José de Torres (Ponta Delgada, 17 de Junho de 1827 — Lisboa, 4 de Maio de 1874) foi um escritor e jornalista açoriano que se notabilizou como bibliófilo e investigador da história açoriana. Reuniu uma volumosa colecção de documentos relativos aos Açores, hoje na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, a que deu o nome de Variedades Açorianas, a qual constitui hoje um acervo precioso para o estudo da história e cultura açorianas. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e membro de várias sociedades científicas estrangeiras.[1][2][3][4]
José de Torres | |
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Nascimento | 17 de junho de 1827 Ponta Delgada |
Morte | 4 de maio de 1874 (46 anos) Lisboa |
Cidadania | Reino de Portugal |
Ocupação | jornalista, escritor, historiador |
Biografia
José de Torres nasceu em Ponta Delgada a 17 de Junho de 1827, filho de Bento José de Torres e de Ricarda Borges, uma família de fracos recursos. Dotado de inteligência brilhante, revelou-se desde cedo um autodidacta, leitor assíduo e interessado de temas de história. Dotado de um discurso fluente, redigia com facilidade e elegância, começando desde muito novo a colaborar na imprensa micaelense.
Com apenas 14 anos, em finais do ano de 1841, começou a servir como amanuense da Contadoria da Fazenda de Ponta Delgada. Pouco tempo depois, em 20 de Dezembro de 1844, passou para a secretaria da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Continuando a sua brilhante carreira como funcionário administrativo, a 2 de Março de 1849 foi transferido para o lugar de segundo oficial do governo civil do distrito de Ponta Delgada, onde serviu como secretário geral substituto.
Quando em 1852 foi organizado o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, José de Torres foi nomeado 1.º oficial daquele novo departamento governamental, fixando-se em Lisboa. Nesse mesmo ano, iniciou funções como director da Repartição de Estatística, então criada naquele Ministério, cargo que exerceu até falecer.
Foi igualmente encarregado da realização de várias sindicâncias e inquéritos à contabilidade de várias empresas, as mais espinhosas das quais foram os inquéritos às companhias União Mercantil e dos Caminhos-de-Ferro Portugueses e à contabilidade geral do Ministério das Obras Públicas, que não ficou concluída.
Em 1859, José de Torres realizou uma viagem a Espanha Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha, que, embora tendo como objectivo estudar os métodos estatísticos, foi feita a expensas próprias.
Em 5 de Agosto de 1862 foi nomeado Chefe de Secção, sendo depois promovido efectivamente a Chefe da Repartição de Estatística, por decreto do 31 de Dezembro de 1864, lugar que já estava desempenhando interinamente desde 1860. Quando se decidiu fazer o recenseamento geral da população do país, José de Torres concebeu as peças oficiais tendentes a esse fim; elaborou as instruções para as autoridades locais, preparou os modelos dos inquéritos, criou métodos de trabalho, ideou o sistema de apuramento e ao fim de três anos de constante labor conseguiu publicar o primeiro censo geral da população feito pelo método nominal e simultâneo.
Paralelamente à sua carreira no funcionalismo público, também se iniciou muito novo no jornalismo, tanto político como literário, estreando-se em 1843 com a publicação de artigos de literatura juvenil no jornal Açoriano Oriental.
Envolvido no movimento de revivalismo cultural e associativo que então se vivia em São Miguel, em 1844 ajudou a fundar e foi um dos redactores do jornal literário da Sociedade Escolástica Micaelense, intitulado o O Philologo (O Filólogo), de que se publicaram 12 números, o primeiro dos quais em Janeiro de 1844 e o último a 15 de Junho do mesmo ano. Neste periódico a sua colaboração já estava voltada para os temas históricos e etnográficos que o notabilizariam.
Em 1848, quando António Feliciano de Castilho se fixou em Ponta Delgada, se incorporou no movimento associativo das elites locais e se transformou no campeão da instrução popular, José de Torres foi um dos maiores entusiastas do movimento cultural então desencadeado. Foi secretário da Sociedade dos Amigos das Letras e Artes, a sociedade de promoção da instrução popular fundada por Castilho, sobre a qual escreveu um brilhante Relatório, descrevendo os actos e projectos da Sociedade, que se imprimiu em 1849. Foi também um dos professores voluntários das aulas que foram criadas sob a égide daquela instituição, regendo cursos de geometria e de economia.
No mesmo ano de 1849 publicou a obra Viagens ao Interior da Ilha de S. Miguel, com a qual iniciou uma colecção que publicou com o título de Ensaios; na qual incluiu trabalhos de grande valor, tanto pela forma literária, como pelas notícias históricas referentes às povoações que percorreu.
