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Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Livro de Miqueias é o sexto livro dos doze profetas menores da Bíblia hebraica e cristã, vem depois do Livro de Jonas e antes do Livro de Naum. Este pequeno livro profético do Antigo Testamento se caracteriza pela condenação dos ricos por explorarem os pobres. Denuncia os governantes, chefes e ricos das cidades de Jerusalém e Samaria. Estes estavam roubando o povo através da língua enganosa, com armadilhas, exigiam presentes e subornos. Miqueias também denunciou a cobiça, os ganhos imorais, a maldade planejada, a balança desonesta e o crime organizado. O conteúdo deste livro tem quase 2700 anos.
Miqueias nasceu em Morasti (Moréshet[1]), uma vila no interior do reino de Judá, a oeste de Hebrom. Por sua origem camponesa se assemelha à Amós, com quem compartilha uma aversão às grandes cidades e uma linguagem concreta e franca, nas comparações breves e nos jogos de palavras. Ele exerceu sua atividade entre os reinados de Jotão (Iotâm), Acaz, Ezequias e Manassés, isto é entre 750 e 680 AC,[2] antes e depois da tomada de Samaria pelos assírios em 721 AC, tendo sido contemporâneo de Oseias e de Isaías.[3]
Miqueias profetizou durante os dias do Rei Ezequias de Judá. O versículo de Jeremias 26:18 contém praticamente tudo o que sabemos do próprio profeta. Alguns estudiosos discutem sobre a autoria do livro ser do próprio Miqueias. Tradicionalmente se aceita que os capítulos 1-3 são de fato de Miqueias (excluindo 2:12-13). Os trechos restantes são vistos por algumas como redações.
No entanto, alguns estudiosos do Antigo Testamento, por exemplo, o Bruce Waltke defende ser Miqueias o autor de todo o livro.
Miqueias era ativo em Judá, desde antes da queda de Samaria (1:2-7), em 722 a.C., viveu sob o rei Acaz (735-715 a.C.) e do rei Ezequias (715-687 a.C.), e (aparentemente) experimentou a devastação causada pela invasão de Senacherib em Judá (701 a.C.). O título do livro (1:1) também adiciona o nome do rei Jotão (742-735 a.C.). Isto faria Miqueias ativo de 742 a.C a 701 a.C.. A mensagem de Miqueias 1:2-9 foi dada antes da destruição de Samaria em 721 a.C.. O apelo de Jeremias a adeptos da profecia de Miqueias confirma sua ligação com Ezequias: "Levantaram-se alguns dos anciãos da terra, e falaram a toda a assembléia do povo: Miqueias, o morastita, profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá; e falou a todo o povo de Judá: Assim diz Jeová dos exércitos: Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões, e o monte da casa em altos cobertos de bosque. " (Jeremias 26: 17-18).
Durante os reinados de Uzias, rei de Judá, e Jeroboão II, rei de Israel, um período de relativa paz e prosperidade começou a minguar. Isso foi em parte devido ao aumento da nação Assíria que após um período de quiescência, tornou-se uma potente força política no Médio Oriente. Com a ascensão da Assíria, veio um aumento da pressão militar sobre os reinos de Judá e de Israel.
Ao mesmo tempo em que o comércio era crescente, grandes proprietários estavam cobiçando e se apoderando dos terrenos e casas de famílias mais pobres. Miqueias refutou essas práticas que violaram os direitos dos pequenos agricultores e resultaram em ganhos econômicos para os grandes proprietários.
Miqueias, e os outros profetas menores, também se manifestaram contra a falta de obediência da aliança. Muitos aspectos da aliança haviam sido abandonados em favor do culto a Baal e de outras práticas pagãs. A esta luz, Samaria, um dos líderes desta apostasia, está condenada à destruição.
O período da atividade de Miqueias também se sobrepõe a de Isaías, é possível que os dois fossem contemporâneos, muitas vezes confundidos um com o outro. Jeremias 26:18-20 fala do efeito de Miqueias sobre o rei, e que ele e o rei não foram capazes de atender, mas que a mensagem de Miqueias foi capaz de trazer o rei para o arrependimento. No entanto, alguns estudiosos consideram que pode ser mais provável que Isaías tenha causado o arrependimento do rei, pois ele tinha acesso ao rei, era muito mais provável de influenciar as decisões do rei.
