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Hasekura Rokuemon Tsunenaga (1571 – 1622) (em japonês: 支倉六右衛門常長, também escrito Faxecura Rocuyemon em fontes europeias da época, refletindo a pronúncia do japonês de então)[1] foi um samurai japonês e servo de Date Masamune,[2] o daimyo de Sendai.
Hasekura Rokuemon Tsunenaga (1571–1622) Retrato de Hasekura durante sua missão em Roma em 1615, por Claude Deruet, Coll. Borghese, Roma | ||
Names: | ||
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Nome japonês: | Hasekura Rokuemon Tsunenaga (支倉六右衛門常長) | |
Nome cristão: | Don Felipe Francisco de Hasekura | |
Retainer of: | ||
Senhor feudal: | Date Masamune | |
Feudo: | Domínio de Sendai (仙台藩) (Nordeste do Japão) |
Entre os anos de 1613 e 1620, Hasekura chefiou uma missão diplomática no Vaticano, em Roma, viajando pela Nova Espanha (chegando em Acapulco e saindo de Veracruz) e visitando vários lugares da Europa. A missão histórica é denominada Embaixada Keichō (慶長使節), e segue a embaixada Tenshō (天正使節) de 1582.[3] Na viagem de volta, Hasekura e seus companheiros re-traçaram sua rota através do México em 1619, navegando de Acapulco até Manila, e então navegando ao norte para o Japão em 1620.[4] Ele é convencionalmente considerado o primeiro embaixador japonês das Américas e da Europa.[5]
Apesar da embaixada de Hasekura ter sido cordialmente recebida na Europa, ela aconteceu em uma época na qual o Japão impunha a supressão do Cristianismo. Monarcas europeus como o Rei da Espanha por isso recusaram acordos comerciais pretendidos por Hasekura e sua comitiva. Hasekura retornou ao Japão em 1620. Sua embaixada terminou com poucos resultados em um Japão cada vez mais isolado do mundo.
A embaixada seguinte do Japão na Europa só se formaria mais de 200 anos depois, passados dois séculos de isolamento, com a "Primeira embaixada do Japão na Europa" em 1862.
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de Hasekura Tsunenaga. Ele era um samurai de nobreza média no domínio de Sendai, ao norte do Japão, que teve a oportunidade de servir diretamente ao daimyo Date Masamune.[6] Eles tinham mais ou menos a mesma idade, e se sabe que algumas missões importantes foram dadas a Tsunenaga como seu representante.
Também se registrou que Hasekura serviu como samurai nas Invasões japonesas da Coreia sob o Taiko Toyotomi Hideyoshi, durante seis meses em 1597.
Em 1612, seu pai, Hasekura Tsunenari (支倉常成), foi indiciado por corrupção e condenado à morte em 1613. Seu feudo foi confiscado, e normalmente seu filho também deveria ter sido executado. Date, todavia, lhe deu a oportunidade de redimir a sua honra, colocando-o na liderança da embaixada na Europa, e logo depois lhe devolveu suas terras.
Os espanhóis iniciaram viagens pelo Oceano Pacífico entre a Nova Espanha (México) e as Filipinas em 1565. Os famosos galeões de Manila carregavam prata das minas mexicanas até o entreposto de Manila na possessão espanhola nas Filipinas. Lá a prata era usada para comprar especiarias e outros produtos do comércio da Ásia, incluindo (até 1638) produtos do Japão. A rota de retorno dos galeões de Manila, primeiramente mapeada pelo navegador espanhol Andrés de Urdaneta, levava os navios a nordeste pela Corrente de Kuroshio (também conhecida como Corrente do Japão) na costa do Japão, e então cruzava o Pacífico pela costa oeste da América do Norte, aportando em Acapulco.[7]
Navios espanhóis às vezes naufragavam na costa do Japão devido ao mau tempo, iniciando contatos com o país. Os espanhóis desejavam expandir a fé cristã no Japão. Os esforços para expandir a influência no Japão enfrentaram muita resistência contra os Jesuítas, que começaram a evangelização do país em 1549, também da parte dos portugueses e dos neerlandeses, que não queriam que a Espanha fizesse comércio com os japoneses. Entretanto, sabe-se que alguns japoneses, como Cristóvão e Cosme, cruzaram o Pacífico a bordo de galeões espanhóis já em 1587. Sabe-se também que presentes foram trocados entre o governador das Filipinas e Toyotomi Hideyoshi, que o agradece em uma carta de 1597, escrevendo "O elefante preto em particular eu achei o mais peculiar."[8]
Em 1609, o galeão espanhol de Manila San Francisco encontrou mau tempo em seu caminho de Manila a Acapulco, e naufragou na costa do Japão em Chiba, perto de Tóquio. Os marinheiros foram resgatados e recebidos, e o capitão do navio, Rodrigo de Vivero y Aberrucia, anteriormente governador interino das Filipinas, encontrou-se com o xogun aposentado Tokugawa Ieyasu. Rodrigo de Vivero propôs um tratado, assinado em 29 de novembro de 1609, pelo qual os espanhóis poderiam instalar uma fábrica no leste do Japão. Especialistas em mineração seriam importados da Nova Espanha, navios espanhóis poderiam visitar o Japão em caso de necessidade, e uma embaixada do Japão seria enviada à corte da Espanha.
