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Fernando Sánchez Dragó (Madrid, 2 de outubro de 1936 – Castilfrío de la Sierra, 10 de abril de 2023) foi um escritor espanhol.
Fernando Sánchez Dragó | |
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Fernando Sánchez Dragó | |
Nascimento | 2 de outubro de 1936 Madrid, Espanha |
Morte | 10 de abril de 2023 (86 anos) Castilfrío de la Sierra |
Nacionalidade | Espanhola |
Ocupação | Ensaísta, romancista, crítico literário e apresentador de televisão |
Página oficial | |
www.sanchezdrago.com |
Foi um apaixonado por a literatura, a tourada, as viagens, o Japão e a Índia.
Escreveu mais de quarenta livros, principalmente ensaios e romances, também traduziu do francês para o espanhol e dirigiu o semanal digital La Retaguardia.
É pai de quatro filhos, cada um de uma mãe diferente,[1] uma deles é a actriz, locutora de rádio e escritora espanhola Ayanta Barilli,[2] o mais novo nasceu quando o escritor tinha 75 anos.[3]
Defende ideias heterodoxas, muitas delas politicamente incorretas.[4][5][6][7][8][9][10]
Pensou, como Carl Gustav Jung, que "a vida não vivida é uma doença da qual pode-se morrer".[11]
Fernando Sánchez Dragó é o filho primogénito de Elena Dragó Carratalà[12] e o único e póstumo do jornalista Fernando Sánchez Monreal, quem dirigia a agência de notícias Febus, a mais importante da Espanha, quando eclodiu a Guerra Civil Espanhola, em julho de 1936.[13][14]
Quando criança passava muito tempo conversando com o suo anjo da guarda, chamado Jai.[15]
Com três anos de idade aprendeu a ler,[16] disse que queria ser escritor quando ficasse mais velho[17][18] e roubou uma vaca na Galiza (noroeste da Espanha).[19]
Tinha seis anos quando a sua mãe levou-o ao cinema pela primeira vez para ver o filme O Mágico de Oz, que lhe fez conceber a vida, o mondo, como uma estrada de ladrilhos amarelos.[20]
Foi um estudante do Colegio del Pilar de Madrid.[7][21] Obteve a sua licenciatura em Filologia Românica (1959)[22] e Línguas Modernas, especialidade em italiano (1962) e o grau de Doutor em Letras na Universidade de Madrid.
Durante sua infância e adolescência, apenas soube sobre a morte do seu pai que aconteceu durante a guerra civil e sempre supôs que havia sido assassinado pelos republicanos.[23] Mesmo assim, quando iniciou seus estudos universitários entrou no partido comunista convencido por Jorge Semprún,[24] sem ser comunista,[25] para "procurar aventuras".[26]
Em 1956 estando detido por participar nos protestos na universidade, um comissário de polícia revelou-lhe abruptamente que o seu pai havia morrido nas mãos dos nacionalistas sublevados contra a República, o que foi um choque para ele.[23][27]
Nos anos cinquenta traduziu mais de vinte títulos dos romances do inspetor de polícia Maigret[28] e foi co-fundador da revista poética Aldebarán (1954).[29][25]
Em 1960 escreveu o romance Eldorado, o seu primeiro livro, em vinte e três dias, com o objectivo de conquistar uma mulher, o conseguiu mais o livro foi publicado em 1984.[30]
Esteve preso em 1956, 1958 e 1963 pela sua escrita e ideologia. Em 1964 estando em prisão domiciliar[13] decidiu ir para o exílio para viajar[31] e retornou a Espanha em 1970.[13]
Um ano antes, em Roma, enamorou-se por Caterina Barilli assim que a conheceu.[32]
Durante seu exílio foi um correspondente de imprensa[29] do diário El Alcázar adotando o nome do seu pai como pseudônimo.[13]
Visitando Benares em março de 1967, uma manhã cedo quer contemplar o nascer do sol desde um dos ghats, degraus que descem até ao rio Ganges, e vê "dançar o sol" e sente-se embriagado por uma explosão sagrada. Essa experiência, "queda autêntica às portas de Damasco", motivou a conversão de "um intelectual sem óculos, mas com óculos grossos (...) positivista, empirista, racionalista e crítico à maneira ocidental" para um "homem religioso".[33]
