Campoo-Los Valles
comarca da Cantábria, Espanha Da Wikipédia, a enciclopédia livre
comarca da Cantábria, Espanha Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Campoo-Los Valles (pronunciado Campó), também conhecida como Merindade de Campoo[a] e Cantábria do Ebro,[b] é uma comarca histórica e geográfica do norte de Espanha, na província e comunidade autónoma da Cantábria. Tem 1 012,1 km² de área e em 2021 tinha 17 716 habitantes.[1] A comarca não tem estatuto administrativo, pois apesar de já existir uma lei para a divisão em comarcas da Cantábria desde 1999, esta ainda não foi regulamentada.[2]
Campoo-Los Valles | |
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Comarca | |
O rio Ebro em Reinosa. a capital da comarca | |
Gentílico | campurriano, -na |
Localização | |
Mapa da comarca na Cantábria | |
Localização de Campoo-Los Valles na Espanha | |
Coordenadas | 43° 00′ 00″ N, 4° 08′ 00″ O |
País | Espanha |
Comunidade autónoma | Cantábria |
Província | Cantábria |
Administração | |
Capital | Reinosa |
Características geográficas | |
Área total | 1 012,1 km² |
População total (2021) [1] | 17 716 hab. |
Densidade | 17,5 hab./km² |
Altitude máxima | 2 225 m |
Altitude mínima | 560 m |
Outras informações | |
Nº de municípios | 11 |
Ocupa a bacia do Alto Ebro[c] e é a comarca mais meridional da Cantábria e a mais extensa, ocupando quase 20% do território da comunidade autónoma, apesar da sua população ser representar apenas cerca de 3,5%. Deve o seu nome ao Valle de Campoo [es], que ocupa a parte central da comarca.
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A comarca é uma das melhor delimitadas da Cantábria, pois é formada pelos municípios que desde o século XV integraram a Merindade de Campoo. A sua denominação de Campoo-Los Valles faz referência ao facto do seu território ser formado pelas partes que compunham a entidade administrativa de Campoo, isto é, a cidade de Reinosa e as antigas irmandades de Suso, Enmedio, Yuso, Irmandade das Cinco Vilas [es], Los Carabeos, Valdeolea e Valdeprado, e pelos Vales, isto é Valderredible e de Valdebezana (este último integra a província de Burgos desde o século XIX).
No entanto, a atual divisão municipal não é exatamente a mesma das antigas irmandades. Durante a Idade Moderna, especialmente quando as antigas irmandades doram convertidas em municípios, foram feitas algumas mudanças: em 1860 as irmandades dos Carabeos e de Valdeprado foram unidas para constituírem o município de Valdeprado del Río; em 1890 foi criado o município de Las Rozas de Valdearroyo por segregação de Campoo de Yuso; os municípios de Pesquera, San Miguel de Aguayo e Santiurde de Reinosa foram formados a partir da antiga Irmandade das Cinco Vilas.[3]
Na serra de Híjar [es] nasce o rio homónimo [es], cujo caudal é o principal aporte hídrico do rio Ebro, que aflora na aldeia de Fontibre (do município de Hermandad de Campoo de Suso) [es]. A Barragem do Ebro [es], nas vizinhanças de Reinosa, forma uma das maiores albufeiras da bacia hidrográfica do Ebro e atua como o principal regulador dos regadios da Rioja e de Navarra. Nas mesmas serranias, criadas por movimentos tectónicos ocurridos desde os finais do Cretáceo até ao Oligoceno (orogenia alpina), encontram-se as maiores alturas da comarca, o Cuchillón [es] (2 222 m) e o Pico Três Mares [es] (2 172 m), este último assim chamado porque nas suas encostas nascem rios que desaguam nos três mares que banham a Espanha: o rio Híjar, afluente do Ebro, que desagua no mar Mediterrâneo; o rio Pisuerga, afluente do Douro, que desagua no oceano Atlântico, e o rio Nansa [es], que desagua no mar Cantábrico.
