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filólogo e escritor galego Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Ricardo Carvalho Calero (Ferrol, 30 de outubro de 1910 — Santiago de Compostela, 25 de março de 1990) foi um filólogo e escritor galego do século XX, o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas, considerado o grande pensador do reintegracionismo linguístico. Escritor, nacionalista, teórico do reintegracionismo e professor universitário, foi uma das figuras mais proeminentes do universo intelectual galego do século XX. Foi numerário da Real Academia Galega e membro de honra da Associaçom Galega da Língua. Foi nomeado membro da Academia das Ciências de Lisboa em 1981.
Ricardo Carvalho Calero | |
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Nascimento | 30 de outubro de 1910 Ferrol, Galiza |
Morte | 25 de março de 1990 Santiago de Compostela, Galiza |
Filho(a)(s) | Margarita Carballo-Calero Ramos María Victoria Carballo-Calero Ramos |
Alma mater | Universidade de Santiago de Compostela |
Ocupação | Catedrático de universidade |
Prémios | Pedrón de Ouro Medalha Castelao |
Género literário | ensaio, poesia e narrativa |
Assinatura | |
Nascido no bairro de Ferrol Vello, em Ferrol, no seio de uma família abastada, participa do republicanismo estudantil da FUE (Federação Universitária Escolar), e nas mobilizações que esse sindicato lança contra a ditadura de Primo de Rivera.
Passa a infância no bairro mais antigo de Ferrol, conhecido por 'Ferrol Vello'. A esses anos dedica alguns dos seus poemas, como o chamado 'Ferrol, 1916'.
Realiza os seus primeiros estudos numa escola do bairro ilustrado ferrolano da Madalena, indo depois para o Colégio 'Sagrado Coração de Jesus', dirigido pelo escritor Manuel Comelhas Coimbra, autor da obra dramática Pilara ou grandezas dos humildes, com quem inicia os estudos de latim e prepara os estudos de secundário.
Assiste desde menino ao histórico Teatro Jofre, numa cidade, Ferrol, virada para a arte dramática já durante o século XIX. Começa a ler romances e teatro. Escreve os primeiros poemas, inclusive alguns em galego. Pouco mais tarde, irá colaborar na imprensa local, na qual tinha aprendido a ler com ajuda da mãe. Um outro referente na formação do jovem Carvalho Calero nos primeiros anos de Ferrol foi o intelectual e político socialista e galeguista Xaime Quintanilla.
Em 1926, aos dezasseis anos, ingressa na Universidade de Santiago de Compostela para estudar Filosofia e Letras, bem como o preparatório de Direito. Entra em contacto com os círculos nacionalistas galegos, no Seminário de Estudos Galegos, Sebastiám Gonçales, Ramom Martins Lopes, Filgueira Valverde... em plena ditadura de Primo de Rivera.
Faz parte do movimento de resistência estudantil à ditadura, chegando a presidir a FUE (Federação Universitária Escolar), de carácter sindical-estudantil. Em 1927 ingressa no Seminário de Estudos Galegos, como membro das secções de Literatura Galega e de Ciências Sociais, Jurídicas e Económicas, chegando a ser secretário-geral de tão sobranceiro organismo cultural galego antes do golpe militar fascista de 1936.
O primeiro livro de Carvalho é publicado em 1928, no género poético, intitulado Trinitárias, ainda em espanhol. Progressivamente, vai produzindo-se um claro compromisso com a cultura e a língua da Galiza, de parâmetros nacionalistas e de esquerda.
O primeiro poemário em galego, Vieiros, sai em 1931, coincidindo com a conclusão do curso de direito com brilhante expediente académico. Converte-se em co-fundador do Partido Galeguista, integrando o chamado Conselho Assessor do mesmo junto a Castelao, Alexandre Bóveda, Lugrís Freire, Valentín Paz-Andrade e Tobío Fernández.
Elabora parte do rascunho da proposta estatutária apresentada pela Assembleia de Municípios de 1932 e colabora com o nacionalismo de esquerda organizado ainda precariamente na Esquerda Galeguista e nas publicações Claridad e Ser.
No mesmo ano, ganha uma vaga de funcionário público na Câmara municipal da sua cidade de nascença, Ferrol, deslocando-se para ela novamente. Converte-se no segundo presidente do Partido Galeguista de Ferrol, substituindo Nicolau Garcia Pereira (que tinha sido professor de Carvalho), cargo que deterá durante os anos 1934 e 1935.
Após o golpe de estado fascista de 1936, faz-se combatente voluntário em favor da República, num batalhão de milícias de docentes, como ele, ligados com a UGT, adscrito ao Quinto Regimento. Cai preso no fim da guerra, na frente da Andaluzia. Condenado por ter militado num partido considerado 'separatista' pelos facciosos, permanece em prisão durante dois anos, sob a acusação de "separatista". A etapa de prisão será aproveitada por Carvalho para estudar alemão. O seu romance 'Scórpio' recolhe a experiência vital desses anos, tal como, em certa medida, a comédia 'A sombra de Orfeu', a peça teatral 'Os chefes', de 1982 e alguns poemas, como "Fugíamos da nossa vila", incluído na colectânea 'Cantigas de amigo e outros poemas'.
