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Explorador neerlandês. Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Jan Huygen van Linschoten (Haarlem, 1563 – Enkhuizen, 8 de Fevereiro de 1611), por vezes grafado Jan Huijgen van Linschoten, foi um explorador e espião neerlandês que viajou extensamente pelas zonas de influência portuguesa na Ásia. Convivendo intimamente com mercadores e navegadores portugueses, Linschoten terá copiado mapas e obtido outras informações sobre a navegação e práticas mercantis daquela nação na Ásia, que permitiram a entrada dos seus compatriotas nas então denominadas Índias Orientais e, na senda destes, dos ingleses. O interesse despertado nos Países Baixos e na Inglaterra pelas informações de viajantes como Linschoten e Cornelis de Houtman, esteve na origem do movimento de expansão comercial para a Índia e sueste asiático que levou à fundação da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais e da Companhia Britânica das Índias Orientais.[1][2][3][4]
Jan Huygen van Linschoten | |
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Retrato de Jan Huygen van Linschoten incluído na edição princeps do seu Itinerario. | |
Nascimento | 1563 Haarlem |
Morte | 8 de fevereiro de 1611 (47–48 anos) Enkhuizen |
Cidadania | República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos |
Ocupação | escritor, historiador, mercador, navegador, cartógrafo |
Jan Huygen era filho de um notário da cidade de Haarlem, mas na sua infância a família fixou-se na aldeia de Enkhuizen. A adopção do apelido van Linschoten parece indicar que a sua família era originária da aldeia do mesmo nome, Linschoten, nos arredores de Utreque.[5]
Partiu para Espanha em Dezembro de 1576, com 16 anos de idade, para se juntar aos seus meio-irmãos Floris e Willelm Tin, que eram mercadores em Sevilha.[1] Ali fez a sua aprendizagem nas artes do comércio internacional, acabando por se associar a mercadores portugueses e trabalhando entre Lisboa e Sevilha, actividade que manteve durante pelo menos seis anos. Para além de gosto por viagens, Jan Huygen era dotado para a aprendizagem das línguas.[6]
Dificuldades no comércio, o desejo de aventura ou eventualmente uma missão de espionagem comercial a soldo de mercadores neerlandeses e flamengos, fizeram com que, apesar de originariamente protestante, aceitasse acompanhar, na qualidade de guarda-livros, o dominicano frei Vicente da Fonseca, nomeado arcebispo de Goa. Desse modo, integrado na comitiva do prelado, partiu para o Estado da Índia a 8 de Abril de 1583, chegando a Goa cinco meses depois, tendo feito as escalas usuais na ilha da Madeira, na Guiné, no cabo da Boa Esperança, em Madagáscar e em Moçambique.[5]
Durante a sua estadia em Goa e nas suas viagens, Jan Huyghens teve acesso a mapas e a outras informações privilegiadas sobre o comércio e navegação dos portugueses no sueste asiático, utilizando a sua capacidade cartográfica e de desenho para copiar e desenhar novos mapas, produzindo um muito considerável acervo de informação náutica e mercantil. Algumas das cartas náuticas que copiou tinham sido mantidas cuidadosamente secretas por mais de um século.[5]
A morte do arcebispo em 1587, durante uma viagem a Lisboa, fez com que Jan Huygen deixasse a Índia e regressasse à Europa. Partiu de Goa em Janeiro de 1589, escalando a ilha de Santa Helena em Maio daquele ano.
A viagem de regresso foi interrompida nos Açores, na altura da ilha do Corvo, quando o comboio de seis embarcações em que viajava (cinco da Índia e uma de Malaca), começou a ser perseguido por galeões corsários ingleses,[7] forçando a que as embarcações portuguesas se dirigissem a Angra, na Terceira, em busca de refúgio. A 4 de agosto, entretanto, uma violenta tempestade abateu-se sobre a cidade e os navios ancorados na baía, vindo o galeão de Malaca a naufragar.[5] Sobre este infausto, o próprio Linschoten referiu, posteriormente, no seu Itinerario:
Por força deste acidente, Linschoten permaneceu por dois anos na cidade de Angra para contabilizar as riquezas recuperadas no galeão naufragado. Nesse período percorreu a ilha, tanto por terra quanto por mar, tendo registado as suas impressões em livro anos mais tarde, acompanhadas por dois mapas detalhados: um de Goa e outro de Angra. Este último é considerado uma das mais antigas representações da cidade.
