Remove ads
capital da comunidade autónoma da Galiza, Espanha Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Santiago de Compostela é uma cidade e município (concello em galego) no noroeste de Espanha. É capital da comunidade autónoma da Galiza e faz parte da província da Corunha e da comarca de Santiago. O município tem 220 km² de área e em 2021 tinha 97 858 habitantes (densidade: 444,8 hab./km²).[2]
| ||||
---|---|---|---|---|
Município | ||||
De cima para baixo e da esquerda para a direita: 1) Catedral de Santiago vista de sudoeste (lado da Fachada do Obradoiro; 2) Praça de Praterías; 3) Parque Alameda; 4) Cidade da Cultura da Galiza; 5) Igreja do Mosteiro de São Martinho Pinário; 6) Paço de Raxoi | ||||
Símbolos | ||||
| ||||
Gentílico | compostelano, santiaguês[1] | |||
Localização | ||||
Localização do município de Santiago de Compostela na Galiza | ||||
Localização de Santiago de Compostela na Espanha | ||||
Coordenadas | 42° 52′ N, 8° 31′ O | |||
País | Espanha | |||
Comunidade autónoma | Galiza | |||
Província | Corunha | |||
Comarca | Santiago | |||
História | ||||
Fundação | Século IX | |||
Alcaide | Xosé Antonio Sánchez Bugallo (2019–2023, PSdeG) | |||
Características geográficas | ||||
Área total | 220 km² | |||
População total (2021) [2] | 97 858 hab. | |||
Densidade | 444,8 hab./km² | |||
Altitude | 260 m | |||
Código postal | 15700 | |||
Código do INE | 15078 | |||
Outras informações | ||||
Orago | São Roque Santa Susana | |||
Website | www |
Cidade velha de Santiago de Compostela ★
| |
---|---|
Tipo | cultural |
Critérios | i, ii, vi |
Referência | 347 en fr es |
Região ♦ | Europa e América do Norte |
País | Espanha |
Histórico de inscrição | |
Inscrição | 1985 |
★ Nome usado na lista do Património Mundial ♦ Região segundo a classificação pela UNESCO |
É uma cidade internacionalmente famosa como um dos destinos de peregrinação cristã mais importantes do mundo, cuja popularidade possivelmente só é superada por Roma e Jerusalém. Ligado a esta tradição, que remonta à fundação da cidade no século IX, destaca-se a catedral de Santiago de fachada barroca, que alberga o túmulo de Santiago Maior, um dos apóstolos de Jesus Cristo. A visita a esse túmulo marca o fim da peregrinação, cujos percursos, os chamados Caminhos de Santiago ou Via Láctea, se estendem por toda a Europa Ocidental ao longo de milhares de quilómetros. Desde 1985 que o seu centro histórico (cidade velha) está incluído na lista de Património Mundial da UNESCO.[3] Em 1993 foi também incluído nessa lista o Caminho de Santiago, que já tinha sido classificado como o primeiro itinerário cultural europeu pelo Conselho da Europa em 1987.[4] Foi uma das capitais europeias da cultura em 2000.[5]
Situa-se 70 km a sul da Corunha, 65 km a norte de Pontevedra, 100 km a noroeste de Ourense e 115 km a norte da fronteira portuguesa de Valença. Como capital da Galiza, ali está sediado o parlamento e o governo regionais (Junta da Galiza; Xunta em galego).[6] É também uma importante cidade universitária, pela sua universidade, fundada em 1495 e que no ano letivo de 2019-2020 tinha mais de 25 000 alunos inscritos.[7]
A origem do topónimo Compostela é um tema controverso, nomeadamente porque a possibilidade de a relacionar com o sepulcro de Santiago tende a que haja muitos argumentos emotivos ou baseados na tradição.
O primeiro nome medieval conhecido do local da cidade é Libredón, que para alguns teria origem celta ("castro do caminho") e para outros deriva do latim liberum donum ("concessão gratuita"). Entre os séculos IX e XI chamou-se Arcis Marmoricis, que apresenta o topónimo Arca, quase sempre indicador de um sepulcro ou uma mamoa. No século XI os registos históricos começam a mencionar Compostella como um subúrbio, ou seja, parte de uma vila, que alguns situam na zona atual da Rua do Franco. A partir do século XI esse nome passa a aplicar-se a toda a vila.
