Sílvio Romero

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Sílvio Romero
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Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (Lagarto, 21 de abril de 1851Rio de Janeiro, 18 de junho de 1914) foi um polímata brasileiro.

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Em selo postal de 1951.
Factos rápidos
Sílvio Romero
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Nome completo Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero
Nascimento 21 de abril de 1851
Lagarto, SE
Brasil
Morte 18 de junho de 1914 (63 anos)
Rio de Janeiro, RJ
Brasil
Nacionalidade brasileiro
Ocupação
Magnum opus História da literatura brasileira
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Biografia

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Sílvio Romero nasceu em Lagarto, em Sergipe, em 21 de abril de 1851. Cursou a Faculdade de Direito do Recife entre 1868 e 1873, diplomado em 1873, contemporâneo de Tobias Barreto.[1] Nos anos 1870 colaborou como crítico literário em vários periódicos pernambucanos e cariocas.

Em 1875 foi eleito deputado provincial por Estância, Sergipe. Radicou-se no Rio de Janeiro, onde obteve notoriedade, especialmente como crítico literário. Em 1878 publicou seus dois primeiros livros, A Filosofia no Brasil e Cantos do Fim do Século, o seu primeiro livro de poesia. O primeiro deles tinha a intenção de questionar o meio acadêmico e intelectual do Rio de Janeiro, assim como de exaltar as qualidades de Tobias Barreto, seu mestre e conterrâneo. Nessa obra critica com veemência as correntes de filosofia no país, em especial o espiritualismo e o positivismo.[2]

No Rio de Janeiro, lecionou filosofia no Colégio Pedro II entre 1881 e 1910. Estava entre os intelectuais que fundaram a Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1897. Um ativo polemista, contribuiu de modo significativo para que a Escola do Recife — denominação que lhe deve ser atribuída — viesse a ser conhecida em todo o país.

Em 1882 publicou a Introdução à História da Literatura Brasileira, atualmente em edição de cinco volumes. Com o livro Últimos Harpejos, em 1883, sua carreira de poeta se encerra. Como resultado de pesquisas sobre o folclore brasileiro escreveu O elemento popular na literatura do Brasil e Cantos populares do Brasil, tendo realizado para este, em 1883, uma viagem a Lisboa a fim de publicá-lo. Em 1888 foi publicada a História da Literatura Brasileira em 2 volumes.

Em 1891 produziu artigos sobre ensino para o jornal carioca Diário de Notícias, dirigido por Rui Barbosa. No mesmo ano, foi nomeado membro do Conselho de Instrução Superior por Benjamim Constant. Foi um dos grandes defensores do parlamentarismona Primeira República, expresso na obra Cartas ao Conselheiro Ruy Barbosa.

Foi um dos primeiros pensadores a se interessar por Antônio Conselheiro, o qual via como missionário vulgar que agregara em torno de si fanáticos depredadores. Seu amigo Euclides da Cunha, tendo sido enviado para Canudos, foi responsável pelo esclarecimento dos fatos ainda nebulosos para muitos intelectuais da época.

Entre 1900 e 1902 foi deputado federal pelo Partido Republicano, trabalhando na comissão encarregada de rever o Código Civil na função de relator-geral.

Entre 1911 e 1912 residiu em Juiz de Fora, participando da vida intelectual da cidade, publicando poemas e outros escritos nos jornais locais, prefaciando livros, ministrando aulas no ensino superior e proferindo discursos.

Características literárias

Sílvio reivindicava para o Brasil o “pensamento autonômico”, e optaria pelo “evolucionismo spenceriano, no qual os fatores biológicos dariam um suporte maior à sua crítica sociológica”.[3]

A obra de Sílvio, desde os primeiros ensaios publicados em periódicos do Recife, na década de 1870, situa-se sob o signo do embate e da polêmica,[3] e estende-se desde a poesia, crítica, teoria e história literária, folclore, etnografia, até estudos políticos e sociológicos.

Em 1904, através de carta, respondendo um questionário feito por João do Rio para a imprensa carioca, Sílvio afirma: “Em mim o caso literário é complicadíssimo e anda tão misturado com situações críticas, filosóficas, científicas e até religiosas, que nunca o pude delas separar”.[4]

Com relação à poesia, teve breve carreira, e vincula-se à terceira geração do Romantismo, influenciada pela obra de Victor Hugo. Terminou a carreira poética com “Últimos harpejos: poesia”, em 1883.

Polêmicas

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Perspectiva

Sílvio Romero foi um importante membro da elite intelectual brasileira, porém suas falas notadamente racistas e pró eugenia da população geram polêmicas até hoje.