O Pico Três Mares é o local onde se encontram as serras de Híjar e do Cordel [es] (ou de Isar) e no seu sopé há um vale glaciar. Do cimo dele avistam-se o mar Cantábrico a norte, os Picos da Europa a noroeste, a Cordilheira Cantábrica e a Montaña palentina (serras da província de Palência) a sudoeste, a meseta castelhana a sul e os Vales Pasiegos e sas erras de Las Encartaciones [es] a leste. Na vertente norte há florestas frondosas de faias carvalhos, que fazem parte do Parque Natural do Saja-Besaya [es], uma importante reserva natural, onde abundam os veados, corças e águias-reais. A presença de lobos-ibéricos não é rara e há registos de avistamentos de ursos-pardos, o que essa revela a importância dessa zona como via de comunicação das populações isoladas deste plantígrado. Em Polientes (município de Valderredible) [es] e nos altos da serra de Híjar há colónias importantes de grifos. Outras espécies dignas de menção, são por exemplo, o bufo-real, a marta, o texugo, o arminho e a toupeira. A albufeira do Ebro albrega uma avifauna aquática notável. No que se refere a espécies vegetais, além das florestas de faias e de carvalhos já mencionadas, destacam-se uma população importante de azevinhos e bétulas, e bons exemplares de teixos, todas elas árvores protegidas pela lei espanhola.
Campoo situa-se numa zona de transição entre o clima oceânico e o clima mediterrânico continentalizado [es] da Península Ibérica, podendo enquadrar-se no chamado clima oceânico de transição, com algumas componentes de clima de montanha devido à altitude. Na realidade, o clima da região é uma mistura dos tipos oceânico e mediterrânico, sofrendo influências continentais por estar aberta para a meseta castelhana e influências oceânicas, as quais são atenuadas pelas serras de Isar e pela Cordilheira Cantábrica, que separam parcialmente a região da costa. Pode considerar-se Reinosa, no centro do vale de Campoo, como a zona de charneira entre as duas zonas climáticas, com o clima das áreas a norte, como Pesquera e as zonas ao longo do rio Besaya [es], com características mais oceânicas, e as áreas a sul, como Valderredible e Valdeolea, com características mais mediterrânicas.
Esta transição climática manifesta-se em invernos muito frios, com nevadas e geadas noturnas frequentes entre novembro e abril, e verões relativamente quentes durante o dia e frescos à noite. No verão a amplitude térmica diária chega aos 20 °C, com máximas de 30 °C durante o dia e mínimas de 10 °C à noite. O clima é frio (bastante mais do que na costa cantábrica) e húmido (um pouco menos do que nas zonas mais baixas do resto da Cantábria). A Precipitação, ainda que elevada, é bastante menor do que nas regiões costeiras da Cantábria, e no inverno é frequente ser na forma de neve. Por estar rodeada de montanhas altas, a precipitação concentra-se nas zonas altas, onde é muito superior à das zonas baixas, no vale de Campoo.
Dados climatológicos para Reinosa | |||||||||||||
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Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Ano |
Temperatura máxima média (°C) | 9 | 10 | 12 | 13 | 17 | 20 | 23 | 24 | 21 | 17 | 12 | 9 | 15,6 |
Temperatura média (°C) | 2,1 | 3,0 | 4,6 | 6,4 | 9,1 | 12,1 | 14,9 | 15,0 | 13,3 | 9,6 | 5,5 | 3,0 | 8,2 |
Temperatura mínima média (°C) | 2 | 2 | 3 | 5 | 8 | 10 | 12 | 13 | 11 | 8 | 5 | 3 | 6,8 |
Precipitação (mm) | 99,4 | 102,7 | 87,2 | 105,6 | 87,6 | 54,0 | 31,2 | 35,3 | 56,7 | 97,9 | 114,1 | 128,3 | 1 088 |
Dias com precipitação | 13,5 | 12,5 | 12,8 | 17 | 17,8 | 14,2 | 11,5 | 11,4 | 11,4 | 13,1 | 13,9 | 12,8 | 161,9 |
Humidade relativa (%) | 86 | 83 | 77 | 77 | 77 | 76 | 75 | 74 | 75 | 77 | 85 | 83 | 78,8 |
Dias de sol | 6,0 | 6,2 | 7,5 | 4,1 | 3,8 | 5,2 | 7,4 | 7,1 | 8,1 | 6,2 | 5,3 | 6,6 | 73,5 |
Insolação (h) | 4,3 | 4,8 | 6,2 | 6,7 | 7,5 | 8,3 | 8,1 | 8,0 | 7,7 | 6,3 | 4,6 | 4,5 | 6,4 |
Fontes: [4][5][6] |
O gentílico dos habitantes de Campoo é campurriano e a língua por eles usada é o castelhano, com influências de uma variante dialetal asturo-leonesa. O Dia de Campoo é celebrado no último domingo de setembro, integrado nas festas de São Mateus. O ato principal desse dia é um desfile de carros engalados que reproduzem cenas da vida quotidiana tradicional, puxados por bois e vacas de raça Tudanca [es], Monchina [es]. Outras festas importantes são as de Las Nieves, a 15 de agosto em Naveda (Hermandad de Campoo de Suso) [es] e a Los Campanos [es] em Abiada [es], no mesmo município, realizada no primeiro domingo de setembro para comemorar o fim do estio.
