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língua uto-asteca falada no México Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O náuatle (português brasileiro) ou nauatle (português europeu) (Nawatl, Nawatlahtolli), também chamado de asteca ou mexicano,[2] (pronúncia nativa: [ˈnaːwatɬ] (ⓘ) é uma língua pertencente à família uto-asteca, usada pelo povo náuatle e falada no território atualmente correspondente à região central do México desde pelo menos o século VII.[3] No final do século XX, era falada por pouco menos de um milhão e meio de pessoas.[1]
Náuatle Nawatlahtolli, mexkatl, mela'tájto̱l, mösiehuali̱ | ||
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Pronúncia: | [ˈnaːwatɬ] | |
Outros nomes: | Asteca, mexicano | |
Falado(a) em: | México | |
Região: | Estados mexicanos de México, Distrito Federal, Puebla, Veracruz, Hidalgo, Guerrero, Morelos, Oaxaca, Michoacán e Durango, e comunidades de imigrantes em Guatemala, El Salvador, Estados Unidos e Canadá. | |
Total de falantes: | 1,65 milhão (2020)[1] | |
Família: | Uto-asteca Asteca Náuatle | |
Escrita: | Escrita asteca, depois alfabeto latino | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | México (língua nacional) | |
Regulado por: | Instituto Nacional de Línguas Indígenas | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | -- | |
ISO 639-2: | nah | |
ISO 639-3: | nhe
| |
Na época da conquista espanhola e tlaxcalteca do México, no início do século XVI, era o idioma dos astecas, que dominavam o México central durante o fim do período pós-clássico da cronologia mesoamericana. A expansão e influência do Império Asteca fizeram com que o dialeto falado pelos astecas de Tenochtitlán se tornasse um dialeto de prestígio na Mesoamérica deste período. Com a introdução do alfabeto latino, o náuatle também se tornou uma língua literária e muitas crónicas, gramáticas, obras de poesia, documentos administrativos e códices foram escritos nos séculos XVI e XVII.[4] Esta língua literária baseada no dialeto de Tenochtitlán foi chamada de náuatle clássico e está entre as línguas mais estudadas e bem-documentadas das Américas.[5] Devido à popularidade da língua e, em parte, à expansão territorial por causa dos conquistadores, o rei Filipe II estabeleceu o náuatle como língua oficial do Vice-Reino da Nova Espanha.[6]
Hoje em dia, os dialetos náuatles[7] são falados em comunidades espalhadas na sua maior parte em áreas rurais. Existem diferenças consideráveis entre cada dialeto e alguns são mutuamente ininteligíveis. Todas sofreram diferentes graus de influência do castelhano. Nenhum dialeto moderno é idêntico ao náuatle clássico, mas aqueles que são falados no vale do México e em seus arredores são geralmente considerados como mais próximos, linguisticamente, a ele.[8] Sob a Ley General de Derechos Lingüísticos de los Pueblos Indígenas ("Lei Geral de Direitos Linguísticos dos Povos Indígenas"), promulgada no México em 2003,[9] o náuatle, assim como outras línguas indígenas do México foram reconhecidas como lenguas nacionales ("línguas nacionais") nas regiões onde são faladas, ostentando o mesmo statu que o castelhano.[10]
O náuatle é um idioma com uma morfologia complexa, caracterizado por polissínteses e aglutinações, que permitem a construção de palavras longas, com significados complexos, a partir de diversos radicais e afixos. O náuatle foi influenciado por outras línguas mesoamericanas ao longo de séculos de coexistência, tornando-se parte da área linguística mesoamericana. Muitas palavras do náuatle foram apropriadas pelos idioma espanhol e passaram para centenas de outras línguas; em sua grande maioria, são palavras que designam conceitos nativos ao México central, que os espanhóis ouviram ser mencionados pela primeira vez em seus nomes náuatles, como, por exemplo, "tomate", "abacate", e "chocolate".
