O dialeto nordestino possui em si muitas características peculiares, tais como:
Fonética
Consoantes
- Pronúncia e palatalização de /s/ final e entre consonantes: Como na maioria dos dialetos, a grafia e a pronúncia divergem bastante. No caso desse dialeto isso pode ser notado na pronúncia do /s/ e do /z/, que em palavras antes de certas consoantes é pronunciado como /ʃ/ e /ʒ/, mas em outras como é realmente escrita. De modo geral, a palatalização de fricativas, nesses subdialetos sempre ocorre antes de consoantes alvéolo-dentais (/t/ e /d/, sendo /ʃ/ antes de /t/ e /ʒ/ antes de /d/), mas isso não é uma regra geral, pois em certas regiões dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia pode não haver essa palatalização. Essa característica intermediária entre o /s/-/z/ e /ʃ/-/ʒ/ indica um arcaísmo transitório entre o português clássico original de séculos anteriores melhor preservado e o português do século XIX já com maior influência do "chiado" da Galiza que muito influenciou o idioma do norte de Portugal, que sempre enviou mais emigrantes por sua demografia e natalidade maior ao longo do hinterland e vale do Douro. Para se ter uma ideia, há vocábulos na Galiza em que fonemas tais como /x/ (som de "r" aspirado) são substituídos por /ʃ/ literalmente, e em partes do norte de Portugal o fonema /s/ mesmo antecedendo vogais assume o som de /ʃ/ (por exemplo na palavra "seis" que vira [ʃejʃ]), coisa que nem mesmo no dialeto recifense (o único no Nordeste onde os fonemas /ʃ/ e /ʒ/ predomina sobre a forma escrita, inverso portanto ao centro-oeste pernambucano) ocorre. No Nordeste, "busca" se pronuncia ['buskɐ] e "turismo" [tu'ɾizmu]. Mas "astro" se diz [ˈaʃtru] e "desde" [ˈdejʒd̪i/ˈdejʒd].
- Uso predominante de oclusivas dentais: Uma característica marcante e curiosa deste dialeto é que assim como certos locais do interior paulista e sulino, esse dialeto também preserva o modo indo-europeu clássico de pronunciar as consoantes "t" e "d" na vogal /i/, que se dá pela pronúncia de oclusivas dentais surdas (/t̪/) e sonoras (/d̪/), ou seja, do modo como é escrito e grafado, ao contrário de dialetos em que não há pronúncia similar ao modo europeu e mesmo estadunidense do "ti" e "di" falados de forma pura e modo original similar ao que ocorria com o proto-indoeuropeu, e, como no português, a vogal "e" final de toda palavra tem sempre som /i/, essa pronúncia de /d/ e /t/ indoeuropeia é preservada também em sílabas finais "de" e "te". Exemplos: "dia" se diz [ˈd̪iɐ] e "noite" se diz [ˈnojt̪i] (diferente de boa parte do português brasileiro, que realizada africadas pós-alveolares sonoras - /dʒ/ e surdas - /tʃ/ antes do som de /i/).
- Glotalização do /ʁ/ e substituição por /h/-/ɦ/: Duas características são compartilhadas entre este e os dialetos da costa norte, baiano e recifense: o som da letra "r", onde a fricativa uvular surda (/ʁ/) é substituída. O som de "r", portanto, é bem glotal quando forte, podendo ser surda (/h/) ou sonora (/ɦ/) (nunca aspirado como a fricativa velar surda - /x/, usada no Rio de Janeiro e na língua espanhola), e suave quando fraco (vibrante simples alveolar - /ɾ/), sempre em encontros consonantais e nunca no meio ou fim de sílabas como em dialetos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, além de não ser pronunciado no final das sílabas. Geralmente a glotal sonora é usada em encontros consonantais, como em "corda" [ˈkɔɦdɐ], e a glotal surda quando inicia palavras ou no dígrafo "rr", como em "rabo" [ˈhabu] e "barragem" [baˈhaʒẽj].