Sílvio Romero dizia:

Povo que descendemos de um estragado e corrupto ramo da velha raça latina, a que juntaram-se o concurso de duas das raças mais degradadas do globo, os negros da costa e os peles vermelhas da América [...] [de que] resultaram o servilismo do negro, a preguiça do índio e o gênio autoritário e tacanho do português [que] produziram uma nação informe e sem qualidades fecundas e originais.[5]

Sobre o futuro do Brasil, Romero enunciava:

A minha tese, pois, é que a vitória na luta pela vida, entre nós, pertencerá, no porvir, ao branco; mas que esse, para essa mesma vitória, tem necessidade de aproveitar-se do que de útil as outras duas raças lhe podem fornecer, máxime a preta com quem tem mais cruzado. Pela seleção natural, todavia, depois de prestado o auxílio de que necessita, o tipo branco irá tomando a preponderância até mostrar-se puro e belo como no Velho Mundo. Será quando já estiver de todo aclimatado no continente. Dois fatos contribuirão largamente para esse resultado: de um lado, a extinção do tráfico africano e o desaparecimento constante dos índios, e de outro a imigração europeia.[6]

Uma das características mais marcantes de Sílvio era o embate violento e intolerante contra outros escritores, intelectuais e políticos, gerando numerosas polêmicas. Uma de suas polêmicas foi com o conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira quando da publicação do livro “Machado de Assis” em 1897, quando Lafayette publicou uma série de artigos em defesa de Machado.

Em “Zéverissimações Ineptas da Crítica”, de 1909, Sílvio passa a atacar José Veríssimo, por este ter dado pouca importância a Tobias Barreto, a quem o próprio Sílvio tanto admirava.

Teófilo Braga cuidou dos prólogos e das notas dos livros “Cantos Populares do Brasil” (1883) e “Contos Populares do Brasil” (1885), que foram publicados originalmente em Lisboa, porém, ao se atrever a mudar a ordem de capítulos do segundo deles, provocou violenta reação de Sílvio Romero, que escreveu os livros panfletários “Uma Esperteza: os cantos e contos populares do Brasil e o Sr. Theophilo Braga” (1887) e “Passe Recibo” (1904), nos quais atacou Braga, ultrapassando os limites e regras da civilidade e da convivência social. Romero escreveu “Uma Esperteza: os cantos e contos populares do Brasil e o Sr. Theophilo Braga”, mediante o fato de a 1ª edição de Contos Populares do Brasil, publicada em Portugal, ter apresentado o que o autor considerou como irregularidades, no tocante às modificações feitas por Teófilo Braga, o qual, de acordo com a opinião de Romero, acrescentara ao livro contos atribuídos a coletâneas de outros autores.[7]

Também foi um propagandista contra a imigração alemã, retratando os imigrantes germânicos e seus descendentes como uma ameaça à integridade do Brasil.[8]

Obras

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Filosofia, política e sociologia

  • A filosofia no Brasil: ensaio crítico. Porto Alegre: Tipografia de Deutsche Zeitung, 1878. 192 p.
  • Interpretação filosófica na evolução dos fatos históricos. Rio de Janeiro, 1880. (Tese de concurso à cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II).
  • Ensaios de philosophia do direito. Recife: Companhia Impressora, 1885. 307 p.
  • Ensaios de philosophia do direito. Apêndice Gumercindo Bessa. Rio de Janeiro: Cunha e Irmãos Editores, 1895. 264 p.
  • Ensaios de philosophia do direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1908. 320 p.
  • Ensaios de filosofia do direito. São Paulo. Landy Livraria Editora. 2001. 179 p.
  • A filosofia e o ensino secundário. Rio de Janeiro, 1885. (Opúsculo).
  • Doutrina contra doutrina; o evolucionismo e o positivismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editor J. B. Nunes, 1894.
  • Doutrina contra doutrina; o evolucionismo e o positivismo no Brasil. 2. ed. melhorada. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de Alves & Cia, 1895. 293 p.
  • Obra filosófica. Introdução e seleção Luís Washington Vita. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969. 701 p. (Documentos brasileiros, 139).
  • Ensaios de crítica parlamentar. Rio de Janeiro: Moreira Máximo & Cia. 1883. 186 p.
  • As formas principaes da organização republicana. Rio de Janeiro, 1888. (Opúsculo).
  • Parlamentarismo e presidencialismo na república brasileira; cartas ao conselheiro Rui Barbosa.[9] Rio de Janeiro: Companhia Impressora, 1893. 152 p.
  • Discursos. Porto: Livraria Chardron, 1904. 316 p.
  • O alemanismo no sul do Brasil; seus perigos e meios de os conjurar. Rio de Janeiro: Typ. Heitor Ribeiro, 1906. 72 p.
  • O Brasil social; vistas sintéticas obtidas pelos processos de La play. Rio de Janeiro: Typ. Jornal do Commercio, 1907. 43 p.
  • Geografia da politicagem. Rio de Janeiro, 1909. (Opúsculo).
  • Bancarrota do regime federativo na república brasileira. Rio de Janeiro, 1910. (Opúsculo).
  • Provocações e debates; contribuição para o estudo do Brasil social. Porto: Livraria Chardron, 1910. 416 p.
  • O castilhismo no Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro, 1910.
  • O Brasil na primeira década do século XX. Lisboa: Typ. da “A Editora Limitada”, 1912. 209 p. (Estudos Sociaes).
  • O remédio. Rio de Janeiro, 1914. (Discurso de paraninfo).
  • A união do Paraná e Santa Catarina: o Estado de Iguassú. Prefácio Arthur Guimarães. Niterói: Escola Typ. Salesiana, 1916. 45 p. (Extractos de uma série de artigos publicados no Jornal “A ‘Época” da capital Federal, em nov. 1912).
  • Parlamentarismo e presidencialismo. Introdução de Pedro Calmon. Brasília: Senado Federal, 1979. 84 p. (Coleção Bernardo Pereira de Vasconcelos. Série Estudos Políticos, 14).
  • Realidade e ilusões no Brasil; parlamentarismo e presidencialismo e outros ensaios. Seleção e coordenação Hildon Rocha. Petrópolis: Editora Vozes, 1979. 324 p.
  • O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001. 277 p. (Biblioteca Básica Brasileira).

