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Cartas ao Conselheiro Ruy Barbosa é um compêndio de cartas escritas pelo intelectual Sílvio Romero e publicadas no Jornal do Commercio em 1893, direcionadas a Ruy Barbosa, autor do projeto da primeira constituição republicana do Brasil. O objetivo de Sílvio Romero é mostrar que o parlamentarismo adéqua-se à forma de governo republicana. Para isso, aponta os defeitos do presidencialismo, responde às objeções em relação ao parlamentarismo e sugere medidas a serem tomadas.
Após a Proclamação da República, em 1889, foi instaurada uma Assembleia Constituinte para redigir uma constituição republicana no Brasil. Entre as propostas existentes para o novo sistema de governo brasileiro estava a república parlamentarista, defendida por republicanos contrários ao militarismo da República da Espada (1889-1894) e por remanescentes da monarquia.[1]
Entre os principais apoiadores do parlamentarismo estava Sílvio Romero. Formado em Direito, mas atuando principalmente como professor de Filosofia e crítico literário, o polímata foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ANL), sendo famoso por seus artigos sobre educação no jornal carioca Diário de Noticias, mas também por seu apoio a ideias favoráveis à eugenia.[2]
Na política, filiou-se ao Partido Republicano Paulista (PRP), sendo nomeado para o Conselho de Instrução Superior em 1891. Foi deputado federal entre 1900 e 1902, sendo um dos responsáveis pela elaboração de um código civil brasileiro. Posteriormente, viria a apoiar, através da imprensa e da literatura, os maragatos da Revolução Federalista, também partidários do parlamentarismo.[3]
Sílvio Romero inicia suas Cartas combatendo o presidencialismo em suas origens, isto é, nos Estados Unidos da América, grande fonte de inspiração dos republicanos brasileiros e da Constituição de 1891[4]. Segundo Romero:
Uma critica mais segura das fontes e das condições que deram origem à Constituição americana tem esclarecido a verdadeira índole do chamado presidencialismo, que, bem longe de ser o grande mérito daquela organização política, é, ao contrario, o seu maior defeito. [...] Além de que o genuíno parlamentarismo não tinha ainda naquele tempo chegado à completa elaboração de sua própria fórmula e, isto é capital, acresce que os legisladores americanos, mesmo para o que já então existia na Inglaterra, não beberam nas melhores fontes.
Sílvio Romero então inicia sua defesa do parlamentarismo, recorrendo aos exemplos europeus[4]. Segundo o polímata:
[...] ao passo que os americanos transportavam para a União uma anomalia própria dos governos locais das colônias, o parlamentarismo seguia a sua evolução para adiante; dotava a Grã-Bretanha do governo mais livre que existe sobre a terra, ia ter repercussão entre os povos progressivos e liberais. A Holanda, a Bélgica, a Suécia, a Itália, a França, a Espanha, entraram no grande ciclo dos governos de discussão, de responsabilidade, de vida ás claras, governos da opinião.
Em seguida, ele rebate as críticas ao parlamentarismo do Império, alertando que a Constituição de 1824 não previa tal sistema, mas que, ainda assim, ele se desenvolveu entre nós ao longo das décadas, apelando para a tradição política brasileira dos últimos 70 anos[4]:
Como quer que seja, porém, e isto é o principal, o parlamentarismo entre nós tinha já a seu favor a experiência de 70 anos de vida, que se pôde dizer normal.
Por fim, Sílvio Romero defende a possibilidade de convivência entre o parlamentarismo e o federalismo, sistema administrativo caro a praticamente todos os republicanos brasileiros[4]. Segundo o autor:
Como poderá um ministro responder por fatos passados nos Estados, que são autônomos? A resposta é muito simples: deverá responder pelos fatos passados nos Estados que forem da competência do governo federal; e os membros do Congresso deverão ter o bom senso e o critério indispensáveis para não responsabilizarem uma autoridade por coisas, que não são da sua alçada. [...] em sua fisionomia geral, o Império Inglês é uma verdadeira federação, mais de um Estado que o compõe acha-se em idênticas condições; o mesmo Canadá e a Austrália estão no caso; fazem parte de uma federação e cada um deles é por sua vez uma federação, e regida parlamentarmente.
Nesse sentido, o intelectual mantém sua argumentação em defesa da possibilidade de harmonia entre federalismo e parlamentarismo, indicando um verdadeiro receituário político-administrativo a Ruy Barbosa, baseado na experiência da Terceira República Francesa[4]. As medidas indicadas para essa harmonia são:
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