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Os Fábios eram os membros da gente Fábia (em latim: gens Fabia; pl. Fabii), uma das mais antigas gentes patrícias da Roma Antiga. Tiveram um papel muito importante logo depois da fundação da República Romana e três irmãos foram cônsules por sete anos consecutivos entre 485 e 479 a.C., consolidando a reputação da família.[1] A casa dos Fábios derivou seu maior prestígio por sua coragem patriótica pelo trágico destino de 306 de seus membros masculinos na Batalha do Crêmera, em 477 a.C.. Mas os Fábios não se distinguiam apenas pelo brilho militar; diversos membros da gente foram importantes para a história, para a literatura e para a arte romana.[2][3][4]
Acredita-se que a família dos Fábios tenha sido considerada entre as chamadas gentes maiores, as mais importantes casas patrícias de Roma, juntamente com os Emílios, os Cláudios, os Cornélios, os Mânlios e os Valérios, mas nenhuma lista destas gentes maiores sobreviveu e nem mesmo o número delas é conhecido com certeza. Até 480 a.C., os Fábios eram fervorosos apoiadores das políticas aristocráticas favorecendo os patrícios e o Senado Romano contra a plebe. Porém, depois de uma grande batalha naquele ano contra os veios, na qual a vitória só foi obtida pela cooperação entre os generais (patrícios) e seus soldados (plebeus), os Fábios se aliaram ao povo romano. Por toda a história da República Romana, os Fábios frequentemente se aliavam com outras famílias proeminentes contra os Cláudios, a mais orgulhosa e aristocrática de todas as gentes romanas e os campeões da manutenção da ordem estabelecida.[5][6]
A mais famosa lenda envolvendo os Fábios conta que, depois do último dos sete consulados consecutivos, em 479 a.C., a gente Fábia tomou para si a guerra contra Veios como uma obrigação pessoal. Uma milícia formada por mais de trezentos homens da gente, juntamente com seus aliados e clientes, um total de cerca de 4 000 homens, se armou e acampou numa colina perto do rio Cremera, que passava entre Roma e Veios. A causa desta secessão tem sido estabelecida como sendo a inimizade entre os Fábios e os patrícios, que os consideravam traidores por advogarem em favor das causas plebeias. A milícia fabiana permaneceu no acampamento em Crêmera por dois anos, lutando com sucesso contra os veios, até que finalmente acabaram sendo atraídos para uma emboscada e foram todos destruídos.[7][8]
Trezentos e seis Fábios em idade de combate foram mortos no desastre, deixando apenas um único sobrevivente em Roma. Em alguns relatos, ele seria o único sobrevivente de toda a gente, mas é extremamente improvável que o acampamento dos Fábios abrigasse não apenas todos os homens, mas as mulheres e crianças da família também. Estes e também os idosos da gente provavelmente permaneceram em Roma. O dia da destruição dos Fábios foi lembrado para sempre, pois foi no mesmo dia que os gauleses de Breno derrotaram o exército romano na Batalha do Ália em 390 a.C., o décimo-quinto dia antes das calendas de Sextilis (18 de julho).[9][10][11][12][13][14]
O nome dos Fábios estava associado com um dos dois colégios dos Luperci, os sacerdotes que administravam os ritos sagrados do antigo festival religioso da Lupercália. O outro colégio levava o nome dos Quintílios, sugerindo que, nos primeiros anos, estas duas gentes seriam responsáveis por rituais como um "sacrum gentilicum" ("dever sagrado da gente"), como era o caso dos Pinários e dos Potitos, responsáveis pelos rituais de Hércules. Estes ritos sagrados foram gradualmente sendo transferidos para o Estado ou abertos ao povo romano; uma lenda bem conhecida atribui a destruição dos Potitos ao abandono de seu dever sagrado. Em tempos posteriores, o privilégio da Lupercália deixou de ser restrito aos Fábios e aos Quintílios.[2][15][16][17]
Uma das trinta e cinco tribos com direito a voto nas quais o povo romano estava divido, a tribo Fabia foi batizada em homenagem aos Fábios; diversas tribos também levavam nomes de gentes importantes, incluindo as tribos Aemilia, Claudia, Cornelia, Fabia, Papiria, Publilia, Sergia e Veturia. As demais parecem ter sido batizadas com o nome de famílias de menor relevo.[2]
Segundo a lenda, os Fábios alegavam descender de Hércules, que teria visitado a Itália uma geração antes da Guerra de Troia, e de Evandro, seu anfitrião. Esta tradição era idêntica à dos Pinários e Potitos, que teriam recebido Hércules e aprendido com ele os ritos sagrados que celebraram, por séculos, em sua homenagem.[18][19][20][21]
Uma outra lenda muito antiga afirma que os fundadores de Roma, os seguidores dos irmãos Rômulo e Remo eram chamados de Quintílios e Fábios respectivamente. Acreditava-se que os irmãos ofereciam sacrifícios na caverna Lupercal, na base do monte Palatino, rituais estes que deram origem à Lupercália. Esta história está certamente ligada à tradição de que os dois colégios dos Luperci tinham os nomes dessas duas antigas gentes.[22][23][24][25]
Acredita-se que o nomen dos Fábios originalmente tenha sido Fovius, Favius ou Fodius; Plínio afirma que ele derivava de faba, um grão, um vegetal que teria sido cultivado pela primeira vez pelos Fábios. Uma explicação mais imaginativa deriva o nome de "fovae", "fossos", que os ancestrais dos Fábios teriam utilizado para capturar lobos.[26]
É incerto se os Fábios eram de origem latina ou sabina. Niebuhr, seguido por Göttling, os considerava sabinos. Porém, outros estudiosos não se convenceram com o racional apresentado por eles e notaram que a lenda associando os Fábios a Rômulo e Remo os colocaria em Roma antes da incorporação dos sabinos no nascente Reino de Roma.
