Top Qs
Linha do tempo
Chat
Contexto

Racismo reverso

conceito de que a ação afirmativa constitui discriminação anti-branca Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Remove ads

Racismo reverso, por vezes referido como discriminação reversa,[1] é o conceito de que a ação afirmativa e programas semelhantes que visam corrigir a desigualdade racial são formas de racismo antibranco.[2] O conceito é frequentemente associado a movimentos sociais conservadores,[2][3] e reflete a crença de que os ganhos sociais e econômicos de negros e outras pessoas de cor causam desvantagens para os brancos.[4]

A crença no racismo reverso é generalizada nos Estados Unidos; no entanto, há pouca ou nenhuma evidência empírica de que os americanos brancos sejam desfavorecidos como grupo.[5] As minorias raciais e étnicas geralmente não têm a capacidade de prejudicar os interesses dos brancos, que continuam sendo o grupo dominante nos EUA.[6][7] As alegações de racismo reverso tendem a ignorar tais disparidades no exercício do poder,[1][8][9] que a maioria dos sociólogos e psicólogos inclui em sua definição de racismo.[1][6]

Alegações de racismo reverso por oponentes da ação afirmativa começaram a surgir na década de 1970,[2][10] e fizeram parte de uma reação racial contra as conquistas sociais de pessoas de cor.[11] Embora os EUA dominem o debate sobre o assunto, o conceito de racismo reverso tem sido usado internacionalmente até certo ponto onde a supremacia branca diminuiu, como na África do Sul pós-apartheid.[4]

Remove ads

Controvérsia

Resumir
Perspectiva

Nas ciências sociais, entende-se que racismo reverso não existe.[12][13] Atos de racismo de minorias contra maiorias podem até ocorrer, mas, conforme explica Silvio Almeida, é preciso lembrar que o racismo não é apenas individual, mas sobretudo institucional e estrutural, e está ancorado em um domínio político de uma maioria sobre uma minoria. Deste modo, a própria ideia de racismo reverso não faz sentido:[14]

O racismo reverso seria uma espécie de “racismo ao contrário”, ou seja, um racismo das minorias dirigido às maiorias. Há um grande equívoco nessa ideia porque membros de grupos raciais minoritários podem até ser preconceituosos ou praticar discriminação [racismo individual], mas não podem impor desvantagens sociais a membros de outros grupos majoritários, seja direta, seja indiretamente. Homens brancos não perdem vagas de emprego pelo fato de serem brancos, pessoas brancas não são “suspeitas” de atos criminosos por sua condição racial, tampouco têm sua inteligência ou sua capacidade profissional questionada devido à cor da pele.

Almeida, Silvio (10 de julho de 2019). Racismo Estrutural. [S.l.]: Pólen Produção Editorial LTDA

Almeida lembra ainda que a própria ideia de racismo "reverso" é curiosa, pois implica que há uma forma "correta" de racismo — contra negros, judeus, etc. — e outra "anormal", "atípica", "reversa".[14] Assim, o próprio conceito já revela o caráter estrutural do racismo presente na sociedade.

Os conservadores acusam as ações afirmativas de serem um exemplo de racismo reverso oficialmente sancionado,[15] descrevendo-o como "tratamento preferencial, discriminando em favor de membros de grupos sub-representados, que foram tratados injustamente no passado, contra pessoas inocentes".[16][17][18] Em contraposição a isso, é possível afirmar, com Silvio Almeida, que existe uma discriminação positiva, que serve para corrigir desvantagens históricas, e uma discriminação negativa, que é o racismo propriamente dito.[14]

Remove ads

Regiões

Resumir
Perspectiva

África do Sul

O termo é constante no discurso político sul-africano pós-apartheid, particularmente em relação ao esforço governamental de equiparação demográfica do serviço público, predominantemente branco.[19] Em 1995, o então presidente Nelson Mandela acusou vice-chanceleres de universidades historicamente brancas de racismo reverso ao permitirem que estudantes negros protestassem violentamente.[20] Seu governo foi criticado por sua suposta lentidão proposital em políticas sociais, causado pelo receio de ser classificado como "racista reverso".[21]