Em relação a origem geográfica, os linguistas do século XX concordaram que a família linguística uto-asteca é originária da Região Sudoeste dos Estados Unidos.[11][12] Evidências arqueológicas e etno-históricas sugerem que os primeiros falantes dos idiomas náuatles migraram dos desertos mexicanos do norte para a região central do México, provavelmente em diversas ondas migratórias.[13] Antes de atingir o platô central mexicano, estes grupos pré-náuatle provavelmente passaram um período em contato com as línguas coracolanas do noroeste do México (cora e huichol).[14]
Estudos anteriores presumiram que o povo de Teotihuacán, uma cultura que floresceu entre 100 e 500 d.C., falavam o náuatle, e recentemente foram apresentadas evidências que sugerem uma presença náuatle anterior no México central, possivelmente em Teotihuacán.[15] Porém, de acordo com a compreensão atual da pré-história náuatle, os falantes do proto-náuatle entraram na região mesoamericana em cerca de 500 d.C., coincidindo mais com o declínio de Teotihuacán que com sua ascensão.[16] Na Mesoamérica, os náuatles tomaram contato com os falantes dos idiomas maias, otomangueanos e mixe-zoqueanos, que haviam coexistido durante milênios, e cujos idiomas haviam convergido até formar a área linguística mesoamericana. Os primeiros náuatles nômades adotaram diversos aspectos das culturas mesoamericanas, que fizeram com que o proto-náuatle desenvolvesse novos traços, similares aos de outras línguas mesoamericanas. Estes traços, que são comuns a todas as variedades do náuatle, porém estão ausentes das outras línguas uto-astecas faladas fora da Mesoamérica, datam deste período.[17] Exemplos destes traços adotados incluem o uso de substantivos relacionais, o aparecimento de calques, e uma forma de construção possessiva típica das línguas mesoamericanas.[17]
O primeiro ramo a se separar do grupo principal das línguas proto-náuatles foi o pochuteca, cujos falantes se estabeleceram em Oaxaca, na costa do oceano Pacífico, aproximadamente em 400 d.C., tendo chegado à Mesoamérica alguns séculos mais cedo que o resto dos povos náuatles.[3] Acredita-se que as primeiras migrações correspondam aos dialetos periféricos da atualidade, que são relativamente conservadores e não apresentam influências dos dialetos centrais.[18] Alguns grupos náuatles migraram para o sul, seguindo pelo istmo centro-americano, atingindo o território dos atuais El Salvador e Panamá; seriam os ancestrais dos povos que falam o pipil.[19] No início do século VII os falantes náuatles assumiram o poder no México central, a partir de onde se expandiram para áreas ocupadas anteriormente por povos que falavam os idiomas otomangueanos, totonacanos e huastecas.[20] Acredita-se que os toltecas de Tula, Hidalgo, que dominaram o centro do México no século X, falassem o náuatle, e os traços associados com estes dialetos centrais teriam se espalhado pelo território central do México durante as migrações do período epi-tolteca.
Já no século XI os falantes de náuatle dominavam o vale do México e até territórios mais além, com centros como Azcapotzalco, Culhuacán e Cholula tornando-se proeminentes. Sucessivas migrações náuatles do norte para esta região continuaram até o período pós-clássico. Um dos últimos grupos a empreender estas migrações e chegar no vale se estabeleceu numa ilha no lago Texcoco, onde acabaram por subjugar as tribos locais; estes eram os mexicas, que ao longo dos três séculos seguintes fundaram um império baseado em Tenochtitlán, nome que deram a esta ilha onde se localizava sua capital. Sua influência política e linguística atingiu a América Central, e já está bem documentado que entre diversos grupos étnicos não-náuatles, como os maias quichés, o náuatle se tornou uma língua de prestígio, utilizada para o comércio de longa distância e falado pelos grupos de elite.[21]