Uma das versões mais divulgadas é a de que é uma derivação do latim Campus Stellae ("campo da estrela"), que evoca a estrela que indicou milagrosamente ao bispo Teodomiro a localização do túmulo de Santiago (ver secção História – Origens). No entanto, o Cronicon Iriense (XI e XII) indica como origem do nome compositum tellus (plural: composita tella, "terras bem ajeitadas" ou "terras belas"), que pode ser um eufemismo para cemitério. No capítulo XII da Crónica de Sampiro (século XI) refere-se «Compostella, id est bene composita». No capítulo XII do Códice Calixtino, do século XII, conta-se a história de uma mulher chamada Compostella, presumivelmente ligada à pregação do Apóstolo.
Ángel Amor Ruibal, recordando o significado de compositum ("enterrado") interpretou Compostela como significando "lugar onde está enterrado". José Crespo Pozo e Luís Monteagudo consideram o topónimo anterior à tradição de Santiago, porque ele existe noutras partes da Galiza (e em O Bierzo há uma Compostilla), considerando-o uma derivação de comboros (escombros) e steel (ferro), significando "escória de minas e forjas e relacionando-o também com o bairro da cidade de Estila. Compostela pode ainda ser um hipocorístico do antropónimo Composta.
Na área atualmente ocupada pela catedral existiu um povoado romano que geralmente se identifica com a chamada mansão de Asseconia, situada à beira da estrada romana identificada como Via XIX no Itinerário de Antonino, que ia de Bracara Augusta (atual Braga) até Astúrica Augusta (atual Astorga). Este povoado existiu entre o século I d.C. e o século V, mas ali permaneceu uma necrópole que possivelmente foi usada durante Reino Suevo e até ao século VII.
A fundação da cidade está ligada à alegada descoberta dos restos mortais do apóstolo Santiago Zebedeu, ocorrida em 812 ou 813 ou ainda, segundo outras versões ou estimativas, entre 820 e 835 ou entre 818 e 842, que deu uma importância religiosa crescente ao local. A cidade desenvolveu-se graças à popularidade crescente como destino de peregrinação e, a partir do século XVI, também à criação da universidade. Na atualidade a cidade deve também parte da sua importância ao estatuto de capital da Galiza.
Segundo a tradição medieval, cujo registo mais antigo aparece na Concórdia de Antealtares (1077), o eremita Pelágio (ou Paio), alertado por luzes noturnas que avistou no bosque de Libredão (Libredón) avisou o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, que deslocando-se ao local descobriu um sepulcro de pedra no local onde está agora a catedral. No sepulcro repousavam três corpos, que o bispo identificou como sendo de Santiago Maior e de dois dos seus discípulos Teodoro e Atanásio.
A descoberta — ou a sua invenção — ocorreu num período em que o rei Afonso II das Astúrias estava empenhado em combater o perigo de secessão e no reforço da coesão do seu reino. Para tal declara-se o genuíno representante da tradição goda em matéria de religião e leis, visando com isso assegurar a unicidade do poder. Além disso, nomeia um herdeiro de sangue real, embora não primogénito, para governar a Galiza. Mas o ato mais genial dessa política é a criação de Compostela. Aproveitando a notícia da descoberta do corpo do apóstolo, Afonso II fez uma peregrinação ao local (segundo a tradição, foi ele o primeiro peregrino de Santiago) e ali manda construir a suas expensas uma igreja a que concede privilégios e ali fixa uma comunidade religiosa. Em volta da igreja fixa população e funda uma povoação que desde o início goza de prerrogativas reais. Com isto, o rei asturiano consegue encontrar um padroeiro para a sua causa contra os muçulmanos, um Santiago cavaleiro e "mata-mouros", e ao mesmo tempo passa a ter uma cidade fiel até ao limite encravada no coração da Galiza. Santiago torna-se assim o braço estendido do monarca asturiano na Galiza.
A notícia da descoberta do túmulo espalhou-se tanto no reino como fora dele, fazendo com que Compostela se tornasse um novo lugar de peregrinação da cristandade, numa altura em que a importância de Roma decaíra e Jerusalém estava inacessível por estar nas mãos dos muçulmanos.
A cidade foi-se desenvolvendo pouco a pouco. À comunidade eclesiástica estabelecida por Afonso II que tinha a seu cargo o sepulcro e respetiva igreja, constituída pelo bispo de Iria Flávia e pelos monges de Antealtares foi-se juntando espontaneamente uma população heterogénea, a maioria proveniente das aldeias próximas. O povoado foi crescendo ao mesmo tempo que a peregrinação se tornou mais popular, estendendo-se a todo o Ocidente da Península Ibérica. O crescimento foi reforçado com o privilégio concedido por Ordonho II em 915, que determinava que quem quer que permanecesse quarenta dias sem ser reclamado como servo passava a ser considerado como um homem livre com direito a residir em Compostela. O primeiro habitante conhecido de Compostela é um estrangeiro de nome Bretenaldo Franco, cuja menção mais antiga é de 955.
