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Caracterologia significa literalmente estudo do caráter, e designava, originalmente, toda pesquisa ligada à personalidade. Atualmente a expressão só costuma ser usada em referência à teoria da personalidade de René Le Senne e Gaston Berger, segundo a qual há 8 caráteres (i.e., tipos psicológicos), definidos a partir de três características básicas ("propriedades") - "emotividade", "atividade" e "ressonância".[1]
Esta teoria foi desenvolvida a partir dos estudos dos psicólogos holandeses Gerardus Heymans e Enno Dirk Wiersma, que, procurando estudar a hereditariedade de vários traços psicológicos, elaboraram estatísticas desses traços para várias pessoas e, depois, através da análise fatorial, concluíram que estes poderiam ser agrupados em três grandes características.
Para Le Senne, caráter designa o conjunto de disposições congênitas, ou seja, que o indivíduo possui desde seu nascimento e compõe, assim, o esqueleto mental do indivíduo; já personalidade, é definida por ele como o conjunto de disposições mais "externas", como que a "musculatura mental" - todos os elementos constitutivos do ser humano que foram adquiridos no correr da vida, incluindo todos os tipos de processo mental.
Le Senne define três propriedades constitutivas do caráter:
Emotividade - a propensão de vivenciar os acontecimentos de maneira mais ou menos emotiva, podendo as pessoas ser "emotivas" ou "não-emotivas";[2]
Atividade - a inclinação e o gosto pela ação, havendo os "ativos" e os "não-ativos". A atividade, neste sentido, refere-se ao gosto pela acção em sim mesma; não deve ser confundida com situações em que a ação é apenas uma consequência da emotividade do indivíduo (ex. uma pessoa perseguida por uma fera é ativa, mas não pelo gosto da ação, mas pela emotividade (medo) da situação);[3]
Ressonância das representações mentais - toda experiência (ou melhor, a representação dessa experiência na mente da pessoa) provoca no indivíduo uma "ressonância", ou seja, efeitos mentais (pensamentos, emoções, etc.). Efeitos que se referem a evento que se estão realizando (i.e. presentes) fazem parte da função primária da representação; já efeitos ligados a fenômenos já passados fazem parte da função secundária. Ressonância indica, assim, a tendência do indivíduo de viver mais no presente ou, pelo contrário, no passado ou no futuro; assim, os indivíduos serão "primários" (se vivem para o presente) ou "secundários" (se vivem para o passado ou para o futuro).[4]
Além dessas três propriedades constitutivas dos tipos caracterológicos, Le Senne diferencia cinco propriedades complementares, que produzem diferenças entre as pessoas pertencentes a um mesmo tipo:
A partir da combinação das três propriedades constitutivas definem-se 8 tipos caracterológicos ou caráteres, que produzem assim diferentes personalidades[5]:
Emotivo - Activo - Primário: o "colérico". Indivíduos activos, impulsivos, generosos, sempre cheios de projectos, mas instáveis, saltando frequentemente de uma actividade para outra que lhes pareça mais entusiasmante e desafiadora (ex. Danton, Léon Gambetta, Jean Jaurès)[6]
Emotivo - Activo - Secundário: o "apaixonado". Indivíduos que têm um objectivo, sobretudo a longo prazo, e concentram todas as suas energias para esse fim (ex. Napoleão, Adolf Hitler).[7]
Emotivo - não Activo - Primário: o "nervoso". Indivíduos imaginativos, com algum fascínio pelo "bizarro" e por tudo o que saia da monotonia; frequentemente com aptidão artística (ex. Edgar Allan Poe, Shelley, Byron)[8]
Emotivo - não Activo - Secundário: o "sentimental". Indivíduos introvertidos e tímidos, frequentemente com grandes sonhos e projetos, mas que pouco fazem para os realizar (ex. Kierkgaard, Robespierre, Rousseau, Thoreau)[9]
não Emotivo - Activo - Primário: o "sanguíneo". Indivíduos pragmáticos e "terra-a-terra" , que se adaptam facilmente a qualquer situação e com grande facilidade no relacionamento com outros, (ex. Metternich, Montesquieu, Talleyrand, Voltaire).[10]
não Emotivo - Activo - Secundário: o "fleumático". Indivíduos trabalhadores, regulares, calmos e pontuais (ex. Kant, James Mill, John Stuart Mill)[11]
não Emotivo - não Activo - Primário: o "amorfo". Indivíduos pouco activos, que se acomodam às situações, de bom humor (ex. Luís XV)[12]
não Emotivo - não Activo - Secundário: o "apático". Indivíduos tranquilos, pouco activos, gostando de uma vida rotineira (ex. Luís XVI)[13]
Os 2 últimos tipos caracterológicos (os "não Emotivos - não Activos") são, segundo o autor, muito raros.
Em Portugal Delfim Santos divulgou persistentemente a caracterologia de Heymans - Le Senne - Berger em muitas de suas obras sobre Psicopedagogia e escreveu as seguintes monografias:
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