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Os conflitos luso-malaios foram os confrontos militares entre as forças do Império Português e os vários estados e dinastias malaias, travados intermitentemente de 1509 a 1641 na Península da Malásia e no Estreito de Malaca.
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Conflitos luso-malaios | |||
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Malaca Portuguesa | |||
Data | 1509 – 1641 | ||
Local | Malásia Peninsular, Estreito de Malaca | ||
Desfecho | Formação da Malaca Portuguesa
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Em 1498 Vasco da Gama desembarcou em Calecute, no culminar de décadas de exploração e esforços para descobrir um caminho marítimo para a Índia. Regressou a Lisboa em 1499, inaugurando assim uma nova era de presença europeia no Oriente.
O rei D. Manuel pretendia envolver-se no comércio do Oceano Índico e esperava obter grandes lucros com a importação de especiarias para a Europa através da Rota do Cabo, contornando os numerosos intermediários no Mar Vermelho, Egipto e Médio Oriente, onde eram adquiridas por mercadores venezianos e colocadas nos mercados europeus a preços altíssimos.
Pelo menos desde 1505 que o rei D. Manuel tinha conhecimento da existência do rico empório de Malaca, a partir de informações recolhidas em segunda mão recolhidas por capitães na Índia ao seu serviço. A cidade portuária de Malaca controlava o estratégico Estreito de Malaca, através do qual passava todo o comércio marítimo entre a China e a Índia. Despachou por isso uma missão comercial para a cidade sob o comando de Diogo Lopes de Sequeira, encarregue de estabelecer contactos com o seu sultão e firmar amistosas relações comerciais e diplomáticas.
Diogo Lopes de Sequeira alcançou Malaca e foi recebido hospitaleiramente pelo sultão Mamude, que concedeu ao capitão português autorização para abrir uma feitoria na cidade. Ciosa dos seus interesses e temendo que os portugueses viessem a tornar-se concorrentes inoportunos, a influente comunidade mercantil muçulmana da cidade logrou convencer o sultão a virar-se contra os portugueses.[1]
Os navios portugueses que estavam no porto foram atacados de surpresa pela frota de Malaca e Diogo Lopes de Sequeira mandou regressar à Índia de imediato, deixando para trás, em terra, vários portugueses que foram capturados na feitoria, presos e torturados.[2]
Os portugueses deixados para trás em Malaca ficaram sob a chefia do feitor Rui de Araújo que, com a ajuda de Nina Chatu, um mercador hindu insatisfeito com o sultão Mamude, conseguiu escrever cartas ao governador Afonso de Albuquerque.
Albuquerque dirigiu uma expedição de 16 navios, 700 soldados portugueses e 300 auxiliares malabares contra Malaca e, com o apoio de parte da sua população, conseguiu arrebatar a cidade ao impopular Sultão Mamude, após uma operação militar que durou dois meses, de 1 de Julho a 1 de Setembro. Albuquerque construiu depois uma fortaleza, abriu várias instituições na cidade e confirmou a liberdade religiosa aos seus habitantes. Malaca tornou-se uma base de operações para futuros empreendimentos portugueses na região e para lá dela, fossem eles de cariz exploratórios, diplomáticos ou comerciais.