- Presença, ou não, de africadas alveolares em sílabas finais: Também são realizadas africadas apenas alveolares surdas e sonoras (/dz/ e /ts/), sempre no fim das sílabas "des"/"dis" e "tes"/"tis", caracterizadas como uma "palatalização fraca" por diferenciar-se da palatalização ocorrida na maioria dos dialetos brasileiros, pois essa também possui som dental, embora também alveolar (por exemplo: em "partes" ['paɦts] e "amizades" [ɐmi'zadz]); mas essa regra nunca vale pra essas sílabas em começo de palavras (como em "desmantelo" [d̪ɪzmɐ̃ˈtelu]), nem pra sílabas próximas a sílabas tônicas ou palavras monossilábicas tônicas (como em "diz" [ˈd̪iz] e "tesoura" [t̪ɪˈzowɾɐ]); em alguns casos ocorre substituição de /e/ por /ɪ/.
- Ditongos crescentes em sílabas pós-tônicas com palatalização facultativa: Dependendo de variações geográficas e de influência de dialetos próximos, em palavras como "prédio" e "pátio", que possuem ditongos crescentes com "di" e "ti" na sua composição, pode haver a pronúncia de africadas pós-alveolares, mas sem ser uma palatalização completa como na maior parte do português brasileiro, sendo pronunciadas muitas vezes [ˈpɾɛdʒu] e [ˈpatʃu], respectivamente. Ainda em ditongos pós-tônicos, palavras como "família" e "alumínio" com "li" e "ni" na sua composição tem palatalização e comumente são ditas [fɐˈmiʎɐ] e [aluˈmĩɲu].
Vogais
- Abertura das vogais pré-tônicas: Outra característica marcante deste dialeto (porém, não exclusiva deste) é a abertura das vogais pré-tônicas /e/ e /o/ para /ɛ/ e /ɔ/ (sendo que no dialeto interiorano essa abertura pode variar dependendo da região, havendo o fenômeno da harmonia vocálica apenas na região do subdialeto do Interior Nordestino, e nas demais regiões onde é falado o dialeto, essa abertura varia) Por exemplo, segundo a regra de harmonia vocálica, em todos os subdialetos provavelmente as pessoas pronunciam as palavras "rebolar" e "hospital" como [hɛbɔ'la] e [ɔspi'taw] respectivamente, enquanto que boa parte das pessoas do Sul-Sudeste do país pronunciam geralmente [ʁebo'laɾ] e [ospi'taw]. Mas uma pessoa do interior do Ceará, do Rio Grande do Norte ou da Paraíba, regiões com influência próxima do dialeto da costa norte, pronunciariam a palavra "mesada" como [meˈzadɐ] (por derivar de "mês" [ˈme(j)s], ao passo que em algumas regiões do interior de Alagoas, de Sergipe e da Bahia a mesma palavra seja pronunciada como [mɛˈzadɐ], por influência do dialeto baiano, onde há uma super abertura dessas vogais. Porém, ao contrário do dialeto baiano, e pela mesma regra, este dialeto tende a fechar as vogais quando a sílaba é pós-tônica, assim como em boa parte do Brasil (por exemplo: a palavra "caráter" é pronunciada [kaˈɾate] neste dialeto, enquanto que no dialeto baiano é dita [kaˈɾatɛʁ]).
- Monotongação de "ei" e "ou" em sílabas tônicas: No geral, o dialeto nordestino realiza muita monotongação em palavras com os ditongos "ei" e "ou" quando estes ocorrem em sílabas tônicas, onde os mesmos são frequentemente reduzidos a /e/~/ɛ/ e /o/-/ɔ/ e antes de vogal "a" e das fricativas /ʒ/ ("j" e "g" antes de "e" ou "i") e /ʃ/ ("x"), de uma oclusiva bilabial sonora-/b/, de uma vibrante simples alveolar-/ɾ/ e de /v/. O ditongo "ou" também é reduzido no fim das palavras, o que não ocorre com "ei", este pronunciado normalmente, como na palavra "sei" ['sej].
