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possível subespécie de lobo Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O lobo-do-himalaia (Canis lupus chanco) [2] é um canino cuja taxonomia ainda é debatida.[3] Ele é distinguido pelos seus marcadores genéticos, com o DNA mitocondrial indicando que é geneticamente basal para o lobo-cinzento holoártico, é geneticamente o mesmo animal que o lobo tibetano[3][4][5] e tem uma associação com o lobo-dourado-africano (Canis anthus).[3][6][5] Não há diferenças morfológicas marcantes entre os lobos do Himalaia e os do Tibete.[7] A linhagem do lobo-do-himalaia pode ser encontrada vivendo no Himalaia e no Planalto Tibetano predominantemente acima de 4 000 metros de altitude, porque ela se adaptou a um ambiente com baixo nível de oxigênio, comparado com outros lobos que são encontrados somente em elevações menores.[8]
Lobo-do-himalaia | |||||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||||
Em perigo [1] | |||||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||||
Canis lupus chanco Gray, 1863 |
Alguns autores propuseram a reclassificação desta linhagem como uma espécie separada.[9][10] Em 2019, um seminário patrocinado pela IUCN/Grupo Especialista em Canídeos constatou que a distribuição do lobo-do-himalaia incluía a cordilheira do Himalaia e o Planalto Tibetano. O grupo recomenda que esta linhagem de lobo seja conhecida como “lobo-do-himalaia” e classificada como Canis lupus chanco até que uma análise genética dos holótipos esteja disponível. O lobo-do-himalaia ainda se ressente de uma análise morfológica adequada.[2]
Canis chanco foi o nome científico proposto por John Edward Gray em 1863, que descreveu uma pele de lobo que havia sido morto na Tartária chinesa.[11] Este espécime foi classificado como a subespécie de lobo Canis lupus chanco por George Jackson Mivart em 1880.[12] Nos séculos XIX e XX, vários espécimes zoológicos foram descritos:
Em 1938, Glover Morrill Allen classificou esses espécimes como sinônimos de C. l. chanco.[17] Em 1941, Reginald Innes Pocock corroborou esta avaliação após revisar peles e crânios de lobos na coleção do Museu de História Natural de Londres.[18] Em 2005, W. Christopher Wozencraft também relacionou C. l. niger, C. l. filchneri, C. l. karanorensis e C. l. tschiliensis como sinônimos de C. l. chanco.[19]
O nome Canis himalayensis foi proposto por Aggarwal et al em 2007 para espécimes de lobo provenientes do Himalaia indiano que diferiam em DNA mitocondrial de espécimes coletados em outras partes da Índia.[9] Em abril de 2009, C. himalayensis foi proposto como uma espécie distinta de lobo pelo Grupo Especialista de Nomenclatura no Comitê de Animais do CITES. A proposta se baseava em um estudo que se apoiava em um número limitado de amostras de museus e zoológicos que podiam não ser representativos da população selvagem.[7][20] O comitê posicionou-se contra esta proposta, mas sugeriu que o nome entrasse na base de dados de espécies do CITES como um sinônimo de C. lupus. Declarou que a classificação era somente para propósitos de conservação, e não refletia “o último estado do conhecimento taxonômico”[21][22] e trabalho adicional de campo foi requerido.[7] Esta linhagem genética mostra uma divergência de 3,9% no gene citocromo b do mtDNA, quando comparado com o lobo-cinzento holoártico, o que pode justificar que ele seja classificado como uma espécie distinta.[3] Em 2019, um seminário organizado pelo Grupo Especialista em Canídeos da IUCN/SSC ressaltou que a distribuição do lobo-do-himalaia incluía a cordilheira do Himalaia e o Planalto Tibetano. O grupo determinou que o primeiro nome em latim disponível era Canis chanco Gray, 1863, mas a localização geográfica do holótipo é obscura. O grupo recomenda que esta linhagem de lobo seja conhecida como lobo-do-himalaia e classificada como canis lupus chanco, até que uma análise genética do holótipo esteja disponível.