Ensaio é uma obra de reflexão que versa sobre determinado tema, sem que o autor pretenda esgotá-lo, exposta de maneira pessoal ou mesmo subjetiva. Ao contrário do estudo, o ensaio não é investigativo, podendo ser impressionista ou opinativo. É um texto breve, situado entre o poético e o didático, contendo ideias, críticas e reflexões sobre diferentes temas. Menos formal que o tratado, presta-se à defesa de um ponto de vista pessoal acerca de um dado tema (filosófico, científico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso etc.),[1][2] sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico.[2]
O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset o definiu como "a ciência sem prova explícita".[3]
Origens
Surgidos no final do século XVI, ensaios são simples opiniões, pensamentos que não devem ser levados muito a sério. Foi isso que o escritor e filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) idealizou[3][4] ao escrever seus essais (1580; Ensaios).[1][2] Ele queria dizer que aquilo eram tentativas, simples esboços literários (o termo francês deriva do verbo essayer, que significa "tentar"). Na Inglaterra, o filósofo Francis Bacon, primeiro grande ensaísta inglês, publicava essays (1597; Ensaios). Porém, o que Michel de Montaigne criaria, junto com Bacon,[4] séculos mais tarde se tornaria um dos principais gêneros literários dos críticos e filósofos, além de influenciar radicalmente a história.
Divisões
Originalmente, o ensaio se divide em formal ou discursivo e informal ou comum. No formal, os textos são objetivos, metódicos e estruturados, dirigidos mais a assuntos didáticos, críticas oficiais, etc.. Já o informal é mais subjetivo e caprichoso em fantasia, o que o torna muito mais vinculável. Com essa característica, o ensaio comum explodiu na Europa do século XIX e primeira metade do século XX. O objetivo do ensaio é fazer algo comum, de fácil leitura, em que se possa fazer rápido, sem compromisso em dizer a verdade ou provar tal coisa, algo que possa ser discutido em casas de cafés, de intelectuais a cidadãos comuns. É por isso que o ensaio se tornou um gênero literário tão popular.
Ensaios modernos
Depois de Montaigne e Bacon lançarem as bases do ensaio,[4] ele ficou esquecido durante quase todo o século XVII, sendo que poucos foram os que dele lembraram. Em 1666, o filósofo empirista John Locke[4] publicou Essay Concerning Toleration (Ensaio sobre a tolerância). Mas o reformador do ensaio inglês foi o poeta Abraham Cowley, com "Several Discourses by Way of Essays" ("Vários discursos à maneira de ensaios") e "Of Myself" ("Sobre mim mesmo"), incluídos em Essays, só publicados em 1906.
Em princípios do século XVIII, o ensaio informal invadiu o jornalismo inglês, com Daniel Defoe. Estava aberto o caminho para a contribuição decisiva de Joseph Addison e Richard Steele, que levaram o gênero à perfeição estilística e a um êxito sem precedentes nas páginas dos periódicos The Tatler (1709-1711), The Spectator (1711-1714) e The Guardian (1713), que eles próprios fundaram e dirigiram, e em cujas páginas brilharam os poetas Alexander Pope (o único a produzir ensaios em verso) e John Gay. Addison e Steele influenciaram toda uma geração de mestres ingleses, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Outro notável ensaísta inglês do século XVIII foi Samuel Johnson, que, praticamente sozinho, fundou e dirigiu as revistas The Rambler (1750-1752), Adventurer (1752) e The Idler (1759). Destacaram-se também Henry Fielding e Oliver Goldsmith, autor de Citizen of the World (1760; Cidadão do mundo).
Na França do século XVIII não havia muitos ensaístas, exceção feita a Montesquieu, em Essai sur le goût (1748; Ensaio sobre o gosto), e Voltaire, em Essai sur les moeurs et l'esprit des nations (1756; Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações), os dois maiores expoentes. No século XIX, entre os grandes ensaístas franceses destacaram-se Hippolyte Taine, autor de Essais de critique et d'histoire (1858; Ensaios de crítica e história), e Charles Augustin Sainte-Beuve, com suas Causeries de lundi (1851-1862; Conversas de segunda-feira) e Nouveaux lundis (1863-1870; Novas segundas-feiras).