O santuário foi também ganhando importância política. Ali foram coroados alguns monarcas dos reinos da Galiza e de Leão, como Sancho Ordonhes (r. 925–929), Ordonho IV (r. 958–960), Sancho I (r. 956–966) ou Bermudo II (r. 982–999). O bispo Sisenando II fortificou a cidade em 968 ou 969.[carece de fontes] O então ainda pequeno, mas próspero povoado sofreu com as tentativas de invasão e saques dos normandos,[8] os quais chamavam ao Reino da Galiza Jakobsland (país de Santiago). A resistência aos invasores foi organizada a partir de Compostela e o próprio bispo Sisenando morreu em combate. Devido à sua prosperidade e popularidade, a cidade foi destruída por Almançor em 10 de agosto do ano 997,[8] que só respeitou o sepulcro do apóstolo. Após o regresso dos habitantes começou a reconstrução e em meados do século XI o bispo Crescónio dotou a cidade de uma cintura de fossos e uma nova muralha, construída sobre o antigo anel de paliçadas, para proteger os novos bairros que tinham surgido em redor do povoado primitivo. Além disso, reivindicou para a cidade o estatuto de sede apostólica.
Em 1075, o bispo Diego Páez deu início à construção da catedral românica. O crescimento da peregrinação faz de Compostela um local de referência religiosa na Europa, o que aumenta a importância da cidade, que se reflete também no aumento do seu peso político. Em 1120, o arcebispo Diego Gelmires obtém do papa Calisto II a transferência do da sé metropolitana de Mérida, então em mãos muçulmanas, para a igreja compostelana, o uso do pálio e o Jubileu Compostelano (ou Anos Santos).[8][nt 1] Isto libertou a diocese da velha tutela dos arcebipos de Braga, que, no entanto, mantiveram a sua autoridade sobre a maior parte das dioceses do Reino de Portugal em formação. A igreja de Santiago passou a ter jurisdição sobre a maioria das dioceses de Leão e das Astúrias (a Arquidiocese de Oviedo só foi criada em 1954). Além disso, Santiago era o centro de um grande senhorio feudal governado pelos bispos de Compostela, que ia desde o rio Iso, afluente da margem direita do Ulla, até ao Atlântico.
A par da prosperidade crescente, no século XII a cidade passou também por grandes agitações políticas e militares. No século XII a cidade assistiu também às revoltas urbanas de 1116 ou 1117 e 1136 contra a rainha Urraca e o bispo Gelmires. Este foi tutor do futuro rei Afonso VII de Leão, que foi coroado por ele na nova catedral em 1111 como rei da Galiza, o que não impediu o bispo de entrar em confronto com Urraca, mãe de Afonso. O pontificado de Gelmires foi uma época áurea para a cidade. As rendas proporcionadas pelos votos instituídos ao padroeiro de Espanha[nt 2] e pelo mito de Clavijo são usadas para financiar numerosos edifícios monumentais, parte deles ainda existentes.[10] Para perpetuar os seus feitos, Gelmires mandou escrever a Historia compostelana. É também desta época o Códice Calixtino, um conjunto de textos reunidos no final do pontificado de Gelmires e que era apresentado como sendo da autoria do papa Calisto II, uma fonte fundamental da história da peregrinação ao túmulo do apóstolo.
Entre os séculos XII e XIII a urbe continuou a crescer dentro do recinto muralhado, aumentando o número de casas e ruas. Os reis Fernando II (r. 1157–1188) e Afonso IX (r. 1188–1230) favoreceram a cidade e foram sepultados na catedral. O século XIV é marcado por conflitos sociais e políticos e pela peste negra. Os burgueses da cidade reclamavam mais autonomia e em 1318 impedem a entrada em Compostela do prelado francês Berenguel de Landória, nomeado arcebispo em 1317 e que só conseguiu tomar posse do senhorio alguns anos depois, após fazer cair numa emboscada no castelo da Rocha Forte os cabecilhas da revolta, que foram assassinados.[10] A data da emboscada, 16 de setembro de 1320, ficou conhecida como o "Dia da Ira". A paz foi assinada a 27 de setembro, mas algumas fontes referem que o bispo só tomou posse em 1322.[nt 3] A vingança chegaria em 1366, com o assassinato do sucessor de Berenguel, Suero Gómez de Toledo, às mãos dos Suárez de Deza (Churruchaos), durante as guerras pelo trono de Castela entre Henrique II e Pedro, o Cruel. A chegada da peste negra à cidade originou uma forte recessão demográfica, que só começou a recuperar a partir de 1380. No século XV, Santiago não tinha mais do que 4 000 a 5 000 habitantes.
