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princesa espanhola e rainha consorte portuguesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Mariana Vitória de Bourbon (Madrid, 31 de março de 1718 – Lisboa, 15 de janeiro de 1781) foi a esposa do rei D. José I e Rainha Consorte de Portugal e Algarves de 1750 até 1777. Era filha de Filipe V da Espanha e de sua segunda esposa Isabel Farnésio.
Mariana Vitória | |
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Retrato por Domenico Maria Sani | |
Rainha Consorte de Portugal e Algarves | |
Reinado | 31 de julho de 1750 a 24 de fevereiro de 1777 |
Predecessora | Maria Ana da Áustria |
Sucessor(a) | Pedro de Portugal |
Nascimento | 31 de março de 1718 |
Alcácer Real de Madrid, Madrid, Espanha | |
Morte | 15 de janeiro de 1781 (62 anos) |
Palácio da Ajuda, Lisboa, Portugal | |
Sepultado em | 17 de janeiro de 1787 Panteão da Dinastia de Bragança, Igreja de São Vicente de Fora, Lisboa, Portugal |
Nome completo | |
Mariana Vitória de Borbón e Farnese | |
Marido | José I de Portugal |
Descendência | Maria I de Portugal Maria Ana de Bragança Maria Doroteia de Bragança Maria Benedita de Bragança |
Casa | Bourbon (por nascimento) Bragança (por casamento) |
Pai | Filipe V da Espanha |
Mãe | Isabel Farnésio |
Religião | Catolicismo |
Assinatura | |
Brasão |
Nascida em Madrid a 31 de março de 1718, Mariana Vitória de Bourbon era filha do rei Filipe V da Espanha e de sua segunda mulher, Isabel Farnésio.[1] Durante seus primeiros tempos da sua vida, o quotidiano da infanta foi o normal e o esperado, acompanhando os pais nas idas e vindas entre Aranjuez, Escorial e Madrid; em dezembro e janeiro, a corte estanciava no Real Alcázar de Madrid, a velha residência que Filipe V substituiu depois pelo sumptuoso Palácio do Oriente. Em fevereiro, mudava-se para o Bom Retiro. A páscoa era passada em Aranjuez e o Corpo de Deus em Madrid. No verão, estavam primeiro no Escorial (seis semanas) e depois no Pardo. Em princípios de dezembro, regressavam a Madrid. A partir de 1720, as estadas no Pardo foram substituídas pelas de Valsaín, onde Filipe V supervisionava as obras do Palácio de San Ildefonso.[2] Familiarmente, era chamada afetuosamente de "Marianina".[carece de fontes]
Sendo ainda muito criança, Mariana Vitória foi destinada a casar-se com o rei Luís XV da França. Ao mesmo tempo, negociou-se o enlace de seu meio irmão mais velho, Luís, à época herdeiro do trono de Espanha, com Luísa Isabel, filha do Duque de Orleães, Regente da França na menoridade do soberano. A troca das princesas deu-se em janeiro de 1722, na ilha dos Faisões, no meio do rio Bidasoa.[3]
Instalada em Paris, a rainha princesa, como passou a ser conhecida, habitou inicialmente no Palácio do Louvre, ao passo que Luís XV manteve a sua residência nas Tulherias. Em junho do mesmo ano de 1722, Mariana Vitória mudou-se para Versalhes e aqui foi acomodada nos chamados apartamentos da rainha, que haviam sido ocupados por sua bisavó Maria Teresa, mulher de Luís XIV, e depois por sua avó, Maria Ana Vitória da Baviera.[5] Ali permaneceu até à sua saída de França.
