Na matemática, uma categoria é um conceito similar a um grafo direcionado, incluindo setas entre objetos, entre elas havendo identidades e uma operação de composição, com propriedades análogas à composição de funções.[1]
A teoria das categorias é o estudo de propriedades e classificações de categorias e conceitos relacionados. Ela provê uma linguagem que simplifica conceitos e demonstrações em várias áreas de matemática, possibilitando delinear e separar os resultados gerais dos que se aplicam a uma área específica.[2]
Categorias foram introduzidas por Samuel Eilenberg e Saunders Mac Lane com o objetivo de dar um significado rigoroso ao conceito de "canônico" ou "natural".[2]
Definição
Uma categoria C consiste nos seguintes elementos:
- Uma coleção[nota 1][3] de objetos, coleção esta denotada por
- ob C ou, simplesmente, C.
- Para cada dupla a, b de objetos, uma coleção de triplas (a, b, f), chamadas setas (ou morfismos) do domínio (ou origem) a até o contradomínio (ou destino) b, para as quais são usadas as notações
- f : a → b, , (a, b, f) ∈ homC(a, b) (ou brevemente f ∈ homC(a, b)), f ∈ C(a, b), f ∈ morC(a, b) ou dom(f) = a, cod(f) = b.
- Para cada objeto a, uma seta de a até a, chamada identidade, e denotada por ida ou 1a.
- Para cada tripla de objetos a, b, c, uma operação de composição, levando
- cada seta f : a → b e cada seta g : b → c a uma seta g ∘ f : a → c.
- Devem ser satisfeitas as igualdades:
- (Lei da identidade) Para todos objetos a, b e todas as setas f : a → b, 1b ∘ f = f = f ∘ 1a.
- (Associatividade) Para todos objetos a, b, c, d e todas as setas f : a → b, g : b → c e h : c → d, (h ∘ g) ∘ f = h ∘ (g ∘ f).
Categorias definidas têm, comumente, nome escrito em negrito, como Cat, ou sem serifas, como . Nota-se que, como definido acima, hom(a, b) ∩ hom(c, d) = ∅ a menos que a = c e b = d.[4][5][3][6]
Exemplos de categorias
- A categoria dos conjuntos, denotada por Set (inglês set) ou por Ens (francês ensemble), tem como coleção de objetos a coleção de conjuntos pequenos, e, para cada dois objetos A, B seus, as setas (A, B, f) serão precisamente as funções de A a B (etiquetadas com seu domínio e contradomínio), sendo que a identidade e a composição correspondem às funções identidades e à composição de funções, respectivamente.
- A categoria dos grupos, denotada por Grp, tem como coleção de objetos a coleção de grupos (G, ⋅) para os quais G é conjunto pequeno, e as suas setas correspondem aos homomorfismos de grupos. De maneira similar, há a categoria dos monoides Mon, dos grupos abelianos Ab, dos anéis Anel, dos módulos R-Mod etc.
- A categoria dos espaços topológicos, denotada por Top, tem como objetos os espaços topológicos (X, τ) para os quais X é conjunto pequeno, e as suas setas correspondem às funções contínuas.[4]
- Para cada monoide (M, ⋅), há uma categoria B M, com um único objeto, e cujas setas correspondem biunivocamente aos elementos de M, com seta identidade sendo o elemento neutro de M, e composição dada pela operação ⋅.
- Para cada pré-ordem (P, ≤), há uma categoria, cujos objetos são elementos de P, e tal que, para objetos a, b, há exatamente um morfismo a → b se a ≤ b, e nenhum se ¬ (a ≤ b). A existência de identidades vem de que a ≤ a, e a existência de composições segue da transitividade.
