Ensino médio no Brasil
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O ensino médio no Brasil (antigamente chamado de ensino de segundo grau) corresponde desde 1996 à última fase da educação básica, cuja finalidade é o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, bem como a formação do cidadão para etapas posteriores da vida.[1] A Lei nº 9394, de 31 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), estabelece sua regulamentação específica e a composição curricular mínima obrigatória. As Diretrizes Curriculares Nacionais DCNEM - Resolução CNE/CEB 2/2024, regulamentam esta oferta, com diretrizes operacionais.
Os estudantes devem ter concluído o ensino fundamental antes de serem autorizados a inscrever-se no ensino médio que dura, no mínimo, 3.000 horas de aula ao longo de três anos.
Política Nacional de Ensino Médio
A Política Nacional do Ensino Médio[2] foi instituída em 31 de julho 2024 com a sanção do Presidente Lula da lei 14.945/2024[3] e com a posterior regulamentação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM - Resolução CNE/CEB 2/2024)[4] pelo Conselho Nacional de Educação em novembro de 2024.
A lei alterou elementos da reforma educacional de 2017, e buscou tornar a educação mais relevante e atrativa para os jovens, assim como reduzir a evasão escolar. A reestruturação resultou de uma ampla consulta realizada em 2023 e propões a retomada dos componentes curriculares obrigatórias, valorizando os conhecimentos dos diferentes áreas e fortalecendo as aprendizagens, de modo a fomentar uma formação integral sólida para todos os estudantes .
Estrutura Curricular
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Perspectiva
O ensino médio regular no Brasil é dividido em 3 séries anuais e tem carga horária mínima de 3.000 horas, divididas em duas partes[3]:
1) Formação Geral Básica (FGB): Base comum obrigatória para todos os estudantes, alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) organizada por quatro áreas do conhecimento e componentes curriculares:
- Linguagens: Língua Portuguesa, Inglês, Artes e Educação Física.
- Matemática.
- Ciências da Natureza: Biologia, Física e Química.
- Ciências Humanas: Filosofia, Geografia, História e Sociologia.
Escolas podem incluir componentes adicionais, como Espanhol, projetos ou trabalharem a área do conhecimento como um componente interdisciplinar. Os 12 componentes curriculares, porém, são obrigatórios e devem estar presentes pelo menos em 1 uma das séries do ensino médio.
2) Itinerários Formativos (IF): Oferecem trajetórias flexíveis de escolha do estudante, com dois tipos de itinerários:
- Itinerários Formativos Aprofundamento (IFA): Cursos de 600 horas mínimas, focados em uma ou mais áreas do conhecimento, incluindo projetos interdisciplinares, alinhados aos Parâmetros Nacionais de Oferta dos Itinerários Formativos (PNIFA).
- Itinerários de Formação Técnica e Profissional (IFTP): Cursos técnicos (800 horas mínimas) ou qualificações profissionais (600 horas), com certificação reconhecida pelo Catálogo Nacional de Cursos.
Tipo de itinerário formativo (IF) | Carga horáfia da FGB | Carga horária do IF | Ddocumentos norteadores |
---|---|---|---|
Itinerário Formativo de Aprofundamento (IFA) | Mínimo de 2.400 horas | Mínimo de 600 horas | Parâmetros Nacionais para Oferta dos Itinerários Formativos de Aprofundamento (PN-IFA)[6] |
Itinerários de Formação Técnica e Profissional (IFTP) | Mínimo de:
|
Mínimo de 600 horas a 1.200 horas, dependendo do curso ofertado. |
|
Itinerários Formativos de Aprofundamento (IFA)
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Perspectiva
Os Itinerários Formativos de Aprofundamento são percursos educacionais, de no mínimo 600 horas, que oportunizem aos estudantes aprofundamento e ampliação de suas aprendizagens em uma ou em mais das quatro áreas do conhecimento (Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Linguagens e suas tecnologias), alinhados aos seus interesses e aos projetos de vida, garantindo uma formação integral e integrada, conforme indicado no item XVIII do art. 5º da RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2/2024.[7]
XVIII - Itinerários Formativos de Aprofundamento:
a) percursos educacionais estruturados, de livre escolha dos estudantes, que permitem aos educandos o aprofundamento de suas aprendizagens e de seu desenvolvimento em uma ou em mais áreas do conhecimento; e
b) realiza-se por meio da oferta de projetos interdisciplinares e integradores, organizados com ênfase nos componentes curriculares que compõem a(s) área(s) de conhecimento eleitas, de modo a ampliar o diálogo entre as dimensões teóricas e práticas dos conteúdos, a consideração e valorização da diversidade territorial e cultural do Brasil e as escolhas estabelecidas na proposta pedagógica de cada unidade escolar.
