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poeta português (1890-1916) Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Mário de Sá-Carneiro (São Julião, Lisboa, 19 de Maio de 1890 – Paris, 26 de Abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d'Orpheu.[1]
Mário de Sá-Carneiro | |
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Mário de Sá Carneiro | |
Nascimento | 19 de maio de 1890 Lisboa, Portugal |
Morte | 26 de abril de 1916 (25 anos) Hôtel de Nice, Paris, França |
Residência | Lisboa: Travessa do Carmo |
Nacionalidade | portuguesa |
Ocupação | Escritor |
Gênero literário | Modernismo |
Magnum opus | Céu em Fogo |
Assinatura | |
Nasceu a 19 de maio de 1890, na Rua da Conceição, 92, 3.º andar, na Baixa de Lisboa — então na freguesia de São Julião, mais tarde anexada à freguesia de São Nicolau — no seio de uma abastada família, sendo filho e neto de militares. O seu pai era Carlos Augusto de Sá-Carneiro, e a sua mãe Águeda Maria de Sousa Peres Marinello, ambos naturais de Lisboa.[2] Órfão de mãe com apenas dois anos (1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para a Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, às portas de Lisboa, aí passando grande parte da infância.
Começa a escrever poesia aos 12 anos, sendo que aos 15 já traduzia Victor Hugo, e com 16 Goethe e Schiller. No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como ator.
Em 1911, com 21 anos, vai para Coimbra, onde se matricula na Faculdade de Direito, mas não conclui sequer o primeiro ano.
Desiludido com a "cidade dos estudantes", segue para Paris a fim de prosseguir os estudos superiores, com o auxílio financeiro do pai. Cedo, porém, deixou de frequentar as aulas na Sorbonne, dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espectáculo, chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que culminou na ligação emocional a uma prostituta, a fim de combater as suas frustrações e desesperos.
Sá-Carneiro conhecera em 1912 aquele que foi, sem dúvida, o seu melhor amigo: Fernando Pessoa. Já na capital francesa viria a conhecer Santa-Rita Pintor). Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste ambiente que compôs grande parte da sua obra poética e a correspondência com o seu confidente Fernando Pessoa; é, pois, entre 1912 e 1916 (o ano da sua morte) que se inscreve a sua fugaz — e no entanto assaz profícua — carreira literária.
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Mário de Sá-Carneiro (Janeiro de 1916) |
Entre 1913 e 1914 Mário de Sá-Carneiro viaja para Lisboa com uma certa regularidade, regressando à capital, devido à deflagração do conflito entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, o qual a breve trecho se tornou uma conflagração à escala europeia — a Primeira Guerra Mundial.
Com Fernando Pessoa e ainda Almada Negreiros integrou o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelo cosmopolitismo e pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista literária Orpheu, editada por António Ferro (e que por isso mesmo ficou sendo conhecido como a Geração d'Orpheu ou Grupo d'Orpheu),[1] um verdadeiro escândalo literário à época, motivo pelo qual apenas saíram dois números (Março e Junho de 1915; o terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo da chacota social) — ainda que hoje seja, reconhecidamente, um dos marcos da história da literatura portuguesa, responsável pela agitação do meio cultural português, bem como pela introdução do Modernismo em Portugal.[1]
Também teve colaboração em diversas publicações periódicas, nomeadamente no semanário Azulejos[3] (1907–1909); na II série da revista Alma nova[4] (1915–1918) e na revista Contemporânea[5] (1915–1926), e pode ainda encontrar-se colaboração da sua autoria, publicada postumamente, na revista Pirâmide[6] (1959–1960) e Sudoeste[7] (1935).
Em Julho de 1915 regressa a Paris, escrevendo a Pessoa cartas de uma crescente angústia, das quais ressalta não apenas a imagem lancinante de um homem perdido no "labirinto de si próprio", mas também a evolução e maturidade do processo de escrita de Sá-Carneiro.
Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro, perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina. Embora tivesse adiado por alguns dias o dramático desfecho da sua vida, numa "carta de despedida" para Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro revela as suas razões para se suicidar:
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Contava apenas vinte e cinco anos. Extravagante tanto na morte como em vida (de que o poema Fim é um dos mais belos exemplos), convidou para presenciar a sua agonia o seu amigo José de Araújo. E apesar de o grupo modernista português ter perdido um dos seus mais significativos colaboradores, nem por isso o entusiasmo dos restantes membros esmoreceu — no segundo número da revista Athena, Pessoa dedicou-lhe um belo texto, apelidando-o de "génio não só da arte como da inovação dela", e dizendo dele, retomando um aforismo das Báquides (IV, 7, 18), de Plauto, que "Morre jovem o que os Deuses amam" (tradução literal de Quem di diligunt adulescens moritur).
