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romancista, poeta e dama de companhia na corte imperial japonesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Murasaki Shikibu ( 紫式部 ? , conhecida no ocidente como Lady Murasaki, 973 ou 978 – 1014 ou 1031) foi uma romancista japonesa, poetisa e dama de companhia na corte imperial durante o período Heian. Ela é mais conhecida como a autora do Genji Monogatari ("A História dos Genji"), escrito aproximadamente entre 1000 e 1012.[1][2] Murasaki Shikibu era seu nome artístico; seu nome real é desconhecido, mas acredita-se que seja Fujiwara Takako, mencionada no Diário da Corte de 1007 como uma dama de companhia imperial.[3]
Murasaki Shikibu 紫式部 | |
---|---|
Nascimento | 978 |
Morte | 1031 (53 anos) |
Gênero literário | waka |
Como em qualquer sociedade medieval, as mulheres da corte japonesa, embora muito privilegiadas em comparação com as das classes mais baixas, estavam sujeitas a uma série de regras e limites. Além de totalmente isoladas do mundo externo, elas também viviam limitadas pela própria língua, visto que desconheciam o vocabulário da linguagem culta, que era então de uso exclusivo dos eruditos do sexo masculino. A despeito das circunstâncias, um grupo de nobres japonesas talentosas criou a melhor literatura da época, dentre as quais Murasaki Shikibu é o nome mais eminente. No Japão do período Heian, assim como na Grécia clássica, no Islã, na Índia pós-védica e na Europa medieval, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura séria: deviam restringir-se à diversão banal e frívola das novelas e fábulas que os eruditos confucianos desprezavam.
Mesmo que todas as bibliotecas da literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não identificariam a realidade do seu cotidiano nas narrativas de autoria masculina. Portanto, em parte para ampliar o acervo da literatura feminina, e em parte para dar expressão à sua visão do mundo, elas criaram uma literatura própria. Para registrá-la, criaram também um estilo de escrita caracterizado pela transcrição fonética da língua que tinham permissão de falar, o Kanabungaku, um japonês expurgado de quase todas influências de palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como escrita das mulheres e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica. Louis Perez explica em sua A História do Japão que: as mulheres... eram criadas para serem incapazes de ter uma inteligência real e, portanto, não foram educadas no chinês.[4]
Mas Murasaki, nascida na casa de um erudito (Fujiwara no Tametoki, Kokushi de Echizen), mostrou uma aptidão precoce para os clássicos chineses e conseguiu adquirir fluência na língua culta. O bisavô de Murasaki, Fujiwara no Kanesuke, pertencera as camadas superiores da aristocracia, mas seu ramo familiar foi perdendo força e no momento do nascimento de Murasaki a família só conseguia cargos como governadores provinciais.[5] Os escalões inferiores da nobreza tinham seus postos longe da Corte nos indesejáveis cargos nas províncias, exilados do poder central em Quioto.[6]
Murasaki na época de seu casamento deveria estar com seus vinte e poucos anos, era um pouco velha pelos padrões da era Heian para se casar.[7]
Se casou um primo de segundo grau muito mais velho, Fujiwara Nobutaka, descendente do mesmo ramo do clã Fujiwara, o Kanjūji, ele era membro da Corte e como o pai de Murasaki trabalhava no "Shikibu-shō" (Ministério do Cerimonial).[8] Tinha a reputação de se vestir de maneira extravagante e de ser um dançarino talentoso.[7]
Murasaki teve com ele sua única filha (Daini no Sanmi),[9] antes de seu marido morresse, dois anos depois de se casarem.[10]
É incerto quando ela começou a escrever o Genji Monogatari, mas provavelmente logo após ter ficado viúva. Em 1005, Murasaki foi convidada a servir como uma das damas de companhia (nyōbō ) da Imperatriz Fujiwara no Shoshi (Taiken-mon-In), esposa do Imperador Ichijo na Corte Imperial, provavelmente por causa de sua reputação como escritora.[3]
Consta que além do monumental Genji Monogatari, Murasaki Shikibu escreveu um 'Diário, onde com acuidade fez um registro e análise do monótono cotidiano de uma mulher nobre do período Heian. Mas foi, de fato, com a História dos Genji que seu nome transpôs os muros do palácio imperial e se expandiu para além de sua época e país de nascimento. Com um estilo quase proustiano de escrever, ela hoje figura entre os grandes escritores da literatura universal, e o seu Genji Monogatari é tido como um clássico da literatura japonesa. Sua narrativa é fluente e dotada de agudeza psicológica, mas o enredo é longo (1100 páginas na tradução de Edward G. Seidensticker) e complexo, requerendo extrema atenção do leitor devido ao número excessivo de personagens — além do príncipe Genji, há outros 50 personagens principais. Não obstante, a história é apaixonante e Genji lembra, em certas passagens, a Dom Juan de Lord Byron. Comparada a Jane Austen e Virginia Woolf, Lady Murasaki é irônica e intimista, e às vezes parece antecipar Freud ao demonstrar, sutilmente, como as transferências eróticas podem ser substituições de relacionamentos passados.
O crítico norte-americano, Harold Bloom, que incluiu Lady Murasaki entre os 100 maiores gênios da literatura, disse que "a História dos Genji está para cultura japonesa assim como Dom Quixote está para a cultura ocidental".[11]
Por seus feitos foi considerada para fazer parte do Nyōbō Sanjūrokkasen ( 女房三十六歌仙 as trinta e seis grandes poetisas?), relacionadas no período Kamakura, refere-se a versão feminina dos Trinta e seis Imortais da Poesia.[12]
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