Todavia, o compromisso com infanta espanhola destinada a se tornar Rainha da França foi quebrado. Em 1725, Mariana Vitória, com sete anos de idade, regressou a Espanha. O motivo foi puramente de ordem política; com a morte do Duque de Orleães, em finais de 1723, o novo regente da França, o Duque de Bourbon, Luís Henrique de Bourbon-Condé, começou a equacionar várias questões - se Luís XV morresse sem filhos, a coroa seria herdada pelo novo Duque de Orleães. Por outro lado, a 10 de janeiro de 1724, Filipe V da Espanha abdicara e receava-se que pudesse estar interessado na coroa da França. Nesta perspetiva, era, pois, urgente que Luís XV, que completara 14 anos a 15 de fevereiro de 1724, assegurasse a sucessão da Coroa. Como Mariana Vitória tinha somente seis anos, considerou-se que o tempo que importava esperar para o casamento ser consumado e, consequentemente, nascer um herdeiro, era demasiado longo. Ou seja, havia que escolher uma nova mulher para Luís XV. Tal implicava devolver a infanta-rainha a Espanha.[6]
Embora Filipe V tenha, compreensivelmente, reagido muito mal à decisão francesa, tudo acabou por se concretizar. A 5 de abril de 1725, Mariana Vitória deixou para sempre Versalhes. A 17, já entregue ao representante enviado por seu pai, o Marquês de Santa Cruz, atravessou a fronteira.[7] A 29, atingiu Guadalajara, onde finalmente se avistou com os pais, que na véspera haviam deixado Aranjuez. A 30 de maio, deu-se a entrada em Madrid, com grande solenidade.[8]
Várias fontes consideram que Mariana Vitória conservou até à morte uma enorme mágoa contra a França, aludindo um autor gaulês a «má vontade à nossa nação, o que frequentemente manifestava».[9] Outros usaram expressões como «aversão prodigiosa contra a corte de França»,[10] «rancor contra a nação francesa»[11] e «ódio invencível pela nação francesa».[12] Tal não era totalmente verdade, já que a um diplomata que lhe comunicou, em junho de 1756, que a França chegara à paz com a Áustria, Mariana Vitória referiu-se a Luís XV como o tronco da sua família.[13] Em janeiro de 1757, comentou, em carta a Isabel Farnésio, o «horrível atentado» contra o soberano francês, referindo: «gostaria de saber o que é que o fez cometer um tão grande crime», dizendo recear que fosse algum herético, por motivos religiosos.[14] Em 1767, fez a um outro embaixador gaulês numerosas perguntas sobre Luís XV e a restante família real francesa.[15] E, em junho de 1774, lastimou, em carta a Carlos III, a morte do rei da França, «nosso primo», classificando-a como «coisa lamentável».[16] Ao mesmo tempo, confidenciou à Jean-François de Bourgoing, que era, em 1777-1778, Secretário da legação francesa em Espanha, que «mantinha a recordação dos mínimos detalhes relativos à sua estada em França e, ao fim de 55 anos, lembrava-se das estátuas do jardim de Versalhes, das alamedas do parque, etc., como o poderia fazer no dia seguinte à sua partida».[17] A quando sua filha Maria Ana Francisca de Bragança foi considerada uma potencial noiva para Luís, Delfim da França, filho e herdeiro de Luís XV, Mariana Vitória se opôs veemente a tal união,[18] bem como uma união entre sua outra filha, Maria Doroteia de Bragança, com Luís Filipe II, Duque de Orleães, primo do rei Luís XV.[19]
A 27 de dezembro de 1727, aos nove anos de idade, Mariana Vitória casou, em Madrid, com o Príncipe do Brasil, D. José, herdeiro da Coroa de Portugal. A 19 de janeiro de 1729, deu-se a chamada Troca das Princesas; a filha de Filipe V rumou ao seu novo reino e para Espanha seguiu D. Maria Bárbara, filha de D. João V, já matrimoniada com o futuro rei Fernando VI. O casamento de Mariana Vitória foi consumado em 1732, no dia em que completou 14 anos de idade.[20] Deu à luz quatro filhas, D. Maria I (1734), D. Maria Ana Francisca Josefa (1736), D. Maria Francisca Doroteia (1739) e D. Maria Francisca Benedita (1746). Mas esteve grávida pelo menos mais seis vezes, abortando sempre (1733, 1741, 1743, 1743, 1744 e 1752).[21] Em 1750, seu marido tornou-se soberano reinante de Portugal, consequentemente, D. Mariana Vitória assumiu a dignidade de rainha consorte.
