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das divindades primordiais iorubás Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Odudua[1] (em iorubá: Odùduwà) é uma das divindades primordiais iorubás. Ela representa a divinização da terra e é considerada, ao lado de Obatalá (a representação divinizada do céu), como a casal primordial e propulsor da criação. Cada um foi incumbido de determinadas funções no papel da criação do Aiê, o universo incluindo o mundo em que vivemos. O universo é visto dentro do culto aos orixás como uma grande cabaça e esta cabaça é representada por Odudua e Obatalá. Odudua é considerada como a parte de baixo da cabaça e Obatalá é considerado como a parte de cima da cabaça.
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O nome Odudua pode ser traduzido como "a cabaça de onde jorrou a vida". Muitos costumam se enganar e afirmar que Odudua seria um orixá masculino ao invés de feminino, mas o que ocorre é uma confusão entre a divindade feminina Odudua com o ancestral iorubá divinizado Odudua, que, na verdade, é considerado em território africano como sendo uma forma humana da deusa Odudua, ou seja, o guerreiro legendário e a deusa Odudua seriam as mesmas pessoas. Esta é uma visão muito ampla no que concerne à essência divina mas isso é algo que vai muito além da capacidade de aceitação de algumas pessoas e sacerdotes.
O surgimento de Odudua, bem como o de Obatalá, é muito interessante. Diz-se que involuntariamente nos primórdios da criação, quando a única coisa existente nos mundos era o Olorum, a grande energia primordial, Odudua, a deusa, surgiu do corpo de Olorum, a grande energia primordial, assim como Obatalá e outra tantas divindades.
Foi Odudua quem criou a terra e todo o universo como o conhecemos e, ao lado de Obatalá, possibilitou o surgimento da vida.
Segundo Pierre Verger (1982, pp. 3-10)[2] - (A cidade de) Ilê-Ifé, chamada de berço da civilização, [...] divinizou os fundadores da dinastia que nelas reinaram – Odudua [de Ifé] [...] foi o herói criador do mundo que chegou (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "Os Àgbàgbà") do Além tendo recebido do Ser Supremo, Olodumarê, o saco da criação contendo uma substância escura, de natureza até então desconhecida. Essa substância, lançada sobre a superfície das primeiras águas, formou um montículo de terra sobre o qual pousou uma galinha com cinco dedos. A galinha começou a arranhar o monte com os pés e com o bico e espalhou a matéria que recobriu pouco a pouco as águas e formou a crosta terrestre, da qual Odudua, [...] se tornou senhor. (Cf. em Barretti Fº, (1984/2003) 2012 - "Ilê-Ifé a Origem do Mundo.")
Em Ifé, [o mito] se complica com uma rivalidade entre Obatalá (também chamado Orixalá), enviado por Olodumarê para criar o mundo e Odudua, que se aproveitou de um momento de intemperança de seu rival, o qual, tendo bebido em excesso vinho de palma quando estava a caminho para cumprir a sua tarefa, embriagou-se, caiu e adormeceu. Odudua, que vinha atrás, surrupiou o saco da criação e tornou-se assim, ele próprio e em seu lugar, o senhor do mundo (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "Odùduwà – Óòni Ifè"). Mais tarde, quando se reencontraram, Odudua e Obatalá discutiram e lutaram ferozmente. Detalhes sobre esse assunto foram dados em outra obra (Verger, 1965: cap.II e III).
Essa lenda da criação do mundo por Odudua só se tornou conhecida do grande público e dos etnólogos em 1912. [...] (e) Foi preciso esperar até 1921 para que The History of the Yoruba fosse publicada pelo reverendo S. Johnson (Johnson, 1921), cujo manuscrito data de 1897.
Falamos acima da criação do mundo por Odudua em Ifé e da rivalidade que o opôs a Obatalá (Orixalá), de quem roubou o saco da criação. Os nomes desses orixás aparecem impressos pela primeira vez, que eu saiba, em 1852, no vocabulário da língua iorubá de Crowther[3] (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "Os Clérigos Nativos Yorùbá")
O autor indica em rubricas separadas, por um lado, que "Odua ou Odudua (Crowther, op.cit.: 207) é uma deusa de Ifé, tida como a suprema deusa do mundo" e acrescenta que "o céu e a terra são duas grandes cabaças (ele queria dizer meias cabaças, ibá), que, uma vez fechadas (ou mais precisamente, colocadas uma sobre a outra, formando um recipiente fechado), não podem ser abertas (separadas)". Afirma ainda que havia "uma alusão à aparente concavidade do céu, que parece tocar a terra no horizonte". Por outro lado, indica que "Obatalá (é) a grande deusa iorubá, a artesã do corpo da matriz" (ib.: 228). Ao mesmo tempo, Orixalá é indicado como sendo "a grande deusa Obatalá" (ib.: 223). Já assinalamos a tendência de Crowther a chamar os deuses de deusas, mas é evidente que nos encontramos na presença de duas divindades distintas: Odudua e Obatalá (Orixalá).
O padre Baudin[4] despoja em seguida Obatalá e Odudua de seu caráter hermafrodita para separá-los "em duas divindades perfeitamente distintas", que são então representadas separadamente: Obatalá sob a forma de um guerreiro e Odudua sob a forma de uma mulher amamentando uma criança.
O Tenente Coronel A. E. Ellis[5] publicou, por sua vez, em 1894, as mesmas divagações, cuidadosamente copiadas por ele do livro do padre Baudin, e, para melhor completar o sistema dualista do tema da falsa dupla Odudua-Obatalá e o tornar comparável à do Yang e do Yin chinês, não hesitou em aproximar a "deusa" Odudua de dudu (Ellis, 1894) negro em iorubá, para a opor a funfum (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "Os Òrìṣà Funfun"), a cor branca de Obatalá. Mas o tenente-coronel britânico não levou em conta as diferenças de tons (de uma importância primordial em iorubá) existentes entre essas duas palavras.
Trata-se de um sistema dualista, mas correspondente, como vimos, ao casal Orixalá-Yemowo, visível sob a forma de estátuas instaladas lado a lado no ilésin, lugar de adoração do templo de Obatalá em Idetá-Ilé, no bairro Itapa em Ifé, (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "No Templo de Ọbàtálá: Ìdèta-Ilé") muito diferente do casal Orixalá-Odudua que, unicamente para o padre Baudin e seus discípulos, seria constituído por dois elementos machos. A tradição de Ifé não deixa nenhuma dúvida sobre o caráter agressivo, hostil, antagônico, das relações existentes entre Orixalá e Odudua, que longe de uni-los num casal geneticamente estéril, os separa e os opõe como se depreende da história antiga do povo Iorubá.
[...] o nome Odudua também pode se referir ao guerreiro viril, vencedor dos ibos, fundador de Ifé, pai de numerosos reis (Cf. em Barretti Fº, (2003) 2012 - "As Esposas de Odùduwà" e "Descentes de Odùduwà: filhos e/ou netos")[6] e soberano de diversas regiões iorubás. Nesse caso se refere à uma figura masculina já em tempo posterior.
Tanto aspectos masculinos quanto femininos continuam sendo atribuídos à divindade em tradições iorubás, isso muito devido também ao próprio caráter geograficamente variado, além de miticamente alternante e indefinido de muitos orixás.[7] Isso leva a assumir, em alguns contextos, uma certa neutralidade de gênero ou androginia, como na habilidade de Odudua ser tanto marido quando esposa. Mas é fortemente associada ao materno, ao axé e ao útero.[8][9]
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