Uma das características mais marcantes do vestuário tradicional são as albarcas [es], socas similares às madreñas asturianas, primorosamente talhadas em madeira, tradicionalmente de bétula, mas atualmente também fabricadas industrialmente em faia. Um adereço típico do campurriano é o palo pinto, uma vara de avelaneira gravada a fogo, que ajuda a andar nos montes e a pastorear o gado. A economia local está tradicionalmente ligada à pecuária de bovinos e os campurrianos tinham grande repuração como condutores de carroças e pedreiros. Eram os carroceiros campurrianos que realizavam o intercâmbio de mercadorias entre a meseta e a capital da província.
Na comarca há numerosos exemplos magníficos do chamado românico montanhês, entre os quais se destacam as colegiadas de São Martinho de Elines [es] (no município de Valderredible) e de São Pedro de Cervatos [es] (Campoo de Enmedio) e as igrejas de Santa Maria a Maior em Villacantid [es] (Hermandad de Campoo de Suso), de São Cipriano em Bolmir [es] (Campoo de Enmedio), de Santa Maria [es] em Retortillo (Campoo de Enmedio) e de São Martinho [es] em Valdelomar (Valderredible). O Mosteiro de Nossa Senhora de Montesclaros [es], em Valdeprado del Río, é um edifício barroco-montanhês do século XVII que alberga a imagem da padroeira da Merindade de Campoo, que é objeto de grande devoção local. Foi construído a partir duma igreja rupestre e tem um retábulo do século XVIII.
Na arquitetura civil destacam-se as numerosas casas solarengas de silhar, com varandas e brasonadas.[carece de fontes] Na arquitetura militar cabe mencionar o castelo de Argüeso [es] (município de Hermandad de Campoo de Suso), construído no século XII, desde o qual Íñigo López de Mendoza, 1.º Marquês de Santillana, administrou o senhorio de Campoo e o marquesado de Argüeso no século XV.[7] Outras edificações relevantes são as torres dos Bustamante em La Costana (Campoo de Yuso), a de Ruerrero [es] (Valderredible), a de San Martín de Hoyos (Valdeolea), a dos Gómez Bárcena em San Miguel de Aguayo e a de Los Ríos em Proaño (Hermandad de Campoo de Suso).[8]
A presença de populações pré-históricas na comarca é atestada pela existência de vestígios de arte esquemática em locais como o Abrigo del Cubular [es] ou o Ídolo de Ruanales [es], ambos nas imediações de Ruanales (Valderredible), e de numerosos menires, especialmente no município de Valdeolea.
A comarca é uma das regiões da Cantábria com mais sítios arqueológicos romanos. Destacam-se especialmente as ruínas situadas na aldeia de Retortillo do município de Campoo de Enmedio, geralmente identificadas como sendo de Julióbriga, a cidade romana mais importante da Cantábria. Julióbriga foi fundada no século I a.C. pela Legio IV Macedonica sobre um antigo castro cântabro, que poderá ter sido Aracillum [es], a cidade cântabra onde se travou uma das mais importantes batalhas das Guerras Cantábricas.[9] Outra das localizações prováveis de Aracillum é Aradillos [es], também situada no município de Campoo de Enmedio. Outros sítios arqueológicos importantes são o Acampamento romano de El Cincho [es], perto de La Población (Campoo de Yuso)e o de Camesa-Rebolledo [es], no município de Valdeolea. O primeiro foi usado por legões romanas durante as ofensivas das Guerras Cantábricas imediatamente posteriores a 27 a.C. O segundo teve origem noutro acampamento militar romano da Legio IV Macedonica e nele encontram-se restos de uma villa, duma povoação visigoda e, a algumas centenas de metros, de outro grande edificação dos séculos II e III d.C., cuja função não é claro, podendo ser militar ou uma pequena povoação.