Estados Unidos

O termo surge nos Estados Unidos no contexto do movimento dos direitos civis dos negros. Na época, era mais frequente o uso de "racismo negro", especialmente em referência a grupos como os Panteras Negras.[22] O discurso do racismo reverso torna-se mais claro após a década de 1970, especialmentente em reação às políticas de ações afirmativas.[23]

Atitudes públicas

Embora não seja empiricamente apoiada, a crença no racismo reverso é generalizada nos Estados Unidos,[24] A crença dos brancos no racismo reverso aumentou constantemente desde o luta pelos direitos civis dos negros de 1960s[25] e contribuiu para a ascensão de movimentos sociais conservadores como o Tea Party.[26]

A percepção de diminuição da discriminação anti-negra foi correlacionada com a crença dos brancos no aumento da discriminação anti-branca.[27] Pesquisadores da Tufts University e Harvard relataram em 2011 que muitos americanos brancos sentiam como se tivessem sofrido a maior discriminação entre grupos raciais, apesar dos dados em contrário.[24][28][29] Enquanto os entrevistados negros viam o racismo anti-negro como um problema contínuo, os brancos tendiam a ver esse racismo como algo do passado, a ponto de verem o preconceito contra os brancos como sendo mais prevalente.[30]

Os brancos substituíram os negros como as principais vítimas de discriminação. Essa perspectiva emergente é particularmente notável porque quase todas as estatísticas [...] métricas, continuam a indicar resultados drasticamente piores para negros do que brancos americanos.[31]


Estudos psicológicos com americanos brancos mostraram que a crença no racismo anti-branco está ligada ao apoio à hierarquia racial existente nos EUA.[27][32] bem como a ideia de meritocracia, especificamente a ideia de que o sucesso vem do "trabalho duro".[33][34] A maioria (57%) dos brancos entrevistados em uma pesquisa de 2016 do Public Religion Research Institute disse acreditar que a discriminação contra os brancos era um problema tão significativo quanto a discriminação contra os negros, enquanto apenas uma minoria de afro-americanos (29%) e hispânicos (38%) concordaram.[35][36]

O teórico crítico da raça David Theo Goldberg argumenta que a noção de racismo reverso representa uma negação da realidade histórica e contemporânea da discriminação racial,[37] enquanto a antropóloga Jane H. Hill escreve que acusações de racismo reverso tendem a negar a existência do privilégio branco e poder na sociedade.[38] Em Racism without Racists, o sociólogo Eduardo Bonilla-Silva argumenta que as percepções dos brancos sobre o racismo reverso resultam do que ele chama de nova ideologia dominante do "racismo daltônico", que trata a desigualdade racial como uma coisa do passado e, portanto, para que se permita a continuar a oposição a esforços concretos de reforma.[26]

