Paulo César Farias foi tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello e de seu vice Itamar Franco nas eleições presidenciais brasileiras de 1989. Três meses após a posse de Fernando Collor na Presidência da República, em 1990, surgiram as primeiras denúncias de corrupção no governo.[2] PC Farias foi a personalidade-chave no escândalo de corrupção conhecido como "esquema PC", que levou à abertura de um processo de impeachment contra o presidente Fernando Collor em 1992.[3]
Em matéria de capa da revista Veja desse mesmo ano, Farias foi acusado por Pedro Collor de Mello, irmão do Presidente da República, de ser o testa de ferro em diversos esquemas de corrupção que passaram a ser descobertos e investigados. O esquema PC arrecadou o equivalente a US$ 8 milhões de empresários privados, equivalente a R$ 30 milhões em 2015, em dois anos e meio do governo Collor (1990–1992). Além disso, o esquema que, segundo os depoimentos coletados, teria contado com o envolvimento direto do presidente, movimentou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos.
PC Farias foi encontrado morto, junto à sua namorada Suzana Marcolino, na praia de Guaxuma em 1996.[4][5] Investigações do legista Badan Palhares deram como resultado que Suzana Marcolino matou PC Farias e se suicidou em seguida.[6] O caso é considerado oficialmente um crime passional, mas para o médico-legista alagoano George Sanguinetti e o perito criminal Ricardo Molina de Figueiredo, o casal teria sido assassinado.
O promotor Luis Vasconcelos, não aceitando a versão oficial, continuou as investigações e levantou supostas evidências da presença de uma terceira pessoa na cena do crime. Posteriormente, ele denunciou à Justiça os ex-seguranças de PC (que permaneciam empregados pela família Farias) Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar dos Santos e José Geraldo da Silva, que foram pronunciados. A defesa recorreu até o STF, que negou o último recurso em junho de 2011, decidindo que os réus iriam a júri popular. Após o julgamento iniciado em maio de 2013, os réus foram considerados inocentes das acusações.[7]
As contradições do caso PC Farias foram objeto de matéria jornalística no programa LinhaDireta da Rede Globo em 1999, que marcou a estreia do programa.[8]
16 de março de 1990 - Um dia após a sua posse como presidente, Fernando Collor de Mello anuncia o Plano Collor, que retira US$ 100 bilhões da economia. Os brasileiros só podem fazer saques bancários no valor máximo de NCz$ 50 mil. O restante está sob controle do Banco Central (BC).
Outubro de 1990 - O então presidente da Petrobras, Luiz Octávio de Motta Veiga, pede demissão e denuncia pressões do empresário Paulo César Farias (PC Farias) e do secretário-geral da Presidência, Marcos Coimbra, para aprovar um empréstimo de US$ 40 milhões à companhia aérea VASP.
31 de Janeiro de 1991 - O presidente anuncia o Plano Collor II. Os preços são congelados e a economia, desindexada. Ações ordinárias da estatal Usiminas vão a leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (Boverj). Eis a primeira empresa a ser privatizada.
Fevereiro de 1991 - Surgem as primeiras suspeitas de compras superfaturadas durante a administração Collor. As superintendências da Legião Brasileira de Assistência (LBA) de São Paulo e do Amazonas detectam indícios de compras superfaturadas de cestas básicas.
Abril de 1991 - Ministros militares criticam os baixos salários dos militares.
8 de maio de 1991 - Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia, pede demissão após críticas e um escândalo amoroso com o ex-ministro da Justiça, Bernardo Cabral.
Junho de 1991 - O Banco do Brasil paga ao Midland Bank, de Londres, parte da dívida de US$ 85,9 milhões contraída por usineiros alagoanos.
Agosto de 1991 - Sob acusações de irregularidades, a presidente da LBA, primeira-dama Rosane Collor, abandona o cargo na entidade filantrópica.
Outubro de 1991 - Denúncias apontam que o Exército realizou concorrência superfaturada para a compra de fardas.
Fevereiro de 1992 - O ministro da Ação Social, Ricardo Fiúza, admite que ganhou um jet ski de presente da construtora OAS.
Março de 1992 - Surgem denúncias de que o ex-diretor do INSS Volnei DÁvila teria recebido propina para liberar verbas do FGTS.
Abril de 1992 - Ministros do governo Collor renunciam em bloco. Apenas Antônio Cabrera, Marcílio Marques Moreira, José Goldemberg, os militares e os recém-nomeados permanecem.
Maio de 1992 - O irmão de Fernando Collor, Pedro Collor, acusa PC Farias de ser o "testa de ferro" do presidente.
4 de junho de 1992 - O irmão de Collor, Pedro, depõe à CPI e acusa PC Farias de montar uma rede de tráfico de influência no governo, com a conivência do presidente.
Julho de 1992 - O motorista de Collor, Eriberto França, vai ao Congresso e confirma os depósitos de PC Farias para a secretária do presidente, Ana Acioli. No mesmo mês, França declara à revista IstoÉ que PC Farias pagava as contas da Casa da Dinda.
3 de agosto de 1992 - O ex-secretário de Imprensa da Presidência, Pedro Luís Rodrigues, avisa que não pretende se despedir de Collor ao deixar o governo. A executiva nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) decide promover uma série de comícios no país pela aprovação do impeachment.
4 de agosto de 1992 - O ex-ministro da Educação José Goldemberg declara que foi "enganado e burlado" por Collor.
5 de agosto de 1992 - O governo decide que o prazo ideal para enfrentar a oposição na votação do impeachment será depois das eleições de 3 de outubro.
