Os turguexes ou turguixes (em turco antigo; 𐱅𐰇𐰼𐰏𐰾:𐰉𐰆𐰑, ;[1] em chinês: 突騎施/突骑施, pinyin: tūqíshī, Wade–Giles: t'u-ch'i-shih; em tibetano antigo: du-rgyas)[2] foram uma confederação tribal turca. Originalmente pertencentes ao ramo Duolu das elites On Oq do Grão-Canato Turco Ocidental, os turguexes emergiram como uma potência independente depois do desmoronamento do estado turco-ocidental e fundaram um grão-canato em 699. O Grão-Canato Turguexe existiu até 766, quando foi derrotado pelos carlucos. A nobreza turguexe estava ligada aos goturcos através de casamentos.
Factos rápidos Grão-Canato Turguexe𐱅𐰇𐰼𐰏𐰾:𐰉𐰆𐰑 •, Grão-cã ...
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Sobre a origem do etnónimo, baseando-se em Talât Tekin e facto de -ş ser um sufixo gentílico, Christopher P. Atwood sugere que está relacionado com o lago Türgi-Yarğun mencionado numa das inscrições de Orcom dedicada a Culteguim (c. 684–731), um general e príncipe do Segundo Canato Turco Oriental.[6]
Há registo de duas ou três subtribos turguexes no século VII: a Alixi (em chinês: 阿利施) ou Sarï ("amarela") e a Cara ("negra"; em chinês: 娑葛, Suoge < *Soq ou *Saqal, ou 莫賀, Mohe < *Bağa).[8] O líder e depois grão-cã Suluque (r. 714–738) pertencia à subtribo negra.[9][10][11] O Grão-Canato Turguexe também integrou tribos ou clãs do Grão-Canato Turco Ocidental; por exemplo, o subordinado de Suluque Culchor, que depois foi grã-cã turguexe (r. 739–744), pertencia à tribo Duolu Chumukun (em chinês: 處木昆), que vivia a sul do lago Balcache (atualmente no sudeste do Cazaquistão), entre os territórios turguexes e carlucos. O proeminente general da Dinastia Tangue chinesa Geshu Han era de origem Duolu e turguexe e Geshu (阿舒) era o seu sobrenome tribal Nushibi. [lower-alpha 1] Quando nomeavam as tribos turcas Duolu, os historiadores chineses podem ter mencionado os calajes (Khalaj; em turco: Halaçlar), outro povo turco que vivia a oeste dos turguexes, juntamente com estes, sob a denominação comum 突騎施-賀羅施 (Tūqíshī-hèluóshī, do turco antigo Türgeš-Qalač). No final do século VII existiu também um chefe do Canato Uigur chamado Turguexe.
Antes de se tornarem independentes, os turguexes eram governados por um tutuk, depois shad, das elites Onoq do Grão-Canato Turco Ocidental. O líderes turguexes pertenciam à tribo Duolu e ostentavam o título de chur (ou chor). Um comandante turguexe da província de Talas e da cidade de Balu tinha um nome que simbolizava uma espécie de relação com uma esfera divina ou celestial. O primeiro grão-cã (ou cagã, khagan), Wuzhile (烏質; wuzhi significa "substância negra"; em turco antigo: *Üç Elig ou Oçırlıq), foi líder dum grupo maniqueísta chamado yüz er ("cem homens"). Fundou o Grão-Canato Turguexe em 699 e em 703 conquistou a cidade de Suyab à Dinastia Tangue. Morreu em 706 e foi sucedido pelo filho Suoge (também conhecido como Sacal). Como o seu pai, ostentou o título religioso maniqueísta Iuslique (Yuzlik).[19]
Em 708, Suogue atacou a cidade Tangue de Chiuci (em Cucha) e no ano seguinte infligiu uma derrota aos Tangue. Porém, o seu irmão mais novo Zhenu rebelou-se e procurou o apoio militar de Capagã, grão-cã do Segundo Grão-Canato Turco. Capagã derrotou os turguexes em 711 na Batalha de Bolchu, travada no que é hoje o norte do Sinquião, na China, não longe do lago Ulungur, ou talvez mais a norte, no que é hoje território russo. Os irmãos Suoge e Zhenu foram mortos na batalha e os turguexes derrotados fugiram para Zhetysu. Em 714 os turguexes elegeram Suluque (ou Sulu) como seu grã-cã.
Cronologia do reinado de Suluque
- 720 — Tropas turguexes comandadas por Culchor derrotaram um exército do Califado Omíada liderado por Saíde ibne Abdulazize perto de Samarcanda.