Mesmo sendo o livro de Miqueias relativamente curto, contém uma ampla variedade de conteúdo. A macro-estrutura do livro é composta por três partes:
I . A previsão do Juízo - 1.1-3.12 II. A previsão da Restauração - 4.1-5.15 III. O apelo ao Arrependimento - 6.1-7.20
Miqueias também é conhecido como o defensor dos oprimidos. Ele condena os ricos latifundiários por tirarem a terra dos pobres (2.2). Também ataca os comerciantes desonestos por usarem balanças fraudulentas, subornarem os juízes e cobrarem juros extorsivos. Até mesmo os sacerdotes e profetas tinham-se deixado levar pela onda de ganância e desonestidade que varria o país. Miqueias fala de forma extremamente dura com aquele povo, que está mais preocupado em seguir rituais do que em viver retamente: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus" (6.8). Esta é uma das passagens mais importantes do Antigo Testamento, pois expressa o princípio imutável de que a autêntica adoração consiste em fazer a vontade de Deus e tratar os outros com justiça.[4]
Miqueias denuncia uma situação mais perversa do que a própria guerra em andamento: a cobiça e injustiças sociais, onde ele vê a causa principal da ira de Deus (2:8). Após descrever os estragos da guerra (1:8-16), o profeta nos conduz à capital, onde ele se defronta com os ricos e com os dirigentes políticos e religiosos. Vindo da roça, Miqueias acusa-os de roubar casas e campos para se tornarem latifundiários (2:1-2) e os condena por mandar matar até mulheres e crianças para se apoderarem das terras (2:9). Com o poder nas mãos, eles dançam ao ritmo do dinheiro, falseando o peso das mercadorias (6:10-12). Miqueias mostra que a riqueza deles se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a carne e o sangue do povo (7:1-4). Eles, porém, insistem, com a Bíblia na mão, em provar que são justos (2:6-7) e que Deus está com eles (3:11); procuram combinar religião com opressão aos fracos
Miqueias denuncia tal perversão, uma situação na qual os cultos são celebrados com fausto, mas não implicam conversão do coração[1], como atitude idolátrica (1:5); por isso, é taxativo: eles, juntamente com a luxuosa capital e o próprio Templo, serão destruídos (3:9-12).
No livro de Miqueias existem também promessas e esperanças. Entre elas se destaca o anúncio do surgimento do Messias na pequena cidade de Belém (5:1-3). A precisão deste versículo messiânico é impressionante, pois fornece o nome da cidade onde o Messias iria nascer, cerca de 700 anos antes. O Novo Testamento retomará essa profecia e o atribuirá ao nascimento de Jesus (cf. Mt 2:6).[5]
1:7 - Todos os seus ganhos imorais serão consumidos pelo fogo; 2:1 - Aí daqueles que planejam maldade, dos que tramam o mal em suas camas e no alvorecer o executam. 2:2 - Cobiçam terrenos e se apoderam deles; cobiçam casas e as tomam. Fazem violência ao homem e à sua família; a ele e aos seus herdeiros. 2:8 - Mas ultimamente como inimigos vocês atacam o meu povo. Além da túnica, arrancam a capa deles. 3:1 - Ouçam, vocês que são chefes e governantes da nação. Vocês deveriam conhecer a justiça. Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos. 6:9-13 - A voz do Senhor está clamando à cidade; é sensato temer o seu nome. Ouçam: Não há na casa do ímpio, o tesouro da impiedade e a medida falsificada, que é maldita? Poderia alguém ser puro com balanças desonestas e pesos falsos? Os ricos que vivem entre vocês são violentos; o seu povo é mentiroso e as suas línguas falam enganosamente. Por isso, eu mesmo os farei sofrer, e os arruinarei por causa dos seus pecados. 7:2 - Os piedosos desapareceram do país; não há um justo sequer. Todos estão à espreita para derramar sangue; cada um caça seu irmão com uma armadilha. 7:3 - Com as mãos prontas para fazer o mal o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto.[6]
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