Dorival Knipel
futebolista brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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Dorival Knipel, também conhecido como Yustrich[1] (Corumbá, 28 de setembro de 1917 – Belo Horizonte, 15 de fevereiro de 1990), foi um futebolista e treinador brasileiro.
Jogou como goleiro de clubes cariocas, mas se notabilizou como um técnico famoso por sua exigência, suas idiossincrasias e por seu temperamento explosivo, tendo protagonizado diversas histórias que fazem parte do folclore do futebol brasileiro.
Nascido no Mato Grosso do Sul, de pais de origem alemã,[1][2] Yustrich se mudou com a família para o Rio de Janeiro quando tinha seis meses de idade.
Começou a carreira esportiva como boxeador, mas permaneceu no ringue por pouco tempo.[2] Dorival Knipel começou no futebol aos 18 anos como goleiro do Flamengo, onde jogou até 1944. Ganhou o apelido de Yustrich por sua semelhança física com Juan Elias Yustrich,[1][3] famoso goleiro argentino, do Boca Juniors.[2] Neste período conquistou os títulos cariocas de 1939 e o tricampeonato de 1942 a 1944.
Em 1944 foi para o Vasco da Gama, transferindo-se depois para o América, também do Rio de Janeiro.
Formou-se em Educação Física pela Escola Nacional de Educação Física, da Praia Vermelha, atual UFRJ.[1]
Na década de 1950, já era técnico de futebol, com fama de disciplinador e durão: não permitia que atletas sob seu comando fumassem, deixassem a barba por fazer e usassem cabelo comprido.[2] Não tolerava atrasos e falta de empenho nos treinamentos.
Arrogante e de temperamento explosivo, gostava de exibir sua valentia. Era chamado de "Homão"[1][2] por causa de sua alardeada macheza e pelos seus quase 1,90 m de altura e seu físico avantajado ou, segundo um cronista esportivo, paquidérmico. Envolvia-se em constantes atritos com jogadores, colegas, dirigentes e a imprensa.
Teve a primeira oportunidade como treinador no América-MG em 1948.[1]
Em 1951, Yustrich teve a primeira oportunidade de treinar o Atlético-MG. Acabou vice-campeão perdendo para o Villa Nova, no Independência.[1] Em 1952, foi expulso do Atlético Mineiro pelos jogadores, chateados de verem alguns colegas rejeitados pelo técnico.
Após treinar o Villa Nova, em 1953, e o América-MG, em 1954, Yustrich seguiu para Portugal.[1] Em 1955, estava no Futebol Clube do Porto, para fazê-lo campeão em 1956.[4] No mesmo ano, o Porto venceu a Taça Portugal, ao conquistar no mesmo ano os dois maiores títulos daquele país.[5]
Mesmo com essas conquistas, Yustrich era antipatizado por alguns de seus jogadores, entre eles Hernani Silva, o ídolo do time. Em 1958, o Porto goleou o Oriental por 5 a 0 e Yustrich mandou os seus jogadores agradecerem ao público o apoio que lhes tinha sido dado. Hernani foi o único a não cumprir a ordem porque não estava para "alimentar as palhaçadas do treinador".[1] Foi o suficiente para se iniciar uma discussão áspera que culminou com um troca de socos. Hernani, além de jogador, era sargento do exército e Portugal vivia sob a ditadura de Salazar.[3] No final da temporada, Yustrich foi dispensado.
Em 1959, dirigiu o Vasco da Gama.
Em 1964, estava no Siderúrgica, da cidade mineira de Sabará e conquistou o título estadual[2], quebrando a hegemonia dos grandes clubes. O Siderúrgica havia arrebatado um título estadual pela última vez em 1937.
Do Siderúrgica, foi para outro time do interior, o Villa Nova, de Nova Lima. Em seguida, voltou ao Atlético Mineiro e conquistou uma das melhores fases do Galo, várias vezes campeão mineiro sob sua direção.
Yustrich se tornou técnico da Seleção Brasileira por uma única partida e de uma maneira peculiar. Em dezembro de 1968, o Atlético foi convidado a representar o Brasil num amistoso contra a antiga Iugoslávia. Vestindo a camiseta canarinho, o Atlético venceu por 3x2.
