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A Ponte de Odemira, igualmente conhecida como Ponte sobre o Mira, é uma infra-estrutura rodoviária sobre o Rio Mira, situada junto à localidade de Odemira, na região do Alentejo, em Portugal. Entrou ao serviço em 1891, e entre 1935 e 1941 sofreu obras de reconstrução, que lhe modificaram profundamente a estrutura.[1] Em 2011, a ponte foi alvo de grandes trabalhos de restauro.[2]
Ponte de Odemira | |
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Vista da ponte em 2016. | |
Outro nome | Ponte sobre o Mira / Ponte metálica |
Data de abertura | Agosto de 1891 |
Comprimento total | 134 m |
Largura | 8,10 m |
Património nacional | |
SIPA | 16771 |
Geografia | |
Via | Avenida Teófilo da Trindade (Estrada Nacional 120) |
Cruza | Rio Mira |
País | Portugal |
Coordenadas |
A ponte é de função rodoviária, estando situada ao quilómetro 103,5 da Estrada Nacional 120.[3] No lanço sobre a ponte, a estrada corresponde igualmente à Avenida Teófilo Trindade.[4] Consiste numa estrutura metálica, dividida em quatro tramos, suportados por dois pilares em betão armado, e com uma superestrutura em vias principais parabólicas independentes e tabuleiro inferior, com um pavimento em betão e passeios nos lados exteriores.[4]
A estrutura original da ponte, construída no século XIX, tinha um tabuleiro superior com 41,800 m de comprimento, suportado por um encontro e um pilar-encontro em alvenaria.[1] O viaduto tinha 91,200 m de extensão, e estava separado em seis tramos com cerca de 15 m, suportados por pilares metálicos, em colunas de ferro forjado.[1]
Nas imediações encontra-se um importante monumento industrial no concelho, a Fábrica do Miranda,[5] e as ruínas da antiga Ermida de Nossa Senhora da Piedade, que foi substituída por um novo templo nos princípios do século XX.[6] Perto da estrutura também se encontram os Marcos da Barca de Odemira, que serviam de suporte aos cabos utilizados por uma embarcação que fazia a travessia do rio antes da construção da ponte.[5]
Esta não é a única travessia sobre o rio em Odemira, tendo em 2013 sido construída uma ponte pedonal.[7]
Na segunda metade do século XIX, o concelho de Odemira padecia de graves deficiências nas comunicações, com uma rede de estradas primitiva.[8] Este problema fazia-se sentir na própria sede do concelho, onde a ligação entre as duas margens era feita por uma barca desde o século XVI, meio de transporte que estava muito sujeito às cheias do rio.[9] Porém, a difícil orografia do terreno e a necessidade de construir várias pontes impossibilitava o desenvolvimento da rede viária por parte da Câmara Municipal, que dispunha de recursos financeiros muito limitados, pelo que pediu a intervenção do governo.[8] A construção de uma ponte sobre o Rio Mira na vila, substituindo a barca, foi considerada de máxima importância dentro do quadro das comunicações do concelho, tendo começado a ser discutida nos princípios da década de 1880 entre a Câmara Municipal, o deputado pelo Círculo de Odemira, Joaquim António Neves, a Junta Geral de Distrito e o serviço distrital de Obras Públicas de Beja.[8] Porém, esta infraestrutura não foi inicialmente considerada pela autarquia, que numa carta enviada ao Governo Civil em Dezembro de 1880 apenas solicitou a instalação de uma estrada distrital até Odeceixe e de um ramal de estrada até ao local onde futuramente iria ser construída a estação ferroviária, além de várias obras ligadas à navegação fluvial.[8] A primeira proposta para a instalação da ponte terá sido feita pelo engenheiro Joaquim Poças Leitão, da Direcção Distrital das Obras Públicas, que a integrou no grupo de obras de arte a serem construídas como parte da Estrada Distrital 133, de Odemira a Odeceixe, onde teria ligação a Lagos.[8] Numa carta à autarquia de 21 de Abril de 1881, Joaquim Poças Leitão argumentou que a ponte iria melhorar as ligações entre Odemira e as povoações na margem esquerda do Rio Mira, e à região do Algarve.[8] Devido aos reduzidos recursos da autarquia, sugeriu que esta oferecesse os rendimentos anuais da barca, que amontavam a cerca de 300 mil Réis, como forma de financiar parcialmente as despesas com a ponte.[8] A Câmara Municipal dirigiu-se depois à Junta Distrital, que autorizou a construção da ponte, desde que a autarquia contribuísse com seis contos de réis.[8] Em Outubro de 1882 o deputado Joaquim António Neves sugeriu duas soluções para a ponte: uma estrutura em ferro, que seria mais cara mas que iria permitir a navegação fluvial e era mais resistente às cheias, e uma ponte de barcas, que apesar de ser mais fácil de instalar e menos dispendiosa, iria obstruir o movimento dos barcos.[8] Calculou que a estrutura metálica iria custar cerca de trinta contos de Réis, quantia que seria paga em 50% pelo governo, enquanto que a outra metade seria dividida entre a autarquia e a Junta Distrital, enquanto que a ponte de barcas iria importar apenas quatro contos de Réis, pelo que seria totalmente suportada pela Junta Distrital.[8] A Câmara Municipal escolheu a primeira opção, tendo contraído um empréstimo para financiar as obras.[10] A ponte original ficou intimamente ligada ao Partido Progressista, tendo sido autorizada durante o período regenerador de Fontes Pereira de Melo, e várias figuras do partido intervieram na sua construção, como o deputado José Maria de Andrade e o Governador Civil de Beja, Visconde de Ribeira Brava.[11] A principal personalidade que ficou ligada à ponte foi José Francisco da Sousa Prado, que presidia na altura à Câmara Municipal de Odemira.[11]