Um monge franciscano chamado Luis Sotelo, que estava proselitizando na área que hoje é Tóquio, convenceu Tokugawa Ieyasu e seu filho Tokugawa Hidetada a mandá-lo como um representante para a Nova Espanha (México) em um de seus navios, para avançar no tratado de comércio. Rodrigo de Vivero se ofereceu para navegar no navio japonês para garantir a segurança de sua recepção na Nova Espanha, mas insistiu que outro franciscano, Alonso Muños, fosse enviado como representante do xogun. Em 1610, Rodrigo de Vivero, alguns marinheiros espanhóis, o irmão franciscano, e 22 representantes japoneses liderados pelo mercador Tanaka Shōsuke, navegaram até o México a bordo do San Buena Ventura, um navio construído pelo aventureiro inglês William Adams para o xogun. Uma vez na Nova Espanha, Alonso Muños se encontrou com o Vice-Rei Luis de Velasco, que concordou em mandar um embaixador para o Japão na pessoa do famoso explorador Sebastián Vizcaíno, com a missão adicional de explorar a "Ilha de Prata" ("Isla de Plata") que estaria a leste do arquipélago japonês.
Vizcaino chegou ao Japão em 1611 e teve vários encontros com o xogun e senhores feudais. Esses encontros ficaram prejudicados pelo seu pouco respeito com os costumes japoneses, pela resistência dos japoneses ao proselitismo católico, e pelas intrigas dos holandeses contra as ambições espanholas. Vizcaino finalmente saiu para procurar a "Ilha de Prata", mas encontrou mau tempo, forçando-o a voltar para o Japão com grandes danos.
Sem esperar por Vizcaino, outro navio – construído em Izu pelo Bakufu sob o Ministro da Marinha Mukai Shogen, e nomeado San Sebastian – partiu para o México em 9 de setembro de 1612 com Luis Sotelo a bordo, assim como dois representantes de Date Masamune, com o objetivo de avançar no acordo comercial com a Nova Espanha. Entretanto, o navio afundou a poucas milhas de Uraga, e a expedição teve de ser abandonada.
O xogun decidiu construir um novo galeão no Japão para levar Vizcaino de volta para Nueva España, junto com uma embaixada japonesa acompanhada por Luis Sotelo. O galeão, nomeado Date Maru pelos japoneses e depois San Juan Bautista pelos espanhóis, levou 45 dias para ser construído,[2] com a participação de especialistas técnicos do Bakufu (o Ministro da Marinha Mukai Shogen e um conhecido de William Adams com quem ele fez alguns navios, como carpinteiro chefe), 800 construtores navais, 700 ferreiros e 3000 carpinteiros. O daimyo de Sendai, Date Masamune, chefiou o projeto. Ele nomeou um dos seus servidores, Hasekura Tsunenaga (seu feudo produzia mais ou menos 600 koku), para liderar a missão:
O objetivo da embaixada japonesa era discutir acordos comerciais com a coroa espanhola em Madrid e se encontrar com o Papa em Roma. Date Masamune demonstrou grande vontade de receber a religião católica em seu domínio: ele convidou Luis Sotelo e autorizou a propagação do cristianismo em 1611. Em sua carta para o Papa, trazida por Hasekura, ele escreveu: "Eu oferecerei minha terra como uma base para o seu trabalho missionário. Mande-nos quantos padres for possível."