Com a chegada dos espanhóis em 1519 o náuatle perdeu espaço e um novo idioma, o castelhano, se tornou dominante. No entanto, pelo fato dos espanhóis terem se aliado com os falantes de náuatle de Tlaxcala, e posteriormente com os astecas conquistados, o idioma náuatle continuou a se espalhar através da Mesoamérica por décadas depois da conquista, quando expedições de centenas de soldados náuatles liderados pelos espanhóis conquistaram novos territórios. As missões jesuíticas fundadas no norte do México e no sudoeste dos Estados Unidos frequentemente incluíam um barrio de soldados tlaxcaltecas que ali permaneciam para guardar a missão.[22] Por exemplo, cerca de catorze anos depois da fundação, em 1577, da cidade de Saltillo, uma comunidade tlaxcalteca foi relocada para uma vila próxima (San Estebán de la Nueva Tlaxcala), para cultivar a terra e auxiliar os esforços de colonização que haviam fracassado diante da hostilidade local à colonização espanhola.[23] As conquistas espanholas no sul do México também incluíam frequentemente aliados tlaxcaltecas e outros povos falantes do náuatle.[24]
Como parte de seus esforços missionários, membros de diversas ordens monásticas (principalmente franciscanos, dominicanos e jesuítas) introduziram o alfabeto latino aos náuatles, que estavam ansiosos por ler e escrever, tanto em espanhol quanto em seu próprio idioma. Apenas vinte anos depois da chegada dos espanhóis, já havia textos preparados na língua náuatle utilizando-se dos caracteres latinos.[25] Também neste período foram fundadas instituições de aprendizado, como o Colégio da Santa Cruz de Tlatelolco, inaugurado em 1536, que ensinava tanto os idiomas indígenas quanto as línguas europeias clássicas para índios e padres. Gramáticos missionários se encarregavam do preparo das gramáticas dos idiomas indígenas para o uso dos padres. A primeira gramática náuatle, escrita por Andrés de Olmos, foi publicada em 1547, três anos antes da primeira gramática francesa. Em 1645 outras quatro haviam sido publicadas: uma por Alonso de Molina em 1571, uma por Antonio del Rincón em 1595, uma por Diego de Guzmán em 1642 e, em 1645, aquela que é considerada hoje em dia a mais importante gramática náuatle, de Horacio Carochi.[26]
Em 1570 o rei Felipe II da Espanha decretou que o náuatle deveria se tornar o idioma oficial das colônias da Nova Espanha, para facilitar a comunicação entre os espanhóis e os nativos.[27] Os missionários ensinaram então o náuatle a indígenas que falavam outros idiomas indígenas, nos territórios ao sul que correspondem aos atuais Honduras, Guatemala e El Salvador. Durante os séculos XVI e XVII, o náuatle clássico foi utilizado como língua literária, e um grande corpus de textos deste período ainda existe nos dias de hoje. Entre estes textos estão histórias, crônicas, poesia, peças teatrais, obras canônicas cristãs, descrições etnográficas e uma grande variedade de documentos mundanos e administrativos. Os espanhóis concederam ampla autonomia às administrações locais das cidades indígenas durante este período, e em diversas cidades onde se falava o náuatle o idioma foi a língua administrativa de facto, tanto na forma escrita como falada. Boa parte da literatura náuatle foi produzida nesta época, incluindo o Códice Florentino, um compêndio de doze volumes sobre a cultura asteca compilado pelo franciscano Bernardino de Sahagún; a Crônica Mexicayotl, uma crônica sobre a linhagem real de Tenochtitlán, de autoria de Fernando Alvarado Tezozómoc; os Cantares Mexicanos, uma coleção de canções em náuatle; um dicionário náuatle-espanhol compilado por Alonso de Molina; e o Huei tlamahuiçoltica, uma descrição em náuatle da aparição de Virgem de Guadalupe.
Gramáticas e dicionários de boa parte dos idiomas indígenas foram compostos durante o período colonial, porém de uma maneira geral sua qualidade foi decaindo desde o período inicial até o final do século XVII.[28] Na prática, os frades aprenderam que seria impossível aprender todas as línguas indígenas e passaram a se concentrar no náuatle. A situação linguística da Mesoamérica permaneceu relativamente estável por algum tempo, porém em 1696 o rei Carlos II publicou um decreto que baniu o uso de qualquer idioma além do espanhol em todo o Império Espanhol. Em 1770, outro decreto, com o propósito assumido de eliminar os idiomas indígenas, foi promulgado pela Real Cédula, desferindo um golpe fatal no náuatle como língua literária do período.[27]
Ao longo do período moderno a situação das línguas indígenas acabou acabou por ficar gradativamente precária, ao mesmo tempo que o número de falantes de virtualmente todas as línguas indígenas foi diminuindo. Embora o número absoluto de falantes do náuatle tenha aumentado no último século, as populações indígenas tornaram-se cada vez mais marginalizadas na sociedade mexicana. Em 1895 o náuatle era falado por mais de 5% da população do país; em 2000, esta proporção havia caído para 1,49%.