[2] Em 2020, pesquisa adicional sobre o lobo-do-himalaia autoriza reconhecimento no nível de espécie segundo o Conceito de Espécie Unificada (Unified Species Concept), o Conceito de Espécie por Adequação Diferencial (Differential Fitness Species Concept) e o Conceito de Espécie Biológica (Biological Species Concept). Ele foi identificado como uma Unidade Evolutivamente Significativa, o que garantiu o apontamento na Lista Vermelha da IUCN para sua proteção.[8]
O DNA mitocondrial de 27 lobos provenientes do Himalaia e do Planalto Tibetano foi comparado em 2004. Os resultados indicaram que cinco haplótipos formavam um clado que é basal para todos os outros lobos. Este clado incluía uma amostra de Ladaque, nove do vale de Spiti em Himachal Pradesh, quatro do Nepal e dois do Tibete. O lobo-do-himalaia divergiu de outros canídeos há 800 mil anos. Sete lobos de Caxemira não caíram neste clado.[23] O mtDNA de 18 lobos cativos no Parque Zoológico Himalaio Padmaja Naidu foi analisado em 2007. Os resultados mostraram que eles compartilhavam uma ancestral fêmea comum.[9] Como este estudo foi baseado em espécimes nascidos em zoológico que descendiam de somente duas fêmeas, essas amostras não foram consideradas representativas. Adicionalmente, a população de lobos no vale de Caxemira é conhecida por ter chegado recentemente àquela área.[7][24] Pesquisa genética subsequente mostrou que amostras de lobo do Tibete são geneticamente basais para o lobo-cinzento holoártico.[25][9][10][26][27][28][6][4][5][3] O seu gene MT-ND4L começa com o par de bases GTG, enquanto todos os outros canídeos começam com ATG.[29] Resultados do sequenciamento genômico completo mostram que ele é o lobo mais divergente geneticamente.[30]
Análises de excrementos de dois lobos coletados na região do alto de Dolpo coincidiram com o lobo-do-himalaia.[20] Restos fecais de quatro lobos coletados na região do alto Mustang na Área de Conservação do Annapurna também caíram no clado do lobo-do-himalaia, mas formaram um haplótipo separado daqueles previamente estudados.[24]
A população do lobo-do-himalaia no Tibete declinou ao longo dos últimos 25 mil anos e sofreu um gargalo populacional histórico. A glaciação durante o último máximo glacial pode ter causado perda de hábitat, isolamento genético e endocruzamento antigo. Por outro lado, a população em Chingai cresceu, mostrando um fluxo gênico de 16% dos cães indígenas chineses e 2% do genoma do dingo. Ele provavelmente recolonizou o Planalto Tibetano.[30] O lobo-do-himalaia contrasta com os lobos que vivem em menores elevações na Mongólia Interior, Mongólia e na província de Sinquião. Alguns lobos na China e Mongólia também caem no clado do lobo-do-himalaia, indicando um ancestral materno comum e uma ampla distribuição.[4] Há evidência de hibridização com o lobo-cinzento em Sachyat-Ertash na província de Issyk-Kul no Quirguistão, e de introgressão tanto do lobo-cinzento quanto do cão no lobo-do-himalaia no Nepal.[3]
Um estudo genômico nos lobos da China incluiu espécimes de museus de lobos da China meridional, que foram coletados entre 1963 e 1988. Os lobos do estudo formaram três clados: lobos do norte da Ásia, que incluíam os do norte da China e do leste da Rússia, lobos do Planalto Tibetano e uma única população do sul da China. Um espécime localizado no extremo sudeste na província de Jiangxi mostra evidência de ser uma mistura entre lobos relacionados ao Tibete e outros lobos da China.[31]
Árvore filogenética dos canídeos semelhantes ao lobo existentes atualmente, com tempos em milhões de anos
Caninae 3.5 Ma |