O cabido compostelano, dirigido pelo deão Diego de Muros III, promoveu obras de grande importância, com um caráter próprio do humanismo então em voga, como o Hospital dos Reis Católicos e o Estudo Velho, embrião da futura universidade, que foi fundada em 1495 por Lope Gómez de Marzoa. Estes feitos e o labor do arcebispo Alonso III de Fonseca dão um novo impulso à atração de Santiago, particularmente na Galiza, apesar do relativo declínio da importância da cidade.
Santiago foi sede da Real Audiência do Reino da Galiza desde 1508, mas a pressão eclesiástica fez com que se trasladasse para a Corunha em 1578. As reformas do poder monástico marcaram o renascimento dos conventos de São Martinho Pinário e de São Paio de Antealtares, o que contribuiu para uma intensa atividade de construção.
No início do século XVII a cidade assiste a um período de decadência. Na sua obra Anais Eclesiásticos, o italiano César Barónio, confessor do papa Clemente VIII, questionou a peregrinação do apóstolo a Hispânia. Este dado foi recolhido no Breviário Romano e teve um grande impacto negativo na cidade e nas peregrinações. O cabido compostelano conseguiu pouco tempo depois que o Breviário fosse modificado, mas, entretanto, surgiu uma nova dificuldade: em 1617 e 1626, a Ordem dos Carmelitas promoveu Santa Teresa de Ávila como copadroeira de Espanha, o que acarretou perdas económicas para Santiago. Com a ajuda de personalidades importantes, como Francisco de Quevedo, o cabido conseguiu devolver novamente ao apóstolo o estatuto de padroeiro único de Espanha.
Em 1643 dá-se outro evento semelhante, quando as Cortes propõem um novo copadroeiro de Espanha, São Miguel Arcanjo, mas esta proposta teve duração breve, pois no mesmo ano Filipe IV declarou Santiago como único padroeiro de Espanha e ordenou que em todos os dias 25 de julho se fizesse uma oferta régia de mil escudos de ouro ao arcebispado de Santiago, ao mesmo tempo que concedeu uma avultada pensão de 20 anos para financiar a realização de um retábulo em sua honra, o qual começou a ser executado em 1658. Estes eventos trouxeram prosperidade à cidade, que possibilitou o financiamento de novas construções e reformas, que se multiplicaram por toda a cidade, as quais incorporaram um estilo próprio e ao mesmo tempo universal, o barroco compostelano.
A prosperidade do cabido catedralesco e dos mosteiros fez de Santiago um centro artístico de ponta. No início deste novo período áureo, começaram a trabalhar nas oficinas da catedral uma série de mestres de obras e arquitetos forasteiros, como o madrileno José Vega y Verdugo, o português Francisco de Antas, o avilense José Peña de Toro, o cântabro Melchor de Velasco ou o arquiteto real Pedro de la Torre. Nestas oficinas e no de São Martinho Pinário formou-se um grupo de arquitetos galegos que em 1670 passaram a dirigir as obras que estavam a decorrer em toda a cidade. Figuras notórias como o compostelano Diego de Romay, Domingo de Andrade (autor da torre do relógio), Frei Tomás Alonso, o leonês Frei Gabriel de Casas, Pedro de Monteagudo, Simón Rodríguez (autor da fachada do Convento de Santa Clara), Francisco de Castro Canseco (retábulo de São Paio de Antealtares), Clemente Fernández Sarela (casas do Cabido e do Deão) ou Fernando de Casas Novoa (fachada do Obradoiro), tornaram Santiago um conjunto barroco de alto nível à escala mundial. A magnificência e as peculiaridades do estilo arquitetónico desenvolvido por estes artistas fazem com que se fale de barroco compostelano. O mecenas por excelência foi Frei António de Monroy, arcebispo de Santiago entre 1685 e 1715.
É também nesta época que Santiago se converte no refúgio dos exilados irlandeses perseguidos pelo protestantismo, o que levou à criação de centros de acolhimento e de formação como o Colégio de São Patrício dos Irlandeses.