Sotelo, em seu próprio relato das viagens, enfatiza a dimensão religiosa da missão, clamando que o objetivo principal era espalhar a fé cristã no norte do Japão:
A embaixada era provavelmente, à época, parte de um plano para diversificar e aumentar o comércio com países estrangeiros, antes da participação de cristãos na rebelião de Osaka ter provocado uma reação radical do xogunato, com a interdição do cristianismo nos seus territórios diretamente controlados, em 1614.
Ao ser concluído, o navio partiu em 28 de outubro de 1613 para Acapulco com cerca de 180 pessoas a bordo, incluindo 10 samurais do xogun (providenciados pelo Ministro da Marinha Mukai Shogen Tadakatsu), 12 samurais de Sendai, 120 mercadores, marinheiros e servos japoneses e cerca de 40 espanhóis e portugueses, incluindo Sebastian Vizcaino que, em suas próprias palavras, apenas tinha a qualidade de passageiro.[10]
O navio primeiro alcançou o Cabo Mendocino na atual Califórnia, e então continuou pela costa até chegar em Acapulco em 25 de janeiro de 1614 depois de três meses no mar. Os japoneses foram recebidos com grande cerimônia, mas tiveram de esperar em Acapulco até receberem ordens sobre como organizar o restante das viagens.
Brigas explodiram entre os japoneses e os espanhóis, especialmente Vizcaino, aparentemente devido a algumas disputas no manuseio dos presentes mandados pelo líder japonês. Um jornal da época, escrito pelo historiador Chimalpahin Quauhtlehuanitzin, um nobre asteca nascido em Amecameca (antiga província de Chalco) em 1579, cujo nome formal era Domingo Francisco de San Anton Muñon, relatou que Vizcaino foi seriamente ferido na briga:
Seguindo essas brigas, ordens foram promulgadas em 4 e 5 de março para trazer a paz de volta. As ordens explicavam que:
A embaixada permaneceu por dois meses em Acapulco e entrou na Cidade do México em 24 de março, onde foi recebida com grande cerimônia. A última missão da embaixada era ir até a Europa. A embaixada passou algum tempo no México, e então foi para Veracruz para embarcar na frota de Don Antonio Oquendo.
Chimalpahin faz alguns relatos da visita de Hasekura.
Hasekura se instalou numa casa próxima à Igreja de São Francisco, e se encontrou com o Vice-Rei. Ele lhe explicou que também pretendia se encontrar com o Rei Filipe III para lhe oferecer paz e obter permissão para os japoneses fazerem comércio com o México. Na quarta-feira, 9 de abril, 20 japoneses foram batizados, e mais 22 em 20 de abril pelo arcebispo do México, Dom Juan Pérez de la Serna, na Igreja de São Francisco.[16] No total, 63 deles receberam a crisma em 25 de abril. Hasekura esperou por sua viagem para a Europa para ser batizado lá:
Chimalpahin explica que Hasekura deixou alguns dos seus compatriotas para trás antes de partir para a Europa:
A frota partiu para a Europa no San Jose em 10 de junho. Hasekura teve de deixar a maior parte do grupo japonês para trás, que deveria esperar em Acapulco pelo retorno da embaixada.
Alguns deles, assim como aqueles da viagem anterior de Tanaka Shosuke, voltaram para o Japão no mesmo ano, a bordo do San Juan Bautista:
A embaixada parou e trocou de navio em Havana, Cuba, em julho de 1614. A embaixada permaneceu em Havana por seis dias. Uma estátua de bronze foi erguida em 26 de abril de 2001 no topo da Baía de Havana.[20]
A frota chegou em Sanlucar de Barrameda em 5 de outubro de 1614.
A embaixada japonesa se encontrou com o Rei Filipe III em Madrid em 30 de janeiro de 1615.[23] Hasekura remeteu ao Rei a carta de Date Masamune, assim como a oferta para um tratado. O Rei respondeu que faria o possível para atendê-los.
Hasekura foi batizado em 17 de fevereiro pelo capelão pessoal do Rei e renomeado Felipe Francisco Hasekura. A cerimônia de batismo seria conduzida pelo Arcebispo de Toledo, mas ele estava doente demais para fazê-lo, e o Duque de Lerma – o principal administrador do governo de Filipe III e líder de facto da Espanha – foi designado como padrinho de Hasekura
A embaixada passou oito meses na Espanha antes de partir para a Itália.
Depois de viajar pela Espanha, a embaixada navegou no Mediterrâneo a bordo de três fragatas espanholas rumo à Itália. Devido ao mau tempo, tiveram de parar por alguns dias no porto francês de Saint-Tropez, onde foram recebidos pela nobreza local e causaram um tanto de sensação na população.
