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Sociólogo brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Jessé José Freire de Souza (Natal, 29 de março de 1960) é um sociólogo, advogado, professor universitário, escritor e pesquisador brasileiro que atua nas áreas de Teoria Social, pensamento social brasileiro e de estudos teórico-empíricos sobre a desigualdade e as classes sociais no Brasil contemporâneo. É autor dos livros A Ralé Brasileira, A Radiografia do Golpe, A Elite do Atraso e A Classe Média no Espelho.[1]
Jessé Souza | |
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Jessé Souza em 2015 | |
Nascimento | 29 de março de 1960 (64 anos) Natal, RN |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Universidade de Brasília Universidade de Heidelberg |
Prêmios | Prêmio Jabuti (2017) |
Orientador(es)(as) | Wolfgang Schluchter |
Campo(s) | Sociologia |
Tese | Die Entwicklung der okzidentalen Moderne (1991) |
Notas | Professor Universitário |
Em 2 de abril de 2015 foi nomeado[2] pela Presidência da República ao cargo de presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O cargo era anteriormente ocupado por Sergei Suarez Dillon Soares.[3] Pediu demissão do cargo em maio de 2016, quando Michel Temer assumiu interinamente a Presidência, depois do afastamento da presidente Dilma por ocasião do processo de impeachment.
Jessé Souza nasceu em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte no ano de 1960.[4][5] Mudou-se para Brasília, para realizar a graduação no curso de Direito na Universidade de Brasília (UNB) concluída no ano de 1981.[6] Concluiu seu Mestrado na área de Sociologia na mesma instituição no ano de 1986.[7]
Em 1991, doutorou-se em sociologia pela Universidade de Heidelberg localizada na Alemanha, país onde obteve livre docência nesta mesma disciplina pela Universidade de Flensburg no ano de 2006.[8][9]
Também fez pós-doutorado em filosofia e psicanálise na New School for Social Research, em Nova Iorque (1994/1995).[9][10]
Escreveu e organizou 22 livros, em português, inglês e alemão sobre sociologia política, teoria da modernização periférica e desigualdade no Brasil contemporâneo.[8] Atualmente, é professor titular da Universidade Federal do ABC (UFABC).[11]
Em 2 de abril de 2015, foi nomeado pela Presidência da República ao cargo de presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cargo anteriormente ocupado por Sergei Suarez Dillon Soares.[12][2] Permaneceu no cargo até 2016, quando foi exonerado logo após Michel Temer (MDB) assumir provisoriamente a presidência do Brasil durante o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT).[2][13]
Integra o conselho editorial do Brasil 247.[14]
Como presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no período correspondente as anos de 2015/2016, Souza realizou pesquisas importantes na área de desigualdade econômica, contribuindo para o surgimento de um novo paradigma para os estudos econômicos e social referentes a essa área.[15][16] Dessa forma, fica evidente, ao menos nos artigos publicados pelo autor na primeira década do século XXI, a centralidade da discussão a respeito da “desigualdade social” e o esforço de Jessé por autonomização do pensamento científico brasileiro para a produção de categorias, eixos de sentidos, significações e explicações que partissem das reais demandas experimentadas no cenário nacional. Mesmo sendo um forte leitor do pensamento weberiano, isso não impede que Jessé produza críticas diretas a outros reprodutores do autor que, de acordo com o posicionamento de Jessé, reduzem a realidade brasileira para comportar os conceitos e categorias pretéritas que, ao serem produzidas, não consideraram a realidade brasileira. Essa mesma crítica é endereçada aos marxistas e a outras linhas de produção científica que não se esforçam na direção de dialogo acurado com o campo brasileiro. Em seus escritos, sempre críticos, Jessé dialoga com diversos pensadores, destaca-se entre ele o sociólogo francês Pierre Bourdieu, do qual Jessé toma de empréstimo a noção de habitus, além de tratar com interesse a discussão em torno das noções de estruturas estruturantes e estruturas estruturadas, centrais para boa parte do pensamento bourdieusiano.[16] Jessé não é um institucionalista, tampouco um culturalista, o que ele procura construir é uma intersecção entre os processos de institucionalização, ideologização e subjetivação, afim de dar conta de uma realidade multifacetada, a brasileira (2003, p.13-15)[17].
