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espécie de mamífero Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O ouriço-preto(nome comum acadêmico) ou luís-cacheiro-preto(nome comum popular) (nome científico: Chaetomys subspinosus) é uma espécie de roedor da família dos eretizontídeos (Erethizontidae) que é endêmico da porção central da Mata Atlântica, do sul do estado de Sergipe, Bahia, Espírito Santo até o norte do Rio de Janeiro.[3][4] Localizado na porção basal da árvore filogenética dos eretizontídeos, o ouriço-preto é a espécie mais antiga da família.
[1] Ouriço-preto | |||||||||||||||||
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Ocorrência: Oligoceno | |||||||||||||||||
Estado de conservação | |||||||||||||||||
Vulnerável (IUCN 3.1) [2] | |||||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||||
Chaetomys subspinosus (Olfers, 1818) | |||||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||||
De hábitos arborícolas e dieta folívora, a espécie também é conhecida em alguns locais como borê, jaú-torino ou gandú.[5] Devido à sua raridade e à capacidade de se manter camuflado em meio à vegetação, por mais de 35 anos a espécie não foi registrada pelos cientistas, o que levou os pesquisadores a suspeitarem que ela estava extinta na natureza. Na década de 80, durante uma expedição científica especialmente designada para avaliar sua existência e distribuição geográfica, o ouriço-preto foi redescoberta na natureza.[3]
É provável que as populações de ouriço-preto estejam em franco declínio, principalmente devido à alteração e redução da Mata Atlântica, embora o seu estado de conservação não seja tão drástico como se considerava anteriormente. Por isso é categorizado como espécie vulnerável à extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN),[2] na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014[6] e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[7][8] Regionalmente, em 2005, foi entendida como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[9] e vulnerável na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia (2017).[10][11] Esta é atualmente a maior espécie de roedor ameaçada de extinção do Brasil,[12] considerada prioritária à conservação por ser monotípica, endêmica e usada por humanos.[13]
Mais recentemente, tem sido realizado um grande esforço por parte de pesquisadores brasileiros para estudar aspectos de sua biologia e propor políticas públicas dentro de um plano de ação nacional à sua conservação.[4]
O ouriço-preto faz parte de um grupo de roedores da subordem Hystricognatha e família dos eretizontídeos (Erethizontidae) conhecidos como ouriços-cacheiros ou porcos-espinhos. Os animais deste grupo recebem estes nomes porque possuem o corpo provido de pelos rígidos e aristiformes, que funcionam como espinhos que participam dos mecanismo de defesa contra predadores.[14] Os registros fósseis evidenciam a presença de ouriços-cacheiros na América do Sul desde o Oligoceno (23,7 a 36,6 milhões de anos atrás).[1]
São reconhecidas 16 espécies na família, divididas em duas subfamílias: Erethizontinae e Chaetomyinae.[15] O ouriço-preto é a única espécie atual da sub-familia Chaetomyinae e do gênero Chaetomys, sendo também a espécie mais divergente e basal (antiga) na filogenia da família dos eretizontídeos. Através de sequenciamento genético estimou-se que o ouriço-preto surgiu a cerca de 21 milhões de anos, enquanto todas as outras espécies de ouriços-cacheiros atualmente existentes do continente americano surgiram nos último 8 milhões de anos. Tais estimativas evidenciam o alto valor filogenético e evolutivo que a espécie representa.[15][16]
O ouriço-preto é um roedor de porte médio, pesando de 1,2 a 2,3 quilos e medindo de 60 a 73 centímetros do focinho à ponta da cauda.[18] Apesar do nome, o animal não é de coloração preta, mas sim apresenta uma coloração brunácea.[19] Recebeu o adjetivo “preto” para diferenciá-lo de outra espécie simpátrica, também endêmica, Coendou insidiosus, chamada comumente de "luís-cacheiro-amarelo", que apresenta os espinhos bicolores (amarelo-preto), mas predominantemente amarelos.[20]
O ouriço-preto também difere das demais espécies de ouriços-cacheiros do continente americano por apresentar os espinhos restritos à parte anterior do corpo (cabeça, pescoço e membros anteriores), enquanto que nas outras espécies os espinhas estão distribuídos em toda superfície dorsal e vão até a base da cauda.[5][18] A pelagem do ouriço-preto é macia e uniformemente ondeada, cobrindo o dorso e as partes posteriores, sem rigidez, e se assemelha a cerdas.[19] Ainda distinguindo-o dos demais ouriços-cacheiros, os espinhos da espécie não possuem farpas.[21] Devido à ausência de espinhos rígidos na parte posterior do corpo, acredita-se que a espécie pode ser mais vulnerável do que outros ouriços quando exposta a predadores.[22]
A distribuição geográfica do ouriço-preto abrange as florestas da porção central da Mata Atlântica, desde o extremo norte do estado do Rio de Janeiro até o sul de Sergipe, incluindo os estados do Espírito Santo, Bahia e nordeste de Minas Gerais. Ao longo dessa distribuição, o ouriço-preto habita restingas arbóreas e também florestas úmidas e semideciduais em estágio médio a avançado de regeneração.[2][23] Apesar da espécie ter sido anteriormente descrita habitando as sistemas agroflorestais à produção de cacau,[1][19] as pesquisas mais elaboradas realizada posteriormente têm indicado que os ouriços-pretos evitam estas plantações assim como outros habitats estruturalmente simplificados da região sul da Bahia, tais como seringais e florestas em estágio inicial de regeneração, com altura inferior a 5 m.[22] Por esta razão e pelo baixo sucesso em encontrá-los nestes ambientes,[4] estes tipos de vegetação não podem ser considerados como habitats adequados para o ouriço-preto.[22] Considerando que tais tipos de vegetação integram boa parte da cobertura florestal da região sul da Bahia, a quantidade de habitat para esta espécie na região é menor do que se supunha antes destas pesquisas detalhadas.[4][22]
