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A Ermida de Nossa Senhora dos Anjos localiza-se no lugar dos Anjos, na freguesia de Vila do Porto, concelho de Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, nos Açores.
Embora não se saiba positivamente a invocação e nem o local do primeiro templo levantado em Santa Maria pelos primeiros colonizadores, o estudo da difusão do povoamento nas primeiras décadas e a comparação com as primeiras narrativas sobre esse povoamento, permitem aceitar que a Ermida dos Anjos tenha sido esse templo.[1] Será, assim, a mais antiga da ilha e do arquipélago açoriano.
Erguida ainda em 1439, primitivamente em madeira com cobertura de palha, foi reerguida em alvenaria de pedra entre 1460 e 1474.
É referida no testamento do Infante D. Henrique: "Item ordenei e estabeleci (...) a igreja de santa Maria na ilha de santa Maria."[2]
Nela terão cumprido o voto de ouvir missa em Ação de Graças, em 19 de fevereiro de 1493 os marinheiros de Cristóvão Colombo no regresso da viagem de descobrimento da América.[3]
Encontra-se indicada no "Mapa dos Açores" (Luís Teixeira, c. 1584) como "Perochia de S. Siria", e, em mapas posteriores nele baseados, a toponímia "Parochia de Santa Eria". Uma possível explicação ligará a devoção a Santa Iria, natural de Tomar, à Ordem de Cristo, que nessa cidade tinha a sua sede, chefiada pelo Infante D. Henrique com o título de "Regedor e Governador da Ordem de Cavalaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Cristo". À Ordem pertencia também Gonçalo Velho Cabral, primeiro capitão do donatário.
A principal fonte sobre a ermida é um documento de autoria do padre Francisco da Cunha Prestes, licenciado no Curso Geral de Teologia na Universidade de Évora de 1650 a 1653,[4] vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto,[5] o manuscrito "Livro da Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos e Escravos da Cadeinha" (1676) que pertencia ao arquivo da Matriz de Vila do Porto:
A referida Dona Beatriz (Brites) Godin faleceu por volta de 1492-1493, época em que se encontrava com o marido no Continente, e em que Cristóvão Colombo enviou os seus marinheiros a terra para assistir missa em fevereiro de 1493.
O pesquisador Miguel Corte-Real levanta a dúvida se Tomé Afonso e sua esposa Isabel Gonçalves seriam ou não os primitivos fundadores, se apenas reedificadores, ou mesmo apenas padroeiros mais modernos da ermida.[7] Conforme a sua pesquisa, de acordo com um documento na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, no espólio Velho Arruda, é referido um Tomé Afonso, casado com Isabel Gonçalves, que, por volta de 1560 deixaram ambos parte de seus bens para a conservação da ermida.[8]
Quando do assalto de piratas da Barbária em 1616, que se demoraram oito dias na ilha e dela levaram 222 pessoas,[9] as suas reduzidas dimensões e despojamento terão feito com que passasse despercebida, fato que Frei Agostinho de Monte Alverne, em fins do século XVII, credita a um milagre da Virgem:
Foi reconstruída, com nova traça, de 1673-1674 a 1676. Em maio de 1675 procedeu-se à abertura do "caminho que vai pela rocha acima e o fizeram por sua devoção os devotos da Senhora pela dificuldade que havia para poderem descer à ermida" e que "em Setembro do mesmo ano se faz o calvário ou cruzeiro que está no cimo da rocha",[11] junto ao Caminho Velho.[12] A iniciativa da reconstrução deve-se a Frei Gonçalo de São José, que veio para o Convento de Nossa Senhora da Vitória em 1668-1669, sendo o principal obreiro da Irmandade dos Escravos da Cadeinha, confirmada em 1675 pelo Bispo de Angra, D. Frei Lourenço de Castro.[13] Esta criação, em caráter devotivo, terá tido lugar após o ataque dos piratas de 1675.
Em 1826 era seu padroeiro o morgado Luís de Figueiredo Velho Melo Falcão.[14] Ao final do século XIX sofreu obras que a restauraram (1893), conferindo-lhe a atual feição.