Dado este processo de marginalização, combinado com a onda de migrações para as áreas urbanas e para os Estados Unidos, alguns linguistas têm alertado sobre o perigo de uma morte do idioma.[30] No presente o náuatle é falado majoritariamente nas áreas rurais por uma classe empobrecida de agricultores de subsistência.[31] Desde o início do século XX e até recentemente, as políticas educacionais no México se focaram na "hispanificação" das comunidades indígenas, ensinando-lhes apenas o espanhol e desencorajando o uso do náuatle.[32]
O resultado foi que hoje em dia nenhum grupo de falantes do náuatle é alfabetizado no idioma,[33] enquanto a sua taxa de alfabetização em espanhol também permanece bem mais baixa do que a média nacional.[34] Ainda assim, o náuatle continua sendo falado por mais de um milhão de pessoas, dos quais cerca de 10% são monolíngues. O náuatle como um todo não está em perigo iminente, porém alguns de seus dialetos estão seriamente ameaçados, e outros já se tornaram extintos nas últimas décadas do século XX.[35]
Políticas governamentais mais recentes têm encorajado o estabelecimento de escolas bilíngues, onde pelo menos alguma parte do ensino seja feita em náuatle. Embora ainda existam problemas, como a falta de livros de ensino no náuatle de determinadas regiões, ou de professores que falam o dialeto específico de uma região e que são enviados para ensinar o idioma a crianças de outras regiões, existe pelo menos algum movimento em direção ao aumento da alfabetização em náuatle, e do seu uso na forma escrita.
A Ley General de Derechos Lingüísticos de los Pueblos Indígenas ("Lei Geral de Direitos Linguísticos dos Povos Indígenas"), promulgada em 13 de março de 2003, reconheceu todos os idiomas indígenas do México, incluindo o náuatle, como um "idioma nacional", e deu aos povos indígenas o direito de utilizá-las em todas as esferas das vidas pública e privada.[36] Emissões patrocinadas pelo governo em náuatle também são realizadas pela estações de rádio da Comissão Nacional pelo Desenvolvimento dos Povos Indígenas.
No entanto, nos últimos anos, o idioma está ganhando cada vez mais popularidade, fato que levou a um aumento no conteúdo da Internet no idioma e na tradução de sites como Wikipedia e aplicativos como Telegram Messenger para o náuatle. Em fevereiro de 2008 o prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, lançou um movimento para que todos os funcionários governamentais aprendessem o náuatle. Ebrard afirmou que continuaria a institucionalizar o náuatle, e que era importante para o México recordar sua história e sua tradição.[37] Em 2020, a Câmara dos Deputados aprovou o parecer com um projeto de decreto que reconhece o espanhol, o mexicano e outras línguas indígenas como línguas oficiais, que têm a mesma validade nos termos da lei.[38]
Região | Totais | Porcentagens |
---|---|---|
Distrito Federal | 37,450 | 0.44% |
Guerrero | 136,681 | 4.44% |
Hidalgo | 221,684 | 9.92% |
México (estado) | 55,802 | 0.43% |
Morelos | 18,656 | 1.20% |
Oaxaca | 10,979 | 0.32% |
Puebla | 416,968 | 8.21% |
San Luis Potosí | 138,523 | 6.02% |
Tlaxcala | 23,737 | 2.47% |
Veracruz | 338,324 | 4.90% |
Resto do México | 50,132 | 0.10% |
Total: | 1,448,937 | 1.49% |
Uma gama de dialetos náuatles são falados atualmente na área que se estende do estado do norte do México de Durango até Veracruz, no sul. O pipil (também conhecido como nawat),[40] a língua náuatle localizada mais ao sul, é falada em El Salvador por um pequeno número de indivíduos.[41] Outro idioma náuatle, o pochuteca, foi falado na costa de Oaxaca até cerca de 1930.[42]