A visita da embaixada do Japão está registrada nas crônicas da cidade como liderada por "Felipe Francisco Faxicura, Embaixador para o Papa, de Date Masamunni, Rei de Woxu no Japão".
Diversos detalhes pitorescos de seus movimentos foram registrados:
A visita de Hasekura Tsunenaga a Saint-Tropez em 1615 é o primeiro registro de Relações França-Japão.
A embaixada do Japão foi para a Itália, onde poderia se encontrar com o Papa Paulo V em Roma em Novembro de 1615, o mesmo ano em que Galileu Galilei se confrontou pela primeira vez com a Inquisição romana por suas descobertas contra o geocentrismo. Hasekura remeteu ao papa duas cartas em letras douradas, uma em japonês em uma em latim, contendo um pedido para um tratado comercial entre Japão e México e o envio de missionários cristãos ao Japão. Essas cartas ainda são visíveis nos arquivos do Vaticano. A carta em latim, provavelmente escrita por Luis Sotelo para Date Masamune, contém, em parte:
O Papa concordou com o envio de missionários, mas deixou a decisão do comércio para o Rei da Espanha.
O senado romano também deu a Hasekura o título honorário de cidadão romano, em um documento que ele trouxe de volta para o Japão e está preservado até hoje em Sendai.
Sotelo também descreveu a visita ao Papa, livro De ecclesiae Iaponicae statu relatio (publicado postumamente em 1634):
Apesar da descrição oficial da visita de Hasekura a Roma, alguns comunicados da época tendiam a indicar que matérias políticas também foram discutidas, e que uma aliança com Date Masamune foi sugerida como uma forma de estabelecer a influência cristã em todo o Japão:
Pela segunda vez na Espanha, Hasekura se encontrou novamente com o Rei, que não quis assinar um acordo comercial, pois a embaixada do Japão não pareceria ser uma embaixada oficial do líder supremo do Japão, Tokugawa Ieyasu, que, ao contrário, promulgara um edito em janeiro de 1614 ordenando a expulsão de todos os missionários do Japão e começou a perseguição da fé cristã no Japão.
A embaixada deixou Sevilha para o México em junho de 1617 depois de um período de dois anos na Europa, mas alguns dos japoneses ficaram na Espanha em uma cidade próxima a Sevilha (Coria del Río), onde seus descendentes até hoje usam o sobrenome Japón.
A embaixada de Hasekura Tsunenaga foi sujeito de numerosas publicações na Europa. O escritor italiano Scipione Amati, que acompanhou a embaixada em 1615 e 1616, publicou em 1615 em Rome o livro "História do Reino de Voxu". Esse livro também foi traduzido em alemão em 1617. Em 1616, o publicador francês Abraham Savgrain publicou um relato da visita de Hasekura a Roma: "Récit de l'entrée solemnelle et remarquable faite à Rome, par Dom Philippe Francois Faxicura" ("Relato da solene e marcante entrada em Roma de Dom Philippe Francois Faxicura").
Hasekura ficou por 5 meses no México em seu caminho de volta para o Japão. O San Juan Bautista estava esperando em Acapulco desde 1616, depois de uma segunda viagem pelo Pacífico do Japão para o México. Capitaneado por Yokozawa Shōgen, estava carregado de pimenta fina e laca de Kyoto, que foram vendidos no mercado mexicano. Seguindo um pedido do rei espanhol, para evitar a saída de muita prata para o Japão, o Vice-Rei pediu que a receita fosse gasta em produtos mexicanos, exceto por uma quantia de 12000 e 8000 pesos em prata que Hasekura e Yokozawa respectivamente poderiam levar com eles.
Em abril de 1618, o San Juan Bautista chegou nas Filipinas do México, com Hasekura e Luis Sotelo a bordo. O navio foi adquirido pelo governo espanhol lá, com o objetivo de construir defesas contra os ataques dos holandeses e dos ingleses. O bispo das Filipinas, com os filipinos locais e os nativos Tagalog em Manila, descreveu o negócio com o Rei da Espanha em uma missiva datada de 28 de julho de 1619:
Durante sua estada nas Filipinas com os filipinos locais e os nativos Tagalog, Hasekura comprou vários bens para Date Masamune, e construiu uma embarcação, como ele explicou em uma carta ao seu filho. Ele finalmente retornou ao Japão em agosto de 1620, alcançando o porto de Nagasaki.[27]
Quando Hasekura voltou, o Japão mudara drasticamente: esforçava-se para erradicar o cristianismo desde 1614, Tokugawa Ieyasu faleceu em 1616 e foi substituído pelo seu filho mais xenófobo Tokugawa Hidetada, e o Japão caminhava rumo à política "Sakoku" de isolamento. Por essas noticias de perseguições terem chegado à Europa durante a embaixada de Hasekura, líderes europeus – especialmente o Rei da Espanha – ficou muito relutante em atender às propostas comerciais e missionárias de Hasekura.