Remove ads

Referências

  1. Yee, June Ying (2008). «Racism, Types of». In: Shaefer, Richard T. Encyclopedia of Race, Ethnicity, and Society, Volume 3. [S.l.]: SAGE Publications. pp. 1118–19. ISBN 978-1-41-292694-2. [T]he term reverse racism (or reverse discrimination) has been coined to describe situations where typically advantaged people are relegated to inferior positions or denied social opportunities to benefit racial and ethnic minorities, or, in some instances, women. However, scholars argue that a critical component of racism is the broad exercise of authority and power and that isolated instances of favoring the disadvantaged over the privileged cannot be seen as constituting racism.
  2. Ansell, Amy Elizabeth (2013). Race and Ethnicity: The Key Concepts. [S.l.]: Routledge. pp. 135–136. ISBN 978-0-415-33794-6. Reverse racism is a concept commonly associated with conservative opposition to affirmative action and other color-conscious victories of the civil rights movement in the United States and anti-racist movements abroad. While traditional forms of racism involve prejudice and discrimination on the part of whites against blacks, reverse racism is alleged to be a new form of anti-white racism practiced by blacks and/or the so-called civil rights establishment (alternately referred to as the anti-racism industry).
  3. Garner, Steve (2017). «New Racisms?». Racisms: An Introduction 2nd ed. London: SAGE Publications. p. 185. ISBN 978-1-5264-1285-0
    • (Ansell 2013, p. 137): "Not much sober empirical study has been applied to the subject, but the studies that do exist find little evidence that reverse racism in fact exists."
    • (Garner 2017, p. 185): "[T]here is no evidence that [reverse racism] is a social fact, or that a pattern of disadvantageous outcomes for white people qua white people exists."
    • (Spanierman & Cabrera 2014, p. 16): "While there is no empirical basis for white people experiencing 'reverse racism', this view is held by a large number of Americans."
    • (Bax 2018, p. 117): "Many Americans—including some people of color—staunchly believe in the existence of reverse racism, or racism against whites. The evidence to support this perception of 'whiteness as disadvantage' is highly suspect."
    • (Roussell et al. 2019, pp. E6–E7): "Claims of reverse racism are often deployed to undermine efforts toward racial equity, particularly affirmative action measures, but evidence for these claims has been rigorously debunked"
  4. Drustrup, David; Liu, William Ming; Rigg, Thomas; Davis, Katelynn (2022). «Investigating the white racial equilibrium and the power-maintenance of whiteness». Analyses of Social Issues and Public Policy. 22 (3): 961–988. ISSN 1530-2415. doi:10.1111/asap.12321Acessível livremente. [M]ost scholars within critical race theory, psychology, and sociology include notions of power in their definition of racism [...] This means that only the dominant group (i.e., whites in U.S. society) can enforce prejudiced and discriminatory laws, behavior, and cultural ideologies onto the minoritized group (i.e., people of Color).
  5. Dennis, Rutledge M. (2004). «Racism». In: Kuper, A.; Kuper, J. The Social Science Encyclopedia, Volume 2 3rd ed. [S.l.]: Routledge. pp. 843–845. ISBN 978-1-13-435970-7
  6. Bax, Anna (2018). «'The C-Word' Meets 'the N-Word': The Slur-Once-Removed and the Discursive Construction of 'Reverse Racism'». Journal of Linguistic Anthropology. 28 (2): 117. ISSN 1548-1395. doi:10.1111/jola.12185
  7. Hill, Jane H. (2011). The Everyday Language of White Racism. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 15. ISBN 978-1-4443-5669-4
  8. Bonilla-Silva, Eduardo (2010). Racism Without Racists: Color-blind Racism and the Persistence of Racial Inequality in the United StatesRegisto grátis requerido 3rd ed. Lanham, Md.: Rowman & Littlefield. p. 211. ISBN 978-1-4422-0218-4
  9. Ansell (2013), pp. 17, 137.
  10. Emma Compeau (26 de agosto de 2015). «UTMSU 'reverse racism' post faces criticism». The Varsity (em inglês)
  11. Emily Torbett (21 de agosto de 2015). «Reverse racism: Can't exist by definition, insulting to minority groups». The Daily Athenaeum (em inglês). Consultado em 26 de fevereiro de 2017
  12. Silvio Almeida (10 de julho de 2019). Racismo Estrutural. [S.l.]: Pólen Livros. p. 47-49. ISBN 978-85-98349-91-6
  13. «Does affirmative action punish whites?» (em inglês). NBC News. Consultado em 26 de fevereiro de 2017
  14. Louis P. Pojman, "The Case Against Affirmative Action", csus.edu (em inglês)