Durante o Iluminismo, surgiram iniciativas como a Sociedade Económica de Amigos do País, uma organização de cidadãos letrados que tinha como objetivo difundir as ideias iluministas e que tinha como ideal promover o desenvolvimento, nomeadamente através d estudo da situação económica. No entanto, após a ocupação francesa e da resistência do Batalhão Literário, formado por estudantes contra a ocupação, Santiago torna-se um baluarte conservador carlista. A igreja compostelana anseia restaurar um Reino da Galiza tradicionalista dentro da monarquia espanhola, de acordo com os parâmetros do Antigo Regime. Com a vitória liberal na Primeira Guerra Carlista (1833–1840), os vencedores castigam a cidade favorecendo a Corunha, capital provincial, em detrimento de Santiago.
É em Santiago que surge o primeiro jornal galego, El Catón Compostelano, em 1800. Em meados do século XIX já há alguma indústria, na forma de fábricas artesanais de curtumes, chocolates e refrigerantes, mas o desenvolvimento é travado pelo atraso nas vias férreas (o comboio só chega à província da Corunha em 1943).
No século XX Santiago assiste à expansão da ideologia galeguista, nomeadamente com a criação em 1923 do Seminário de Estudos Galegos, uma instituição com o objetivo de divulgar o património cultural galego formar investigadores, um papel que não era cumprido pela única universidade de Santiago, a única universidade galega da época. Nos alvores da Segunda República Espanhola, no início da década de 1930, a Assembleia de Municípios da Galiza mostrou-se favorável à redação de um estatuto de autonomia, que chegaria a ser referendado e apresentado às Cortes em 1936, mas todo esse movimento foi sufocado pelos nacionalistas durante a guerra civil, no início da qual foi fuzilado o alcaide Ánxel Casal, um destacado ativista galeguista. Durante o tempo da República, houve dois outros prefeitos democráticos, Francisco Vázquez e Raimundo López Pol (da ORGA).
O Segundo Estatuto de Autonomia de Galiza chegou finalmente em 1981, após a queda da ditadura franquista e com ela Santiago passou a ser a capital política da Galiza, retomando um protagonismo político há muito perdido,[nt 4] dando um impulso à cidade que contrariou em larga medida a diminuição da sua importância como cidade universitária devido à criação das universidades de Vigo e da Corunha em 1989.
Neste período democrático, houve nove prefeitos diferentes em Santiago, com a participação da UCD, PSdeG-PSOE e BNG (coligados), PPdG e Compostela Aberta. Nas legislaturas de 1979 a 2023, foram José Antonio Souto Paz, Marcial Castro Guerra, Xerardo Estévez, Ernesto Viéitez Cortizo, Xerardo Conde Roa, Ángel Benito Currás, Agustín Hernández, Martiño Noriega Sánchez e Xosé Antonio Sánchez Bugallo.
(Para ver lista completa de prefeitos após a mudança do Reino da Galiza para o Novo Regime (1833), consulte o artigo Alcaides de Santiago de Compostela)
O concelho divide-se em 29 paróquias civis:
Concelhos limítrofes de Santiago de Compostela | ||
Val do Dubra | Trazo | Oroso |
Ames | O Pino | |
Teo | Vedra, Boqueixón | Touro |
Em 2021 Santiago tinha 97 858 residentes registados[2] e a sua área metropolitana tinha aproximadamente 148 000.[carece de fontes] Em 2012, 53,3% dos habitantes eram naturais da cidade e 86% eram naturais da Galiza.[11] Nesse ano a taxa de natalidade era 8,91‰ e a de mortalidade 8,95‰, ou seja, a taxa de crescimento era negativa. A densidade populacional era 444,8 habitantes por quilómetro quadrado.