Da época da cristianização há vestígios de várias igrejas e eremitérios rupestres no conjunto denominado "Igrejas rupestres de Valderredible [es]", um dos mais importantes do seu tipo em Espanha.
Há diversas menções à comarca durante a Idade Média. Em meados do século IX, o território de Campo Pau, Campodii, Campo ou Campoo[10] pertencia ao senhorio do conde Rodrigo, como parte do Condado de Castela.[11] Em 1087 a comarca é mencionada como uma tenência de El Cid, concedida a esse caudilho castelhano por Afonso VI de Leão após a Batalha de Zalaca, e em 1122 aparecia como possessão do conde Rodrigo González de Lara [es].[12] Em meados do século XIV a maior parte do território estava sob a jurisdição do senhorio de Aguilar de Campoo e do seu titular, Telo de Castela [es]. Segundo o “Livro das Merindades de Castela” (conhecido como “Becerro de las Behetrías [es]”),[d] publicado c. 1352, a Merindade de Aguilar de Campoo [es] compreendia tanto municípios do sul da atual Cantábria como o norte das atuais províncias de Palência e de Burgos, tendo a sua capital em Aguilar de Campoo (atualmente da província palentina), que também foi a sede do vasto Marquesado de Aguilar de Campoo [es].
Em finais da Idade Média, a Merindade de Campoo, com capital em Reinosa, separou-se da de Aguilar de Campoo. e os dois territórios nunca mais voltaram a estar unidos. Com a divisão provincial do início do século XIX reconfirmou a separação entre o Campoo cântabro e o Campoo palentino, cujo território integra atualmente a extensa comarca da Montanha Palentina [es]. O Campoo cântabro, com capital em Reinosa, pertenceu inicialmente à Província de Toro [es], que existiu entre 1528 e 1804, e em 1833 foi integrada na Província de Santander, antecessora da atual comunidade autónoma da Cantábria.
Apesar da sua grande extensão, que cobre quase 20% do território da Cantábria, a densidade populacional é muito baixa e tem vindo a descer desde pelo menos a os anos 1970. Em meados dessa década, a região sofreu um um despovoamento e envelhecimento demográfico, devido sobretudo ao declínio da empresa nacional "La Naval" (Forjas e Aços de Reinosa), que no passado foi muito próspera e teve prestígio internacional nos setores de construção naval e de armamento. A indústria foi muito desenvolvida na zona da Reinosa, mas perdeu importância principalmente a partir de 1987. Em abril desse ano ocorreram vários distúrbios motivados pela tentativa de travar os despedimentos massivos planeados pela "La Naval".[carece de fontes] Os enfrentamentos em Matamorosa (uma localidade vizinha de Reinosa), entre sindicalistas e a Guarda Civil causaram a morte a um membro das Comissões Operárias. O sucedido provocou muitas reações e a viúva da vítima processou judicialmente a Guarda Civil.[15]
Após uma traumática reconversão industrial, atualmente as duas principais atividades económicas da região são o turismo, a indústria siderúrgica e a pecuária, especialmente de bovinos e, em muito menor escala, de equinos. O turismo está orientado sobretudo para o alojamento rural, os desportos de aventura que se realizam nas imediações da albufeira do Ebro e os desportos de inverno que se realizam na estação de esqui de Alto Campoo [es].
Até ao início do século XXI, a comarca estava muito isolado do resto da Cantábria devido às deficientes infraestruras de transporte. A dificuldade do passo de montanha de Hoces de Bárcena [es], imprescidível para chegar à comarca desde o resto da Cantábria complicavam muito as comunicações, especialmente no inverno. Essa situação foi ultrapassada em meados da década de 2000 com a conclusão da Autovia Cantábria-Meseta [es] (A-67), que ligou a região com uma via rodoviária de alta capacidade, que atravessa a comarca de norte a sul e é a principal via de comunicação entre a Cantábria e o resto da Espanha.
A comarca está também ligada ao resto da Cantábria pela linha ferroviária C1 da rede da Cercanías Santander, que vai desde Santander até Reinosa. A estação desta cidade [es] também tem serviços da Média Distância da Renfe que ligam a comarca a cidades castelhanas como Aguilar de Campoo, Palência, Valladolid, Segóvia ou Madrid. A Linha de La Robla [es], que liga Bilbau a Leão, também atravessa a comarca, onde tem várias paragens, a mais importante delas a de Mataporquera [es] (capital do município de Valdeolea).
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