Júlio Cabral testemunha ter visto nesta ermida um missal "(...) velho mas bem conservado, que também se diz ser o mais antigo dos Açores (...)", mas cujo paradeiro, à época (1903), desconhecia. Do mesmo modo, com relação ao chicote com que os piratas terão fustigado os habitantes, o mesmo autor refere: "que existiu junto da Sacra, onde o vi, mas há anos desapareceu, supondo-se que foi destruído pelos devotos!"[15]
Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público pela Resolução nº 58, de 17 de maio de 2001.
A festa da padroeira ocorre, anualmente, a 21 de agosto.
Constituem o espólio desta ermida:
No seu interior encontram-se um açoite e uma inscrição alusiva aos ataques de piratas mouros em 1616 e em 1675, que reza:
Na Igreja Matriz de Vila do Porto encontra-se depositada a primitiva imagem de Nossa Senhora dos Anjos desta ermida, possívelmente também a primeira a chegar à ilha.[18]
Encontra-se implantada num adro murado. Em alvenaria de pedra rebocada e caiada, apresenta planta rectangular, com o corpo da sacristia adossado à fachada lateral esquerda. A fachada principal é delimitada por cunhais encimados por pináculos. Nela rasga-se a portada, de verga recta, encimada por uma janela de guilhotina de duas folhas.
Em cada uma das fachadas laterais rasga-se uma porta rematada em arco. Sobre a da fachada lateral direita encontra-se uma inscrição epigráfica que reza: "RECTIFICADA / EM / 1893".
No interior, de nave única, ergue-se um altar com um frontal de azulejos polícromos e um púlpito em madeira torneada. A entrada é encimada por um coro-alto. No altar-mor destacam-se uma imagem de Nossa Senhora dos Anjos e um tríptico quinhentista.
O telhado é de duas águas, com telha de meia-cana tradicional, rematado por beiral duplo.
Diante da ermida, isolada sobre o canto direito do murete do adro, ergue-se um campanário em alvenaria de pedra, com vão rematado em arco de volta perfeita sobre impostas, tendo junto à base uma inscrição hoje ilegível. Vizinho a ele ergue-se um idoso espécime de araucária.
No exterior, nos fundos, adossa-se um "theatro", de planta rectangular delimitado por um murete com uma abertura a eixo, no qual assentam colunas de secção quadrangular (definindo três vãos na fachada principal e um em cada uma das laterais) que sustentam uma cobertura de três águas, em telha de meia-cana tradicional, rematada por beiral duplo.
A tradição local registra uma interessante lenda acerca da construção da ermida e do cruzeiro no alto da penedia que a domina[19]:
Ainda no século XVI, os habitantes tinham uma grande vontade de erguer um templo nos Anjos, local onde Gonçalo Velho e seus marinheiros tinham desembarcado e rezado a primeira missa na ilha (e nos Açores).
Resolveram por fim, construir a ermida dos Anjos. A população entendia que o melhor sítio era o lugar mais baixo, onde hoje se ergue. Os responsáveis pela obra, entretanto, sem atender à vontade popular, principiaram a juntar a pedra no cimo da rocha. Começou a perceber-se, a partir de então, um fato misterioso: as pedras depositadas no alto pelos trabalhadores durante o dia, na manhã seguinte, sem que se soubesse como, apareciam embaixo.
Perturbados com o fenómeno inexplicável, o mestre da obra e os trabalhadores passaram a acusar a população de acarretar a pedra, durante a noite, para o lugar onde queriam a ermida. E insistiram no trabalho no cimo da rocha. Com o passar dos dias, e a repetição do fenómeno, aumentaram as acusações, mas nada se provava.
Numa certa noite, ao passar pelo local um pescador, surpreendeu-se com um movimento estranho. Deparou-se então com as pedras, que se moviam sózinhas em direcção ao lugar de baixo. Assustado, correu a contar o que vira ao mestre da obra que, junto com os trabalhadores, o ridicularizaram, propondo-se a voltar juntos, de noite, ao local.
Dito e feito, de noite puseram-se todos à espreita quando, de súbito, as pedras começaram a rolar, seguindo a imagem de Nossa Senhora.
Acabadas de uma vez por todas as dúvidas, a ermida foi erguida no lugar assinalado pela Senhora, e que fora originalmente escolhido pela população. Quanto ao local projetado da construção, para assinalá-lo e recordar o milagre, foi erguida uma grande cruz de pedra, que lá se encontra até aos nossos dias.
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