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Sequências de DNA podem ser mapeadas para revelar uma árvore filogenética que representa as relações evolucionárias, com cada ramo representando a divergência de duas linhagens de um ancestral comum. Nesta árvore o termo “basal” é usado para descrever uma linhagem que forma um ramo divergente mais próximo do ancestral comum.[32]
O mastim tibetano foi capaz de se adaptar às condições extremas do Planalto Tibetano muito rapidamente, comparado com outros mamíferos como o iaque, o antílope tibetano o leopardo-das-neves e o javali. A habilidade do mastim tibetano de evitar a hipóxia em grandes altitudes, devido aos seus maiores níveis de hemoglobina comparados com os cães de baixa altitude, se deveu ao cruzamento pré-histórico com os lobos do Tibete.[33][34]
Em 2011, foi proposto que o lobo-indiano, o lobo-do-himalaia e o lobo-dourado-africano representam antigas linhagens de lobo, com o lobo-dourado-africano tendo colonizado a África antes da irradiação do lobo-cinzento holoártico para o Hemisfério Norte.[27]
Foram conduzidos dois estudos do genoma mitocondrial dos lobos-cinzentos (Canis lupus) moderno e extinto, mas excluíram as linhagens geneticamente divergentes do lobo-do-himalaia e do lobo-indiano. Os espécimes antigos foram datados por radiocarbono e estratigraficamente e, juntamente com sequências de DNA, foi gerada uma árvore filogenética para lobos baseada no tempo. O estudo concluiu que o ancestral comum mais recente de todos os outros espécimes de Canis lupus – modernos e extintos – era de 80 mil anos atrás.[35][36] Uma análise do genoma mitocondrial do lobo-do-himalaia indica que ele divergiu entre 740 mil e 691 mil anos atrás da linhagem que se tornaria o lobo-cinzento holoártico.[3]
Entre 2011 e 2015, dois estudos de mtDNA concluíram que o lobo-do-himalaia e o lobo-indiano eram geneticamente mais próximos do lobo-dourado-africano do que do lobo-cinzento holoártico.[27][6] Dois estudos iniciados em 2017, baseados no mtDNA e marcadores de cromossoma-X e cromossoma-Y, tirados do núcleo celular, indicam que o lobo-do-himalaia é geneticamente basal para o lobo-cinzento holoártico. O seu grau de divergência para o lobo-cinzento é similar ao entre o lobo-dourado-africano e o lobo-cinzento. Ele possui uma linhagem paterna única que se situa entre o lobo-cinzento e o lobo-dourado-africano.[5][3] Os estudos mostram que a área de distribuição do lobo-do-himalaia se estende desde o norte da Cordilheira do Himalaia através do Planalto Tibetano até a região do lago de Chingai, na província de mesmo nome na China.[5] Em 2018, um sequenciamento de genoma completo foi usado para comparar membros do gênero Canis. Concluiu-se que o lobo-dourado-africano descende de um canídeo geneticamente misturado, com 72% do lobo-cinzento e 28% do lobo-etíope.[37] O lobo-etíope não compartilha os polimorfismos de nucleotídeo único que conferem a adaptação de hipóxia do lobo-do-himalaia. A adaptação do lobo-etíope para viver em altas elevações pode ocorrer em outras localizações de polimorfismo de nucleotídeo único. Isto indica que a adaptação do lobo-etíope não foi herdada por descendência de um ancestral comum com o lobo-do-himalaia.[3]
O lobo-do-himalaia tem um pelo grosso e lanoso, de um marrom terroso fosco na traseira e na cauda, e branco amarelado na face, barriga e patas. Possui manchas pequenas e próximas no focinho, abaixo dos olhos, nas bochechas e orelhas.[24] Mede cerca de 110 cm de comprimento e 76 cm de altura no ombro.[38][39][40][18] Ele é maior do que o lobo-indiano.[41] Pesa cerca de 35 kg.[7]
O coração do lobo-do-himalaia resiste ao baixo nível de oxigênio em grandes altitudes. Ele tem uma forte seleção por RYR2, um gene que dá início à excitação cardíaca.[42]