Estudos literários

Poesia

  • Cantos do fim do século: poesia. Rio de Janeiro: Tipografia Fluminense, 1878. 232 p.
  • Últimos harpejos: fragmentos poéticos. Porto Alegre: Carlos Pinto, 1883.

História

  • A história do Brasil ensinada pela biografia dos seus heróis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1890.
  • A história do Brasil ensinada pela biografia dos seus heróis. 2. ed. corr. e aum. Prefácio e vocabulário João Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de Alves & Cia, 1892. (Livro para as classes primárias).
  • O antigo direito em Espanha e Portugal. 1894.
  • O elemento português no Brasil. Rio de Janeiro, 1902. (Opúsculo).
  • A América Latina. Porto: Chardron, 1906. 361 p. (Análise do livro de igual título do Dr. M. Bonfim).
  • A pátria portugueza; o território e a raça. Lisboa: Clássica, 1906. 515 p. (Apreciação do livro de igual título de Theophilo Braga).
  • Trechos escolhidos. 2. ed. Seleção Nelson Romero. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1975. 96 p. (Nossos clássicos, 35).

Foi um dos membros do corpo diretivo luso-brasileiro da Revista de Estudos Livres[10] (1883-1886).

Imortal da Academia Brasileira de Letras

Durante a sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, em 28 de janeiro de 1897, fundou a cadeira 17 com Hipólito da Costa como patrono. Recebeu em 18 de dezembro de 1906 Euclides da Cunha.

Ver também

Referências

  1. Süssekind de Mendonça, Carlos. Sílvio Romero. Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1963. pp. 25.
  2. MONTEIRO, Luiz Carlos. Sílvio Romero. In: Continente OnLine, Silvio Romero
  3. MONTEIRO, Luiz Carlos. Sílvio Romero. In: Continente OnLine, Silvio Romero
  4. Brito, Fausto (Junho de 2008). «Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil». Revista Brasileira de Estudos de População. 25 (1): 5–26. ISSN 0102-3098. doi:10.1590/s0102-30982008000100002
  5. Vargas, João H. Costa (Junho de 2005). «Apartheid brasileiro: raça e segregação residencial no Rio de Janeiro». Revista de Antropologia. 48 (1): 75–131. ISSN 0034-7701. doi:10.1590/s0034-77012005000100003
  6. ROMERO, Sílvio. Uma esperteza: os cantos e contos populares do Brasil e o Sr. Theophilo Braga. Protesto por Sylvio Roméro. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola, de Serafim José Alves, 1887, 174p.
  7. BONOW, Stefan Chamorro (2011). «A desconfiança sobre os indivíduos de origem germânica em Porto Alegre durante a Primeira Guerra Mundial: cidadãos leais ou retovados?». Porto Alegre: PUCRS. Consultado em 2 fev 2013. Arquivado do original em 5 de março de 2016
  8. Pedro Mesquita (22 de outubro de 2013). «Ficha histórica: Revista de estudos livres (1883-1886)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de abril de 2015

Bibliografia

Ligações externas

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