Em 1969, na preparação da Seleção Brasileira para a Copa de 1970, então dirigida por João Saldanha, foi programada uma partida contra a seleção mineira, no Estádio do Mineirão.[2] Mas quem entrou em campo, vestindo a camiseta vermelha da Federação Mineira, foi o Atlético, que venceu a seleção que se tornaria campeã do mundo por 2 a 1. Ao final da partida, Yustrich obrigou seus jogadores a darem a volta olímpica no gramado[6], usando a penugem alvinegra do Atlético que vestiam por baixo da vermelha da Seleção de Minas. O Mineirão quase veio abaixo, a equipe de limpeza demorou três dias para conseguir limpar todas as penas. Isto lhe valeu a inimizade de João Saldanha.
No Atlético Mineiro, Yustrich deu uma atenção especial a um jovem jogador vindo do Rio, de nome Dario, que se consagraria como o maior artilheiro do Galo até então. Com treinamentos especiais, Yustrich deu ao jovem Dario as condições técnicas e a autoconfiança que lhe faltavam, fato que o próprio jogador reconhece publicamente.
No entanto, com o jogador uruguaio Cincunegui, Yustrich teve desentendimentos que culminaram com seu afastamento do Atlético. Criticado pelo treinador por haver retardado por uma semana seu retorno de férias, o uruguaio e Yustrich passaram a ter discussões cada vez mais fortes. A certa altura, Cincunegui teria apontado um revólver para Yustrich.
Em 1970, Yustrich foi para o Flamengo cercado de grandes expectativas e começou o ano arrasador. Em fevereiro, pelo Torneio de Verão, a vitória de 6x1 sobre o Independiente da Argentina, com cinco gols no primeiro tempo, deixou a torcida empolgada com o novo treinador. Mas os resultados seguintes decepcionaram. Com apenas oito vitórias em 25 partidas no primeiro semestre de 1971, a diretoria rubro-negra atribuiu a má fase do clube aos métodos rígidos de Yustrich e optou por demiti-lo.
Mas o fato mais marcante de sua passagem pelo Flamengo foi vivido fora de campo. Convencido de que seria convocado para comandar a seleção brasileira, caso João Saldanha, que estava em baixa, fosse demitido, Yustrich começou a carregar nas críticas ao treinador. Saldanha, que andava irritado com Yustrich desde o jogo-treino no Mineirão e também tinha um temperamento explosivo, entrou armado de revólver na concentração do Flamengo[6], em 12 de março de 1970[2], mas Yustrich não estava no local. Este gesto colocou Saldanha na berlinda e bastou um empate da seleção com o modesto time do Bangu, para que fosse demitido. Foi substituído por Zagallo.
Depois do Flamengo, treinou o Corinthians e o Coritiba.
Em 1977, estava novamente no futebol mineiro, desta feita no Cruzeiro, onde, já de início, tomou uma medida que desagradou aos jogadores: proibiu o jogo de sinuca na concentração. Mas naquele ano o Cruzeiro sagrou-se campeão mineiro.
Do Cruzeiro, Yustrich foi dispensado por conta de uma discussão em torno de um fato banal. Após um jogo em Araxá, um jogador deu a camisa para um garoto que invadira o gramado. Yustrich mandou o roupeiro buscar a peça. O presidente do clube não permitiu. Armou-se o bate-boca e o treinador foi demitido ali mesmo à vista de todos. Este incidente teria sido apenas o pretexto para dispensar um treinador já desgastado. Yustrich tentara tirar o zagueiro Brito, campeão mundial em 1970, da equipe titular, por ter o hábito de fumar. Não conseguiu, porém, vencer a oposição dos outros jogadores e da diretoria. Daí, como forma de mostrar seu descontentamento, substituía Brito durante as partidas sempre que tinha oportunidade. O craque se irritou a tal ponto que, ao ser substituído pela enésima vez, jogou a camiseta suada no rosto do treinador diante do público.
Yustrich encerrou em 1985, no Villa Nova, sua carreira de treinador. Retirou-se para o mais completo anonimato e só foi notícia novamente com sua morte, em 1990. Este isolamento é a razão de serem hoje incompletas e distorcidas as informações sobre ele, aliado ao fato de nutrir antipatia pela imprensa, a ponto de proibir repórteres de entrevistar seus jogadores e até de ficar nas proximidades dos vestiários. Alguns cronistas esportivos chegam a atribuir a ele a nacionalidade argentina, numa evidente confusão com seu homônimo do Boca Juniors, também já falecido.
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