Em termos de organização do espaço no quotidiano, no tempo de D. José I, os membros da família real ausentavam-se de Lisboa, entre os primeiros dias de janeiro e 16 do mesmo mês, estanciando em Calhariz, Pancas e Pinheiro, onde a caça os ocupava. Assistiam depois ao tríduo do desagravo do desacato de Santa Engrácia, entre 16 e 18, saindo para Salvaterra, de novo para se entreterem em atividades cinegéticas. Regressavam depois da Páscoa, indo por vezes 15 dias para Almeirim, uma vez mais para a caça. Passavam o verão em Queluz – onde celebravam o São João e o São Pedro, com as magníficas festas organizadas pelo infante D. Pedro – e Mafra era a escolhida para o período de 1 a 15 de outubro. Ocasionalmente iam também a Vila Viçosa.[22]
Em 1750, falecia D. João V, e o marido de D. Mariana Vitória subia ao trono. A rainha tinha então trinta e dois anos e D. José I, trinta e seis anos. O reinado do marido de Mariana Vitória é sobretudo marcado pelas políticas do seu secretário de Estado, o Marquês de Pombal, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesa, transformando Portugal num país moderno.
Depois do terramoto de Lisboa de 1 de novembro de 1755, o Paço da Ribeira foi destruído. Como D. José I se recusou, até à morte, a voltar a viver em casas de alvenaria, a família real ficou a habitar, provisoriamente, «em barracas de campanhas, uma légua distante da cidade para a parte do ocidente, onde estão os jardins reais».[23] Às mesmas se referia D. Mariana Vitória em carta a Isabel Farnésio, em junho de 1756, dizendo que a sua «nova casa» era «muito bonita e grande».[24] No mês seguinte, comentou: «encontro-me muito comodamente e com a mais bela vista do mundo»[25] A partir de março de 1757, passaram para as chamadas reais barracas da Ajuda, feitas de madeira.[26] A rainha de Portugal descreveu esse novo alojamento como «muito bonito e cómodo».[27] Ali tinha D. Mariana Vitória os seus aposentos, onde não faltava uma casa das embaixatrizes, para dar audiência às mulheres dos diplomatas estrangeiros, uma livraria e um «casa das gaiolas». Esta mostrava o seu gosto por aves, nomeadamente exóticas.[28]
Quando seu marido foi declarado inapto para governar em 1774, devido a loucura, D. Mariana Vitória foi proclamada Regente, uma posição que manteve até à morte de seu marido. Após isso, ela tornou-se regente de sua filha, futura D. Maria I.
No dia 24 de fevereiro de 1777, ao fim de quase um quarto século como rainha consorte – em que por duas vezes fora por D. José I encarregada da regência do reino[29] - D. Mariana Vitória enviuvou. A primogénita do casal subiu ao trono com o nome de D. Maria I. Iniciava-se uma nova fase na vida da filha de Filipe V e de Isabel Farnésio.
