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O urânio empobrecido, também conhecido como urânio exaurido, urânio esgotado ou DU (do inglês depleted uranium), basicamente composto do isótopo 238U (urânio-238), de difícil fissão, é o subproduto do processo de enriquecimento ou do reprocessamento de urânio para obtenção do isótopo 235U (urânio-235), que é usado para fissão em reatores e armas nucleares.
O urânio empobrecido obtido como subproduto do processo de enriquecimento contém menos que 1/3 da quantidade de 235U e 234U existente no urânio natural. O urânio encontrado na natureza é composto de aproximadamente de 99,27% de U-238, 0,72% de 235U e 0.0055% de 234U, enquanto a composição típica do urânio empobrecido é 99,8% de 238U; 0,2% a 0.4% de 235U e 0,001% de 234U.
O DU também pode ser subproduto do reprocessamento nuclear e, neste caso, distingue-se pela presença de 236U (urânio-236).[1]
O urânio empobrecido é ainda menos radioativo que o urânio natural (emite o equivalente a cerca de 60% da radiação emanada do urânio natural).[2] Sua alta densidade (19.050 kg/m³ ou 67% superior à do chumbo) faz do urânio empobrecido um material apreciado para diversas aplicações civis e militares. No campo civil ele é usado como lastro em aeronaves e como escudo contra radiação. No meio militar é utilizado em projéteis, blindagens físicas e peças de artilharia em geral. Tais usos são controversos. Embora seja menos tóxico que outros metais pesados (como o arsênico e o mercúrio) e fracamente radioativo em razão da sua longa meia-vida (bilhões de anos),[3] não há pesquisas conclusivas sobre os riscos envolvidos no uso do DU.[4] É comprovado a partir de diversos estudos laboratoriais que o Urânio-238 é tóxico para mamíferos, ataca o sistema reprodutivo e o desenvolvimento do feto causando fertilidade reduzida, abortos e deformações no nascituro.[4] Testes citológicos mostram que, à exposição crônica, o DU é leucogênico, mutagênico e também neurotóxico. Sabe-se que toda exposição a radiação ionizante envolve riscos, mas não há dados epidemiológicos conclusivos acerca da exposição humana ao urânio empobrecido e sua correlação com a ocorrência de patologias específicas como o câncer.[5] Contudo o governo do Reino Unido atendeu ao pleito de um veterano da Guerra do Golfo sob a alegação de intoxicação por urânio empobrecido, além de defeitos congênitos em seus filhos concebidos após sua atuação na guerra.[6][7]
No início da década de 1940 a corrida bélica da Segunda Guerra Mundial dava seus primeiros passos em direção ao poder do átomo previsto por Einstein e sua famosa equação E=MC². Os Estados Unidos da América e a União Soviética lideravam a corrida iniciando a produção de urânio enriquecido, o U-235. No entanto o U-235 é, na verdade, separado do minério de urânio e não representa mais que 0,73% do urânio encontrado na natureza. O resto, ou seja mais de 99%, constituía-se de urânio empobrecido de pouca ou nenhuma utilidade naquele momento. Anos mais tarde surgiriam reatores capazes de produzir energia a partir do urânio empobrecido e dispositivos termonucleares onde também serviria como combustível.
Todavia não apenas as propriedades atômicas mostrariam a utilidade do isótopo U-238.
O urânio empobrecido é um derivado do enriquecimento do urânio natural para o uso em reatores nucleares. Quando a maior parte dos isótopos radioativos físseis do urânio é removida do urânio natural, o resíduo é chamado de urânio empobrecido. Outra fonte, menos comum, do material é o reator de combustível consumido reprocessado. A origem pode ser distinguida pelo teor de urânio-236,[8] produzido por captura de nêutrons do urânio-235 em reatores.
Na década de 1970, o Pentágono divulgou que o Pacto de Varsóvia havia desenvolvido tanques com blindagem tal que a munição da OTAN não era capaz de penetrar. Após o teste de vários metais, o Pentágono aprovou o urânio empobrecido como ideal na construção de obuses e munição para perfurar as novas blindagens devido às suas propriedades físicas e relativa facilidade de obtenção.
Comparado ao tungstênio, o U-238 mostra-se mais frágil e menos denso. Ademais, os estoques americanos datados à época somavam mais de 500 000 toneladas e o tungstênio teria de ser importado da China.
O exército americano utilizou munições de urânio empobrecido durante a Guerra do Golfo, em 1991, e actualmente na ocupação do Iraque. A OTAN voltou a utilizá-las, como na Guerra da Bósnia, entre 1994 e 1995. Em 1999 foi usado na campanha de agressão contra a Sérvia. Segundo relatos de médicos noruegueses, que atenderam feridos na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel também usaram urânio empobrecido nos ataques a Gaza, em 2008 - 2009.[9][10] O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas (AIEA), Mohammed ElBaradei, acolheu a denúncia dos países árabes, entregue pelo embaixador da Arábia Saudita, sobre o uso de munição com urânio empobrecido. A porta-voz da AIEA, Melissa Fleming, informou que "investigaremos o assunto na medida de nossa capacidade".[11]
Existe uma controvérsia sobre se as armas à base de urânio empobrecido deveriam ser proibidas pelas convenções internacionais, dado que o urânio se pulveriza durante a explosão, formando nuvens de partículas ligeiramente radioativas, capazes de contaminar extensas áreas.[12] Em 2001 a ONU verificou que, contrariamente ao que se pensava anteriormente, a munição de urânio empobrecido norte-americano contém plutônio e provém, portanto, de usinas de reprocessamento, não de enriquecimento, razão pela qual sua radioatividade é mais alta do que se imaginava.[13]
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