A conquista de Malaca deveu-se ao plano que o rei Manuel I de Portugal tinha de alcançar o Extremo Oriente antes dos castelhanos mas também ao de Afonso de Albuquerque de fundar bases sólidas para o Império português no Oriente, em que se incluía Ormuz, Goa e Adém, para dominar o comércio e impedir a navegação muçulmana no Oceano Índico.[3] A conquista de Malaca foi um importante evento que moldou o rumo da história do sudoeste asiático.[4]
Por volta de Junho de 1515 o capitão Jorge Botelho, com uma esquadra de 11 navios de remo, 100 soldados portugueses e 500 auxiliares malaios, destroçou no rio de Campar uma frota do sultão de Linga - vassalo do sultão Mamude - que se encontrava a sitiar a cidade de Campar, cujo sultão era aliado dos portugueses. A frota de Linga contava com 80 lancharas mas foi totalmente capturada pelos portugueses e oferecida ao sultão de Campar.[5]
Quando em Malaca se soube que o sultão Mamude se preparava para enviar uma frota a atacar os navios portugueses por então a mercadejar em Menencabo, o capitão de Malaca Jorge de Albuquerque enviou 9 navios de remo e 100 portugueses comandados por Francisco de Melo a protegê-los. No rio de Siaca destroçaram 24 lancharas do sultão Mamude, quando estas se dividiram em dois grupos para contornarem uma ilha no meio do rio.[6]
Depois de terem os portugueses conquistado Malaca, o sultão Mamude, expulso da sua capital, construiu um acampamento fortificado em Pago e de lá ele enviava ataques a assediar a cidade, na mira de recuperá-la mais tarde.[7]
Quando o capitão de Malaca recebeu reforços de Goa, o capitão de Malaca Garcia de Sá obrigou todos os guerreiros do sultão a abandonarem as imediações de Malaca.[8] O capitão António Correia depois tomou o acampamento do sultão Mamude em Pago com 150 portugueses e 300 auxiliares Malaios embarcados numa pequena esquadra de 2 naus, 1 caravela, 2 a 4 galeotas e um certo número de lancharas de Malaios, obrigando-o assim a fugir com as suas tropas e Corte para Pão, e de lá para a ilha de Bintão, reino insular que usurpou.[8][9]
Em 1521 o capitão de Malaca Jorge de Albuquerque atacou Bintão com 18 navios e 600 homens. Devido à falta de familiaridade com aquela região, em especial com as suas rasas águas, os portugueses retiraram-se depois de terem perdido 20 homens e um navio ligeiro a remos.[10] Após este desaire, os ataques do sultão Mamude aumentaram em número.[carece de fontes]
Nos primeiros meses de 1523 o ex-sultão de Malaca e o sultão de Pão fundaram uma base junto às margens do Rio de Muar, de onde lançavam ataques contra as linhas de abastecimento naval de Malaca.[11]
O capitão Jorge de Albuquerque despachou para lá uma pequena esquadra em Abril para combater os malaios, porém uma forte tempestade dispersou os navios dos portugueses e depois três deles foram emboscados ao subirem o rio de Muar, tendo morrido 65 soldados. The Malays then withdrew.[12]
O sultão Mamude sitiou Malaca em Maio de 1524 com uma frota de 80 navios e 16 000 homens, comandados por um renegado português. A guarnição portuguesa contava com 200 soldados, apoiados pelo corpo de auxiliares malaios e, passado um mês, pouco depois da chegada de reforços portugueses os atacantes retiraram-se para Bintão.[13]
Depois de ter socorrido Malaca com reforços, o capitão-mor Martim Afonso de Sousa perseguiu o almirante do ex-sultão de Malaca até Bintão, cidade que foi bloqueada por três meses.[13] De lá o Sousa partiu para Pão, destruiu os navios ancorados no rio e matou mais de 600 pessoas como represália pela ajuda prestada ao sultão Mamude. Certa quantidade de pessoas foram cativadas e reduzidas à escravidão.[carece de fontes]
Em Junho de 1524, o capitão-mor Martim Afonso de Sousa destruiu 36 juncos ancorados no porto de Patani, que se havia aliado ao sultão de Pão e ao sultão Mamude, e incendiou a cidade, bem como os campos agrícolas circundantes, incluíndo os pomares e as palmeiras. Mais 70 juncos chegados de Sião ou de Java foram destruídos nas duas semanas seguintes. No ano seguinte, o novo capitão de Malaca Pedro de Mascarenhas (1525-1526) logrou selar a paz com Patani, mediante uma embaixada despachada para a cidade, chefiada por Marim Afonso de Melo Jusarte.[14]
Em 1525, duas naus portuguesas com 80 soldados, comandadas por Álvaro de Brito e António Raposo partiram em auxílio do sultão de Linga, aliado dos portugueses, e destroçaram uma grande frota do sultão Mamude e do sultão de Indragiri, composta por 160 lancharas e 2000 homens, perto do arquipélago de Linga.[15]
Em 1526 o capitão D. Pedro Mascarenhas decidiu tirar partido do grande número de soldados portugueses então em Malaca para levar a cabo uma vigorosa campanha contra Bintão e neutralizar de uma vez por todas o sultão Mamude.[16]
D. Pedro bloqueou o reino insular de Bintão e sitiou a sua capital com 15 navios, 600 soldados portugueses, 300 auxiliares malaios, mais um número de "escravos de peleja" que ficou por registar.[16] Apesar das dificuldades impostas pelo terreno difícil, mais propício à defesa e de ter o sultão Mamude obtido ajuda do seu aliado o sultão de Pão, os portugueses, em desvantagem numérica transpuseram todos os perigos e tomaram a cidade de surpresa em certa noite, dispersando todos os seus defensores.[17] A cidade de Bintão foi então arrasada e o reino devolvido ao seu anterior soberano.
