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região histórica da Àsia Central, parte da Transoxiana Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Osruxana, Usruxana, Usrusana ou Osrusana (em persa: اسروشنه; romaniz.: Osrušana ou اُشروسنه, Ošrusana)[nt 1] foi uma antiga região da Transoxiana, na Ásia Central. O Principado de Osruxana foi um estado independente, governado por uma dinastia iraniana de origem soguediana, que existiu na região entre uma data desconhecida e 892 e cujos soberanos ostentavam o título de "Afexim" (Afšin). Ocupava o que é hoje uma parte do leste do Usbequistão e do noroeste do Tajiquistão. Estendia-se de sul para norte desde o curso superior do rio Zarafexã ou Nahr-e Ṣogd, a leste de Samarcanda, até ao grande meandro mais meridional do rio Zarafexã e às franjas ocidentais de Fergana (região de Cujanda). Para sudoeste e sul estendia-se até às montanhas Botamã (Bottamān) que separam a bacia superior do Amu Dária (rio Oxo) e dos seus afluentes pela margem direita do vale do Sir Dária (Jaxartes).[1]
Osruxana Usruxana • Usrusana • Osrushana • | |||||||||||||
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Mapa da Transoxiana no século VIII | |||||||||||||
Sítio arqueológico de Bunjicate | |||||||||||||
Localização no Tajiquistão de Bunjicate, a capital de Osruxana | |||||||||||||
Coordenadas de Bunjicate | |||||||||||||
Região | Transoxiana | ||||||||||||
Capital | Bunjicate | ||||||||||||
Países atuais | Tajiquistão | ||||||||||||
Localização | entre Samarcanda e Cujanda, no que é hoje o leste do Usbequistão e o noroeste do Tajiquistão | ||||||||||||
Línguas | soguediano • persa | ||||||||||||
Religiões | zoroastrismo (até 822) | ||||||||||||
Forma de governo | Monarquia | ||||||||||||
Afexim | |||||||||||||
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Período histórico | Idade Média | ||||||||||||
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O nome persa Osrušana foi usado para designar a região pelos invasores muçulmanos, mas o nome nativo exato não é claro nas fontes históricas. As formas usadas no Ḥodud al-ʿālam,[nt 2] indicam que o nome original era *Sorušna.[2] O nome Osrušana caiu em desuso no tempo das invasões mongóis.[1]
Os geógrafos medievais descreviam a parte norte de Osruxana como uma região de pastagens e planícies férteis, com uma agricultura rica. A sul, as montanhas Botamã, que geralmente eram referidas como estando dependentes administrativamente do principado e cujos cumes mais altos se elevam a mais de 5 000 m, eram ricas em minerais. Ali se extraía ouro, prara, sal amoníaco e vitríolo, que eram exportados. Ainda mais importante era a extração de minério de ferro, que era usado para fabricar ferramentas e armas nas cidades de Marsmanda[nt 3] e Mānk (ou Mink),[nt 4] de onde eram exportadas, por vezes para locais tão distantes como Coração (na Pérsia) ou o Iraque.[1]
A urbanização era escassa, embora houvesse algumas cidades. A principal cidade da região e capital do principado, ou seja, o local de residência dos governantes, era Bunjicate, atualmente um sítio arqueológico no Tajiquistão, situado junto à aldeia homónima, situada a menos de 10 km em linha reta da fronteira com o Usbequistão e cerca de 20 km a sudoeste de Istarawshan (antiga Ura Tiube) e da entrada do vale de Fergana. Era uma cidade próspera e populosa no século X, cujo população masculina foi estimada em 10 000 habitantes pelo geógrafo árabe desse século ibne Haucal. Tinha uma cidadela, uma parte interior muralhada e um arrabalde igualmente muralhado, no qual se situava o edifício do governo (dār al-emāra). Ibne Haucal relata que os regatos que corriam das montanhas vizinhas eram usados para irrigação e faziam mover dez moinhos.[1]
A segunda cidade mais importante era Zānin (ou Sarsanda), outra cidade muralhada e fortificada que era um entreposto na estrada entre Samarcanda e Fergana. Jizaque (ou Dizak), outra das cidades de Osruxana situadas numa planície, foi um local onde se concentravam gazis e combatentes da fé, que dali faziam raides nas estepes dos turcos. Uma das várias arrábitas (rebāṭs) lá existentes foi construída por Caidar ibne Cavus (Ḵayḏar ibn Kāvus), o afexim mais conhecido da história, que também foi general ao serviço do califa Almotácime.[1] Devido à sua localização, várias rotas importantes atravessavam a região,[5] nomeadamente o caminho tradicional entre Samarcanda e Fergana,[1] pelo que era o local de passagem e de paragem de muitos viajantes.[nt 5] Durante a época dos califados omíada e abássida, foi uma zona de fronteira da Dar al-Islam ("Casa do Islão").[5]