Na China, o lobo-do-himalaia vive no Planalto Tibetano nas províncias de Gansu, Chingai, Tibete[43][44] e no oeste de Sujuão.[8]
No norte da Índia, ele ocorre na região de Ladaque, no leste de Caxemira[40] e na região de Lahaul e Spiti, no nordeste de Himachal Pradesh.[18] Em 2004, a população de lobos-do-himalaia na Índia era estimada em 350 indivíduos, em uma área de aproximadamente 70 mil km².[23] Entre 2005 e 2008, ele foi avistado nos prados alpinos acima da linha de árvores no nordeste do Parque Nacional de Nanda Devi em Uttarakhand.[45] Em 2013, um lobo foi registrado por uma armadilha fotográfica instalada em uma elevação de cerca de 3 500 metros perto do glaciar de Sunderdhunga, no distrito de Bageshwar em Uttarakhand.[46]
No Nepal, ele foi registrado na Área de Conservação de Api Nampa, no alto Dolpo, no distrito de Humla, Manaslu, alto Mustang e na Área de Conservação de Kanchenjunga.[47][48] O Himalaia nepalês fornece um hábitat de refúgio importante para o lobo-do-himalaia.[3]
Os uivos do lobo-do-himalaia têm frequência e duração menores do que outras subespécies do gênero Canis. Seus uivos são acusticamente distintos das outras subespécies de lobos.[49]
Os lobos-do-himalaia preferem as presas selvagens às domésticas. Eles preferem a pequena gazela-tibetana (Procapra picticaudata) ao maior porte do cervo de lábios brancos (Cervus albirostris), e preferem a gazela-tibetana, que vive no plano, ao carneiro-azul (Pseudois nayaur), que habita os penhascos. O alimento suplementar inclui a pequena marmota-do-himalaia (Marmota himalayana), a lebre-peluda (Lepus oiostolus) e pikas (Ochotona sp.). Os lobos-do-himalaia evitam o gado onde as presas selvagens estão disponíveis, entretanto os avanços sobre o hábitat e a supressão das populações de presas selvagens fazem prever conflitos com os pecuaristas. Para proteger esses lobos será importante assegurar populações saudáveis de presas selvagens por meio da criação de reservas e refúgios da vida selvagem.[50]
Fontes históricas indicam que lobos ocasionalmente mataram crianças em Ladaque e Lahaul.[18] Dentro do proposto Santuário de Vida Selvagem de Gya-Miru, em Ladaque, a intensidade de predação do gado foi investigada em três vilas. O estudo descobriu que os lobos tibetanos eram os mais importantes predadores, responsáveis por 60% das perdas, seguidos pelo leopardo-das-neves e pelo Lince-euroasiático. As presas mais frequentes eram cabras (32%), seguidas por carneiros (30%), iaques (15%) e cavalos (13%). Os lobos mataram significativamente mais cavalos, e menos cabras, do que seria esperado considerando sua abundância relativa.[51]
No Butão, Índia, Nepal e Paquistão o lobo está listado no Apêndice I do CITES.[52] Na Índia, o lobo é protegido sob o Programa I da Lei de Proteção da Vida Selvagem de 1972, que proíbe a caça; um zoológico necessita de uma permissão governamental para adquirir um lobo. Ele está classificado como “Em Perigo” em Jammu e Caxemira, Himachal Pradesh e Uttarakhand, onde uma grande parte da população de lobos vive fora da rede de áreas protegidas.[7] A falta de informações sobre a sua ecologia básica na natureza é um obstáculo para o desenvolvimento de um plano de conservação.[53] No Nepal, ele é protegido sob o Programa I da Lei 2029 de Parques Nacionais e Conservação da Vida Selvagem, de 1973, que proíbe a caça.[54] Na China, o lobo está classificado como “Vulnerável” na Lista Vermelha de Vertebrados da China, e sua caça está banida.[55][56]
Em 2007, 18 lobos-do-himalaia foram mantidos em dois zoológicos indianos para reprodução. Eles foram capturados na natureza e levados para o Parque Zoológico Himalaio Padmaja Naidu, em Bengala Ocidental, e o Zoológico Kufri em Himachal Pradesh.[9]
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