15 de agosto de 1992 - Collor anuncia em cadeia nacional de rádio e TV a devolução da última parcela de cruzados novos bloqueados e do empréstimo compulsório cobrado no governo Sarney.
16 de agosto de 1992 - O preto domina na guerra das cores proposta pelo presidente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decide que a entidade pedirá o impeachment de Collor quando o relatório da CPI ficar pronto.
21 de agosto de 1992 - A CPI confirma que a reforma na Casa da Dinda foi paga pela Brasil Jet. Cerca de 40 mil estudantes cariocas, convocados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), pediram o impeachment de Collor. O jornal norte-americano The New York Times comenta em editorial a situação política do Brasil sob o título "Lágrima pelo Brasil".
22 de agosto de 1992 - Telefonemas anônimos afirmam que há bombas no auditório Petrônio Portella, do Senado, onde será apresentado o relatório da CPI. O senador Amir Lando (PMDB-RO) encontra um vírus no computador no qual redigia o relatório da CPI.
24 de agosto de 1992 - A CPI conclui que Collor desonrou a Presidência e tem ligações com o Esquema PC.
25 de agosto de 1992 - Multidões vão às ruas das capitais do país exigir a renúncia de Collor. Os ministros divulgam nota afirmando que vão permanecer para garantir a governabilidade. O ministro da Justiça Célio Borja enfatiza que não é uma manifestação de solidariedade ao presidente. Collor fala sobre a crise para uma emissora de TV argentina. Garante que seu mandato não corre risco e analisa as manifestações de rua como fatos provocados pela campanha eleitoral.
26 de agosto de 1992 - Depois de 85 dias de trabalho da CPI, o senador Amir Lando conclui seu relatório, que incrimina Collor. O texto é aprovado na comissão por 16 a favor e 5 contra.
Setembro de 1992 - A primeira-dama Rosane Collor é indiciada por irregularidades na Legião Brasileira de Assistência (LBA). O procurador-geral da República, Aristides Junqueira, aponta envolvimento de Collor em crimes.
29 de setembro de 1992 - A Câmara dos Deputados vota a favor da abertura do processo de impeachment de Collor por 441 votos a favor e 33 contra.
1º de outubro de 1992 - O processo de impeachment é instaurado no Senado.
2 de outubro de 1992 - Collor é afastado da Presidência até o Senado concluir o processo de impeachment. O vice-presidente Itamar Franco assume provisoriamente o governo e começa a escolher sua equipe ministerial.
29 de dezembro de 1992 - Começa o julgamento de Collor no Senado. O presidente renuncia por meio de uma carta lida pelo advogado Moura Rocha no Senado, para evitar o impeachment.
30 de dezembro de 1992 - Por 76 votos a favor e 3 contra, Fernando Collor é condenado à perda do mandato à inelegibilidade por oito anos.
21 de janeiro de 1993 - PC Farias volta de passeio com a família na Europa; ele retorna três dias antes da data que seu advogado anunciara à justiça a sua volta.
19 de julho de 1993 - PC Farias foge do Brasil num bimotor acompanhado pelo piloto Jorge Bandeira de Mello, seu sócio na empresa de táxi aéreo Brasil-Jet. A rota de fuga começa em Ibimirim (PE), com escalas em Bom Jesus da Lapa (BA), Dourados (MS) e Assunção, no Paraguai, até chegar a Buenos Aires, na Argentina, no dia 20.
30 de junho de 1993 - O juiz Pedro Paulo Castelo Branco, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, decreta a prisão preventiva de Paulo César Farias (PC Farias) por crime de sonegação fiscal.
22 de dezembro de 1994 - PC deixa Brasília e é transferido para uma cela no QG do Corpo de Bombeiros em Maceió (AL).
9 de junho de 1995 - PC deixa a prisão para cumprir o resto da pena em regime aberto, tendo de respeitar o horário de recolhimento à noite, nos fins de semana e feriados.[1]
29 de agosto de 1995 - É exibido o programa SBT Repórter em que PC afirma que Collor tinha conhecimento de todas as suas atividades na campanha.
28 de dezembro de 1995 - O STF concede liberdade condicional ao tesoureiro da campanha de Fernando Collor.
23 de junho de 1996 - Os corpos de PC Farias e sua namorada Suzana Marcolino são encontrados na casa de praia de PC, em Maceió.[1][4]
9 de agosto de 1996 - O legista Fortunato Badan Palhares endossa a versão de crime passional sobre a morte de PC Farias.
17 de dezembro de 1996 - Equipe de peritos que investigou o caso descarta o suicídio de Suzana Marcolino.
15 de setembro de 1999 - Vidente de PC Farias concede entrevista à revista IstoÉ e conta que as brigas entre PC e seu irmão Augusto Farias aconteciam por causa de dinheiro.
18 de novembro de 1999 - A polícia encerra o inquérito sobre a morte de PC e indicia oito ex-funcionários de PC Farias, e o Ministério Público denuncia os ex-seguranças de PC (que permaneciam empregados pela família Farias) Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar dos Santos e José Geraldo da Silva pelo duplo homicídio.
25 de junho de 2011- O STF nega o último recurso de defesa dos réus, que vão a júri popular.
10 de maio de 2013 - Sai o resultado do julgamento. O júri considera que houve duplo assassinato, mas não aponta os autores dos crimes. Os quatro réus são absolvidos por clemência.
Bertoni, Estêvão; Varella, Juca (19 de junho de 2016). «O crime que abalou o país». Folha de S.Paulo. UOL. Consultado em 22 de novembro de 2016A referência emprega parâmetros obsoletos |coautores= (ajuda)