A divisão de classes de Jessé, inspirada por Pierre Bourdieu, não tem por base as faixas de renda (classes A, B, C D, e E), nem a concepção marxista-leninista de classe (burguesia, proletariado, etc). Ela se baseia em sociabilidades diferentes. Isto é, cada classe social tem um método próprio de criar os filhos, de socializá-los, e essas diferenças geram as classes sociais e as suas respectivas mentalidades e visões de mundo.[8]
Para Jessé, há quatro classes no Brasil contemporâneo. Duas já existem há muito tempo: a "elite da rapina" e a "ralé de novos escravos". Ambas existem desde os tempos mais remotos da história do país. As outras duas — uma classe média e outra trabalhadora — são mais recentes. Estas tiveram um começo incipiente na Primeira Guerra Mundial, mas só se firmaram na década de 1930 com Getúlio Vargas. A industrialização do Brasil promovida por Vargas foi responsável pelo surgimento dessas duas novas classes e pela configuração da sociedade brasileira da forma como ela é reconhecida hoje.[18]
Classe | Descrição |
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A elite dos proprietários | Caracterizada pela posse do capital econômico, que é transmitido hereditariamente. Controlam tanto os meios de produção de bens materiais como de bens simbólicos, como parte da mídia.[8] |
Classe média(1) | Sua ênfase está no capital cultural. A classe também possui capital econômico hereditário, mas esse capital não tem a mesma importância que para a classe alta dos proprietários.[8] A classe possui quatro subdivisões, conforme a tabela abaixo. |
Classe dos batalhadores(1) | Também chamada de classe trabalhadora semiqualificada. Conforme Souza, "é uma classe extremamente heterogênea, ela vai desde toda a forma de trabalho precarizado até pequenos empreendedores." Compreende 70% da população. É composta, em parte, por aquilo que se habitou chamar de "nova classe média", emergida durante os governos do PT.[19] |
Ralé de novos escravos | Composta pelos descendentes dos escravos, bem como de indivíduos livres, mas em situação de dependência. É uma classe que não tem acesso aos capitais econômico e cultural, e não dispõe nem das condições de adquiri-los, pois, para Jessé, eles são socializados de modo a viver sempre no presente, sem pensamento prospectivo, e sem estímulos dos pais para a leitura, o que faz com que eles não tenham a capacidade de concentração necessária para os estudos e a ascensão para a classe imediatamente superior.[8][20] |
(1) classes de origem mais recente.
A classe média, por sua vez, se divide e diferencia conforme o tipo de capital cultural que ela adquire. Esse capital cultural também é quantitativamente diferente: pode ser maior (nas frações expressivistas e críticas) ou menor (na liberal e na protofascista). As divisões da classe média foram apresentadas pela primeira vez no livro A Elite do Atraso (2017) e desenvolvidas em A Classe Média no Espelho (2018).
Divisões da classe média | Capital cultural | |
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Fração liberal | Tanto a fração liberal como a protofascista se caracterizam pela posse de um conhecimento técnico adaptativo, que serve para se adaptar às necessidades do capital, e não para criticar a ordem social. Essas frações buscam o conforto das certezas compartilhadas, veiculadas sobretudo pela mídia. Também se caracterizam pelo moralismo. Em comparação com a protofascista, a fração liberal possui maior apego ao ideário democrático.[18] | |
Fração protofascista | Conforme Souza, "o ódio às classes populares é aqui aberto e proclamado com orgulho, como expressão de ousadia ou sinceridade. O protofascista se orgulha de não ser falso como os outros e poder dizer o que lhe vem à mente. O mal e o bem estão claramente definidos, e o bem se confunde com a própria personalidade." Distingue-se da liberal também por sua maior sensibilidade a críticas, que são vistas como uma negação da própria personalidade.[18] | |
Fração expressivista | Também chamada de "classe média de Oslo", assim como a fração crítica, é mais crítica. Porém, sua atenção é mais voltada a causas ambientais, ecológicas, e de direitos dos animais, e não dá suficiente atenção ao principal, que, no Brasil, é a miséria e a desigualdade. A classe média é de "Oslo", portanto, porque dá a impressão de viver em um país em que as desigualdades e misérias foram praticamente resolvidas.[18] | |
Fração crítica | O menor segmento da classe média, são os setores mais intelectualizados, e que buscam criticar a sociedade. Esse segmento percebe a realidade social como uma invenção, algo construído.[18] |
Souza analisa as produções de Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro e Simon Schwartzman que, a partir de bases Weberianas, vão produzir discussões e conceitos que marcarão a produção das ciências sociais, como as ideias de Homem Cordial, Patrimonialismo e modernização, muito caras para produção teórica do século XX. Souza desenvolve e articula as ideias da produção Weberiana com os acertos e equívocos relativos a sua apropriação para explicação da realidade brasileira por acreditar que é importante “rejeitarmos modelos societários exemplares e absolutos. As escolhas culturais, assim como as individuais, implicam perdas e ganhos. Perceber aonde temos a aprender com outros povos e sociedades é uma reflexão que deve ser simultânea àquilo que devemos rejeitar" (1998, p.19).[21]
