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Na história do cristianismo, os primeiros sete concílios ecumênicos, começando no Primeiro Concílio de Niceia em 325 e terminando no Segundo Concílio de Niceia em 787 são os concílios ecumênicos que representam, quando vistos em conjunto, a tentativa de alcançar alguma forma de consenso ortodoxo para se estabelecer uma cristandade unida para suportar a igreja estatal do Império Romano. O Grande Cisma do Oriente, ocorrido formalmente em 1054, mas cujas raízes são muito mais antigas, ainda estava a três séculos no futuro em 787, mas já na época as grandes sés ocidentais, embora ainda estivessem formalmente em plena comunhão com a igreja estatal do Império Bizantino, estavam todas fora do território imperial e o papa coroaria Carlos Magno imperador do ocidente apenas treze anos depois.
Igrejas ortodoxas, católicas e anglicanas reivindicam a sucessão de seu clero - através da chamada sucessão apostólica - até este período ou até antes, ao cristianismo primitivo (pré-niceno). Porém, rupturas que persistem ainda hoje já ocorriam na época.
A Igreja do Oriente aceitou os dois primeiros dos sete concílios, mas rejeitou o terceiro, o Primeiro Concílio de Éfeso (431). O Concílio Quinissexto (692), que tentou estabelcer a pentarquia e que não é geralmente contado como um dos sete concílios ecumênicos[1], não é aceito pela Igreja Católica Romana[2], que também considera terem havido muitos outros concílios ecumênicos depois dos sete primeiros.
O período começa com o Primeiro Concílio de Niceia, que enunciou o "credo niceno" que, em sua forma original e na modificada pelo Primeiro Concílio de Constantinopla em 381, era a pedra fundamental da ortodoxia na doutrina da Trindade. Neste ponto, embora os imperadores já não mais morassem em Roma, a igreja da cidade era vista como a primeira entre igrejas iguais[3]. Em 330. Constantino construiu sua "Nova Roma", que ficou conhecida como Constantinopla, no oriente. Todos os sete concílios foram realizados neste "oriente", especificamente nos primeiros centros cristãos da Anatólia e na própria capital imperial.
O primeiro acadêmico a considerar este período como um conjunto foi Philip Schaff, que escreveu "Os Sete Concílios Ecumênicos da Igreja Não-Dividida", publicado pela primeira vez depois da sua morte em 1901. O tema é de particular interesse para os proponentes da paleo-ortodoxia que buscam recuperar a doutrina da igreja anterior aos grandes cismas.
Os sete primeiros concílios ecumênicos foram:
Porém, como já dito, eles não são todos universalmente aceitos como sendo ecumênicos. A Igreja do Oriente aceita apenas os dois primeiros e a Ortodoxia Oriental, apenas os três primeiros. Os antitrinitários, como os unitarianos, mórmons, quacres, cristadelfianos e testemunhas de Jeová rejeitam todos os sete.
O imperador romano Constantino convocou este concílio para resolver uma controvérsia importante na época que tratava da relação de Jesus Cristo (Deus Filho) com Deus Pai e para estabelecer um acordo universal sobre o tema. Antes deste concílio, os bispos se reuniam apenas em encontros regionais como o Concílio de Jerusalém, e jamais havia ocorrido um encontro universal (ou ecumênico) antes. Mas, desta vez, representantes vieram de todos os cantos do império, em viagens custeadas pelo imperador.
O concílio produziu um credo, o credo niceno original, que recebeu apoio quase unânime. A doutrina do concílio de um "Filho unigênito do Pai" (Jesus) como sendo da mesma substância que o Pai se tornou a pedra fundamental do trinitarismo cristão. O concílio também tratou do tema da data da Páscoa (veja quartodecimanismo e a controvérsia da Páscoa), reconheceu o direito da sé de Alexandria de jurisdição fora de sua própria província (numa analogia com a prática da jurisdição exercida por Roma) e as prerrogativas das igrejas em Antioquia e em outras províncias[4]. Ele aprovou também o costume pelo qual a sé de Jerusalém era honrada, mas sem a distinção de uma sé metropolitana[5].
