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movimento contra o domínio holandês na Capitania de Pernambuco Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Insurreição Pernambucana, também referida como Guerra da Luz Divina, foi um movimento contra o domínio holandês na Capitania de Pernambuco. O movimento ocorreu no contexto da segunda invasão holandesa e da guerra luso-holandesa e culminou com a expulsão dos neerlandeses da região Nordeste do Brasil, seguindo-se a recuperação do território pela coroa portuguesa.[1]
Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, dezoito líderes insurretos luso-brasileiros assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. O movimento integrou forças lideradas por André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Filipe Camarão, nas célebres Batalhas dos Guararapes, travadas entre 1648 e 1649 e determinantes para a expulsão dos holandeses do Brasil em 1654.[1]
Até a chegada do administrador da Companhia das Índias Ocidentais (em neerlandês, West-Indische Compagnie ou WIC), Maurício de Nassau, aos territórios conquistados em 1637,[1] os portugueses empreendiam a chamada "Guerra Brasílica", um tipo de guerrilha que consistia em ataques rápidos e furtivos às forças holandesas após os quais os atacantes desapareciam rapidamente nas matas. A partir de então essas emboscadas ficariam suspensas no território da capitania de Pernambuco, uma vez que Nassau implementou uma política de estabilização nos domínios conquistados.[2]
Sob o seu governo, o nordeste brasileiro conheceu uma época de ouro: a "Nova Holanda". Ao pisar em solo pernambucano, encontrou cerca de sete mil pessoas vivendo nas piores condições de higiene e habitação. Mandou construir pontes, palácios, iniciou a urbanização do que hoje é conhecido como o bairro de Santo Antônio na capital pernambucana, incentivou as artes e as ciências, retratou a natureza do novo mundo através de seus dois artistas Frans Post e Albert Eckhout. Ao todo foram 46 estudiosos dos mais variados gêneros.[1]
Com relação à exploração da metrópole para colônia, foi tolerante com os senhores de engenho, os quais deviam muito à WIC.[1] Foi igualmente tolerante com o judaísmo e o catolicismo, deixando que se professassem todas as religiões livremente. Preferia não penhorar engenhos nem sufocar revoltas com crueldade. Enfim, procurava fazer a administração contrária ao que queriam os senhores da WIC.[1]
No início de 1640, uma frota luso-espanhola falhou o desembarque em Pernambuco, sendo destruída perto da ilha de Itamaracá. A guerra pelo Brasil recomeça. Entretanto os holandeses conquistam São Tomé e Príncipe e Luanda, em Angola, centros fornecedores de escravos.[1]
Portugal já estava em guerra contra os Países Baixos desde 1595, quando em dezembro, os portugueses se libertaram do domínio espanhol, iniciando a Guerra da Restauração. O novo rei de Portugal, D. João IV, tento que enfrentar uma longa guerra contra a Espanha, firma uma trégua de dez anos entre Portugal e Países Baixos e ordena que os colonos brasileiros não ataquem os holandeses.[1]
No nordeste do Brasil, os engenhos de cana-de-açúcar viviam dificuldades num ano de pragas e seca, pressionados pela Companhia das Índias Ocidentais, que sem considerar o testamento político de Nassau, passou a cobrar a liquidação das dívidas e confiscar os engenhos dos fazendeiros inadimplentes. Essa conjuntura levou à eclosão da Insurreição Pernambucana, que culminou com a extinção do domínio holandês no nordeste do Brasil.[1]
Em 13 de junho de 1645 começa a rebelião, comandada por André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira. Inicialmente o governo holandês não deu muita importância para o movimento. Só quando foram informados de que Henrique Dias e Filipe Camarão avançavam sobre Alagoas é que se deram conta da gravidade da situação. Só então o governador holandês começou a enviar comandantes militares para acabar com os focos de rebelião.[1]
Em 3 de agosto de 1645 os dois exércitos confrontaram-se na batalha do Monte das Tabocas. O comandante holandês Hendrick Haus estava convencido de que iria combater soldados amadores, homens sem experiência militar, e levava um grande número de correntes para levar presos os revoltosos. No entanto, Haus acabou sendo atraído para uma emboscada que resultou na derrota das tropas holandesas.[1]
A vitória de Monte das Tabocas deu mais ânimo para os revoltosos. Os chefes do movimento decidiram marchar ao sul de Recife para se encontrar com as tropas, de Henrique Dias e Filipe Camarão, que vinham da Bahia. Ao saber disso, as autoridades holandesas enviaram emissários ao governador geral do Brasil, Antonio Teles da Silva. O governador, porém, afirmou que Dias e Camarão estavam agindo por conta própria e que nada podia fazer, mas se comprometeu a tentar pacificá-los. No entanto, apesar da promessa, Antônio Teles passou a ajudar ativamente o movimento.[1]
Depois de tomar o Forte de Santo Antônio do Cabo, as tropas de André Vidal juntaram-se às de Vieira, Dias e Camarão e chegaram bem próximo de Recife depois de terem retomado Olinda. Vidal, porém, não atacou o Recife por julgar que ainda não estava preparado para isso.[1]