§ 1º Os projetos integradores desenvolvidos nos Itinerários Formativos de Aprofundamento devem promover o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências previstos nos parâmetros nacionais para a oferta dos itinerários formativos e proporcionar aos estudantes a oportunidade de consolidar e aprofundar seus conhecimentos, habilidades e práticas de forma integrada e contextualizada e, da mesma forma, integrar todas as dimensões da vida no processo formativo, mediante a oportunidade trabalho com temas transversais.
A organização dos Itinerários Formativos de Aprofundamento deve possibilitar a integração interdisciplinar e interáreas, fomentada pela utilização de estratégias pedagógicas diversificadas respeitando as diversas formas de aprender, a equidade nos direitos de aprendizagem, garantindo que todos aprendam e tenham oportunidades iguais em seu processo de escolha em relação à vida acadêmica e ao ingresso no mundo do trabalho.[8]
Por isso, a diretriz dos itinerários visa assegurar uma trajetória formativa coerente e progressiva, com início, meio e fim bem definidos, um perfil de egresso claro e uma intencionalidade pedagógica direcionada. Além disso, garante o tempo pedagógico necessário (mínimo de 600 horas) para que os estudantes desenvolvam essas competências mais complexas de forma aprofundada, integrada e alinhada aos desafios contemporâneos.
As redes de ensino tem autonomia para elaborar a estrutura curricular de seus itinerários, os temas a serem abordados e sua organização em componentes, devendo garantir as premissas dos PN-IFA e os seguintes elementos centrais:
- Permitem o aprofundamento dos estudos nas áreas do conhecimento, ampliando e robustecendo o acesso ao conhecimento dos diferentes componentes curriculares.[8]
- Atingem os objetivos de aprendizagem descritos na forma de competências e das habilidades do PN-IFA das áreas selecionadas.[6]
- Engajam os estudantes, promovendo escolhas e projeção de interesses em ofertas curriculares nas áreas do conhecimento, mobilizando autoconhecimento, pertencimento e diálogos com seus projetos de vida.[9]
- Ampliam as situações de aprendizagem e projetos vivenciados ativamente pelos estudantes e, com isso, concorrendo para o desenvolvimento das 10 competências gerais previstas na BNCC, nos contextos das áreas e de suas articulações.[10]
- Convidam os estudantes a conectar experiências concretas e ativas de aprendizagem a seus projetos de vida e de transformação de seu entorno social.[8]
Eixos Estruturantes dos Itinerários Formativos de Aprofundamento [11]
Os IFAs devem sempre considerar o trabalho com todos os quatro eixos estruturantes de forma a garantir o desenvolvimento integral das competências e habilidades das áreas de conhecimento escolhidas para o aprofundamento, são eles:
I - investigação científica: tem por objetivo promover a investigação científica e a compreensão dos processos, práticas e métodos próprios das diferentes ciências para a identificação, compreensão e análise de fenômenos naturais, sociais, culturais, históricos e linguísticos. Organiza-se para assegurar, nos diferentes itinerários, o desenvolvimento de habilidades como a formulação e verificação de hipóteses, a análise de dados, a comunicação ética de resultados e fatos relacionados as ciências e a reflexão a respeito de como os processos próprios da ciência e da tecnologia se relacionam com as diferentes dimensões da vida social, no presente e no passado. Pressupõe a valorização e mobilização dos diferentes saberes e conhecimentos, das diferentes linguagens e dos recursos tecnológicos disponíveis.
II - mediação e intervenção sociocultural: tem como objetivo promover a mediação como ferramenta eficaz na resolução de conflitos, além de fomentar a construção, tanto individual quanto coletiva, de iniciativas de intervenção social que contribuam para a transformação das realidades local, regional, nacional e global. Para isso, propõe a análise da produção cultural, das dinâmicas dos movimentos sociais e das desigualdades históricas e estruturais que impactam diferentes grupos. Organiza-se para assegurar, nos diferentes itinerários, o desenvolvimento de habilidades como a compreensão das relações entre as diferentes dimensões da vida social, os processos de mudança e permanência de estruturas econômicas, instituições políticas, valores e práticas culturais que se manifestam nas sociedades, a presença e a participação dos diferentes grupos sociais na produção e transformação da vida comum, com a utilização de diferentes linguagens e estratégias de comunicação, mobilização social e participação cidadã. Pressupõe a valorização e mobilização dos diferentes saberes e conhecimentos, das diferentes linguagens e dos recursos tecnológicos disponíveis.