Baseado nos números acumulados pelo Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática (INEGI) no censo nacional realizado em 2000, estima-se que o náuatle seja falado por 1,45 milhões de pessoas, dos quais cerca de 198.000 (14,9%) são monolíngues.[43] Há uma disparidade no monolinguismo entre os homens e as mulheres, com as mulheres representando quase dois-terços do total. Os estados de Guerrero e Hidalgo têm as taxas mais altas de falantes monolíngues do náuatle, estimados em 24,2% e 22,6%, respectivamente. A proporção de monolíngues na maioria dos outros estados é de menos de 5%.[44]
As maiores concentrações de falantes do náuatle podem ser encontradas nos estados de Puebla, Veracruz, Hidalgo, San Luis Potosí e Guerrero. Populações significantes também podem ser encontradas nos estados do México, Morelos, e no Distrito Federal Mexicano, com comunidades menores em Michoacán e Durango. O náuatle foi falado anteriormente nos estados de Jalisco e Colima, onde se tornou extinto durante o século XX. Como resultado das migrações internas pelo país, todos os estados mexicanos têm, hoje em dia, bolsões isolados onde o idioma é falado. O influxo atual de trabalhadores e famílias mexicanas para os Estados Unidos resultou no estabelecimento de pequenas comunidades de falantes do náuatle no país, especialmente nos estados de Nova Iorque e Califórnia.[45]
A terminologia utilizada para se descrever as diversas variedades do náuatle falado é aplicada inconsistentemente. Muitos termos são utilizados por diferentes significados, ou então os mesmos grupos recebem nomes diferentes. Por vezes termos mais antigos são substituídos por novos termos, ou pelos termos utilizados no próprio idioma, para designar determinada variedade específica. A própria palavra nahuatl é uma palavra náuatle, derivada de nāwatlahtolli ("língua clara"). O idioma também é chamado de "asteca", por ter sido falado pelos astecas, que, no entanto, não chamavam a si mesmos de astecas e sim de mexica, e ao seu idioma de mexicacopa.[46] Hoje em dia o termo é pouco usado para descrever os idiomas náuatles modernos, porém o termo é utilizado para descer as línguas e dialetos náuatles quando descritos como a segunda parte constituinte da família linguística uto-asteca. (O grupo também é chamado de "nauano"). O termo "asteca geral" é utilizado por alguns linguistas para se referir às línguas astecas, com a exceção do pochuteca.[47]
Os próprios falantes do náuatle frequentemente se referem à sua língua como mexicano[48] ou uma palavra derivada de mācehualli, o termo em náuatle para "plebeu". Um exemplo é o caso do náuatle falado em Tetelcingo, no estado de Morelos, cujos falantes chamam de mösiehuali.[49] O pipil de El Salvador não é chamado por seus falantes de "pipil", como é feito pela maioria dos linguistas, mas sim de nawat.[50] Os náuatles de Durango chamam o seu idioma de mexicanero.[51] Já os falantes do náuatle no istmo de Tehuantepec chamam seu idioma de mela'tajtol ("a língua direita").[52] Algumas comunidades de falantes também usam o termo nahuatl como o nome de seu idioma, embora esta pareça ser uma inovação recente. Alguns linguistas identificam comumente os dialetos mais específicos do náuatle adicionando palavras que qualifiquem o nome da vila ou área onde aquela variedade é falada (por exemplo, "náuatle de Acaxochitlán").[53]
As línguas náuatles pertencem à família linguística uto-asteca, que é uma das maiores e mais bem estudadas famílias linguísticas das Américas. Os idiomas náuatles (incluindo o pipil e o pochuteca são os únicos membros do subgrupo "asteca" ou "nauano" do uto-asteca. A divisão em subgrupos dos dialetos e línguas náuatles tem sido tema de discussões entre linguistas nos últimos cinquenta anos. As primeiras classificações se baseavam na suposição de que a divisão básica das línguas náuatles estaria entre os idiomas que tinham o som /tl/ e os que o trocavam por /t/ .[8] Esta suposição foi refutada por Lyle Campbell e Ronald Langacker em 1978, que mostrou que todos os idiomas astecas compartilhavam o desenvolvimento de */t/ para /tl/, mas que subsequentemente alguns dialetos mudaram o /tl/ de volta para /t/ ou /l/ .[54]
