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O Cotonifício Rodolfo Crespi foi uma indústria têxtil inaugurada localizada no município de São Paulo, no bairro da Mooca.[1] Foi inaugurado em 1897[1][2][3] pelos sócios Rodolfo Crespi e Pietro Regoli sob o nome de Regoli, Crespi & Cia.[1], e desativado em 1963[1]. Atualmente, o imóvel está alugado para o Grupo Pão de Açúcar[2][4]. A empresa foi renomeada para Cotonifício Rodolfo Crespi — nome que carregou até o encerramento de suas atividades — em 1904, quando Pietro Regoli deixou a sociedade e Rodolfo Crespi se tornou o único dono.
Durante seu funcionamento, o Cotonifício Crespi foi cenário de momentos importantes da história do Brasil. Em 1917, uma paralisação de trabalhadores do Cotonifício deu origem à greve geral de 1917[1][2][5][6][7][8]. Sete anos depois, a fábrica foi alvo de bombardeios durante a Revolta Paulista de 1924 e teve de paralisar suas atividades[9][10][11]. O Cotonifício também produziu roupas para os soldados paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932 e para soldados italianos durante a Segunda Guerra Mundial[1][2].
Em 1924, uma colaboração entre funcionários e a empresa possibilitou a fundação do Cotonifício Rodolfo Crespi F.C., time de várzea formado por trabalhadores do Cotonifício que viria a se chamar Clube Atlético Juventus a partir de 1930[12].
O Cotonifício Rodolfo Crespi foi fundado em 1897 sob o nome Regoli, Crespi & Cia.. A princípio, a empresa era uma sociedade entre Rodolfo Crespi e seu sogro, Pietro Regoli, dono da tecelagem em que Rodolfo Crespi trabalhou ao chegar ao Brasil em 1890. Em 1904, Pietro Regoli se retirou da sociedade, deixando seu genro como o único dono da empresa, que seria renomeada para Cotonifício Rodolfo Crespi, nome que manteve até sua desativação em 1963.
Já com o novo nome e único dono, o Cotonifício se expandiu tanto no âmbito geográfico quanto no âmbito comercial. Aberta com área de poucas centenas de metros quadrados, a empresa ocupou todo o quarteirão cercado pelas ruas dos Trilhos, Taquari, Javari e Visconde de Laguna, chegando a ocupar área de 250.000 metros quadrados, e se instalou em um prédio de quatro andares de arquitetura ao estilo inglês[13] na esquina das ruas Taquari e Javari, cercado por construções menores que abrigavam diferentes setores da indústria. Além disso, o capital da empresa também crescia. Depois de ser fundado com capital de 100 contos de réis em 1897, a empresa contava com capital de quatro mil contos de réis em 1911 e seis mil contos de réis em 1912.
O crescimento do Cotonifício trazia consigo a necessidade de ampliar o número de funcionários. Tal necessidade foi suprida, principalmente, por imigrantes europeus que chegavam ao Brasil devido à política migratória do governo brasileiro. A empresa, inclusive, tinha facilidade para conseguir mão de obra de imigrantes. Além da proximidade com a Hospedaria de Imigrantes de São Paulo, onde eram instalados os imigrantes europeus que desembarcavam em Santos, o Cotonifício oferecia aos trabalhadores benefícios raros à época, como assistência médica e alojamento a preços acessíveis, além de uma creche para os filhos de operários e um campo de futebol, onde em 1924 seria fundado o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube, rebatizado em 1930 como Clube Atlético Juventus.
No entanto, a relação de benefícios trazia consequências aos trabalhadores. Os funcionários alojados na Vila Visconde de Laguna, atualmente a Travessa Conde Rodolfo Crespi, eram tidos como imprescindíveis para a empresa. Tais funcionários permaneciam condição de plantão permanente e seus serviços poderiam ser requisitados a qualquer momento do dia fora da jornada de trabalho, inclusive à noite. Isso se devia à ausência de leis trabalhistas que regulamentassem a jornada de trabalho, que colocava o trabalhador em posição de desfavorecimento perante o empregador.
As desavenças entre o comando do Cotonifício e os trabalhadores tornaram-se insustentáveis em junho de 1917 e culminaram na paralisação de cerca de 400 operários da fábrica, em sua maioria mulheres[5][6][7][8]. As reivindicações dos grevistas, principalmente aumento salarial e fim da extensão do turno noturno, não foram atendidas pela empresa, que ameaçou demitir funcionários[5]. No entanto, os grevistas não recuaram e o movimento se alastrou pela região da Mooca e do Brás ao chegar a outras indústrias[8]. O movimento iniciado no Crespi culminou na Greve geral de 1917, que se expandiu não somente pelo estado de São Paulo, mas por todo o Brasil[5].
O Cotonifício Rodolfo Crespi também foi cenário de outro momento marcante na história do Brasil. Em 1924, durante a Revolta Paulista, bairros majoritariamente operários e pontos de resistência paulista como a Mooca, o Brás e o Belém foram alvos de bombardeios dos legalistas, leais ao presidente Arthur Bernardes[9][10][11]. Em um destes bombardeios, o Cotonifício Crespi acabou incendiado e pegou fogo durante três dias[10]. Com a situação, o Cotonifício se viu obrigado a paralisar suas atividades e, inclusive, esteve perto de fechar[2].
Apesar dos problemas enfrentados em 1924, o Cotonifício se manteve ativo e foi importante em outro movimento armado. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a fábrica produziu roupas para os soldados paulistas, que acabaram derrotados pelo Governo Provisório[2]. Anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o Cotonifício Rodolfo Crespi fabricou vestimentos para soldados italianos[1][2]. A essa altura, Conde Rodolfo Crespi havia falecido. O fundador o Cotonifício morreu em de janeiro de 1939, aos 64 anos[1].