O concílio foi combatido pelos arianos e Constantino tentou reconciliar o seu primeiro proponente, Ário, com a Igreja. Mesmo depois da morte dele, em 336, um ano antes da morte do imperador, a controvérsia ainda continuava, com vários grupos distintos defendendo a doutrina ariana - em várias nuances diferentes - por todo o império[6]. Em 359, um duplo concílio de bispos ocidentais (em Rimini) e orientais (em Selêucia) propôs uma fórmula que dizia que o Pai e o Filho eram similares "de acordo com as escrituras", uma vitória para o arianismo[6]. Os ortodoxos se organizaram e o Primeiro Concílio de Constantinopla de 381 marcou a vitória final da ortodoxia nicena por todo o império, embora o arianismo ainda tenha sobrevivido entre as tribos germânicas e só tenha desaparecido de vez depois da conversão dos francos em 493[6].
Em 331, Constantino encomendou a Eusébio cinquenta bíblias para a igreja de Constantinopla. Atanásio (Apol. Const. 4) relata escribas alexandrinos em 340 preparando bíblias para Constante. Quase nada mais se sabe, embora haja muita especulação. Por exemplo, especula-se que o pedido tenha motivado listas canônicas e que o Codex Vaticanus e o Codex Sinaiticus seriam exemplares desta encomenda. Juntamente com a Peshitta e o Codex Alexandrinus, as duas são as mais antigas bíblias cristãs existentes[7].
Este concílio aprovou a forma atual do credo niceno utilizada atualmente pela maior parte das igrejas ortodoxas orientais. A Igreja Ortodoxa também utiliza o texto do concílio, mas com os verbos que expressam a crença no singular (Πιστεύω - "acredito" - ao invés de Πιστεύομεν - "acreditamos"). O rito latino da Igreja Católica também usa o singular e, com exceção da língua grega[8], adiciona duas frases: Deum de Deo ("Deus de Deus") e Filioque ("e do Filho"). A forma utilizada pela Igreja Apostólica Armênia, que é parte da Ortodoxia Oriental, tem muitas outras adições[9] e pode ser reminiscente de fórmulas anteriores ao concílio provavelmente originadas nos credos batismais de Constantinopla[10].
O concílio também condenou o apolinarismo[11], uma doutrina que ensinava que não havia mente ou alma humana em Cristo[12]. Foi também neste concílio que Constantinopla recebeu a precedência sobre todas as outras igrejas, com exceção de Roma[11].
Não estavam presentes bispos ocidentais e nem legados papais, mas seus resultados foram aceitos como ecumênicos no ocidente[11].
Teodósio II convocou este concílio para resolver a controvérsia nestoriana. O patriarca de Constantinopla Nestório se opunha ao uso do termo Teótoco (em grego: Θεοτόκος - "portadora de Deus")[13], que há muito tempo já vinha sendo utilizado pelos escritores ortodoxos e que estava ganhando popularidade juntamente com a devoção de Maria como "Mãe de Deus"[13]. Para conter seu uso, ele supostamente teria ensinado que havia duas pessoas distintas no Cristo encarnado - o que é disputado - ao ensinar que Maria seria mãe apenas do Cristo humano, mas não de Deus (Christotokos)[13]. Essa visão levava à conclusão que Deus "habitava" um ser humano gerado por Maria.
O concílio depôs Nestório, repudiou seus ensinamentos e proclamou a Virgem Maria como a Teótoco.
Depois de citar o credo niceno em sua forma original, sem as alterações e adições feitas no Primeiro Concílio de Constantinopla, os bispos reunidos declararam que seria "ilegal que qualquer pessoa apresentasse ou escrevesse ou compusesse uma fé diferente (ἑτέραν) como rival à estabelecida pelos santos padres reunidos com o Espírito Santo em Niceia"[14].
Este concílio repudiou a doutrina de Eutiques conhecida como monofisismo, descreveu e delineou a chamada "União Hipostática" e as duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, e adotou o credo calcedoniano.
Em novembro de 448, um sínodo em Constantinopla condenou Eutiques como herético[15]. Ele era o arquimandrita (um hegúmeno de um grande mosteiro) em Constantinopla[16] e ensinava que a natureza humana de Cristo havia sido completamente substituída pela divina na encarnação[17], uma reação extremada ao nestorianismo.
Em 449, Teodósio II convocou um segundo concílio em Éfeso, que inocentou Eutiques e o devolveu para seu mosteiro[15]. Este concílio, cujos resultados foram derrubados em Calcedônia, ficou conhecido como "Sínodo Roubado" ou "Latrocínio de Éfeso". Para os cristãos que aceitam os resultados de Calcedônia (ortodoxos, católicos romanos e maior parte dos protestantes litúrgicos), ele é o quarto concílio ecumênico, enquanto que os que não, como a Ortodoxia Oriental, o Segundo Concílio de Éfeso seria o quarto.