Na Inglaterra, o ensaísmo conservou suas virtudes durante todo o século XIX. Foram grandes ensaístas: Charles Lamb, William Hazlitt, Thomas Carlyle, Percy B. Shelley, Thomas Macaulay, William Thackeray, Walter Bagehot, John Ruskin e muitos outros. O século XIX assinalou também o aparecimento de bons ensaístas nos Estados Unidos, como Ralph Emerson, Henry David Thoreau, Washington Irving e James Lowell. Outros foram o italiano Francesco de Sanctis e Benedetto Croce, embora o melhor de Croce já pertencesse ao século XX. Em Portugal, o ensaísmo restringiu-se a Antero de Quental e Alexandre Herculano. Na Russia destaca-se Leo Tolstoy e Yevgeny Zamyatin.
No século XX destacaram-se os ingleses Gilbert Keith Chesterton, Aldous Huxley, Thomas Eliot e George Orwell; o austríaco Stefan Zweig e o alemão Thomas Mann; os espanhóis Miguel de Unamuno e José Ortega y Gasset; os franceses Remy de Gourmont, Paul Valéry, Albert Camus, Maurice Maeterlinck e Marguerite Yourcenar; os portugueses Eduardo Lourenço, António Sérgio, Jorge de Sena e José Régio; a russa Ayn Rand; e os brasileiros Sérgio Buarque de Hollanda, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, Augusto Meyer, Alceu Amoroso Lima.
Ensaios e a História.
Um campo no qual o termo "ensaio" não perdeu seu poder original de chocar é o da história.
Em meados do século XIX, não muito após Leopold von Ranke (1795-1886) proclamar o ideal da história profissional, a história objetiva baseada em documentos oficiais preservados em arquivos, Jacob Burckhardt publicou seu livro sobre "A Civilização do Renascimento na Itália". O subtítulo do livro era curto, mas expressivo: "Um Ensaio" ("ein Versuch", em alemão).
Ele deixou bem claras as razões para escolher esse subtítulo na introdução do livro, que começa com a frase: "Essa obra leva o título de mero ensaio no sentido estrito da palavra", e prossegue sustentando que "a cada olho, talvez, os contornos de uma dada civilização apresentam uma figura diversa" e que "os mesmos estudos que serviram a esse trabalho podem facilmente, em outras mãos (...), conduzir a conclusões essencialmente diversas".
Para muitos críticos, há inúmeras razões para Jacob descrever suas obras como ensaios. Uma delas é para que ele se afastasse da história profissional, criando suas próprias versões da história, e fugindo do rigor imposto pelos profissionais de ciências sociais. Deste modo, faria com que a história ganhasse mais flexibilidade e se abrissem novas possibilidades de interpretação.
Ensaístas famosos
- Susan Sontag
- Plutarco[4]
- Aldous Huxley (1894-1963)
- Ayn Rand (1905 - 1982)
- Michel de Montaigne (1533-1592)
- Voltaire (1697-1778)
- Eduardo Lourenço (1923-2020)
- Ralph Waldo Emerson (1803–1882)
- Henry David Thoreau (1817–1862)
- Leo Tolstoy (1828-1910)
- George Bernard Shaw (1856-1950)
- C.S. Lewis (1898–1963)
- Elina Patanè
- George Orwell (1903-1950)
- Marguerite Yourcenar (1903–1987)
- J.M. Coetzee
- Stephen Jay Gould
- Gilbert Keith Chesterton
- Richard Dawkins
- Mario Vargas Llosa (1936-)
- José Saramago (1922 - 2010)
- Yevgeny Zamyatin (1884 - 1937)
Ver também
Referências
- «O Ensaio como Gênero Textual». TodaMatéria. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 10 de abril de 2016
- Ricardo Sérgio, Alfredo Bosi e Massaud Moisés (14 de agosto de 2006). «O ensaio literário (do Latim exagiu[m] = ação de pensar)». Recanto das Letras. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 3 de dezembro de 2016
- Lindinei Rocha Silva e Andrea Targino da Silva. «A inscrição do ensaio nos gêneros literários» (PDF). Universidade Iguaçu. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 3 de dezembro de 2016
- Prof. Dr. Jayme Paviani (agosto de 2009). «O ensaio como gênero textual» (PDF). Universidade de Caxias do Sul. ISSN 1808-7655. Consultado em 3 de dezembro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 3 de dezembro de 2016
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