Ensinou em universidades na Itália, no Japão, no Senegal, Marrocos, na Jordânia, na Quênia, nos Estados Unidos e na Espanha, onde trabalhou como professor de língua espanhola e literatura e história espanhola e colaborou com diferentes publicações.[29][34]
Trabalhou na televisão italiana (RAI), do Japão (NHK), a Televisão Espanhola (RTVE)[29] e em Telemadrid;[35] colaborou com estações de rádio de Espanha (SER, Onda Cero, COPE,[29] esradio) e várias publicações como o jornal El español.[36] Seu trabalho como diretor e apresentador em programas de televisão inclui Encuentros con las letras (1980-1981), Tauromaquia (1980-1983), Biblioteca Nacional (1982-1983), Con el mundo por montera (1989-1990) e Negro sobre blanco (1997-2004), todos caracterizados pela qualidade intelectual dos convidados e pela vivacidade de alguns dos seus debates.[29]
Solicitou o voto a favor de José María Aznar nas eleições gerais de 1993.[37]
Em 1994 começou a pesquisar sobre a morte do seu pai graças ao testemunho de um professor republicano que esteve preso juntamente com Sánchez Monreal na última noite da sua vida.[23] Após vários anos de investigação, chegou à conclusão que seu pai não foi assassinado por motivos políticos, mas por uma rivalidade profissional, o jornalista Juan Pujol, que tinha vínculos estreitos com os sublevados, acusou Sánchez Monreal de ser um republicano perigoso;[38][13] durante o regime de Franco, Pujol foi nomeado diretor da agência EFE,[39][40] criada após a guerra por a fusão da agência Febus com duas mais.[41]
Em 2003, viajando pela Etiópia durante a Semana Santa, foi mordido por um cão raivoso em Axum, pôde pegar um "avião misterioso" destinado para Adis Abeba onde recebeu a primeira injeção da vacina antirrábica numa clínica britânica e lhe disseram que era urgente que recebesse uma dose de gamaglobulina, que na Etiópia havia apenas quatro, na Embaixada dos Estados Unidos, mas era muito improvável que a providenciassem. Disposto a voltar para Espanha explicou a sua situação ao embaixador espanhol, quem solicitou a dose à legação americana, que a concedeu. Sánchez Dragó atribuiu a concessão da dose que praticamente salvou sua vida à aliança do governo da Espanha com os Estados Unidos na invasão do Iraque em 2003.[42]
Uma grave obstrução arterial requereu uma intervenção cirúrgica de tripla ponte aorto-coronária em fevereiro de 2005.[43][44][45][8] Três dias após a operação, dançava a valsa nos corredores do hospital.[8]
Entre 1999[46] e 2016[47] foi membro do júri do prémio Principe das Astúrias das letras.
Em 2008, declarou estar de acordo com 90% do programa do partido Vox.[48][9]
Desde 25 de março de 2020[49] publicou e dirigiu o semanal digital La Retaguardia.[50]
Morreu em 10 de abril de 2023 em Castilfrío de la Sierra, aos 86 anos, devido a um infarto.[51]
Fernando Sánchez Dragó achou que no caminho da vida não é necessário ter um objetivo, mas que simplesmente metendo um pé diante do outro, caminhar com verve e alegria acaba levando a algum lugar.[59]
Identificou o bem com a felicidade.[60]
Concordou com o princípio búdico de não acreditar em algo porque a tradição o estabeleça ou porque os sábios ou muitos o assegurem, mas que só se deve acreditar no que se verificou por si próprio.[8]
Considerou-se como um "místico sem religião"[5] e declarou-se pagão, xivaísta, dionisíaco,[61] apocalíptico,[62] fundamentalista (integrista) de nada,[8] defensor da embriaguez sagrada, libertino, extravagante, mais próximo de Dom Quixote do que de Sancho Pança e adversário de todo o que soa ou tem gosto de monoteísmo e judaico-cristianismo[61] (se bem que entende a figura de Cristo como o arquétipo junguiano do herói[63] e valoriza o legado pagão sincretizado no catolicismo em contraste com o literalismo bíblico e iconoclasta protestante).[64]
A sua posição sobre a vida adquirida ao longo dos anos pode resumir-se nas seguintes palavras:
Definiu viagem como "a distância mais longa entre dois pontos".[66]