Jessé de Souza argumenta que a desigualdade social como fenômeno de massa em países de desenvolvimento tardio como o Brasil, pode ser compreendida “como resultante de um efetivo processo de modernização de grandes proporções que se implanta paulatinamente no país a partir de inícios do século XIX” (2005, p.80).[20] Para isso, o autor parte da desconstrução do paradigma vigente nas ciências sociais no século XX, no qual o subdesenvolvimento nacional brasileiro é explicado através da noção de patrimonialismo, personalismo e familismo como fundamentos para a caracterização de uma sociedade pré-moderna. Nesse sentido, Jessé inicia a desconstrução de tal paradigma a partir da retomada da teoria elaborada por Max Weber, em sua sociologia comprada das religiões, confrontada às concepções desenvolvidas por Charles Taylor e Pierre Bourdieu. Em princípio, Souza apresenta de forma breve o modelo teórico elaborado por Weber, para quem as instituições chaves do capitalismo moderno - o mercado e o Estado- deveriam ser incorporadas pelas sociedades não-ocidentais (restringindo a consideração “sociedades ocidentais” aos Estados Unidos e à Europa ocidental) fadando, aqueles que se opuserem, à pré- modernidade. Assim, como forma de oposição a essa teoria etapista e culturalista, Jessé utiliza a arqueologia da hierarquia valorativa das sociedades aonde o capitalismo monopolista irá se desenvolver, apresentada por Charles Taylor em seu livro Sources of the self: the making of the modern identity, aliada a ideia de “self pontual” -a noção de “dignidade” que se estabelece ao instituir todos como iguais e a produtividade laboral como fatores de inclusão social- também do mesmo autor, para confrontar a ideia tida como irrefutável do Estado e do mercado como grandezas sistêmicas. Para Taylor, na verdade, a hierarquia valorativa perpassa a eficácia de tais instituições e, desse modo, a reificação dessas e seu transplante, como “artefatos prontos”, sem que haja uma hierarquia valorativa do “self pontual”, para as sociedades periféricas, ocasionaria a naturalização das desigualdades sociais. Além disso, Jessé Souza incorpora as reflexões de Pierre Bourdieu, principalmente a sua noção de habitus, juntamente com a “ideologia do desempenho” analisa por Reinhard Kreckel, para ampliar a contribuição desses e estabelecer uma tripartição da noção de habitus em: habitus primário, habitus secundário e habitus precário. O primeiro ao “incorporar as características disciplinarizadoras, plásticas e adaptativas básicas para o exercício das funções produtivas no contexto do capitalismo moderno” (2005, p.80)[20] será classificado pelo autor como: “precondições sociais, econômicas e políticas do sujeito útil, “digno” e cidadão no sentido tayloriano de ser reconhecido intersubjetivamente como tal” (2005, p.87)[20]. Já o segundo, “diz respeito às “sutis distinções” analisadas por Bourdieu em Distinction: a social critique of the judgement of taste, no qual compreende tanto o horizonte da individualização “profunda”, baseada no ideal da identidade original dialógica e constituída em forma narrativa, como o processo de individuação superficial. O habitus precário, por sua vez, diz respeito “a formação de todo um segmento de indivíduos inadaptados – fenômeno marginal, em sociedades desenvolvidas; fenômeno de massa, em sociedades periféricas – é resultado de mudanças históricas, implicando a redefinição do que estou chamando habitus primário” (2005, p.87). Para Jessé de Souza o fato de as desigualdades sociais nos países periféricos, onde a modernização das estruturas chaves do capitalismo se deu de forma retardatária, se deriva a imposição de instituições modernas como “artefatos prontos”, carregadas de um arcabouço valorativo desenvolvidos em sociedades onde o capitalismo se desenvolveu de forma natural e por isso não se trata da concepção de uma sociedade pré-moderna com a presença do patrimonialismo, familismo e personalismo (2003, p.17)[17].
Jessé é um crítico da Operação Lava Jato, analisada por ele nos livros A Radiografia do Golpe e A Elite do Atraso.[22][23] Ele afirma que a operação "só existe por conta da Rede Globo" e tem a ver com a quebra dos BRICS, que seriam uma ameaça à hegemonia estadunidense.[24]
A classe média, que antes nunca se expunha, encontrou seu discurso. Então essa direita que atua hoje é filha do casamento entre Rede Globo e Lava Jato, e Jair Bolsonaro é o filho mais legítimo dessa união.[24]
O sociólogo Rubens Goyatá Campante, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), critica Souza por fazer generalizações indevidas e por apresentar seus argumentos de forma agressiva e deselegante, por vezes desrespeitando os autores clássicos.[25]
Crítica semelhante foi feita por Alberto Carlos Almeida, em seu livro A Cabeça do Brasileiro (2007). Na conclusão, após apresentar diversas pesquisas empíricas sobre a mentalidade do brasileiro, Almeida concorda com as teses do antropólogo Roberto DaMatta, segundo as quais o brasileiro é hierárquico, familista e patrimonialista (o que Jessé nega). Em dado momento, o autor responde não às críticas de Jessé (que não são mencionadas), mas chama a atenção para a forma com que elas foram feitas:
Há críticas, e muitas, à contribuição de Roberto DaMatta à antropologia. A mais raivosa de todas é de Jessé de Souza no livro O malandro e o protestante. Mas, tal como diz o ditado que "cão que ladra não morde", ela é tão raivosa quanto inofensiva. Jessé simplesmente nega que DaMatta esteja correto sem apresentar evidência empírica alguma que sustente sua tese.— Almeida, Alberto Carlos (19 de novembro de 2015). «Conclusão: Roberto DaMatta está certo?». A cabeça do brasileiro. [S.l.]: Editora Record
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