O sultão Mamude sobreviveu à destruição de Bintão e fugiu para a ilha de Samatra, na qual veio a morrer mais tarde. A derrota do antigo sultão de Malaca impressionou muitos soberanos do Estreito de Malaca e estes enviaram embaixadas na mira de assinar tratados com os portugueses, algo que depois valeu a Malaca muitos anos de prosperidade.[18]
Após a destruição de Bintão e a morte do sultão Mamude, o seu filho Alauddin Riayat Shah II de Jor fundou na península da Malásia o Sultanato de Jor, hostil aos portugueses. Em 1533 o sultão de Jor mandou torturar publicamente até à morte um embaixador português com água a ferver, que equivalia a uma declaração de guerra. Semelhantes atentados contra a vida de embaixadores eram altamente contrários ao uso português ou europeu mas comuns na Ásia.[19]
Em Maio de 1534 uma pequena frota de Jor de 17 lancharas combateu contra uma frota portuguesa perto do rio de Muar e mataram D. Paulo da Gama, filho de Vasco da Gama e irmão do capitão de Malaca D. Estevão da Gama.[19]
Depois de terem os malaios morto o seu irmão, o capitão D. Estevão da Gama atacou Jor em Junho de 1535 com uma nau, uma caravela redonda e 18 navios ligeiros a remo com cerca de 400 portugueses e 400 escravos-de-peleja. Os portugueses velejaram rio acima até chegarem a Jor e atacaram as defesas da cidade mas o sultão fugiu para o mato a coberto da escuridão noctura. Os portugueses capturaram vários navios, despojos e artilharia na cidade, que depois foi arrasada.[20]
O sultão de Jor escapou à total destruição das suas forças ao ter abandonado a cidade e retirado a suas tropas para a selva, ao passo que a sua frota encontrava-se fora por então. Logo o sultão conseguiu reconstruir a sua cidade e continuar a atacar a navegação de Malaca depois dos portugueses terem partido. Não obstante encontrava-se enfraquecido por terem os portugueses capturado toda a sua artilharia no ataque de 1535. D. Estevão partiu mais uma vez de Malaca para um ataque a Jor, desta feita com uma nau, alguns navios a remo, 400 soldados portugueses, 400 auxiliares Malaios e número incerto de escravos-de-peleja armados com arcabuzes.[21]
Os portugueses combateram as tropas do sultão perto de Jor e desta vez lograram capturar a frota de Jor. O sultão observou a batalha ao longe, montado num elefante e uma vez mais tentou fugir para a selva mas sofreu uma revolta e o seu trem de bagagem foi pilhado pelas suas tropas em fuga. O sultão pediu aos portugueses para negociar, portanto, mas o capitão D. Estevão não confiava no sultão e só aceitou selar a paz depois de lhe ter sido entregue como refém o tio do sultão, de forma a garantir que este respeitava o acordo de paz.[21]
Capturada a frota de Jor, a navegação no estreito de Malaca e Singapura tornou-se muito mais segura e o comércio cresceu.[21][22]
Recuperado das suas perdas, o sultão de Jor desprezou o tratado assinado em 1536 e organizou uma grande frota com que atacar Malaca e que incluía as forças coligadas de Jor, Perak, Pão e do Sultanato de Japará na ilha de Java. Era composta por cerca 200 navios, dos quais 150 eram navios de remo malaios e 40 eram juncos javos,[necessário esclarecer] mais 10 000 homens, dos quais 6 000 eram malaios e 4 000 eram javos. A guarnição de Malaca resumia-se a 400 portugueses.[23]
Falhou uma tentativa de obrigar a guarnição portuguesa a sair da fortaleza por logro e Malaca foi cercada. Passados três meses fora manifesta a incapacidade dos atacantes de cortar as vias de comunicação navais da cidade e quando o capitão D. Pedro da Silva colocou em circulação o rumor de que os portugueses preparavam-se para atacar as cidades costeiras da Malásia os malaios abandonaram o cerco. Os javos, ainda em terra, foram depois destroçados pelos portugueses em batalha e obrigados a reembarcar, tendo sofrido muitas baixas.[23][24] A maioria das baixas dos portugueses deveram-se a poços de água envenenados.[23]
Em 1586 as forças navais de Jor começaram a desviar o tráfego marítimo para o Estreito de Singapura.[25] Uma grande frota de Jor tentou inclusive atacar Malaca mas viu-se obrigada a bater em retirada devido aos galeões fortemente armados ancorados no porto da cidade.[26] O capitão de Malaca João da Silva pediu reforços a Goa e para fazer frente à ameaça o vice-rei D. Duarte de Meneses enviou-lhe 3 galeões e 500 soldados portugueses comandados por D. Paulo de Lima.