A população total da comarca em 2012 era 163 519 habitantes; os seis concelhos que dela fazem parte além de Santiago — Ames, Boqueixón, Brión, Teo, Val do Dubra e Vedra — totalizavam 68 848 habitantes.[2]
Distribuição da população do município de Santiago em 2012 por local de nascimento [11] |
Distribuição por faixas etárias e sexos | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
|
|
População de de Santiago de Compostela (1900 – 2021) | |||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1900 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | ||||||
24 120 | 25 870 | 38 270 | 49 191 | 55 553 | 57 165 | ||||||
7,3% | 47,9% | 28,5% | 12,9% | 2,9% | |||||||
1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 | 2021 | ||||||
70 893 | 82 404 | 87 807 | 93 381 | 95 207 | 97 858 | ||||||
24% | 16,2% | 6,6% | 6,3% | 2% | 2,8% |
Em 2012 havia no concelho 4 256 estrangeiros (4,5% da população), a maioria provenientes da América (2 334; 54,8% do total de imigrantes), seguidos de europeus (1 325; 31,1%) e africanos (274; 6,4%). Por países destaca-se especialmente a presença de portugueses (405), brasileiros (361), colombianos (256), paraguaios (268) e italianos. Além de destino de imigração, muitos naturais da cidade emigram — entre 2010 e 2012 saíram de Santiago quase 9 000 pessoas, a maioria (4 500) mudaram-se para outro concelho da província da Corunha, seguidos dos que se mudaram para outras províncias galegas (1 120), dos que emigraram para o estrangeiro (1 060) e dos que emigraram para outras comunidades autónomas espanholas (1 120).[12]
Devido aos altos preços da habitação na cidade, é notório o fenómeno de despovoamento da capital em favor dos municípios limítrofes, dando origem ao aparecimento de cidades dormitório, como O Miladoiro e Bertamiráns, Cacheiras, Sigüeiro ou Brión. Alguns dos municípios em volta de Santiago apresentam grande crescimento demográfico nos últimos anos, chegando ao ponto de Ames ser o município que mais cresce na Galiza. Estima-se o número de pessoas que todos os dias entram em Santiago é o dobro do número de habitantes da cidade.[carece de fontes]
Santiago de Compostela tem um clima de tipo oceânico húmido com temperaturas amenas ao longo de todo o ano, com média anual de aproximadamente 15 °C, 8 °C no inverno e 25 a 27 °C no verão. A precipitação anual oscila entre os 700 e os 800 milímetros, concentrando-se sobretudo no inverno, sendo menor no outono e primavera.
Os fatores que mais influenciam o clima local são a relativamente grande distância da costa marítima, a altitude e a presença de serras que "encaixam" a cidade e os seus arredores, o que faz com que a humidade se concentre e que no inverno sejam habituais os dias nublados.
Dados climatológicos para Santiago de Compostela | |||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Ano |
Temperatura máxima recorde (°C) | 20,0 | 23,2 | 27,6 | 30,2 | 34,0 | 36,0 | 39,4 | 39,0 | 37,6 | 30,4 | 24,2 | 23,4 | 39,4 |
Temperatura máxima média (°C) | 11,1 | 12,1 | 14,2 | 15,4 | 17,7 | 21,3 | 24,1 | 24,3 | 22,3 | 17,7 | 13,9 | 11,8 | 17,2 |
Temperatura mínima média (°C) | 3,7 | 4,2 | 4,8 | 5,8 | 8,1 | 10,7 | 12,8 | 12,9 | 11,7 | 9,1 | 6,4 | 5,0 | 7,9 |
Temperatura mínima recorde (°C) | −7,0 | −9,0 | −5,6 | −3,0 | −2,0 | 3,4 | 3,4 | 5,0 | 3,0 | −1,6 | −3,2 | −6,5 | −9,0 |
Precipitação (mm) | 259 | 223 | 145 | 141 | 147 | 82 | 39 | 57 | 127 | 194 | 200 | 281 | 1 886 |
Dias com chuva | 16 | 14 | 13 | 14 | 14 | 8 | 5 | 5 | 9 | 13 | 14 | 16 | 141 |
Dias com neve | 1 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
Humidade relativa (%) | 84 | 82 | 77 | 77 | 77 | 75 | 74 | 74 | 76 | 82 | 85 | 86 | 79 |
Dias de sol | 5 | 3 | 5 | 4 | 2 | 5 | 8 | 7 | 5 | 3 | 3 | 3 | 54 |
Insolação (h) | 102 | 108 | 154 | 170 | 190 | 235 | 261 | 246 | 180 | 138 | 106 | 88 | 1 998 |
Fonte: Agência Estatal de Meteorologia (AEMET) [13][14] |
Santiago foi o primeiro concelho galego a aderir à Carta de Aalborg, um acordo a nível europeu que tem como objetivo compatibilizar o desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, isto é, um desenvolvimento sustentável,[15] implementando processos da agenda 21 local, um modelo para diagnosticar e formular políticas municipais sustentáveis.[16]
A cidade conta com 220 hectares de espaços verdes distribuídos por 57 parques com parques infantis, 43 áreas polidesportivas ao ar livre e 130 zonas de lazer. A área conjunta dos jardins históricos, como o da Alameda, que ocupa 8,5 ha, e outros menores, como o de Brandía ou a Finca Simeón, totaliza cerca de 23 ha. As maiores áreas verdes situam-se junto a urbanizações, como a de Fontiñas.[12]