Em 1851 fundou a Revista dos Açores, jornal literário consagrado à história açoriana, trabalho que continuou mesmo depois de se fixar em Lisboa, onde continuou a redigi-la. Aquele periódico terminou a publicação em 1856.
Em Lisboa foi aliado do grupo político liderado por Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, o 1.º duque de Loulé, entrando para a redacção de jornais daquele partido, num dos quais, O Futuro, publicou, além das secções políticas, uma série de valiosos artigos subordinados ao título de Interesses Micaelenses, que foram reproduzidos pelo Correio Micaelense, de Ponta Delgada, em 1858.
Foi colaborador do periódico O Panorama[5] (1837-1868), na série que se publicou a partir de 1853 (3.ª série da publicação). Nas edições daquele jornal saídas até 1857, encontram-se muitos artigos seus, uns assinados e outros não. Foi também redactor permanente do Arquivo Pitoresco[6] (1857-1868), onde publicou numerosos artigos.
Entre outros, colaborou ainda nos seguintes periódicos: O Progresso, jornal político, em cuja direcção esteve quase dois anos; Angrense; Cartista dos Açores; Correio Micaelense; Verdade; Nação; Português; Pátria; Jornal do Comércio; Revolução de Setembro; Boletim do Ministério das Obras Públicas; Federação; A Opinião; Agricultor Micaelense; O Portugal Artístico; O Progresso Industrial; a Ilustração Luso-Brasileira [7] (1856-1859) e Revista Contemporânea de Portugal e Brasil [8] (1859-1865) ; Revista Peninsular e o Archivo UniversalColaborou ainda no Almanach Rural dos Açores, de 1851, mandado publicar pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, e no Almanach Democrático para 1855, editado em Lisboa.
José do Torres foi também gerente, presidente e governador de várias companhias bancárias e associações industriais, entre as quais a Companhia de Mineração Transtagana, organizada em 1863, da qual era accionista e director-gerente. Foi na qualidade de secretário da direcção da Companhia de Mineração Transtagana que coordenou e imprimiu os relatórios da respectiva administração.
Desde 1843 que José de Torres se tinha consagrado ao estudo e investigações da história dos Açores. Para isso consultou os mais importantes arquivos da ilha de São Miguel, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e algumas bibliotecas nacionais e estrangeiras. Foi com esta campanha de quase 18 anos que alcançou formar a sua colecção de Variedades Açorianas, a qual é composta de impressos e manuscritos, contendo muitas obras únicas para o estudo dos Açores. A colectânea constitui a sua principal obra, incluindo mapas, retratos, vistas, artigos, livros e colecções de jornais, contendo muitos documentos inéditos. Foi editado recentemente um índice das Variedades, parte manuscrita, mas a colectânea nunca foi integralmente publicada.[9][10]
Em meados de 1873 adoeceu gravemente pelo que foi compelido, por conselho dos médicos, a abandonar temporariamente o seu emprego e largar a gerência das diversas associações de que era dirigente, bem como todos os demais cargos que exercia. Faleceu em Lisboa a 4 de Maio de 1874, com apenas 46 anos de idade.
Apesar de sempre ter recusado honras e condecorações, foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, lugar para que foi eleito a 8 de Maio de 1862, por unanimidade de votos. Foi igualmente sócio de vários estabelecimentos científicos da Europa.