Fica livre em 1941, em regime de liberdade condicional. Volta para a Galiza, mas vê-se impossibilitado para recuperar a sua vaga de funcionário público, vendo-se obrigado a procurar trabalho como docente no ensino privado.
Durante o pós-guerra, e à margem de qualquer reconhecimento e colaboração com a ditadura, desenvolve um intenso labor literário, nomeadamente obras dramáticas e os romances A Gente da Barreira (1951) e Os senhores da Pena, de estilo semelhante aos de Otero Pedrayo, com recriação do passado da sociedade tradicional galega. Escreve também poesia, dando a lume três poemários em 1950, 1952 e 1961.
Colabora sob o pseudónimo 'Fernando Cadaval' no jornal 'La Noche', sobre temas históricos e literários, nomeadamente sobre Rosalía de Castro, a quem dedicou dúzias de estudos. Em 1950 desloca-se para Lugo, onde trabalha como professor do Colégio Fingoi, entre esse ano e 1965, instituição educativa que chegará a presidir. Desenvolve um importante labor pedagógico, recorrendo também às encenações dramáticas, uma das paixões de Carvalho nestes anos, aproveitando a condição avançada desse centro de ensino privado, inspirado em práticas da Instituição Livre de Ensino.
Tira o doutoramento em Madrid em 1954, com uma tese sobre a literatura galega contemporânea que avança os seus importantes estudos nesse campo. Em 17 de Maio de 1958, ingressa na Real Academia Galega, com o discurso 'Contributo para o estudo das fontes literárias de Rosalía'.
Já em 1963, publica a primeira História da Literatura Galega, convertendo-se em 1972 no primeiro catedrático de Galego na Universidade de Santiago de Compostela, onde culmina a sua carreira profissional.
Antes, em 1966, publicara a Gramática Elemental del Gallego Común, na recentemente criada Editora Galaxia, e entre 1970 e 1971 elabora as Normas Ortográficas e Morfolóxicas para o galego, assumidas a apresentadas pela Real Academia Galega.
A 27 de Julho de 1975, La Voz de Galicia publica o artigo, intitulado 'Ortografia galega', no qual, pela primeira vez de maneira explícita, defende uma posição reintegracionista na orientação do processo de padronização do galego, perante a hipótese de oficialização do idioma da Galiza nos próximos anos, após a morte iminente do ditador espanhol, o que viria a acontecer com a aprovação do controverso Decreto de Bilinguismo, em 1979, e do Estatuto de Autonomia da Galiza, em 1981.
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Como catedrático da matéria e especialista de maior prestígio na Galiza da altura, Carvalho Calero é nomeado presidente da Comissão eleita pelo Parlamento pré-autonómico galego para elaborar um padrão escrito para o galego em 1980, com o olhar posto na iminente oficialização do idioma histórico da Galiza, em situação precária pela imposição secular do espanhol.
Comprometido na elaboração teórica e na expansão prática da proposta reintegracionista através da Associaçom Galega da Língua, fundada em 1981, é excluído pelo oficialismo cultural surgido da instituição autonómica cedida pelo Estado espanhol à Galiza a partir desse mesmo ano. Ele próprio explica que a censura se deve a "professar, em matéria de língua, as ideias de Castelao", em relação à sua firme defesa da unidade lingüística galego-luso-brasileira, mantida já antes de Carvalho não apenas por Castelao, mas também por Manuel Murguia, João Vicente Biqueira, os irmãos Vilar Ponte, Jenaro Marinhas del Valle ou Ricardo Flores.
Ao longo da década de 1980, Carvalho Calero será um dos principais e mais rigorosos críticos da orientação da nova política linguística das autoridades autonómicas da Galiza, por considerar que o pretenso 'bilinguismo igualitário' não vai a lado nenhum, pois provoca uma situação "antieconómica e anti-higiénica", afirma, que desemboca "na monarquia de aquela das duas línguas que possui maior potência social", que no caso galego não é outra que a privilegiada pelo poder durante séculos: o espanhol ('Bilinguismo e bigamia', in Uma Voz na Galiza, 1984).
No mesmo ano de 1984, recebe a medalha Castelao do Governo autonómico, mas recusa o convite de José Filgueira Valverde para fazer parte do recém constituído Conselho da Cultura Galega. Recebe homenagens de entidades culturais não ligadas às instituições e, dois meses antes de falecer, é nomeado Filho Predilecto do seu Ferrol natal pela instituição autárquica. Morre em Santiago de Compostela em 1990.
Colectâneas:
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