Políptico da Capela do Esporão
conjunto de pinturas a óleo sobre madeira de carvalho pintadas cerca de 1530-1537 por mestre flamengo desconhecido que se julga ser do círculo de Gerard David / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
O Políptico da Capela do Esporão é um políptico de pinturas a óleo sobre madeira de carvalho pintadas cerca de 1530-1537 por Mestre flamengo desconhecido que se julga ser do círculo de Gerard David (1460-1523) e que se destinou a decorar inicialmente a Capela do Esporão da Sé de Évora, imediatamente após a edificação desta capela. Os seis painéis sobreviventes, Última Ceia, Prisão de Cristo, Cristo ante Pilatos, Descimento da Cruz, Ressurreição de Cristo e Ascensão de Cristo, encontram-se actualmente no Museu de Évora.[2]
A mais antiga referência escrita conhecida deste Políptico data de 1537, quando o Cardeal-Infante D. Afonso escreveu um relatório de uma visita à Sé de Évora a que deu o título precisamente de Visitação. Esta Visitação, redescoberta por Túlio Espanca em 1944, refere a existência de um Políptico com as cenas da Paixão de Cristo, que estaria colocado na capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade, edificada em 1530 por iniciativa e financiamento de João Mendes de Vasconcelos, fidalgo de posição elevada na corte de então, senhor da herdade e Torre do Esporão, capela que por isso passou a ser conhecida como a do Esporão. Esta capela foi reformulada cerca de 1620, tendo as pinturas originais sido retiradas do seu lugar inicial e passado depois por um período de esquecimento. No início de século XIX, o arcebispo de Évora, Manuel do Cenáculo, ao encontrar estes painéis, bem como os do antigo Políptico da Sé de Évora, abandonados e em muito mau estado de conservação no palácio arcebispal, encarregou o pintor Matias José de Castro, que então pintava os tectos da biblioteca de Évora, de restaurar estas pinturas antigas que ficaram na sua colecção, as quais mais tarde seriam colocadas na Biblioteca Pública de Évora e, finalmente em 1915, seriam transferidas para o Museu de Évora onde se encontram.[3][1]
Markl e Pereira, na sequência de Túlio Espanca, consideram que para além das seis pinturas conhecidas haveria uma outra que trataria o Calvário para uma sequência completa da Paixão de Cristo. Já Luís Reis Santos não aceitava esta tese e integrava os seis painéis como predela do Políptico da Sé de Évora, que assim seria composto por 19 pinturas. Quanto ao autor das seis pinturas, Reis Santos, lembrando que Raczynski encontrou analogias com obras de Hans Memling, supunha que fosse o mesmo do Político da Capela-mor, notando-lhes as mesmas influências dos pintores de Bruges e de Gand, talvez com predominância de Gerard David. Para além das semelhanças da cor e do processo técnico, para Reis Santos parecem incontestáveis as afinidades entre os modelos da Última Ceia e as das obras da Colecção Robert Lehman do MET de Nova Iorque atribuidas por Friedländer a Gerard David.[4]
Markl e Pereira concluem que se o grande Políptico da Sé de Évora abre caminho para uma ideologia imagética que terá os seus reflexos no Políptico da Capela-mor da Sé de Viseu e no Políptico do Convento de São Francisco de Évora, já o Políptico da Capela do Esporão transmite, tardiamente, uma lição arcaica e sem grandes repercussões no evoluir da pintura portuguesa de Quinhentos.[4]