III - processos criativos: tem por objetivo promover processos de criação individual e coletiva de inovações para a resolução de desafios presentes nos diversos contextos da vida social em escala local, regional, nacional e global. Organiza-se para assegurar, nos diferentes itinerários, o desenvolvimento de habilidades relacionadas a busca, estruturação, relacionamento e interpretação de informações e dados de diferentes naturezas com o objetivo de compreender e analisar problemas complexos do cotidiano , construindo e avaliando diferentes tecnologias para a mitigação ou superação desses problemas considerando critérios éticos, legais, políticos, econômicos, socioculturais e ambientais. Pressupõe a valorização e mobilização dos diferentes saberes e conhecimentos, das diferentes linguagens e dos recursos tecnológicos disponíveis.
IV - empreendedorismo: tem por objetivo promover ações que auxiliem no desenvolvimento dos jovens enquanto agentes sociais, políticos, profissionais e culturais promovendo seu protagonismo e contribuindo para o planejamento de projetos de vida éticos e conscientes, alinhados as aspirações pessoais, ao bem-estar coletivo, à transformação social e o mundo do trabalho. Organiza-se para assegurar, nos diferentes itinerários, o desenvolvimento de habilidades como a elaboração de objetivos e metas pessoais, acadêmicas e profissionais, analises críticas das dinâmicas do trabalho e da economia, participação ativa na construção de práticas, produtos e serviços, que contribuam para a transformação social, buscando sempre a promoção da acessibilidade, do respeito a diversidade e as relações inclusivas no mundo do trabalho. Pressupõe a mobilização e valorização dos diferentes saberes e conhecimentos, das diferentes linguagens e a utilização dos recursos tecnológicos disponíveis.
Componentes Curriculares Eletivos (CCE)
As DCNEM de 2024 colocam os Componentes Curriculares Eletivos (CCE) como uma categoria, diferente dos itinerários, com o intuito de que sejam utilizadas como estratégia para a ampliação de carga horária do Ensino Médio para além das 3.000 horas e com regras próprias de implementação:
Art. 15. Na oferta do Ensino Médio com carga horária superior a 3.000 (três mil) horas, respeitadas as cargas horárias definidas em lei para a Formação Geral Básica e para os Itinerários Formativos, os sistemas de ensino poderão ofertar componentes curriculares eletivos para a escolha dos estudantes.
Estes componentes diferem-se dos itinerários pois normalmente tem menos de 600 horas, e são de adesão facultativa dos estudantes.
Projeto de Vida
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Perspectiva
A estratégia curricular do Projeto de Vida visa auxiliar os estudantes na escolha de seus itinerários formativo e na definição de metas pessoais e profissionais devendo estar presente ao longo de todo o Ensino Médio. No início do ensino médio deve focar em apoiar aos estudantes na identificação de seus interesses, inclinações e objetivos e apoiar na escolha do itinerário formativo e no final oferecer orientação e apoio para a identificação das diferentes oportunidades e possibilidades de progressão de estudos no Ensino Superior e de integração ao mundo do trabalho.
Promovendo, de acordo com o Art.12 das DCNEM:[9]
I - na reflexão coletiva e individual sobre:
a) os desafios e dilemas do mundo contemporâneo e suas implicações para o presente e o futuro das juventudes;
b) sua história de vida pessoal, familiar e comunitária e como esta história de vida se relaciona com suas características pessoais, suas inclinações, hábitos, desejos e talentos;
c) sua participação em grupos, coletivos, turmas e a relação dessa participação com as suas formas de estar e se movimentar no mundo; e
d) suas escolhas e projetos para o futuro, numa perspectiva integrada, considerando dimensões da vida pessoal, familiar, comunitária e profissional, construindo a consciência que todo Projeto de Vida somente se realiza numa dimensão coletiva.
