arquitecto paisagista português Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Jacinto de Matos, também grafado Jacintho de Mattos, (Porto, 1864 - Porto, 1 de agosto1948) foi um horticultor e jardineiro-paisagistaportuguês do final do século XIX e primeira metade do século XX. Suas obras comtemplavam a mistura do modelo clássico e formalista com modelos românticos, naturalistas e pitorescos, aderindo ao estilo Arts and Crafts e inaugurando a experimentação dos jardins rebaixados (sunken gardens) em Portugal.[1][2]
Pouco se sabe sobre a infância e juventude de Jacinto de Matos. Segundo Abel Magro, em seu artigo "Um jardineiro de mérito" (1950), Matos possuia uma incrível sensibilidade artística e grande paixão por flores.[3] Viagens pela Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra e França, lhe deram a oportunidade de aprender sobre floricultura e a arte da jardinagem.[2]
Em 1870, Jacinto de Matos herdou um horto fundado por seu pai, Zeferino de Mattos, no Porto. Após a morte de seu pai, em 1878, o horto designou-se "Viúva de Zeferino de Mattos", pertencendo à sua mãe e sendo ele director. Em 1900, ele se torna proprietário.[2]
O seu estabelecimento (a Quinta dos Salgueiros, na região de Antas) era um grande viveiro com estufas e armações de jardim. Possuia também um departamento técnico para o desenho de jardins e parques. Alguns dos viveiros eram situados em Vila Nova de Gaia.[2]
O Parque das Pedras Salgadas em 1889 é considerado o seu primeiro projeto de um percurso que integra 50 jardins públicos e mais de 650 parques e jardins privados.[2]
Em 1898, Jacinto de Matos foi sócio fundador, em Lisboa, da Sociedade Nacional de Horticultura de Portugal. Em 1899, participou à fundação da União dos Jardineiros do Porto enquanto presidente da assembleia geral (sendo reeleito em outubro de 1901).[1]
Em 1903, Jacinto de Matos presidia (com Jeronimo Monteiro da Costa e José Duarte Oliveira) a reuniões da Sociedade de Horticultura do Porto, a primeira sociedade hortícola em Portugal (1897), onde eram apresentadas espécies ornamentais e frutos para avaliação pelos membros. Embora não tendo realizado a sua formação neste estabelecimento, Jacinto assume um protagonismo significativo nas actividades da Sociedade associadas à homenagem póstuma a Marques Loureiro, demonstrando que, também ele, teria sido, de algum modo, marcado pelo ‘decano da horticultura portuguesa’.[1]
Na sessão de 6 de Junho de 1899 da Sociedade de Horticultura do Porto, Jacinto de Matos informou que, em Julho, partia em viagem de estudo pelos principais centros hortícolas da Europa. A Sociedade de Horticultura deu-lhe plenos poderes para que ele a pudesse representar no estrangeiro e relacioná-la com todas as sociedades congéneres.[1]
A partir de 1882, organizou e participou em diversas exposições no Palácio de Cristal do Porto e no Ateneu Portuense. Participou também numa exposição de fruticultura em Alcobaça; outra de flores e fruticultura na Cúria; três exposições de crisântemos e fruticultura na Galiza, (Pontevedra e Vigo); uma exposição de rosas por si organizada em Vigo; e uma exposição de flores na Figueira da Foz.[2]
No livro Jardins Históricos do Porto (Ed. Inapa, 2001), Teresa Andresen e Teresa Portela Marques enumeram alguns dos jardins e parques projectados por Jacinto de Matos em todo o país: Parque de São Roque, jardim da Ordem dos Médicos (à Arca d'Água), Parque da Curia, Parque das Pedras Salgadas, espelhos de água dos jardins da Presidência do Conselho de Ministros, Jardim da Fundação Eng. António de Matos, jardim da Ordem dos Médicos, Jardim municipal de Nisa, e, ainda existentes no Porto, a Quinta de S. Roque da Lameira e o jardim da Casa Allen (Casa das Artes) e a Quinta dos Salgueiros no Porto, onde do antigo arvoredo, sobrevivem ainda camélias, pinheiros, cedros, ciprestes-do-Buçaco, bétulas, prunus, magnólias, grevíleas, carvalhos-americanos e uma imponente faia. Foi ainda autor do Jardim do Cardal e do Jardim da Várzea, em Pombal.[4]
Em 2009, Teresa Dulce Portela Marques[1] estabeleceu a seguinte lista para os parques e jardins da sua autoria:
Leça da Palmeira. Jardim da casa de Ernesto de Nogueira Pinto. Catálogo Geral de Plantas e Sementes – Jacinto de Matos, nº 28, 1910.
Porto, Casa de José Zagallo Ilharco. Catálogo Geral de Plantas e Sementes – Jacinto de Matos, nº 28, 1910.
Leça da Palmeira, Jardim de Adelaide Nogueira Pinto. Catálogo Geral de Plantas e Sementes – Jacinto de Matos, nº 28, 1910.
Braga, Lago naturalizado no Parque de Joaquim Pinto da Fonseca, apresentado no catálogo de Jacinto de Matos de 1904 e no catálogo de 1910.
Porto, Lago do Parque de Hermann Burmester. Fotografias publicadas no Catálogo Geral de Plantas e Sementes – Jacinto de Matos, nº 28, 1910.
Lousada, freguesia de Cristelos. Parque da Casa da Costilha, propriedade de Luiz Otto Burmester, fotografias publicadas no catálogo nº 20 de Jacinto de Matos, para 1904. Lago, gruta e passarinheira.