De regresso aos Países Baixos em 1592, com a ajuda de Cornelis Claesz, um editor de Amesterdão especializado em literatura náutica e de viagens, Linschoten publicou um primeiro relato da sua viagem, a que deu o título de "Reys-gheschrift vande navigatien der Portugaloysers in Orienten" ("Relato de uma viagem pelas navegações dos portugueses no Oriente"), que saiu do prelo em 1595. A obra contém cartas e indicações sobre como navegar entre Portugal e as Índias Orientais, e ainda entre a Índia, a China e o Japão.
Em 1594 tomou parte na expedição de Willem Barents aos mares do norte à procura de uma passagem para o Oriente através do Árctico (Passagem do Noroeste), navegando a bordo do navio de Cornelis Nay pelos mares da Noruega e da Carélia (atual Mar de Barents em homenagem ao comandante da expedição).
No ano seguinte (1595), voltou a participar na segunda expedição de Barents ao Oceano Árctico.
Jan Huyghen publicou três outras obras:
Para além de mapas dos diversos locais por onde viajou, Linschoten também deixou conselhos, entre eles a forma de ultrapassar o controlo que os portugueses mantinham no estreito de Malaca, sugerindo como alternativa a passagem pelo sul de Samatra através do estreito de Sunda, percurso que de facto veio a ser a principal via de penetração neerlandesa no sueste asiático e que esteve na origem da sua colonização dos territórios que hoje constituem a Indonésia.
Faleceu já considerado como uma celebridade pela sua obra e num momento em que, face à perda de influência portuguesa resultante da incorporação da coroa de Portugal na monarquia castelhana durante a Dinastia Filipina (1580-1640), oportunidades para uma presença neerlandesa nas Índias Orientais começavam a surgir.
Em honra de Jan Huygen foi fundada em Amesterdão, no ano de 1908, uma associação denominada Sociedade Linschoten ("Linschoten-Vereeniging"), tendo como objectivo a publicação de obras neerlandesas raras ou inéditas de literatura de viagens, descrições geográficas ou itineraria. A sociedade está associada ao Museu Naval de Amsterdão (Nederlands Scheepvaartmuseum Amsterdam), local onde mantém a sua sede. Também a instituição financeira holandesa ABN AMRO Bank atribui anualmente o "Prémio Jan Huygen van Linschoten" ("Jan Huygen van Linschoten Prijs") para premiar o empresário neerlandês que se destaque no comércio internacional.
O Itinerario é uma das obras incluídas na colectânea iniciada por Théodore de Bry em Frankfurt-am-Main sob o título Collectiones peregrinationum in Indiam Orientalem et Indiam Occidentalem... e continuada pelos seus filhos Johan Theodoor e Johan Israël e por Matthäus Merian.[8] A obra constitui a parte VIII da colectânea, a qual para além da versão em latim, foi publicada nas línguas inglesa, alemã e francesa, atingindo um vasto pública na Europa.[9]
A partir da versão em latim do «Itinerario» foi publicada uma tradução parcial em língua portuguesa, restrita aos capítulos referentes à passagem pelos Açores, da autoria de José de Torres, incluída no periódico O Panorama (1856/1857, 3.ª série) sob o título "Memorias Historicas (1589-1592)".[10][9]
Uma tradução mais alargada, da autoria de José Agostinho, foi feita em 1922 sobre a tradução francesa, edição de 1619, da obra de Linschoten.[11] Há também uma tradução parcial de José de Torres publicada na Revista dos Açores de 1854.[12] A gravura referente a Angra foi publicada na revista Os Açores, n.º 3, de setembro de 1922.[13]
A primeira edição em língua portuguesa da versão integral da sua obra «Itinerario: Voyage ofte schipvaert van Jan Huyghen van Linschoten naer Oost ofte Portugaels Indien, 1579-1592» foi publicada por iniciativa da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses no ano de 1997.[14][15]
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