- Para cada conjunto A, há uma categoria discreta, cujos objetos são precisamente os elementos de A, e na qual os únicos morfismos são as identidades.[5]
- Para cada grafo (V, E), há a categoria livre, cujos objetos são os vértices em V, e, dados objetos a, b, os morfismos a → b correspondem precisamente aos caminhos formados pelas arestas em E, iniciando em a e terminando em b; as identidades correspondem a caminhos de zero arestas, e as composições correspondem a concatenações de caminhos.[7]
Categorias pequenas e grandes
Na teoria de conjuntos (mais precisamente axiomas de Zermelo-Fraenkel), não há conjunto incluindo todos os conjuntos. Similarmente, não há categoria incluindo todos os conjuntos (ou grupos, espaços topológicos etc.)[8] Isso pode ser resolvido, usando universos de Grothendieck. Dado universo, chame um conjunto de (-)pequeno se ele for membro de . Então, será a categoria dos conjuntos pequenos. Dado o axioma de universos, temos uma sequência: em que são universos.
Uma categoria é (-)pequena quando o conjunto de objetos e todos os conjuntos de setas hom(a, b) são (-)pequenos. Notar que é assim uma categoria -grande.
Na prática, o prefixo "-" é omitido.[9]
Esta, porém, não é a única forma de resolver esse problemas lógicos. Adámek, Herrlich e Strecker, por exemplo, supõem somente a existência de conjuntos, classes e conglomerados (que correspondem, respectivamente, a elementos de um universo, subcoleções do universo e coleções de subcoleções do universo); nesse contexto, os hom são sempre conjuntos (não podem ser classes quaisquer), e uma categoria pequena é definida como uma categoria cuja coleção de objetos é um conjunto.[10]
Categoria oposta
Para cada categoria , temos a categoria oposta (ou dual) , obtida invertendo a direção das setas de . Mais precisamente, tem os mesmos objetos que , e cada morfismo em é denotado por para exatamente um morfismo ; identidades são , e composição é definida por para setas de domínio e contradomínio adequados.
A cada teorema do formato "para toda categoria , é verdade", há o costume de expressar o caso particular "" sem envolver a definição de categoria oposta (por exemplo, trocando "domínio" com "contradomínio", "monomorfismo" com "epimorfismo" etc.). Isso pode deixar mais fácil de encontrar demonstrações de outros resultados.[11]
Produto de categorias
A categoria das categorias pequenas (e functores como morfismos) tem produtos binários. Eis uma construção explícita.[12] Dadas categorias , os objetos de são as duplas , com objeto de e objeto de , e os morfismos são as duplas de morfismos e . A identidade de é , e composições são dadas por:
Tipos de morfismos
Um morfismo f : a → b numa categoria C é chamado:
- um monomorfismo quando é cancelável à esquerda, isto é,
- para todo objeto c e morfismos g, h : c → a satisfazendo f ∘ g = f ∘ h, vale g = h.
- um epimorfismo quando é cancelável à direita, isto é,
- para todo objeto c e morfismos g, h : b → c satisfazendo g ∘ f = h ∘ f, vale g = h.
- um bimorfismo quando é um monomorfismo e um epimorfismo.
- uma seção quando é um inverso direito, isto é,
- existe g : b → a tal que g ∘ f = 1a.
- uma retração quando é um inverso esquerdo, isto é,
- existe g : b → a tal que f ∘ g = 1b.
- um endomorfismo quando a = b.
- um isomorfismo quando é um inverso, isto é,
- existe g : b → a tal que g ∘ f = 1a e f ∘ g = 1b.
- um automorfismo quando é um isomorfismo e um endomorfismo.
- um idempotente quando a = b e f ∘ f = f.
- um idempotente que cinde quando a = b e
Ligações externas
Notas
- Emprega-se o termo coleção, em vez de classe ou conjunto, para eximir, em primeiro contato, o leitor de preocupações com a lógica ou a teoria dos conjuntos. Ver, porém, a seção Categorias pequenas e grandes.
Referências
- (Adámek, Herrlich, Strecker, §I.3.1)
- (Adámek, Herrlich, Strecker, §0.2, §3.1, §3.44)
Bibliografia
Wikiwand in your browser!
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.
Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.