Quando a expansão islâmica chegou à Transoxiana, no século VIII, Osruxana tinha uma dinastia local de príncipes iranianos. É possível que Botamã fosse uma região administrativa autónoma, já que há autores que dizem que tinha um maleque com um título curioso de Ebn Naʿnāʿ, que significa "possuidor de hortelã" e que provavelmente resultou duma corruptela ortográfica. O magnate soguediano Abul Saje Deudade (Abu’l-Sāj Divdād; m. 879), comandante militar ao serviço do califa Mutavaquil (847 861), que morreu em 879 cujos descendentes fundaram a dinastia sájida do Azerbaijão, era provavelmente originário de Botamã.[1]
As primeiras menções históricas a Osrušana ocorrem nos relatos da conquista islâmica da transoxiana, iniciada em 712, durante o reinado do califa omíada Ualide I. O comandante da invasão, o governador de Coração Cutaiba ibne Muslim tentou, sem sucesso, conquistar o principado, lutando contra o que os cronistas chamaram os "trajados de negro".[1][8]
As várias tentativas seguintes de conquista por parte dos árabes tiveram algum sucesso relativo, ao ponto dos afexins de Osruxana se reconhecerem nominalmente vassalos do califado,[8][9] como ocorreu em 737. Nesse ano, o governador de Coração Asad b. Abdallāh al-Ghasrī atacou o principado e subjugou-o dois anos depois.[8][nt 6] Nácer ibne Saiar (Naṣr b. Sayyār), o último governador omíada de Coração, entre 738 e 748, invadiu Osruxana e assinou tratados com os governantes locais das regiões do curso médio e superior do Rio Sir Dária, que aparecem nas fontes árabes com o nome de degãs (dehqāns).[1] No entanto, na prática o domínio muçulmano foi pouco efetivo e efémero, pelo menos até à segunda década do século IX, e o principado continuou independente de facto. Vários governadores muçulmanos de Coração levaram a cabo raides na regiãos e receberam tributos dos seus governantes, mas a conquista efetiva tardou em acontecer.[8][9]
Após a ascensão ao poder dos abássidas, em 750, os príncipes de Osruxana declararam-se novamente vassalos do califa durante o califado de Almadi (r. 775–785), mas mais uma vez tal não passou duma formalidade sem efeito prático. a história repeitiu-se durante o califado de Harune Arraxide,[10] quando Alfadle ibne Iáia levou a cabo uma expedição em 794-795.[11] Nos anais dos Tangue é relatado que o soberano de Osruxana tentou, sem sucesso, obter o apoio dos chineses contra os árabes em 752.[1]
A região continou a resistir ao domínio muçulmano, por exemplo juntando-se à rebelião de Rafi ibne Alaite, ocorrida entre 806 e 809 e renegando os tributos acordados.[12] Cerca de 820 durante o reinado de Almamune (r. 813–833) em Bagdade, o afexim Cavus (Kāvus) submeteu-se ao califado e mesmo depois da morte do seu filho e sucessor, Caidar ibne Cavus, os seus descendentes continuaram a reinar em Osruxana, cunhando a sua própria moeda até 893, ainda que em teoria fossem vassalos do Império Samânida.[1] Nesse ano, o soberano samânida Ismail Samani (Esmāʿil b. Aḥmad; r. 892–907) anexou o principado ao seu império, passando a administrá-lo diretamente.[1]
A região continou a resistir ao domínio muçulmano, por exemplo juntando-se à rebelião de Rafi ibne Alaite, ocorrida entre 806 e 809 e renegando os tributos acordados.[12] Cerca de 820[1] (em 822 segundo alguns autores)[11] durante o reinado de Almamune (r. 813–833) em Bagdade, na sequência dum conflito interno, o afexim Cavus (Kāvus) submeteu-se ao califado e converteu-se ao islão. Cavus foi sucedido pelo seu filho Caidar (Ḵayḏar ibn Kāvus, Afšin Ḵayḏar ou Ḥaydar b. Kāvus,[1] que surge com o nome de al-Afšin na historiografia islâmica. Quando o seu pai se submeteu, Caidar já era oficial do exército abássida há vários anos, tendo-se distinguido quando estava ao serviço do irmão de Almamune, o futuro califa Almotácime, quando este era governador do Egito.[11]
Após a morte de Caidar, os descendentes de cavus continuaram a reinar em Osruxana, cunhando a sua própria moeda até 893, ainda que em teoria fossem vassalos do Império Samânida.[1] Nesse ano, o soberano samânida Ismail Samani (Esmāʿil b. Aḥmad; r. 892–907) anexou o principado ao seu império, passando a administrá-lo diretamente.[1] Com a queda do samânidas no final do século X, a região passou para as mãos dos turcos caracânidas e foi iniciado o processo de turquização, o qual só ficaria completamente concluído na parte norte no século XIX ou XX. Em meados do século XIX, a principal cidade da região, Ura Tiube, situava-se na zona de fronteira disputada entre os canatos de Bucara e de Cocande e em 1866 foi anexada pelo Império Russo. Pouco depois, o viajante e diplomata americano Eugene Schuyler descreveu a sua viagem pela região que outrora tinha sido Osruxana.[1]
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