Pronunciou-se a favor da eutanásia e o suicídio assistido.[8]
Para Sánchez Dragó a principal característica dos escritores é a curiosidade,[8] pensou que
e declara:
Subscreveu a opinião de María Zambrano "existem coisas que não podem dizer-se (...), mas o que tem de ser escrito é o que não pode ser dito"[67][68] e a de César González Ruano de que em literatura “todo o que não é autobiografia é plágio".[69][11] Opinou que os escritores só têm o dever revolucionário de criar beleza,[70] que a sua tarefa é colocar em comunicação o macrocosmo com o microcosmos, tentando explicar desde abaixo o que está acima[71] e que para eles a sua língua é a sua verdadeira pátria.[72]
A sua devoção à leitura despertou-se devido a livro Travesuras de Guillermo de Richmal Crompton, que leu com três anos de idade,[73] o seu amor por ler chegou a tal ponto que seu padrasto lhe deu o apelido de "principezinho que aprendeu tudo nos livros".[74]
A seu ver Dom Quixote é o melhor livro dentre os que não são livros inspirados[75] e que
Confessou ter sido incapaz de ler o Ulisses de James Joyce,[77] achou que ter quarenta anos e ler romances é infantil porque tudo já está contado, é por isso que ele somente se preocupou com a literatura de "conhecer-me a mim mesmo". Assegurou que todos os livros que tem escritos são autobiográficos e que apenas lê diários, memórias e biografias "que investigam o 'eu' do autor", e não os das personagens inventadas.[78][18]
No entanto incluiu O Egípcio de Mika Waltari entre as suas escrituras sagradas e o considerou o melhor romance do século XX.[79]
Movido por a sua curiosidade, Sánchez Dragó experimentou todas as drogas e opina que deve-se diferenciar entre substâncias como a cocaína, os opiáceos, os barbitúricos ou as anfetaminas e outras como as drogas alucinógenas, como o peiote, a mescalina ou o LSD, substâncias que provocam êxtase ou induzem experiências enteogênicas (cuja ingestão considera ser a coisa mais importante que fez), porque podem ser um meio válido para alcançar o transe que leva a encontrar respostas para as grandes questões da vida.[5][80]
É um estudioso de todas as tradições espirituais do mundo. Sintonizou especialmente com os filósofos pré-socráticos, Platão, os neoplatónicos, os estoicos, as religiões de mistério, o hinduísmo, o budismo e o taoísmo.[81][59]
Entendeu que a matriz da cultura é a religião, que sem ela não haveria livros sagrados, literatura, pintura nem música,[82] e pensou, tal como Jorge Luis Borges, que a arte não é um espelho do mundo, mas algo adicionado ao mundo.[83]
Pensou que estamos no ponto mais baixo da história humana, aquilo a que os hindus chamam Cáli Iuga, a fase final de uma era, que será continuada por um novo ciclo, que a história do homem é a história do universo, e no universo tudo é cíclico, não há progresso, mas há círculos em espiral para cima.[59]
Segundo Sánchez Dragó:
Achou que depois da Segunda Guerra Mundial:
Politicamente é difícil de classificar, afirmou: "não sou nem de direita nem de esquerda, não sou ninguém, como Ulisses quando foi interrogado pelo ciclope",[6] e declarou-se um anarquista conservador,[5] elitista, meritocrata,[9] liberal, reacionário, que abominou o progressivismo,[61] a social-democracia (por "sua interferência mesmo nos últimos cantos da vida cotidiana do poder público"), o desenvolvimentismo, o pluriculturalismo (que compara com a queda do Império Romano), a tecnologia, a ideologia de gênero, a globalização, o neoliberalismo, o correção politica e a pós-modernidade.[5]
Seguiu Arnold J. Toynbee em que o comunismo é uma seita do cristianismo,[86] e pensou que na esquerda aninha o medo da liberdade.[87]
Entendeu que o Mundo Oriental e o Mundo Ocidental são complementares, nenhum deles representa nada sem o outro.[84]
Preferiu Oriente ao Ocidente[5] e identificou a línea divisória entre eles com a do monoteísmo e o politeísmo, isto é, a fronteira entre o Paquistão e a Índia.[88]