A construção foi aprovada por uma portaria de 15 de Novembro de 1885, e adjudicada em Julho de 1888, em conjunto com o tramo da estrada 133 entre a ponte e o local conhecido como Charneca do Deserto, no sentido do Algarve.[11] A ponte foi instalada pela Empresa Industrial Portuguesa,[1] uma importante firma no ramo metalomecânico, que foi responsável por outras grandes pontes em território nacional, como a Ferroviária de Portimão[12] e a rodo-ferroviária do Pocinho.[13] As obras foram suspensas em 1890, quando já estavam quase concluídas, devido à deterioração da situação económica e política do país, tendo sido reiniciadas pouco tempo depois.[11] A estrutura foi entregue pela companhia construtora nos finais de Março de 1891, entrando ao serviço de forma provisória, apenas para tráfego pedonal.[11] Em Agosto desse ano passou a estar aberta para todo o tipo de tráfego.[4]
A abertura da ponte teve uma grande importância do ponto de vista das comunicações do concelho, contribuindo para a regularização dos acessos locais,[14] e permitiu a criação de um parque industrial na margem Sul do rio, nos finais do século XIX e princípios do XX.[15] Foi a primeira ponte a ser construída junto à vila de Odemira.[9] A ponte original foi classificada pelo autor António Militão Camacho, no volume Album Alentejano: Distrito de Beja, publicado em 1931, como «uma obra prima de engenharia», que testemunhou o «desenvolvimento da industria do nosso paiz, nos fins do seculo XIX».[16]
No Relatório de Actividades da Junta Autónoma de Estradas para 1936 a 1941 refere-se que a estrutura original já não reunia as condições de segurança necessárias, motivo pelo qual se determinou a construção de uma ponte nova no seu lugar.[1] As obras iniciaram-se em Agosto de 1935 e terminaram em Julho de 1941, tendo sido executadas pela Fábrica Vulcano & Colares.[1] O engenheiro responsável pelo projecto foi Barbosa Carmona.[1] A maior parte das peças metálicas foram fornecidas pela Direcção-Geral de Caminhos de Ferro, tendo sido reaproveitados materiais de pontes ferroviárias.[1] O tramo com 42,15 m veio da ponte rotativa sobre o Rio Judeu, no Ramal do Seixal, enquanto que dois tramos de 30 m vieram das pontes de Garvão e Totenique.[1] Apenas foi construído de origem o terceiro tramo de 30 m, do lado de São Teotónio.[1] Da estrutura original aproveitou-se o pilar-encontro de alvenaria, que foi reforçado, enquanto que o encontro foi reconstruído.[1] Para a instalação da nova ponte foi necessária a instalação de dois novos pilares em betão armado, com fundações que atingiram 15 e 17 m de profundidade.[1]
De forma a permitir a circulação entre as duas margens durante as obras de reconstrução, foi instalada uma ponte provisória em madeira, que foi destruída por uma cheia.[17]
Em 2001, a Ponte de Odemira foi inserida no Programa de Inspecção do Estado de Segurança de Obras de Arte, um vasto plano para estudo de várias pontes em território nacional.[18] Segundo José Alberto Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, a ponte foi alvo de uma vistoria em 2004, «tendo sido identificada a necessidade de reforço estrutural e melhoria da circulação de peões».[19] A empresa Estradas de Portugal elaborou um plano para a sua reabilitação, mas a obra foi considerada apenas de urgência mediana.[19] Na sequência de um pedido da autarquia em Novembro de 2009, uma equipa técnica da operadora, liderada pelo vice-presidente, engenheiro Eduardo Gomes, deslocou-se ao local em 8 de Março de 2010, onde verificaram a necessidade urgente de obras.[19] Assim, o concurso para a empreitada de restauro da Ponte de Odemira foi iniciado em 30 de Abril desse ano, com um prazo de execução de 265 dias.[20] Esta medida foi bem recebida pela Câmara Municipal de Odemira, que em comunicado afirmou que esta intevenção era «há muito reivindicada pelo Município de Odemira e que agora será concretizada, prevendo-se o início da obra ainda este ano».[20] A obra iria abrangir a reabilitação e o esforço estrutural da ponte, incluindo o reforço e tratamento de algumas partes da estrutura metálica, o alargamento do passadiço metálico no lado poente, a substituição de uma laje de betão por outra em betão leve armado, o reforço do pilar P3 e das funções, a montagem de novos aparelhos de apoio, juntas de dilatação, pavimentação e guardas de segurança.[20] Também iria ser instalada iluminação decorativa na estrutura da ponte.[21] Uma vez que para se previa que a ponte iria estar fechada à circulação durante vários meses, a empreitada incluiu igualmente a montagem de uma ponte provisória, a criação de desvios provisórios para o trânsito entre as duas margens, e a instalação de uma rotunda que faria a ligação ao Bairro das Barreiras Vermelhas.[20] Em Fevereiro de 2011 já se tinham iniciado as obras de restauro.[21] A estrutura provisória foi montada pela Escola Prática de Engenharia, e ligou a zona do Cais, na margem Norte, ao Bairro Roça Matos, na margem Sul.[22] A ponte foi encerrada ao trânsito em 4 de Abril, e reabriu cerca de oito meses depois, em 12 de Dezembro.[2]
Em Setembro de 2020, a ponte foi alvo de obras de reparação por parte da empresa Infraestruturas de Portugal, que levaram à suspensão temporária do tráfego automóvel.[3]
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