  15. Norton, Michael I.; Sommers, Samuel R. (2011). «Whites See Racism as a Zero-Sum Game That They Are Now Losing» (PDF). Perspectives on Psychological Science. 6 (3): 215–18. PMID 26168512. doi:10.1177/1745691611406922. Resumo divulgativo TuftsNow
  16. Villiers, Susan de; Simanowitz, Stefan (Março de 2012). «South Africa: The ANC at 100». Londres. Contemporary Review (em inglês). 294 (1704). ISSN 0010-7565. Consultado em 11 de abril de 2017
  17. Karen MacGregor (24 de março de 1995). «Mandela slams `reverse racism'». Times Higher Education. Consultado em 11 de abril de 2017
  18. Paul Taylor (19 de março de 1995). «Black Capitalists Rare In New South Africa; Apartheid's Legacy, Cultural Ethos Cited». The Washington Post. Consultado em 11 de abril de 2017 via ProQuest. (pede subscrição (ajuda)). So far Mandela's government has moved slowly on that front. 'I think the government is still looking over its shoulder, afraid of the tag of reverse racism', said Thami Mazwai, editor of Enterprise, a glossy monthly magazine devoted to black businesses. He noted that [earlier that year] a white ad agency and the nation's only black ad agency competed for a major government contract to publicize the public hearing process for the writing of a new constitution. Although the black agency has won several industry awards, the white agency got the contract
  19. Lee Sustar (12 de outubro de 2012). «The fallacy of "reverse racism"» (em inglês). Socialist Worker. Consultado em 11 de abril de 2017
  20. Ansell, Amy Elizabeth (2013). Race and Ethnicity: The Key Concepts (em inglês). Nova Iorque: Routledge. pp. 135–136. ISBN 9780415337946
  21. Spanierman, Lisa; Cabrera, Nolan (2014). «The Emotions of White Racism and Antiracism». In: Watson, V.; Howard-Wagner, D.; Spanierman, L. Unveiling Whiteness in the Twenty-First Century: Global Manifestations, Transdisciplinary Interventions. [S.l.]: Lexington Books. p. 16. ISBN 978-0-73-919297-9
  22. Newkirk, Vann R. II (5 de agosto de 2017). «How The Myth of Reverse Racism Drives the Affirmative Action Debate». The Atlantic. Consultado em 18 de março de 2018
  23. Garner, Steve (2017). Racisms: An Introduction 2nd ed. London, UK: SAGE Publications. p. 185. ISBN 978-1-41-296176-9
  24. Mazzocco, Philip J. (2017). The Psychology of Racial Colorblindness: A Critical Review. New York, N.Y.: Palgrave Macmillan. 85 páginas. ISBN 978-1-13-759967-4
  25. Fletcher, Michael A. (8 de outubro de 2014). «Whites think discrimination against whites is a bigger problem than bias against blacks». The Washington Post
  26. Norton, Michael I.; Sommers, Samuel R. (2011). «Whites See Racism as a Zero-Sum Game That They Are Now Losing» (PDF). Perspectives on Psychological Science. 6 (3): 215–18. PMID 26168512. doi:10.1177/1745691611406922. Resumo divulgativo TuftsNow (23 de maio de 2011)
  27. Norton & Sommers, quoted in Garner (2017, p. 185)
  28. Wilkins, C. L.; Kaiser, C. R. (2013). «Racial Progress as Threat to the Status Hierarchy: Implications for Perceptions of Anti-White Bias». Psychological Science. 25 (2): 439–46. PMID 24343099. doi:10.1177/0956797613508412
  29. Cyr, Lauren (2018). «Literature Review: Interdisciplinary Findings on Diversity and Inclusion». In: Kim Gertz, S.; Huang, B.; Cyr, L. Diversity and Inclusion in Higher Education and Societal Contexts: International and Interdisciplinary Approaches. Cham: Palgrave Macmillan. p. 24. ISBN 978-3-31-970174-5
  30. Wilkins, Clara L.; Wellman, Joseph D.; Kaiser, Cheryl R. (novembro de 2013). «Status legitimizing beliefs predict positivity toward Whites who claim anti-White bias». Journal of Experimental Social Psychology. 49 (6): 1114–19. doi:10.1016/j.jesp.2013.05.017
  31. Massie, Victoria M. (29 de junho de 2016). «Americans are split on "reverse racism". That still doesn't mean it exists.». Vox. Consultado em 18 de setembro de 2016
  32. Jones, Robert P.; et al. (23 de junho de 2016). How Immigration and Concerns About Cultural Changes Are Shaping the 2016 Election: Findings from the 2016 PRRI/Brookings Immigration Survey (PDF) (Relatório). Washington, D.C.: Public Religion Research Institute. p. 2
  33. Pinder, Sherrow O. (2015). Colorblindness, Post-raciality, and Whiteness in the United States. New York: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-13-743488-3
  34. Hill, Jane H. (2011). The Everyday Language of White Racism. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 15. ISBN 978-1-4443-5669-4
Remove ads

Bibliografia

Loading related searches...

Wikiwand - on

Seamless Wikipedia browsing. On steroids.

Remove ads