A sua crítica sobre o Mundo Ocidental é radical: no século XVIII os habitantes de Ocidente foram privados das diretrizes éticas e estéticas que somente os mitos proporcionam (diretrizes essenciais para um desenvolvimento equilibrado dos seres humanos), quando a cosmovisão sagrada da vida, de raízes judaico-cristãs, foi substituída pela concepção racionalista "da qual derivam o ateísmo, cartesianismo, cientificismo, mecanicismo, materialismo, economicismo e igualitarismo brutal predominantes na maior parte do mundo".[89]
Respeito à diversidade cultural da humanidade dividiu o mundo em duas partes:
Porque no Japão todos cumprem o seu dever, quase ninguém engana ninguém, o qual é um legado do código de conduta do buxido, não há qualquer tipo de crime e pode deixar as portas do seu carro ou da sua casa abertas e ninguém leva nada. Mas a sua admiração é pelo Japão dos daimiôs, dos samurais, de Yukio Mishima, não pelo Japão de hoje, que é hipermoderno, e sufocante porque tornou-se também um país social-democrata.[5]
O seu juízo sobre a Espanha foi acerado: a Espanha está em coma, o mesmo que Ocidente, experimenta uma deterioração espiritual, cultural, social e ambiental irreversível.[90]
É um país onde o pícaro é um exemplo a seguir,[91] o povo espanhol não passa de plebe porque carece de educação, os pecados capitais dos espanhóis são a inveja, o ódio à excelência e a preguiça, "o espanhol é um lobo para o espanhol",[7] a sociedade espanhola é hipócrita, infantilizada e puritana,[92] atualmente há menos liberdade de costumes do que com o ditador Franco,[18][25] "a Espanha não tem solução, parafraseando Primo de Rivera, é uma unidade de destino no infernal", por isso diz "não me sento espanhol" e opina como Miguel Hernández que "onde estão os meus sapatos, ali está a minha pátria" e faze seu o provérbio latino ubi bene ibi patria, 'onde quer que esteja bem, há a sua pátria'.[5]
Defendeu que a origem dos Caminhos de Santiago é pré-cristã, e que o sepulcro do apóstolo Santiago em Santiago de Compostela guarda os restos mortais do bispo herege Prisciliano.[93]
Sánchez Dragó sentiu que a tauromaquia é o que resta do caráter da Espanha,[72] impregnou o modo de falar, de escrever, de pensar e mesmo de existir da Espanha e é uma parte essencial da sua vida.
Pensou que o toureiro ensina-nos como viver quando mata o touro e também como morrer quando é ele quem morre na areia da praça ou na enfermaria,[94] e que a sua função é a do herói do mundo antigo, isto é, oferecer exemplaridade pública à sociedade.[7] Agrega aos três mandamentos clássicos da lide a pé, a saber, «parar, temperar e mandar» (parar, templar y mandar), os de «ligar» (ligar) e «carregar a sorte» (cargar la suerte).[95] Entendeu a tauromaquia como sacramento e que os aficionados á tourada são os náufragos da Era dourada.[72]
Disse que os gatos são seus mestres porque não entendem a submissão, ao mesmo tempo estão alerta e em repouso e velam pelo sono das crianças.[11]
Acreditou que são animais psicopompos, isto é, que podem percorrer quando desejam os passadiços que ligam com o além e têm a faculdade, o dever e a vocação de acompanhar os seres humanos, e talvez outros animais, em suas desencarnações.[96]
Suspeitou que é possível que os escritores sejam o animal favorito dos gatos, visto que gostam de sentar ao lado do computador, ao lado das páginas, ao lado da máquina de escrever (antes) e ver como os dedos do escritor estão tirando palavras do fundo da sua mente.[96][26]
Escreveu o conto Soseki. Inmortal y tigre, dedicado ao suo gato Soseki, que morreu num acidente na sua casa, após examinar as circunstâncias sob as quais o acidente ocorreu, Sánchez Dragó chegou à conclusão de que, para salvar a vida de sua neta, Soseki decidiu sacrificar a sua própria.[97]
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