A manutenção das áreas verdes existentes, bem como o desenho e a execução de novas áreas, está a cargo da empresa Cespa, em regime de concessão, que opera sob a supervisão do departamento de parques e jardins do município.[17]
Em 2013, existiam os seguintes parques e jardins em Santiago de Compostela:
É um jardim histórico situado entre a Rua Poza de Bar, o Campus Universitário Sul, a estrada velha de Noia e o rio Sarela. Tem 8 257 m² de área e os principais atrativos em termos artísticos são o [[Paço de São Lourenço de Trasouto|Pazo de Trasouto]], a fonte e o cruzeiro. Deve o seu nome ("carvalheira") aos vários exemplares de carvalhos, muito velhos na sua maioria, com copas altas e alguns com tronco oco.[18]
Situa-se no bairro de Fontiñas e é limitado pelas avenidas de Lugo e Rodríguez de Viguri, o Caminho Francês de Santiago, São Lázaro, a via férrea e a autoestrada do Atlântico (AP-9). Ocupa uma área de 15,64 ha e, entre outras espécies de árvores, tem plátanos, ciprestes-portugueses, cameleiras, magnólias, cedros-do-himalaia, tuias, bétulas, oliveiras e rododendros. Tem diversas esculturas: meninos brincando, mulher com bebé e o monólito de Fontiñas, e também um parque infantil. O I.B. de Fontiñas, o Instituto Galego da Habitação e a Escola Galega da Administração Pública situam-se dentro do parque.[18]
É um jardim histórico que se encontra entre as partes nova e antiga da cidade. É delimitado pelas ruas do Pombal, San Clemente, Figueroa, Xoán Carlos I e a Avenida da Coruña. Ocupa 8,5 ha e as principais espécies vegetais nele presentes são, entre outras, o abeto do Cáucaso (ou de Nordmann; Abies nordmanniana), o bordo, falso-plátano, castanheiro-da-índia, araucária, cameleira, cedro-do-himalaia, olaia, cipreste-de-lawson, diversas variedades de outros ciprestes, azevinho e zimbro-rasteiro.[18]
É um grande pulmão de Santiago, que integra os jardins do Campo da Estrela, o Passeio da Ferradura e a carballeira (carvalhal) de Santa Susana. No seu interior há diversos monumentos, como as capelas de Santa Susana e do Pilar, a creche de Santa Susana, o Coreto da Música, a Casa de Banet, duas fontes e várias estátuas: Rosalía de Castro, “A Leiteira”, Castelao, Pais Lapido, Manuel Ventura Figueroa, Méndez Núñez, Valle-Inclán e a “As Duas Marias”.[18]
O parque foi criado em 1546 em terrenos cedidos pelos condes de Altamira. Ao longo do século XIX, a partir de 1855 passou por sucessivas reformas, chegando à forma atual em 1918.[18]
Situa-se no bairro homónimo, entre os bairros de Betanzos, Pino, Touro e Teo. Ocupa 3,73 ha e nele se encontram, entre outras árvores e arbustos, carvalhos, cedros-do-himalaia, cedros-do-atlas, plátanos, choupos negros brancos, cerejeiras-falsas (Cornus sanguinea), amoreiras-brancas (Morus alba), azáleas, rododendros e bambus. No parque situam-se a Escola Municipal de Música, o jardim do Colégio Público Apóstolo Santiago e a escultura Proa a Enciño.[18]
A economia da cidade é baseada em vários setores muito diversificados. A universidade, os serviços administrativos do governo autónomo da Galiza, que ali tem a sua sede, o turismo cultural e a indústria, especialmente a madeireira (nomeadamente a empresa multinacional Finsa, com sede em Ames), e as telecomunicações e eletrónica, com empresas de ponta neste setor, como a RTVG, Blusens, Televés e Telcor.
Os transportes públicos urbanos de Santiago estão concessionados à empresa Tussa. Esta opera 24 linhas de autocarros que servem a cidade e arredores. Há também uma rede de transportes metropolitanos que liga o centro às cidades dormitório e que é subsidiado pela Junta da Galiza. Os congestionamentos de tráfico são frequentes, embora a situação tenha melhorado com a abertura de novas vias nos últimos anos.
A empresa ferroviária nacional espanhola Renfe opera em Santiago, ligando a cidade com várias povoações galegas e do resto de Espanha. A 9 de dezembro de 2011 entrou em serviço a alta velocidade entre a Corunha e Ourense, que passa por Santiago. Esta linha encurtou a duração das viagens a partir de Santiago para 28 minutos para a Corunha e para 38 minutos para Ourense.[19] O serviço é feito em comboios regionais de alta velocidade Avant e Alvia.[20] Apesar do seu traçado estar preparada para os comboios mais rápidos AVE, esta linha usa atualmente a bitola ibérica tradicional, incompatível com o AVE, devido à linha ser uma "ilha" na rede de alta velocidade espanhola enquanto não se completar a linha LAV Olmedo-Zamora-Galiza, que ligará por alta velocidade a Galiza ao resto de Espanha e que em 2013 tinha alguns troços em construção e os restantes já adjudicados. Está projetada a construção de uma nova estação intermodal, situada no mesmo local da atual, que fará a interface do AVE com comboios e autocarros suburbanos.