Hasekura reportou suas viagens para Date Masamune com a sua chegada em Sendai. Foi registrado que ele mandou um retrato do Papa Paulo V, um retrato dele mesmo em oração (mostrado acima), e um conjunto de adagas cingalesas e Indonésias adquiridas nas Filipinas, todas preservadas hoje no Museu da Cidade de Sendai. Os "Registros da Casa de Masamune" descrevem seu relato de maneira sucinta, terminando com uma expressão crítica de surpresa misturada ao ultraje ("奇怪最多シ") sobre o discurso de Hasekura:
O efeito direto do retorno de Hasekura a Sendai foi a interdição do cristianismo no feudo de Sendai dois dias depois:
O que Hasekura disse ou fez sobre esse resultado é desconhecido. Como eventos posteriores tendem a indicar que ele e seus descendentes permaneceram fiéis ao cristianismo, Hasekura ode ter feito um relato entusiástico – e a um certo nível, fantástico – da grandeza e poder dos países ocidentais e da religião cristã. Ele também pode ter encorajado uma aliança entre a Igreja e Date Masamune para dominar o país (uma ideia advertida pelos franciscanos ainda em Roma), que, no Japão de 1620, seria uma proposição totalmente irreal. Por último, esperanças de comércio com a Espanha evaporaram quando Hasekura comunicou que o rei espanhol não faria nenhum acordo enquanto acontecessem perseguições no restante do país.
Date Masamune, bem tolerante ao cristianismo, a despeito da proibição direta do Bakufu, nas suas terras controladas, assim decidiu subitamente se afastar da fé cristã. As primeiras execuções de cristãos começaram 40 dias depois. As medidas anticristãs tomadas por Date Masumune eram contudo comparavelmente brandas, e cristãos japoneses e ocidentais repetidamente diziam que ele só o fazia para agradar o xogun:
Um mês após o retorno de Hasekura, Date Masamune escreveu uma carta ao xogun Tokugawa Hidetada, na qual ele se esforça em afastar a sua responsabilidade pela embaixada, explicando em detalhes como ela foi organizada com a aprovação, e até a colaboração, do xogun:
A Espanha era de longe a força mais ameaçadora para o Japão naquela época (com uma colônia e um exército nas vizinhas Filipinas). Hasekura viu relatos do poder espanhol e dos métodos coloniais na Nueva España (México) que podem ter ensejado a decisão do xogun Tokugawa Hidetada de cortar relações comerciais com a Espanha em 1623, e relações diplomáticas em 1624, apesar de outros eventos como o contrabando de padres espanhóis para o Japão e uma embaixada espanhola malsucedida terem contribuído para a decisão.
Não se sabe o que aconteceu com Hasekura e relatos dos seus últimos anos são numerosos. Comentadores cristãos da época só tinham como fonte aquilo que ouviam a respeito, com alguns rumores afirmando que ele abandonou o cristianismo, outros que ele foi martirizado por sua fé, outros que ele praticava o cristianismo em segredo. O destino dos seus descendentes e servos, que mais tarde seriam executados por serem cristãos, sugere que Hasekura permaneceu fortemente cristão e transmitiu sua fé aos membros da família.
Sotelo, que retornou ao Japão, mas foi capturado e então queimado na fogueira em 1624, deu antes de sua execução um relato de Hasekura voltando ao Japão como um herói que propagou a fé cristã:
Hasekura também trouxe ao Japão alguns artefatos católicos, mas ele não os deu ao seu senhor, e em vez disso os manteve em suas próprias terras.
Hasekura Tsunenaga morreu doente (segundo fontes japonesas e cristãs) em 1622, mas não se sabe com certeza a localização do seu túmulo. Três túmulos afirmam ser de Hasekura. Um, é visível no templo budista de Enfukuji (円長山円福寺) em Miyagi. Outro está claramente marcado (junto com um memorial ao Padre Sotelo) no cemitério de um templo budista na vizinhança de Kitayama, no Templo Komyoji (光明寺).