O ouriço-preto é um animal noturno e solitário. Tem hábito estritamente arborícola, gastando quase todo o seu tempo em cima de árvores e lianas. Possui diversas adaptações para o hábito arborícola: cauda preênsil, fortes garras e, ao invés de do hálux, apresenta uma grande calosidade móvel e preensora provida de uma estrutura óssea que alarga bastante a sola das patas.[19][24] Estas adaptações auxiliam no seu equilíbrio e segurança durante o deslocamento pelos galhos e cipós.[22][25]
Mais de 90 % da dieta do ouriço-preto é composta de folhas de árvores e lianas, um recurso alimentar fibroso e energeticamente pobre.[26][27] Similar as outras espécies arborícolas folívoras, como as preguiças e os coalas, a espécie adota comportamentos que maximizam sua sobrevivência com baixo gasto de energia. Os animais passam a maior parte do tempo em repouso, apresentando movimentos letárgicos em alguns momentos e buscando maximizar sua camuflagem entre a vegetação para evitar predadores.[24]
Os ouriços-pretos são altamente seletivos para se alimentar, preferindo folhas jovens de árvores leguminosas da família Fabacea, predominando em sua dieta as folhas de Inga thibaudiana, Albizia pedicellaris e Pera glabrata. Ao menos uma destas espécies de árvores aparece como predominante na dieta dos animais de diferentes localidades.[26][27]
Para se alimentarem os animais selecionam grandes árvores próximas a bordas da floresta, provavelmente porque essas árvores recebem maior luminosidade e como consequência apresentam uma alta produtividade de folhas, o que leva a uma maior oferta e reposição de alimento.[22] Para lidar com a dieta fibrosa de folhas, a espécie possui um grande ceco funcional e seleciona folhas jovens com altas concentrações de proteínas.[27] Nas áreas de floresta cada indivíduo estabelece uma área de vida média em torno 2 hectares, que varia entre 0,5 e 15 hectares e onde o indivíduo monitora os recursos disponíveis.[28][29] Por se alimentar desse recurso abundante (folhas de árvores secundárias iniciais abundantes), há sugestões de que a degradação e redução do habitat ocorridas na Mata Atlântica não limitariam a disponibilidade de alimento à espécie.[22][27]
O ouriço-preto desloca-se por cima das árvores durante a noite e repousa em abrigos escuros durante o dia.[22] Utiliza emaranhados de cipós, bromélias, ocos e folhas de palmeiras como abrigo.[24][25][28][29] Raramente desce ao chão durante seus movimentos rotineiros e frequentemente utiliza cipós para se deslocar e repousar.[5] A abundância de cipós determina a seleção de habitat pela espécie tanto na escala de paisagem quanto dentro das florestas.[22]
O ouriço eriça os pelos de suas costas quando se sente ameaçado,[30] sendo importante ressaltar que o animal, apesar do potencial de causar complicações devido suas características, esta apenas assumindo um comportamento de defesa. Os animais domésticos são o verdadeiro perigo para o animal que se encontra ameaçado de extinção devido a diminuição de habitat natural. O animal por ser noturno, frugívoro e arborícola dificilmente se encontrará no mesmo ambiente dos animais de estimação, no entanto a cautela é valida, pois alguns cães, por exemplo, na primeira oportunidade podem atacar o pequeno animal. A melhor saída é o manejo por pessoa capacitada, devolvendo o ouriço à natureza, evitando assim o contato com os animais de estimação e quaisquer acidentes decorrentes do contato.[carece de fontes]
Chaetomys subspinosus é considerada uma espécie vulnerável à extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) devido a sua restrita área de ocorrência e ao contínuo declínio da quantidade e qualidade de habitat disponível à espécie.[2] O ICMBio também classifica a espécie como vulnerável.[7] Mesmo considerando que a degradação e redução dos habitats podem não estar limitando os recursos alimentares do ouriço-preto, é evidente que outras pressões como perda de habitat, isolamento das populações, caça e fogo precisam ser controladas e minimizadas à conservação da espécie.[4][22]
A principal ameaça ao ouriço-preto é a perda de habitat, pois mais de 80 % das áreas de florestas já foram destruídas ao longo de sua distribuição geográfica.[31] O desmatamento tem continuado e, apesar do estado da Bahia abrigar potencialmente a maior população da espécie,[23] este também foi o estado que apresentou as maiores taxas de desmatamento da Mata Atlântica nos anos de 2015 e 2016 segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE, uma preocupante situação à conservação desta e de outras espécies endêmicas do bioma.[32]
Outras ameaças ao ouriço-preto são a caça e o fogo.[4][23] Tais práticas ainda são realizadas com alta frequência, mesmo em áreas protegidas.[20] Além da caça ser proibida pela legislação brasileira, o ouriço-preto pode hospedar Toxoplasma gondii e outros agentes zoonóticos, sendo desaconselhado o seu consumo por causa do risco de transmissão de doenças.[33][34]
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