O Cotonifício se manteve em atividade por mais 24 anos após a morte de Rodolfo Crespi. A fábrica, no entanto, começou a dar sinais de enfraquecimento. Na década de 1950, a empresa se recusou a modernizar os equipamentos da produção, obsoletos para a época. As dificuldades se agravaram até que, em 1963, o Cotonifício Rodolfo Crespi pediu concordata e encerrou suas atividades[2].
Após o fechamento da fábrica, as instalações do Cotonifício foram alugadas para pequenas oficinas e para um estacionamento. No final da década de 1990, Fernando Crespi, herdeiro das instalações do Cotonifício, desalojou os negócios instalados no prédio para dar lugar a um shopping. No entanto, o projeto não se realizou pela não adequação à Lei de Zoneamento da cidade de São Paulo[4].
Em 2003, o Grupo Pão de Açúcar alugou o imóvel para a instalação de um hipermercado da rede Extra. O projeto original previa a demolição quase total do prédio[2][4], mas sua execução foi impedida por um movimento liderado pela jornalista Elizabeth Florido, militante preservacionista contrária à descaracterização do patrimônio histórico do bairro da Mooca. Com a ação do movimento, a demolição foi interditada pelo Ministério Público por solicitação Departamento do Patrimônio Histórico da prefeitura de São Paulo. O projeto, então, foi convertido na restauração do prédio, que resultou na manutenção da fachada, porém na demolição de certos pontos do imóvel sob justificativa de que o prédio estava condenado. Em 2005 o hipermercado foi inaugurado e funciona no imóvel até hoje[4].
O Cotonifício Rodolfo Crespi foi o palco dos primeiros passos da greve geral de 1917, a primeira de tais proporções no Brasil. No dia 8 de junho daquele ano[5], cerca de 400 operários da fábrica, em sua maioria mulheres, paralisaram suas atividades com uma série de reivindicações[5][6][7][8], sendo as principais o aumento salarial entre 15% e 20% e a não extensão do turno noturno de trabalho, imposto pela empresa para aumentar a produção[5]. No entanto, a direção do Cotonifício não cedeu à pressão dos funcionários e ameaçou demitir todos os funcionários se não retornassem ao trabalho[5].
Apesar das ameaças da empresa, os trabalhadores não recuaram da paralisação. Pelo contrário. Por meio da Liga Operária da Mooca, a greve no Cotonifício se alastrou por outras fábricas de tecidos e móveis da região, como a Fábrica Ipiranga, também de tecidos, até que, no dia 7 de julho, foi instaurada uma greve na Companhia Antarctica Paulista, de bebidas[8]. A essa altura, a diretoria do Crespi já havia pedido às autoridades reforço policial para a repressão à paralisação na fábrica, que tinha quase um mês completo de duração[8].
A greve tomou proporções jamais vistas no Brasil a partir do dia 11 de julho. Na data, foi sepultado o corpo do militante anarquista espanhol José Gimenez Martinez, morto em confronto com a polícia durante protesto[5][6][7][8], confrontos, estes, cada vez mais comuns conforme a greve avançava. O cortejo fúnebre de Martinez reuniu mais de 10.000 pessoas e foi interrompido por protestos referentes à greve e confrontos entre manifestantes e policiais[8]. A essa altura, a greve contava com a adesão de cerca de 15.000 pessoas, 9.500 destas em greve de reivindicação e o restante em greve de solidariedade. Os grevistas de reivindicação estavam concentrados, principalmente, em grandes estabelecimentos na região da Mooca e do Brás, como o Crespi, a Antarctica e a Fábrica Mariângela de Matarazzo[8].
Após a grande movimentação no sepultamento de José Martinez, começaram as negociações entre grevistas e empresários de São Paulo. Após cinco dias de reuniões mediadas pelos diretores dos principais jornais paulistas da época, organizações trabalhistas, autoridades e empresários decidiram pelo fim da greve em 16 de julho[5][6][8]. Durante as negociações, que se estenderam entre os dias 14 e 16 daquele mês, os empresários concordaram em conceder aumento de 20% nos salários dos funcionários, reconhecer o direito de reunião dos trabalhadores, não demitir os operários grevistas e readmitir os já demitidos. Já as autoridades concordaram em libertar manifestantes presos durante a greve[5][8].
Um dos benefícios do Cotonifício Rodolfo Crespi aos funcionários era um terreno à disposição para jogos de futebol[1]. Em 1924, dois tradicionais times de várzea formados por empregados da fábrica — o Extra São Paulo F.C. e o Cavalheiro Crespi F.C. — se fundiram para criar o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C., cujo nome homenageava a empresa[12]. Em 1930, o clube seria rebatizado como Clube Atlético Juventus, nome que carrega até hoje.
Em 1925, o terreno em que os funcionários jogavam futebol foi oficialmente cedido pela empresa para se tornar, de fato, um campo de futebol, permitindo melhores condições para a prática do esporte. Antes, o espaço era utilizado como cocheira de cavalos[12], pelos quais Rodolfo Crespi era apaixonado[1]. O campo foi reformado e, no dia 10 de novembro de 1929, foi oficialmente inaugurado o Estádio Conde Rodolfo Crespi em partida entre Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. e Roma-SP. O Estádio Conde Rodolfo Crespi foi comprado pelo Juventus junto à família Crespi em 1967[14] e, até hoje, é o local onde o clube manda seus jogos.[15] O estádio é conhecido também como Rua Javari[14] devido a seu endereço — Rua Javari nº 117[12].
Por sua contribuição na fundação e no estabelecimento do Clube Atlético Juventus, Rodolfo Crespi é considerado o presidente honorário perpétuo do clube[16].
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