Verdadeiro insatisfeito e inconformista (nunca se conseguiu entender com a maior parte dos que o rodeavam, nem tão pouco ajustar-se à vida prática, devido às suas dificuldades emocionais), mas também incompreendido (pelo modo com os contemporâneos olhavam o seu jeito poético), profetizou acertadamente que no futuro se faria jus à sua obra, no que não falhou.
Com efeito, reconhecido no seu tempo apenas por uma fina élite, à medida que a sua obra e correspondência foi publicada, ao longo dos anos, tornou-se acessível ao grande público, sendo atualmente considerado um dos maiores expoentes da literatura moderna em língua portuguesa.
A terra que o acolheu na infância — Camarate —, e a quem ele dedicou também algumas das suas poesias, homenageou-o, conferindo o seu nome a uma escola local. O seu poema Fim foi musicado por um grupo português no final dos anos 1980, os Trovante. Mais tarde, o seu poema O Outro foi também musicado pela cantora brasileira Adriana Calcanhotto.
As suas influências literárias são de Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Fiódor Dostoievski, Cesário Verde e António Nobre. Este escritor influenciou vários outros, entre eles Eugénio de Andrade.
Em 1949 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma rua junto à Avenida da Igreja, em Alvalade.[10]
Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo, ou o saudosismo, então em franco declínio; posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo.
Nessas pôde exprimir com vontade a sua personalidade, sendo notórios a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação; ao mesmo tempo, revela um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu "eu" no mundo — revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente.
O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais (era órfão de mãe desde a mais terna puerícia), levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, traduzível numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesi de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava — sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio. Estudos recentes evocam a influencia de Oscar Wilde na obra do autor dias antes do seu suicídio. Acredita-se que, atormentado pela leitura de De Profundis, Mário de Sá-Carneiro teria visto o ponto final de sua vida e sua carreira.
Embora não se afaste da metrificação tradicional (redondilhas, decassílabos, alexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus ataques à gramática, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse estilo clássico, numa segunda, claramente niilista, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade autêntica, triste e trágica.
Por fim, as cartas que trocou com Pessoa, entre 1912 e o seu suicídio, são como que um autêntico diário onde se nota paralelamente o crescimento das suas frustrações interiores.
Publicada em 1912, Amizade é a primeira peça que escreve. Mário de Sá-Carneiro divide a autoria desta obra com Tomás Cabreira Júnior, seu colega do Liceu Camões em Lisboa. O fato de hoje podermos ler esta peça deve-se a um acaso. Dos dois colegas e autores da peça Amizade, Tomás Cabreira Júnior era o único dos dois que tinha os manuscritos. Por qualquer motivo era Sá-Carneiro quem os tinha consigo aquando do suicídio de Tomás Cabreira Júnior, que antes de cometer tal ato destruiu toda a sua obra.
No ano de 1912, o autor dá à estampa um conjunto de novelas que reúne sob o título Princípio.
Inaugurando um estilo até então em si desconhecido, o romance, Mário de Sá-Carneiro publica, em 1914,[11] A Confissão de Lúcio. A temática desta obra gira em torno do fantástico e é um óptimo espelho da época de vanguarda que foi o modernismo português.
O ano de 1913 veio a revelar-se de uma pujança criativa inigualável. Não só variou dentro da prosa, como apresenta ao público a sua primeira obra de poesia: Dispersão. Esta obra é composta por doze poemas e a sua primeira edição foi revista quer pelo autor quer pelo seu grande amigo, e também poeta, Fernando Pessoa.
Em 1915, volta a reunir novelas, mais precisamente oito, num volume a que dá o título de Céu em Fogo.[12] Estas novelas revelam igualmente as mesmas perturbações e obsessões que já a sua poesia expressava.
Nem tudo aquilo que Sá-Carneiro produziu em vida veio a ser publicado, ainda que muitas coisas, além dos seus livros, tenha deixado espalhadas pelas publicações em que participou, como as revistas Orpheu ou Portugal Futurista.
Do qual Mário de Sá-Carneiro não chegou a publicar em vida Indícios de Oiro, publicada em 1937 pelas Edições Presença, é o conjunto de trabalhos seus mais significativo do conjunto da sua obra.
A sua correspondência com outros membros do Orpheu foi também reunida em volumes póstumos: Cartas a Fernando Pessoa (2 vols., 1958–1959), Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Luís de Montalvor, Cândia Ramos, Alfredo Guisado e José Pacheco (1977), Correspondência Inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (1980).
Edição e organização por António Quadros. Sintra: Publicações Europa-América, 1985.
Edição literária de António Gonçalves. Ilustrações de Tiago Manuel. Matosinhos: Kalandraka, 2012, coleção Treze Lunas.
Edição e notas por Teresa Sobral Cunha. Lisboa: Relógio de Água, 2003, 2 vol.
De Sá-Carneiro existe ainda uma tradução da peça Les Fossiles, de François de Curel, em parceria com António Ponce de Leão.
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