Obras publicadas
José de Torres foi um escritor prolífico, publicando centenas de artigos em múltiplos periódicos, e editando algumas dezenas de trabalhos de maior vulto. A lista que se segue está longe de ser completa:
- Viagens no Interior da Ilha de São Miguel, Ponta Delgada, 1849;
- Relatório da Sociedade dos Amigos das Artes e Letras, Ponta Delgada, 1849;
- Bento de Goes, pequenos quadros românticos, Ponta Delgada, 1854;
- Vantagens que convidam ao estabelecimento de uma fábrica de fiação e tecidos de algodão em Alcobaça, Lisboa, 1854 (saiu anónimo);
- O que é a guerra do Oriente?, Lisboa, 1855 (discurso de Victor Hugo, traduzido do francês e publicado sem o nome do tradutor);
- Melhoramentos industriais e agrícolas de Alcobaça, Lisboa, 1858 (com uma planta topográfica litografada, reeditado em 1871);
- Crises alimentícias: causas, remédios, Lisboa, 1857 (discurso pronunciado no 1 de Dezembro de 1856 no Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas);
- Tudo no mundo é comédia, Lisboa, 1860 (comédia em 3 actos);
- Já viu o cometa?, Lisboa, 1860 (comédia em 1 acto; n.º 5 da 2.ª série do Theatro Para Rir);
- Lendas peninsulares, Lisboa, 1861 (2 tomos);
- Relatório Consulta da Repartição de Estatística Acerca da Estatística Geral de Portugal, Lisboa, 18131 (suplemento ao Boletim do Ministério das Obras Públicas);
- Relatório da Comissão de Inquérito Nomeada em Portaria, de 14 de Janeiro de 1863 à Administração e Gerência da Companhia «União Mercantil», Lisboa, 1861
- Padroado Português no Oriente, in Pátria, n.ºs 39 e 50, de 1856;
- Portugal na exposição universal de Paris, in Revista Peninsular, tomo 1;
- Caminho de ferro de Badajoz, in Jornal do Comércio, 1857;
- Minas de Portugal, in Jornal do Comércio, 1857;
- Interesses açorianos, in Futuro, 1858;
- Reforma municipal, in Futuro, 1858;
- Instrução elementar, in Panorama, 1853;
- Originalidade da navegação do Oceano Atlântico Septentrional, e do descobrimento de suas ilhas pelos portugueses no século XV, in O Panorama, 1853 e 1854 [com 17 partes no vol. II (3.ª série): I — fasc. 13, de 26 de março de 1853, pp. 100-101; II — fasc. 15, de 9 de abril de 1853, pp. 114-116; III — fasc. 19, de 7 de maio de 1853, pp. 146-148; IV — fasc. 20, de 14 de maio de 1853, pp. 159-160; V — fasc. 21, de 21 de maio de 1853, pp. 164-165; VI — fasc. 24, de 11 de junho de 1853, p. 190; VII — fasc. 26, de 25 de junho, pp. 204-206; VIII — fasc. 31, de 30 de julho de 1853, pp. 246-248; IX — fasc. 32, de 6 de agosto de 1853, 255-256; X — fasc. 39, de 24 de setembro de 1853, pp. 311-312; XI — fasc. 40, de 1 de outubro de 1853, pp. 319-320; XII — fasc. 46, de 12 de novembro de 1853, pp. 367-368; XIII — fasc. 47, de 19 de novembro de 1853, pp. 375-376; XIV — fasc. 48, de 26 de novembro de 1852, pp. 382-383; XV — fasc. 49, de 3 de dezembro de 1853, pp. 387-388; XVI — fasc. 51, de 17 de dezembro de 1853, pp. 406-407; XVII — fasc. 52, de 24 de dezembro de 1853, pp. 411-412]; [e 5 partes no vol. III (3.ª série): I a pp. 40, 48, 55-56, 62-64, 67-68]
- Memorias Historicas (1589-1592) (tradução parcial do Itinerario de Jan Huygen van Linschoten) in O Panorama, 3.ª série, volume V (fascículo 50), de 13 de dezembro de 1856, pp. 394-398; continuado no fascículo 51, de 20 de dezembro de 1856, pp. 402-404; continuado no fascículo 52, de 27 de dezembro de 1856, pp.410-411.
- Fastos açorianos, in Panorama, 1856;
- Dilúvio de luz, in Panorama, 1857;
- Espantosa inundação de mar, in O Panorama, 1857 (parte I a pp. 82-82, vol. I (4.ª série), de 14 de março de 1857; parte II a pp. 97-98, vol. I (4.ª série), de 28 de março de 1857);
- A Flora, in Panorama, 1857;
- Alda, in Ilustração Luso-Brasileira, vol. I;
- Constância de Jesuíta, in Ilustração Luso-Brasileira, vol. I;
- Reinado de D. Afonso VI, in Archivo Pittoresco, volume II (epanaforida histórica sobre a vida diária daquele monarca);
- Açores, in Archivo Pittoresco, volume II;
- Olho por olho, dente por dente, in Archivo Pittoresco, volume III;
- Rei ou impostor?, in Archivo Pittoresco, volume III;
- Fernão de Magalhães, in Archivo Pittoresco, volume III;
- Vasco Lopes, mestre de S. Tiago, in Archivo Pittoresco, volume III;
- D. António Prior do Crato, (estudo histórico);
- Brasão de Elvas;
- As alpujarras;
- O Ticiano português;
- Nicolau Tolentino, Lisboa, 1859;
- Portos Açorianos – o porto artificial de Ponta Delgada, in Arquivo dos Açores, vol, XI, Ponta Delgada.
Referências
Bibliografia
Ligações externas
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