Deve, de qualquer maneira, ser notado que, mesmo supondo que esta tradição tenha sido baseada em eventos históricos, os seguidores dos irmãos eram descritos como "pastores" e, presumivelmente incluíam muitas pessoas na época vivendo na região rural onde a cidade de Roma foi construída. As colinas de Roma já eram habitadas na época da lendária fundação e elas ficavam na fronteira dos territórios latino, sabino e etrusco. Mesmo se muitos dos seguidores de Rômulo e Remo fossem latinos da antiga cidade de Alba Longa, muitos também podem ter sido sabinos já vivendo no local.[27][28]
as primeiras gerações dos Fábios preferiam os prenomes (praenomina) Cesão, Quinto e Marco. Logo depois da destruição dos Fábios em Crêmera, o nome Numério aparece pela primeira vez. Os Fábios foram a única família patrícia a ter utilizado este prenome regularmente, embora ele apareça esporadicamente em outras gentes, como os Fúrios e os Valérios, ambos conhecidos por utilizarem regularmente prenomes antigos ou pouco usuais. Segundo a lenda, "Numério" entrou para a gente quando Quinto Fábio Vibulano casou-se com uma filha de Numério Otacílio Maleventano e deu ao seu filho o nome de seu sogro.[2][29]
Embora os Fábios Ambustos e alguns outros ramos da família tenham utilizado o prenome Caio, Quinto é o nome mais frequentemente associado aos Fábios no final da República. Os Fábios Máximos utilizaram-no a ponto de excluir todos os demais prenomes até o final da República, quando reviveram o antigo prenome Paulo, uma forma de homenagear os Emílios Paulos, de quem os antigos Fábios foram descendentes, tendo sido adotado na gente Fábia no final do século III a.C..
Uma variedade de sobrenomes associados aos Emílios também foram utilizados por esta família e um dos Fábios era conhecido como "Africano Fábio Máximo", embora seu nome correto fosse Quinto Fábio Máximo Africano.[2][30]
Sérvio foi utilizado pelos Fábios Pictores, mas não parece ter sido utilizado por nenhuma outra família da gente. É possível que ele tenha entrado na família pela linhagem materna, uma homenagem ao sogro de algum deles.[2]
Os cognomes (cognomina) dos Fábios durante o período republicano foram Ambusto, Buteão, Dorso ou Dorsuo, Labeão, Lícino, Máximo (com os agnomes Emiliano, Alobrógico, Eburno, Gurges, Ruliano, Serviliano e Verrugoso), Pictor e Vibulano. Outros cognomes pertenceram a pessoas que não eram, estritamente falando, membros da gente e sim libertos ou descendentes de libertos ou ainda pessoas que ganharam a cidadania romana sob os Fábios. Os únicos cognomes que apareceram em moedas foram Hispânico, Labeão, Máximo e Pictor.[2][31]
No período imperial fica muito mais difícil distinguir entre os membros da gente e pessoas sem relação que dividem o mesmo nomen. Membros da gente são citados até o final do século II a.C., mas pessoas com o nome "Fábio" continuaram a aparecer até o final do Império.[2]
O ramo mais antigo dos Fábios tinham o cognome "Vibulano", que pode ser uma alusão a uma terra natal ancestral da gente. O cognome Ambusto, que significa "queimado", substituiu Vibulano no final do século V a.C. e o primeiro deles era descendente dos Vibulanos. A família mais celebrada da gente Fábia, com o cognome "Máximo", era, por sua vez, descendente dos Fábios Ambustos. Esta família era famosa por seus estadistas e líderes militares, que duraram das Guerras Samnitas, no século IV a.C., até as guerras contra os invasores germânicos no século II a.C.. A maioria, se não todos, os Fábios Máximos eram descendentes de Quinto Fábio Máximo Emiliano, um dos Emílios Paulos, que, ainda criança, foi adotado pelos Fábios[2][a].
Buteão, uma referência a uma espécie de gavião, foi originalmente dado a um membro da gente Fábia porque um pássaro teria pousado no navio de um Fábio, um presságio favorável. Esta tradição, segundo Plínio, não indica qual dos Fábios obteve primeiro o cognome, mas é provável que tenha sido um Fábio Ambusto.[2][32]
O cognome Pictor significa "pintor" e o membro mais antigo desta família era de fato um pintor, famoso por sua obra no templo de Salus, construído por Caio Júnio Bubulco Bruto entre 307 e 302 a.C.. Os últimos membros desta família, muitos deles destaques no mundo artístico, parecem ser descendentes deste Pictor e certamente receberam dele o cognome.[2][33]
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