Perto do final da vida, entre outubro de 1777 e novembro de 1778, D. Mariana Vitória esteve em Espanha, revendo o irmão Carlos III – com quem nunca deixara de contactar por via epistolar – e ajudando a pacificar as duas monarquias ibéricas. A hipótese do encontro surgiu numa carta que a rainha viúva escreveu ao soberano espanhol a 20 de maio de 1777:
«alegro-me muitíssimo, irmão da minha vida, do que me dizes parecer-te que esta viagem, em lugar de causar dano, faria muito proveito assim o creio eu também, mas permite-me irmão de minhas entranhas, diz-me como faremos tudo isto». Ou seja, a rainha de Portugal solicitava a Carlos III que estipulasse o tempo, o lugar e o modo como tudo se deveria processar [...] «não quero que digam aqui que ando inventando jornadas e outras coisas[30]» |
D. Mariana Vitória concluía evidenciando que, assim que em Portugal consentissem, iria de imediato, teria apenas de preparar a viagem.[30] Cinco dias depois, continuava a insistir nos mesmos tópicos e sublinhava um aspeto: a jornada a Espanha era ainda mantida em segredo, pois «a rainha minha filha comunica tudo o que se passa com a corte» e as coisas de importância eram sempre tratadas com o marido, D. Pedro III.[31]
A 31 de outubro, falando com a irmã a respeito da sua partida, Carlos III «derramou bastantes lágrimas e exigiu da mesma senhora a promessa de voltar a vê-lo dentro de dois ou três anos». A 4 de novembro, trocaram presentes95. Entre estes, conta-se o da princesa das Astúrias à sua tia de Portugal, que consistiu numa gaiola com um canário «que canta, move e garganteia e anda de um lado a outro, como se realmente fosse vivo ao impulso da máquina e corda que se lhe dá». Já a rainha-mãe de Portugal teve idênticas gentilezas, ofertando, por exemplo, à infanta D. Maria Josefa, um adereço de grisolitas e diamantes e umas manilhas de brilhantes. Não esqueceu as duas netas de Carlos III, Carlota Joaquina – futura rainha de Portugal, então criança de três anos de idade –, a quem deu um pluma de esmeraldas e diamantes, e Maria Luísa – de apenas um ano – , que recebeu uma pluma de diamantes e rubis.[32]
Na Espanha, por influência da rainha, assinou-se em 1778 o tratado que estipulou dois casamentos: o do infante Gabriel, filho de Carlos III, com a sua neta D. Maria Ana Vitória, e o da infanta Carlota Joaquina, neta mais velha de Carlos III, com o infante D. João, futuro D. João VI.
Enquanto se encontrava em Espanha, D. Mariana Vitória teve um ataque de reumatismo e foi confinada a uma cadeira de rodas por algum tempo. Regressou a Portugal em novembro de 1778. Mariana Vitória morreu na Real Barraca da Ajuda, um edifício onde hoje é o actual Palácio Nacional da Ajuda.
Foi primeiramente sepultada na Igreja de São Francisco de Paula em Lisboa, a qual mandou restaurar. Foi depois trasladada para o Panteão Real da Dinastia de Bragança da Igreja de São Vicente de Fora também em Lisboa.[33]
O estilo oficial de D. Mariana Vitória enquanto Rainha Consorte de Portugal: Pela Graça de Deus, Mariana Vitória, Rainha Consorte de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
Nome | Retrato | Longevidade | Notas |
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Havidos de José I de Portugal
(31 de março de 1718 – 15 de janeiro de 1781; casados a 19 de janeiro de 1729) | |||
Maria I de Portugal | 17 de dezembro de 1734 –
20 de março de 1816 |
Rainha de Portugal, a título próprio, de 1777 a 1816. Casou-se com o Infante D. Pedro, seu tio. Com descendência. | |
Maria Ana Francisca de Bragança | 7 de outubro de 1736 –
16 de maio de 1813 |
Seguiu com a restante família real para o Brasil, onde veio a falecer. | |
Maria Doroteia de Bragança | 21 de setembro de 1739 –
14 de janeiro de 1771 |
Foi-lhe proposto casar com Luís Filipe II, Duque de Orleães, mas ela recusou-se. | |
Maria Benedita de Bragança | 25 de julho de 1746 –
18 de agosto de 1829 |
Casou-se com o sobrinho, D. José, Príncipe do Brasil, em 1777. Não houve descendência. |
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