- 722 — Suluque desposou a princesa Tangue Jiaohe.
- 724 — O califa omíada Hixame ibne Abedal Maleque enviou um novo governador para a sua província de Coração, Muslim ibne Saíde Alquilabi, com ordens de esmagar os "turcos" duma vez por todas. Muslim por sofreu uma pesada derrota frente a Suluque na batalha que ficou conhecida como "Dia da Sede". Muslim escapou a custo e conseguiu chegar a Samarcanda com um punhado de sobreviventes, enquanto os turguexes continuaram a atacar sem cessar e sem terem resistência.
- 726 — Os turguexes atacaram novamente Cucha.
- 727 — Novo ataque a Cucha, desta vez em aliança com o Império Tibetano.
- 728 — Suluque derrotou tropas omíadas enquanto apoiava uma rebelião de soguedianos e tomou Bucara.
- 731 — Derrota dos turguexes, com pesadas baixas, frente aos omíadas na Batalha do Desfiladeiro, travada a meio caminho entre Samarcanda e Qués (Xacrisabez).
- 735 — Ataque dos turguexes ao protetorado chinês de Beiting (atual Jimsar, no Sinquião).
- 737 — No inverno, Suluque e os seus aliados Alharite, Guraque (um líder soguediano que governou Samarcanda) e tropas de Osruxana, Chache (Tasquente) e do Principado de Cutal atacaram os omíadas. Suluque chegou a entrar em Josjã, mas foi derrotado pelo governador omíada Assade ibne Abedalá na Batalha de Caristão, travada em dezembro perto de Meimané.
Culchor e fim do grão-canato
A seguir a ter sido derrotado em Caristão, Suluque foi assassinado pelo seu familiar Culchor.[25] Cute Chor, filho de Suluque, foi aclamado grão-cã em Suyab pelos turguexes negros, mas o grã-canato mergulhou numa guerra civil entre as fações negra (Cara), e amarela (Sari). Em agosto de 739, Culchor, líder dos turguexes amarelos, aliou-se ao general Tangue Gai Jiayun (蓋嘉運) e ao rei de Chache Bagatur Tudum e derrotou Kut Chor, que foi enviado para Changan, onde foi simbolicamente sacrificado. Entretanto foi perdoado pelo imperador Tang Xuanzong e tornou-se general ao serviço do imperador chinês.
Após derrotar Tumoche, líder dos Cara, Culchor ficou sem rivais para ocupar o trono. Em 740 tornou-se vassalo da Dinastia Tangue, mas dois anos depois rebelou-se contra o governante fantoche enviado pela corte Tangue. Acabou por ser derrotado e executado pelos chineses em 744.[25]
O último grão-cã turguexe, Ata Boila, declarou-se vassalo do recém estabelecido Canato Uigur. Em 766, os carlucos conquistaram Zhetysu e acabaram com o Grão-Canato Turguexe.[25]
Segundo o historiador persa do século XI Abuçaíde Gardizi, os povos tusis (de Zhetysu e áreas vizinhas) e azes podem ter sido descendentes dos turguexes,[19] assim como os calajes (dos quais há registos de terem vivido na região de iraniana de Gásni e na de Zabol, no Afeganistão).[29] A tribo Suogue, associada aos turguexes, juntamente com os chiguiles e anqingues participaram na etnogénese dos turcos Shatuo que fundaram várias dinastias e um reino do Período das Cinco Dinastias e dos Dez Reinos da China.
Segundo o linguista, etnólogo e turcologista russo Nikolai Baskakov, o etnónimo türgesh sobevive no nome dum seok (clã) com esse nome os altaicos.
- Wuzhile (*Üç Elig ou *Oçırlıq) (r. 699–706)
- Suoge ou Sacal (r. 706–711)
- Suluque ou Sulu (r. 716–738)
- Cute Chor (r. 738–739)
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- Culchor (Kül-chor) ou Baga Tarcã (r. 739–744)
- El Etemis Cutlugue Bilgue (r. 744–749) [8]
- Ibo Cutlugue Bilgue Juchi (r. 749–751) [8]
- Tengri Ermixe (r. 753–755) [8]
- Ata Boila (r. anos 750–766)
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- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Türgesh», especificamente desta versão.
Nushibi ou Nu-shibi (弩失畢) era o nome que os chineses davam às cinco tribos da parte mais a oeste do Grão-Canato Turco Ocidental.
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