Exemplos com "ei":
-"feijão": [feˈʒɐ̃w] em vez de [fejˈʒɐ̃w]
-"ideia": [iˈdɛ.ɐ] em vez de [iˈdɛj.ɐ]
-"beijo": [ˈbeʒu] em vez de [ˈbejʒu]
-"queixo": [ˈkeʃu] em vez de [ˈkejʃu]
-"vaqueiro": [vaˈkeɾu] em vez de [vaˈkejɾu]
Exemplos com "ou":
-"rouba": [ˈhɔbɐ] em vez de [ˈhɔwbɐ]
-"frouxo": [ˈfɾoʃu] em vez de [ˈfɾowʃu]
-"couro": [ˈkoɾu] em vez de [ˈkowɾu] (pronúncia equivalente à da palavra "coro")
-"houve": [ˈovi] em vez de [ˈowvi] (pronúncia equivalente à da palavra "ouve")
-"ficou": [fiˈko] em vez de [fiˈkow]
- Ditongação de /a/, /e/, /o/ e /u/ em sílabas tônicas que terminam em /s/: De modo similar à característica descrita anteriormente, também há frequente ditongação neste dialeto, quando as vogais /a/, /e/, /o/ e /u/ ocorrem em sílabas tônicas precedidas de /s/ (ainda que /s/ seja grafado como "z"), geralmente de palavras monossilábicas, plurais e adjetivos. Ditongando /a/: "mas" ['majs] (pronúncia equivalente à da palavra "mais"). Ditongando /e/: "mês" ['mejs]. Ditongando /o/: "arroz" [a'hojs]. Ditongando /u/: "cuscuz" [kus'kujs].
- Iotização das consoantes aproximante lateral palatal (/ʎ/) e nasal palatal (/ɲ/), e posterior redução silábica: Em relação ao som de "lh" e "nh", palavras como "velho" e "manhã" tem esses sons substituídos por /j/, e quando as mesmas terminam com "o" há uma redução silábica ([ˈvɛj] em vez de [ˈvɛʎu] e [mɐ̃ˈjɐ̃] em vez de [mɐ̃ˈɲɐ̃]). Entretanto, é mais comum a iotização (e posterior nasalização) de uma nasal palatal do que mesmo a iotização de uma aproximante lateral palatal, sendo o primeiro fenômeno corriqueiro na fala coloquial, enquanto o último parece muitas vezes associado a comunidades rurais ou a pessoas com baixo índice de escolaridade.
- Substituição de /e/ por /ɪ/ e /o/ por /ʊ/: Ocorre com frequência nas regiões de agreste e caatinga, onde ocorre o fenômeno de harmonia vocálica, mas também pode ser percebido nas capitais (e suas regiões metropolitanas da zona da mata). Por exemplo, a palavra "botão" é pronunciada como [bʊˈtɐ̃w] em vez de [boˈtɐ̃w], e a palavra "escola" é dita [ɪsˈkɔlɐ] em vez de [esˈkɔlɐ]. Esse fenômeno é compartilhado com outros dialetos compatriotas, especialmente o carioca e os demais dialetos setentrionais.
Gramática
Algumas peculiaridades gramaticais do português falado no Nordeste são: a omissão do artigo definido antes de nome próprio com a função implícita e instintiva de diferenciar objetos, animais e coisas de pessoas e afins, poupando assim artigos que seriam desnecessários e em demasiado "artificialismo" (forçado, algo não-natural e não-espontâneo), de acordo com os falantes dessa variação (p. ex.: "Maria foi à feira" em vez de "A Maria foi à feira"), e a inversão da colocação da partícula negativa (p. ex.: "Sei não" em vez de "Não sei").
Léxico
O léxico adotado no Nordeste é, em sua maioria, o mesmo usado nas demais regiões do Brasil e em Portugal; contudo, pode haver grandes mudanças semânticas. Alguns exemplos dessas mudanças são palavras como "zunir", que quer dizer "arremessar", enquanto em outros lugares do Brasil designa o ruído do vento; ou "prenda", que no nordeste significa "presente", enquanto em outras regiões do Brasil significa "grávida" ou "garota". O "tu", assim como no Sul do Brasil, é usado frequentemente na região nordeste. Em 2004, o jornalista Fred Navarro lançou o Dicionário do Nordeste, contendo cerca de cinco mil palavras e expressões peculiares à região. Vale ressaltar que apesar de os estados nordestinos terem o seu léxico próprio de palavras e expressões típicas, dependendo dos dialetos de regiões limítrofes, o léxico pode estar associado ao de outros dialetos vizinhos.