Felgueiras. Parque de António Mendes de Castro Vasconcellos ou Casa de Cabeça de Porca. Fotografias publicadas no catálogo nº 28 (1910) da Casa Jacinto de Matos. A alameda dava acesso ao lago, à gruta-miradouro e ao jardim alpino.
Riba d'Ave, Famalicão. Casa de Raul Ferreira, conde de Riba d'Ave. Fotografias de 1922 publicadas no catálogo da Casa Jacinto de Matos.
Mouquim, Famalicão. Jardim da Quinta da Costa. Fotografias publicadas no catálogo da Casa Jacinto de Matos.
Riba d’Ave, Famalicão. Pavilhão e Jardim de Manuel Ferreira. Fotografias publicadas no catálogo da Casa Jacinto de Matos.
Parque das Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar, 1889
Entrada.
Casino.
Casa de Chá.
Avenida das Nascentes.
Cais d'embarque.
Lago.
Gruta Maria Pia.
Hotel do Norte.
Hotel Universal.
Campo de Jogos.
Observatório.
Hotel do Avelames.
Palácio da Brejoeira, Monção, 1901-1910
Parterre.
Gruta.
Lago.
Passeio de barco.
Ilha.
Termas de Caldelas, 1918-1923
Hotel Bela Vista e Balneário.
Buvette.
Varanda do Hotel Bela Vista.
Elevador.
Esplanada e elevador.
Termas da Curia, Anadia, 1913-1926
Entrada.
Palace Hotel.
Palace Hotel.
Piscina Paraíso.
Casino.
Casino.
Confeitaria Bijou.
Buvette.
Buvette (interior).
Ponte dos Amores.
Lago.
Passeio de barco.
Parterre.
Buvette.
Mesas do Jardim.
Hotel e Lago.
Parque de Santa Cruz / Jardim da Sereia, Coimbra (requalificação)
Pórtico (Caridade, Fé, Esperança)
Cascata.
Cascata.
Alameda.
Fonte da Sereia ou Tritão.
Patamar.
Jogo da Bola e Repuxo.
Penedo da Saudade, Coimbra, 1930
Penedo da Saudade.
António Nobre.
Caminho.
Retiro dos Poetas.
Sala dos Cursos.
Terraço.
Miradouro.
Miradouro.
Parque Municipal Infante D. Pedro, Aveiro, 1925-1927
O bem conservado jardim da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos,[7] junto à Arca d’Água, pertenceu à família Riba d’Ave.[7] Possui lago, gruta e miradouro decorados com os tradicionais motivos naturais em cimento armado, para além de várias esculturas modernas. A vegetação inclui um Cedro-do-Atlas e um Tulipeiro, ambos classificados em 2011, ciprestes, araucácias, rododendros, magnólias, palmeiras, camélias e uma monumental araucária-do-Brasil. Destacam-se ainda as 13 magnólias e os plátanos monumentais, coreto, lago, gruta e subterrâneos/reservatórios de águas.
O Parque Manuel Braga em Coimbra começou a ser construído nos meados da década de 20 do século passado e foi inaugurado em 1927. Destacam-se várias espécies de árvores, tais como os plátanos, tílias, olaias, castanheiros-da índia e ulmeiros, entre outras. Notáveis são igualmente os belos canteiros ajardinados, onde sobressaem desenhos com buxos e flores compondo o brasão da Rainha Isabel de Aragão, padroeira da cidade, e o escudo de Coimbra, além de um emblema do Clube de Futebol União de Coimbra e um outro da Associação Académica.
No parque natural de Pedras Salgadas, descobre-se o denso e valioso património arbóreo, com exemplares notáveis de sequoia-sempre-verde (Sequoia sempervirens), sequoia-gigante (Sequoiadendron giganteum), abeto-de-Douglas (Pseudotsuga menziesii), cedro-do-Atlas (Cedrus atlântica), cipreste-do-Buçaco (Cupressus lusitanica), calocedro (Calocedrus decurrens), faia (Fagus sylvatica), ou exemplares admiráveis de espécies raras como a cuningamia (Cunninghamia lanceolata), ou a metasequoia (Metasequoia glyptostroboides). Os jardins do parque adquiriram o desenho de caráter marcadamente romântico com Jacinto de Matos, surpreende com os pequenos recantos e grutas, a água que corre nas fontes ou as antigas casas de pássaros e o observatório meteorológico, que guardam lembranças do passado. Existem dois pequenos jardins formais: o Jardim do Casino, com topiárias de buxo (Buxus microphylla), e o Roseiral, construído nos anos 1950, recentemente recuperado.[8]
A Casa Nova, que alberga a Fundação Engenheiro António de Almeida,[9] foi construída nos anos trinta do século XX tendo os seus jardim sido desenhado pelo horticultor e paisagista portuense, que segundo o livro Jardins Históricos do Porto, o jardim da Casa Nova, um dos últimos da grande tradição dos jardins portuenses. É, acima de tudo, um jardim para a disposição de plantas e, ainda hoje, é notável a diversidade arbórea e arbustiva. Entre os arbustos, cabe destacar as azáleas, os rododendros e a variada colecção de camélias; e, entre as numerosas árvores hoje adultas, de assinalar a alameda de tulipeiros e várias faias, liquidâmbares e carvalhos de avantajado porte.
À obra de Jacinto Matos há que acrescentar a colaboração com seu amigo José Zagalo Ilharco (1860-1910) na criação do Parque Zagalo Ilharco, jardim que rodeava a vivenda mandada construir por este último em 1902 na Avenida da Boavista, no Porto.