As tropas de Jor não conseguiram impedir o desembarque da pesada infantaria portuguesa e, após um bombardeio naval a cidade foi tomada à viva força e o sultão obrigado a fugir para a selva destroçado.[27] Os portugueses capturaram neste ataque grande quantidade de despojos, incluíndo para cima de 1 000 canhões, a maioria de pequeno calibre porém, bem como 1 500 espingardas e incendiaram mais de 2 000 embarcações de diversos tamanhos.[28] Arrasada Jor, D. Pedro de Lima saqueou também Bintão, cidade, por então, vassala de Jor.[29]
Malaca foi cerca em 1606 pelas tropas da Companhia Holandesa das Índias Orientais, comandads por Cornelis Matelieff de Jonge com o apoio do sultão de Jor Alauddin Riayat Shah III, que em Maio assinara uma aliança com os holandeses.[30] Aos holandeses era prometida a posse de Malaca em troca de um acordo comercial com Jor.[carece de fontes]
A pequena guarnição portuguesa, comandada por André Furtado de Mendonça, logrou resistir aos ataques directos dos holandeses enquanto não chegou o governador Martim Afonso de Castro com reforços e isto levou a que os holandeses abandonassem o cerco. Os holandeses foram também derrotados pelos portugueses na batalha do Cabo Rachado.[carece de fontes]
Depois de Jor ter firmado uma aliança com a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a marinha portuguesa manteve Jor sob bloqueio a partir de 1606, cortando assim o comércio e as comunicações exteriores do sultanato.[carece de fontes]
A 15 de Dezembro de 1607 uma força naval portuguesa de 13 galeões ancorou diante da cidade em preparação para um ataque anfíbio. Não se revelaram necessárias mais acções: ao avistar os portugueses, o sultão de Jor entrou em pânico, incendiou a sua capital e fugiu com as suas tropas para a selva, acompanhado pelos mercadores holandeses residentes. Os portugueses destruíram a frota de Jor e alcançaram os seus objectivos com uma simples demonstração de poder naval.[31]
Em 1610, Jor assinou um acordo de paz com os portugueses.[carece de fontes]
Ao fim de muitos anos de conflito intermitente a Companhia Holandesa das Índias Orientais reuniu uma força de 2 000 europeus em Batávia em Agosto de 1639 na mira de enviá-los contra Malaca. Em príncipios de Maio de 1640 o governo de Batávia resolvera conquistar Malaca fosse por via negociada ou pela força armada. O anterior comandante, Cornelis Symonz van der Veer, morrera desde então, pelo que o sargento-mor Adriaen Antonisz foi escolhido para substituí-lo. Em Malaca, comandava os portugueses Manuel de Sousa Coutinho. A cidade encontrava-se bem fortificada, com muralhas de 9,8 metros de altura capazes de resistir a um bombardeamento de ambas as partes. A cidadela dispunha de 70 grandes canhões e de 40 a 50 canhões mais pequenos. A guarnição resumia-se a 260 homens, se bem que os holandeses tenham alegado que os melhores soldados a defender a cidade eram os residentes nativos e mestiçados, cerca de 2 000 a 3 000 indivíduos ao todo. Também alegaram que só um poderoso exército europeu seria capaz de conquistar a cidade.[32]
Os holandeses dispunham de ajuda prestada pelos seus aliados javos e bandaneses, bem como mardijkers, cerca de 98 ao todo. Os seus aliados malaios trouxeram de Jor cerca de 500 a 600 homens.[32] Malaca foi tomada pela Companhia após um cerco de cinco meses, pondo assim termo a cerca de 130 anos de presença oficial lusa na região.[carece de fontes]
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