No dia 7 de outubro os revoltosos de Pernambuco enviam um manifesto, ao rei D. João IV, sobre o direito de se levantarem contra a dominação holandesa.[3] Sob pressão do governo da Holanda, D. João IV (que não estava em condições de desafiar os holandeses) enviou ordens à Bahia para que seus homens abandonassem a colônia holandesa. Ao mesmo tempo informou aos holandeses que se não fosse obedecido, nada poderia fazer. Enquanto isso, no Brasil, os portugueses rebeldes sofreram uma derrota no mar quando a frota de Serrão de Paiva foi vencida pela frota de Jan Cornelisz Lichthart. No início de 1647 os holandeses invadiram a ilha de Itaparica na Bahia, mas no início do ano seguinte os portugueses a retomaram. Novos reforços chegavam tanto da Holanda quanto de Portugal sendo os holandeses comandados por Witte Corneliszoon de With e os portugueses pelo Conde de Vila Pouca de Aguiar, novo governador-geral do Brasil.[4]
Ainda em 1647 o padre Antônio Vieira, conselheiro de D. João IV, aconselha o rei a comprar Pernambuco dos holandeses, mas a proposta viria a ser recusada pela Holanda no ano seguinte.[1]
Em 18 de Abril de 1648 o monte dos Guararapes foi ocupado por 2 400 soldados luso-nordestinos. No dia seguinte chegaram ao local 4 500 holandeses para enfrentá-los. Mesmo estando em desvantagem, o líder português Muniz Barreto, decidiu enfrentar o inimigo na Primeira Batalha dos Guararapes, na qual, depois de 5 horas de combates, os luso-nordestinos saíram vencedores, porém um dos líderes brasileiros, Filipe Camarão, veio a falecer em decorrência dos ferimentos sofridos durante a batalha.[1]
A Segunda Batalha de Guararapes foi travada em 19 de fevereiro de 1649 e, assim como na primeira batalha, os holandeses estavam em maior número, além disso voltaram a menosprezar a astúcia dos comandantes aliados portugueses e nordestino. Os aliados movimentaram as suas tropas durante a noite e quando amanheceu o dia os holandeses se viram quase cercados e, ao tentar recuar, foram atacados pelos aliados sofrendo mais uma derrota na qual morreram 1028 homens, incluindo o comandante Coronel Brinck, e 90 homens foram feitos prisioneiros, enquanto do lado dos luso-nordestinos as baixas foram de 45 mortos e 200 feridos.[1]
Em março de 1649 é criada em Portugal a Companhia Geral do Comércio do Brasil, com o objetivo de fazer frente à sua rival holandesa e ajudar na retomada de Pernambuco.[1]
Nos anos seguintes os holandeses vão ficando cada vez mais acuados frente o avanço dos Aliados, até que, em 1652, a Holanda entra em guerra contra a Inglaterra, ficando assim impossibilitada de enviar reforços à sua colônia. Aproveitando-se disso, D. João IV envia uma grande esquadra, composta por 13 navios de guerra e 64 navios mercantes armados, sob o comando de Pedro Jaques de Magalhães. A esquadra chegou a Pernambuco em 20 de dezembro de 1653, cercando Recife. No dia 15 de janeiro de 1654 os luso-nordestinos, comandados por André Vital, atacaram o Recife. No dia 23 os holandeses fizeram uma proposta de paz que foi aceita pelos Aliados. Em 26 de janeiro de 1654 os líderes holandeses assinaram a rendição.[1]
Na rendição ficou acordado que todas as vilas, fortes e armamentos que estivessem em poder dos holandeses passariam para coroa portuguesa; que receberiam anistia todos aqueles que tivessem ajudado os holandeses; que os holandeses que quisessem permanecer no Brasil teriam os mesmos direitos que os portugueses; e aos que quisessem se retirar seria permitido levar todos os seus bens. A notícia da rendição chegou a Portugal no dia 19 de março, dia do aniversário de D. João IV. Logo em seguida começaram as negociações entre Portugal e Holanda.[4]
A Insurreição Pernambucana se insere no contexto da Guerra Luso-Holandesa (1595 – 1663), e as disputas em torno do território brasileiro não seriam, de fato, encerradas com a expulsão dos neerlandeses de Pernambuco, em 1654. Terminada a Guerra Anglo-Holandesa os holandeses se voltaram contra Portugal. Uma frota holandesa bloqueou os principais portos de Portugal enquanto diplomatas holandeses negociavam com a rainha regente D. Luísa, viúva de D. João IV, as condições para a paz entre Portugal e Holanda. As exigências eram altas: Portugal deveria devolver Pernambuco e os demais territórios da Nova Holanda para os holandeses e ainda entregar as colônias portuguesas de Angola e São Tomé além de pagar uma pesada indenização para a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.). A situação era delicada para Portugal, pois os portugueses ainda estavam em guerra contra a Espanha, mesmo assim Portugal não cedeu às exigências e a guerra continuou, com apresamento de navios de ambas as partes, até que o casamento do rei da Inglaterra Carlos II, com D. Catarina, filha de D. João IV e irmã de D. Afonso VI, fez com que a Inglaterra intervisse em favor de Portugal. A assinatura da paz definitiva, em condições mais dignas para Portugal, ocorreu finalmente em 6 de agosto de 1661, com a assinatura do Tratado de Haia,[4] pelo qual a Nova Holanda foi "vendida" a Portugal por quatro milhões de cruzados (ou oito milhões de florins), a ser paga em dinheiro ou açúcar, tabaco e sal. Ainda nos termos do acordo, os holandeses gozariam de benefícios alfandegários e liberdades comerciais nos territórios do império português. Em 1662, em razão da demora no pagamento da indenização, Cochim é tomada pelos holandeses quebrando o acordo assinado. Os holandeses, temendo perder os territórios já conquistados, acabariam por firmar definitivamente a paz em 1663.[1]
No final da guerra, Portugal acabou por ceder o Ceilão (também invadido pela Companhia das Índias Orientais), além de conceder à República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (Holanda), privilégios no comércio açucareiro.[5] Em troca, os Países Baixos reconheciam a total soberania portuguesa sobre o Brasil e Angola.[1]
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