entanto, a descrição específica é “a person with maculopapular rash and cervical, suboccipital or postauricular lymphadenopathy, or arthralgia/arthritis”.[8]
A utilização da descrição específica para a deteção de casos suspeitos de rubéola pode culminar na negligência de casos de indivíduos que contraíram a doença, porém, não apresentam a completude da sintomatologia descrita.[8]
É de notar que, regra geral, os países que se encontram numa situação económica desfavorável tendem a utilizar a descrição específica para a deteção de casos suspeitos de rubéola pelo facto de não terem a capacidade de os confirmar laboratorialmente na sua totalidade.[8]
A rubéola é um dos cinco exantemas virais da infância, sendo que os restantes se tratam do sarampo, da varicela, do eritema infecioso e da roséola.
A infeção pelo vírus da rubéola é mais frequente durante a primavera e em países com climas temperados. Previamente ao início da administração da vacina contra a rubéola, ocorriam surtos a cada seis-nove anos nos Estados Unidos da América (EUA) e a cada três-cinco anos no continente europeu, afetando principalmente crianças entre os cinco e os nove anos de idade. Desde o início da administração da vacina contra a rubéola, a ocorrência de surtos tornou-se rara nos países desenvolvidos, no entanto, continuam a ocorrer em países subdesenvolvidos. A rubéola está em processo de erradicação pela Organização Mundial da Saúde, contudo, enquanto houver países sem campanhas de vacinação, haverá sempre o risco da reintrodução do vírus da rubéola em países que já o haviam erradicado.
Segundo Ortner, doenças causadas por vírus, tal como a rubéola, podem provocar patologias ósseas, no entanto, as manifestações esqueléticas são pouco comuns e as lesões não são patognomónicas, isto é, são indistinguíveis de outras patologias esqueléticas.[19][20] Para além dos ossos, os dentes também podem padecer de anormalidades como consequência das doenças que ocorrem durante o desenvolvimento dos indivíduos, tais como a rubéola e a sífilis.[20]
No passado, a síndrome da rubéola congénita teve sérias consequências para a sobrevivência dos recém-nascidos, sendo que o mais comum era a ocorrência de abortos espontâneos e a morte do feto.[3][4][21] Consequentemente, estes bebés não apresentavam evidências que pudessem indicar a possível ou a provável causa da morte, dificultando o estudo paleopatológico.[21] Segundo Cooper, os recém-nascidos sofriam de problemas cardíacos e de perda de peso, o que fez com que a taxa de sobrevivência diminuísse, impedindo o aparecimento de evidências ósseas que poderiam ser estudadas pelos paleopatólogos.[21]
Um estudo realizado por Rudolf revelou que quarenta e cinco ponto três porcento dos recém-nascidos cuja mãe foi infetada pelo vírus da rubéola durante a gravidez apresentavam modificações ósseas nas oito primeiras semanas de vida.[21] Estas modificações ósseas foram descritas como bandas largas radiolúcidas e projeções com um aspeto pontiagudo nas linhas metafisárias dos ossos longos e fontanelas frontais alargadas.[21] Reed também descreveu lesões ósseas, tendo sido caracterizadas por estriações longitudinais que iam do meio das epífises em direção ás linhas metafisárias, que se apresentavam mais espessas do que o normal.[21] Reed descreveu a causa destas estriações como uma perturbação na diferenciação de fibroblastos e osteoblastos provocada pela infeção pelo vírus da rubéola.[21] Estas lesões ósseas podem desaparecer ao fim de alguns meses após a eliminação do vírus da rubéola do organismo do indivíduo infetado.[21] Outro estudo, realizado em 2002, fez com que Steyn incluísse a rubéola no seu diagnóstico diferencial.[21] Steyn estudou três indivíduos com idade à morte compreendida entre os três e os seis meses, datados do século XX e oriundos da África do Sul, que apresentavam a fontanela frontal mais larga do que o esperado.[21]
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