Este concílio condenou os chamados "Três Capítulos", obras e autores que foram considerados nestorianos. Era mais uma tentativa do imperador Justiniano I de reconciliar os cristãos monofisistas e que foi mal recebida no ocidente. Quando o concílio foi aceito pelo papa, um grande cisma se seguiu[18].
Os "Três Capítulos" eram Teodoro de Mopsuéstia e suas obras, algumas obras específicas de Teodoreto de Ciro e a carta de Ibas de Edessa para Máris de Calcedônia e já antes do Segundo Concílio de Constantinopla vinha ocorrendo uma prolongada controvérsia sobre o tratamento a ser dado aos três casos, todos considerados como simpatizantes do nestorianismo, a heresia que ensinava que havia duas pessoas distintas na encarnação de Cristo[19]. O imperador Justiniano condenou os "Três Capítulos" na esperança de agradar os monofisistas, a crença contrária, que pregava que só havia uma natureza em Cristo[17] - a divina - e, portanto, a mais feroz opositora dos nestorianos[19].
Os patriarcas do oriente apoiaram o imperador, mas, no ocidente, a interferência foi ressentida e o papa Vigílio resistiu ao édito afirmando que ele seria contrário aos decretos calcedonianos[19]. A política de Justiniano de fato um ataque à teologia antioquena e às decisões de Calcedônia[19]. O papa finalmente assentiu e condenou os Três Capítulos, mas protestos no ocidente fizeram com que ele voltasse atrás em sua condenação[19]. O imperador convocou então o Segundo Concílio de Constantinopla para resolver a controvérsia[19].
O concílio, que contou com a presença majoritária de bispos orientais, condenou os Três Capítulos e, indiretamente, o papa Vigílio[19]. Ele também reafirmou a intenção de Constantinopla de permanecer em comunhão com Roma[19].
Vigílio declarou sua submissão ao concílio assim como seu sucessor, Pelágio I[19]. O concílio em si não foi imediatamente reconhecido como ecumênico no ocidente e a Arquidiocese de Milão e o Patriarcado de Aquileia chegaram a romper com Roma por conta disso[18]. Este cisma só foi resolvido no final do século VI no primeiro caso e no do VII para o segundo[18].
A política de Justiniano no final fracassou e não conseguiu reconciliar os monofisistas, que permanecem separados dos demais cristãos até hoje[19].
Este concílio, realizado em 680 e 681, repudiou o monotelismo, uma doutrina que vinha ganhando amplo suporte desde que fora proposta em 638 pelo patriarca Sérgio I de Constantinopla como uma nova tentativa de apelar aos cristãos monofisistas afirmando que Jesus encarnado teria duas naturezas (a divina e a humana), mas teria apenas uma vontade, a divina.
O Concílio Quinissexto (também chamado de "Concílio In Trullo") foi realizado em 692 e não foi aceito pelo papa em Roma. Ele tratou basicamente de temas administrativos e serviu para elevar alguns cânones locais ao status de ecumênicos, estabelecer os princípios da disciplina clerical, endereçar a questão do cânon bíblico. Como ele não tratou de assuntos de doutrina, a Igreja Ortodoxa também não o considera como um concílio ecumênico no sentido estrito da palavra e trata-o como uma extensão do quinto e do sexto concílios.
Foi ali que se sancionou a Pentarquia como o governo da igreja estatal do Império Romano[20].
Em 753, o imperador Constantino V convocou o Sínodo de Hieria e declarou ali que os ícones de Jesus não lhe eram dignos e que as imagens de Maria e dos santos eram ídolos[21], iniciando o Iconoclasma bizantino. O concílio em Niceia serviu para restaurar a veneração e condenar a iconoclastia.
No século IX, o imperador Miguel III, o Ébrio depôs o patriarca Inácio de Constantinopla e colocou Fócio no seu lugar. O papa Nicolau I declarou inválida a deposição. Depois que Miguel foi assassinado, Inácio foi restaurado. Em 869/870, um concílio em Constantinopla, considerado como ecumênico no ocidente, anatemizou Fócio. Com a morte de Inácio em 877, o próprio Fócio se tornou patriarca e, em 879/880, outro concílio em Constantinopla, que muitos cristãos orientais consideram como ecumênico, anulou a decisão do concílio anterior[22].
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