As classificações acadêmicas mais recentes das línguas náuatles foram feitas por Yolanda Lastra de Suárez e Una Canger.[55] Ambos estes enfoques basearam-se em pesquisas dialectológicas que priorizaram o delineamento de isoglossas, ou fronteiras linguísticas, baseadas nas diferenças na fonologia, gramática e vocabulário. Ambas classificações definem a divisão básica como sendo entre os dialetos centrais e periféricos. A hipótese apresentada é a de que os falantes dos dialetos periféricos foram os primeiros indivíduos a falar o náuatle que chegaram na Mesoamérica, e que por isso mesmo estes dialetos mantiveram certos aspectos mais arcaicos. Já os falantes dos dialetos centrais, que chegaram posteriormente, entre eles os astecas, introduziram inovações linguísticas que acabaram se espalhando para fora do vale do México com a expansão do prestígio e da hegemonia asteca.[8] As duas classificações são amplamente similares, porém diferem no seu tratamento dos dialetos da região de La Huasteca: enquanto Canger classifica estes dialetos no grupo central, Lastra de Suárez coloca-os em um grupo separado. A classificação abaixo basea-se na de Lastra de Suárez, combinada com a classificação de Lyle Campbell para os grupos "superiores"
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O grupo nauano é definido como um subgrupo do uto-asteca por ter sofrido uma série de mudanças compartilhadas com a protolíngua uto-asteca desde que os falantes originais do nauano se separaram do grupo principal uto-asteca. Estas mudanças, presentes em todas as línguas nauanas, formam a base para a reconstrução de um estágio intermediário chamado proto-nauano, do qual as línguas nauanas modernas se desenvolveram desde então.
A tabela abaixo mostra o inventório fonêmico do náuatle clássico, um exemplo de um típico idioma nauano. Muitos dialetos modernos sofreram mudanças desde o proto-nauano, que resultaram em diferentes inventórios fonêmicos. Por exemplo, alguns dialetos não possuem o fonema / t͡ɬ /, tão comum no náuatle clássico, mas que mudou para / t /, por exemplo, no náuatle do istmo, no mexicanero e no pipil, ou para / l / no náuatle de Pómaro, em Michoacán.[56] Muitos dialetos não distinguiem mais entre vogais curtas e longas. Outras introduziram qualidades completamente novas às vogais, como maneira de compensar a perda, como é o caso do náuatle de Tetelcingo.[49] Já outras desenvolveram um acento tonal, como o náuatle de Oapan, em Guerrero.[57] Em muitos dialetos modernos também se introduziram, sob a influência do espanhol, novos fonemas, como / b, d, ɡ, f /.
A alofonia, no náuatle, não é muito rica na maioria dos dialetos: em muitos as consoantes sonoras frequentemente são alteradas quando estão em posições finais ou em grupos consonantais: o fonema /j/ se transforma na sibilante palatoalveolar surda /ʃ/,[60] /w/ na fricativa glotal surda [h] ou na aproximante velar labializada surda [ʍ], e /l/ na lateral alveolar surda [ɫ]. Em alguns dialetos a primeira consoante, quando localizada em um grupo consonantal, se torna [h]; em outros ocorre uma abrandamento das consoantes surdas, quando entre vogais, para suas equivalentes sonoras. As consoantes nasais são normalmente assimiladas ao local de articulação da consoante seguinte. A africada lateral surda [t͡ɬ] é assimilada, quando se segue a um /l/, e é pronunciada como [l].[61]
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