II - na construção de proposições e de ações e intervenções individuais e coletivas no mundo, considerando:
a) a escolha de seu itinerário formativo
b) sua transição para a vida adulta e para o mundo do trabalho;
c) sua motivação, autonomia e disposição de progredir diante de desafios, desenvolvendo sua capacidade de definir seus objetivos e metas pessoais e mobilizar as estratégias necessárias para alcançá-las;
d) seu engajamento na vida comunitária e social e sua participação na transformação e melhoria contínua da vida comum;
e) sua participação cidadã e política, considerando os parâmetros democráticos que estruturam a sociedade brasileira; e
f) sua realização plena como pessoa.
Ensino Noturno
Adaptado para estudantes trabalhadores, o ensino médio noturno permite carga horária flexível (até mais de três anos) e uso de tecnologia educacional, com aulas síncronas mediadas por professores presenciais.
Implementação
As redes estaduais têm até 2026 para ajustar seus currículos. O MEC deve definir Parâmetros Nacionais de Oferta dos Itinerários Formativos (PNIFA) até março de 2025, enquanto o INEP deverá reformular o SAEB até 2017 e o ENEM até 2028.[12]
Histórico do Ensino Médio
A grade curricular do ensino médio compreendia, anteriormente à 2017, 2.200 horas com disciplinas de português (incluindo o idioma português e as literaturas portuguesa e brasileira), língua estrangeira (geralmente inglês e uma língua opcional),[13] história, geografia, arte, matemática, física, química, educação física e biologia. Filosofia e sociologia, que foram proibidos durante a ditadura militar (1964-1985), tornaram-se obrigatórios.
Até 1967, o ensino médio era dividido em três cursos e compreendia o curso científico, o curso clássico e o curso normal. Na sequência, resolveu-se mudá-lo e passar a chamá-lo de curso colegial, também dividido, sendo que os três primeiros anos eram iguais para todos e, posteriormente, quem quisesse fazer o antigo Normal e o Clássico tinha de fazer mais um ano.
Em 2017 foi introduzido o Novo Ensino Médio pela lei federal 13 415 de 2017, ela visou ampliar a carga horária para 3.000 horas e flexibilizar as disciplinas com a introdução de uma estrutura de formação geral básica por 'áreas do conhecimento' e componentes optativos de escolha do estudante chamados de 'itinerário formativos'.[14]
Resultados
Segundo o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)[15] de 2013, cujo resultado foi divulgado em setembro de 2014, o ensino médio no Brasil atingiu nota 3,7, abaixo da meta do Governo do Brasil e da média dos países desenvolvidos (6,0). A taxa de reprovação e abandono beira os 30% no 1º ano. 1,7 milhão de jovens entre 15 a 17 anos – correspondente à faixa etária regular do ensino médio – estão fora da escola.[16][17][18]
Ver também
Referências
- Como lidar com a etapa final da formação: http://educarparacrescer.abril.com.br/listas/ensino-medio-691727.shtml
- «Política Nacional de Ensino Médio». Ministério da Educação. Consultado em 28 de fevereiro de 2025
- «Wayback Machine». portal.mec.gov.br. Consultado em 28 de fevereiro de 2025. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2024
- BRASIL (2024). RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2024. Brasília: Conselho Nacional de Educação. p. 9
- BRASIL (2014). RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2024. Brasília: Conselho Nacional de Educação. p. 12
- BRASIL (2024). RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2024. Brasília: [s.n.] p. 5
- BRASIL (2024). RESOLUÇÃO CNE/ CEB Nº 2, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2024. Brasília: [s.n.] p. 13
- BRASIL (2024). RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2024. Brasília: Conselho Nacional de Educação. pp. 8–9
- BRASIL (2017). Base Nacional Comum Curricular (PDF). Brasília: [s.n.] p. 9
- BRASIL (2017). Base Nacional Comum Curricular (PDF). Brasília: Ministério da Educação. p. 478
- «Wayback Machine». portal.mec.gov.br. Consultado em 28 de fevereiro de 2025. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2024
- JÔNATAS DIAS LIMA (5 de setembro de 2014). «Ideb 2013: Ensino médio piora em 16 estados e fica abaixo da meta prevista pelo governo». Jornal Gazeta do Povo. Consultado em 24 de setembro de 2014
- MAURI KÖNIG E BRUNA KOMARCHESQUI (1 de julho de 2014). «Educação: Exclusão na pré-escola afeta também o ensino médio». Jornal Gazeta do Povo. Consultado em 24 de setembro de 2014
- JACIR J. VENTURI (11 de setembro de 2014). «O ensino médio continua ruim, mas pode melhorar». Jornal Gazeta do Povo. Consultado em 24 de setembro de 2014
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