Hasekura tinha um filho, chamado Rokuemon Tsuneyori. Dois dos servos do seu filho, Yogoemon (与五右衛門) e sua mulher, foram condenados por serem cristãos, mas se recusaram a renegar a fé sob tortura (forca reversa, chamada "Tsurushi", 釣殺し) e por isso foram mortos em agosto de 1637 (como a vida dos cristãos que abjurassem a fé era poupada, essas execuções indicam que eles eram fiéis e se recusaram a negar a sua fé). Em 1637, o próprio Rokuemon Tsuneyori foi suspeito de cristianismo depois de ter sido denunciado por alguém de Edo, mas escapou por ter sido mestre do templo Zen de Komyoji (光明寺). Em 1640, dois outros servos de Tsuneyori, Tarozaemon (太郎左衛門, 71), que seguira Hasekura em Roma, e sua mulher (59), foram condenados por serem cristãos, e, também se recusando a renunciar à sua fé sob tortura, foram mortos. Tsuneyori foi responsabilizado desta vez e decapitado no mesmo dia, aos 42 anos, por ter falhado em denunciar cristãos sob o seu teto, apesar de nunca ter se confirmado se ele mesmo era cristão ou não.[31] E também dois padres cristãos, os dominicanos Pedro Vazquez e Joan Bautista Paulo, deram seu nome sob tortura. O irmão menor de Tsuneyori, Tsunemichi, foi condenado como cristão, mas conseguiu fugir e desaparecer.[31]
Os privilégios da família Hasekura foram abolidos a esse ponto pelo feudo de Sendai, e sua propriedade e posses foram apreendidas. Foi nessa época, em 1640, que os artefatos cristãos de Hasekura foram confiscados, e mantidos sob custódia em Sendai até serem redescobertos no final do século XIX.
No total, mais ou menos cinquenta artefatos cristãos foram encontrados na propriedade de Hasekura em 1640, como cruzes, rosários, trajes religiosos e pinturas religiosas. Os artefatos foram apreendidos e guardados no feudo de Date. Um inventário foi feito novamente em 1840 descrevendo os itens como pertencentes a Hasekura Tsunenaga. Dezenove livros também foram mencionados no inventário, mas eles se perderam. Os artefatos estão hoje preservados no Museu da Cidade de Sendai e outros museus em Sendai.
A existência das viagens de Hasekura foi esquecida no Japão até a reabertura do país após a política Sakoku de isolamento. Em 1873, uma embaixada japonesa rumo à Europa (a Missão Iwakura) chefiada por Iwakura Tomomi ouviu falar pela primeira vez das viagens de Hasekura quando foram mostrados documentos da Sereníssima República, durante a sua visita a Veneza, na Itália,[2][32] Por iniciativa do imperador Meiji, a missão de Hasekura tornou-se pública e foi publicado no 12° volume do Dai Nihon Shiryô, em 1909.[2]
Hoje há estátuas de Hasekura Tsunenaga nos arredores de Acapulco no México, na entrada da baía de Havana em Cuba,[33] Em Coria del Río na Espanha,[34] na Igreja de Civitavecchia na Itália, e em Tsukinoura, perto de Ishinomaki.[35]
Aproximadamente 700 habitantes de Coria del Río usam o sobrenome Japón (originalmenteHasekura de Japón), identificando-os como descendentes dos membros da delegação de Hasekura Tsunenaga.[36]
Um parque temático descrevendo a embaixada e apresentando uma réplica do San Juan Bautista foi construído no porto de Ishinomaki, de onde Hasekura inicialmente partiu em sua viagem.
Hoje há também uma estátua de Hasekura num parque em Manila, nas Filipinas.
Shusaku Endo escreveu um romance em 1980, intitulado O Samurai, que relata as viagens de Hasekura.
Um filme animado de 2005 produzido na Espanha intitulado Gisaku relata as aventuras de um jovem samurai japonês chamado Yohei que visitou a Espanha no século XVII, numa história levemente inspirada nas viagens de Hasekura. Yohei sobrevive se escondendo até os dias de hoje graças a poderes mágicos ("Depois de séculos de letargia, ele acorda em um mundo que não conhece"), e segue em várias aventuras na Europa atual como um super herói.[37]
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