O Aeroporto de Santiago-Rosalía de Castro (IATA: SCQ, ICAO: LEST) situa-se em Lavacolla, na paróquia de Sabugueira, a cerca de 10 km do centro da cidade, à qual está ligado pela autoestrada A-54. Em outubro de 2011 foi inaugurado um novo terminal com capacidade para quatro milhões de passageiros por ano. Em 2019 serviu 2 904 102 passageiros e 22 402 voos.[21]
Ver também Galeria de imagens de Santiago de Compostela (artigo eliminado) e ficheiros em Wikimedia Commons
Devido ao seu património histórico, cultural e monumental, a cidade velha de Santiago foi classificada como Património Mundial pela UNESCO em 1985.
“ | Este famoso lugar de peregrinação no noroeste de Espanha tornou-se um símbolo na luta dos cristãos espanhóis contra o Islão. Destruída pelos muçulmanos no final do século X, foi completamente reconstruída no século seguinte. Com os seus edifícios românicos, góticos e barrocos, a cidade velha de Santiago é uma das mais belas áreas urbanas do mundo. Os monumentos mais antigos agrupam-se em redor do túmulo de Santiago e da catedral, à qual se acede pelo magnífico Pórtico da Glória. | ” |
— Site do Património Mundial da UNESCO[3]. |
Há 41 edifícios qualificados como sendo de valor arquitetónico, histórico ou cultural excecional, que por isso foram propostos para serem individualmente declarados como bens de interesse cultural (monumentos nacionais), estatuto já obtido por sete deles. São tutelados pela administração municipal. No total, há 1 411 edifícios inventariados como de interesse no conjunto urbano; 293 deles apresentam caraterísticas tipológicas e de composição com especial relevo arquitetónico e ambiental.
Coração de Santiago de Compostela, o seu nome faz alusão ao estaleiro (em galego: obradoiro) de canteiros que funcionava na praça durante a construção da catedral.[22] A ela chegam todos os dias centenas de peregrinos. No centro encontra-se o quilómetro zero de todos os Caminhos de Santiago. Os edifícios que a rodeiam são exemplos de diferentes estilos arquitetónicos. A oriente está a fachada barroca da catedral, flanqueada pelo Museu da Catedral à direita e o Palácio de Gelmires (Pazo de Xelmírez) à esquerda. No lado ocidental, em frente à catedral ergue-se o Palácio de Raxoi (Pazo de de Raxoi), construído pelo arcebispo Bartolomeu de Raxoi (1690–1772) para alojar o governo municipal. O lado norte é ocupado pelo antigo Hospital dos Reis Católicos (Hostal dos Reis Católicos), obra-prima do estilo plateresco que dava guarida aos peregrinos. A sul fica o Colégio de São Jerónimo (Colexio de San Xerome), um antigo colégio para estudantes sem recursos onde atualmente funciona a reitoria da Universidade de Santiago de Compostela.
Entre as curiosidades que envolvem o Caminho de Santiago, destaca-se a Tarte de Santiago, um doce típico preparado à base de amêndoas, açúcar e ovos. No Caminho de Santigo de Compostela é comum encontrá-la à venda, sobretudo entre julho e agosto. Originalmente, chamava-se bizcocho de almendra ("pão de ló de amêndoa"). Está identificada desse modo em relato de 1577, sobre a visita do inspetor D. Pedro de Portocarrero à Universidade de Santiago de Compostela, com o objetivo de investigar denúncias de excessos alimentares dos professores ao concederem graus académicos. Num caderno de Luis Bartolomé de Leybar, de 1838, também aparece com o nome primitivo. No El Confitero y el Pastelero, de Eduardo Merín, de 1893, já aparece como Tarta de Almendro (tarte de amêndoa). Mas os livros de culinária espanhola do século XX consagraram-na como Tarte de Santiago. Em março de 2006 recebeu a classificação de produto de Indicação Geográfica Protegida, com base nas regras da União Europeia, que padronizou a receita, as suas proporções, método de elaboração, etc.[26] A Cruz de Santiago sobre a tarte, decoração instituída em 1924 pela extinta Casa Mora, de Santiago de Compostela, tornou-se obrigatória.
Santiago de Compostela tem acordos de geminação com as seguintes cidades:[carece de fontes]
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.
Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.