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Movimento beneficente português Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A Cruzada das Mulheres Portuguesas GCTE (1916-1938) foi um movimento de beneficência feminino criado a 20 de março de 1916, por iniciativa de Elzira Dantas Machado,[1] esposa de Bernardino Machado, ao tempo Presidente da República Portuguesa. A sua fundadora lançou o projecto a partir da remodelação da Comissão Feminina "Pela Pátria" (1914), associação que precedera à Cruzada, com o objectivo de prestar assistência moral e material aos que dela necessitassem, em resultado da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial e da consequente mobilização de homens para o Exército e frente de combate.[2] A instituição extinguiu-se em 1938.[3]
Tipo | Movimento ou associação de beneficência feminino |
Fundação | 1916 |
Extinção | 1938 |
Propósito | prestar assistência moral e material aos combatentes na frente de combate e suas famílias, assim como às vítimas e órfãos de guerra |
Sede | Lisboa |
Fundador(a) | Elzira Dantas Machado |
Pessoas importantes | Ana de Castro Osório Ana Augusta de Castilho Antónia Bermudes Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho Ester Norton de Matos Sofia Quintino Maria Veleda |
Prêmio(s) | Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito |
Inspirada no movimento francês La Croisade des Femmes Françaises, a Cruzada das Mulheres Portuguesas (CMP) foi fundada como um movimento de beneficência, exclusivamente aberto às mulheres, com o apoio do Partido Republicano Português e com o objectivo de providenciar assistência moral e material às pessoas e instituições afectadas pelas consequências da guerra contra a Alemanha, inicialmente focada no conflito na fronteira sul de Angola e no norte de Moçambique, até então colónias e territórios portugueses.[4][5]
A sua fundadora, a Primeira Dama Elzira Dantas Machado, rodeou-se de um grupo de senhoras pertencentes, na sua maioria, às famílias dos ministros e parlamentares do governo da época, das suas próprias filhas (Maria Francisca, Elzira Severina, Jerónima Rosa e Joaquina Mariana), assim como de Estefânia Macieira e Palmira Pádua, primeiras secretárias-gerais, Ester Norton de Matos, presidente da Comissão de Assistência aos Militares Mobilizados e esposa do General José Norton de Matos, as fundadoras da anterior Comissão Feminina "Pela Pátria", as feministas e activistas republicanas Ana de Castro Osório, Ana Augusta de Castilho, Antónia Bermudes e Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Faria Pinho, e diversas outras figuras de destaques, como a médica Sofia Quintino, da Associação do Livre Pensamento.[6]
Ao contrário da Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra, uma associação também inteiramente feminina, mas associada à aristocracia monárquica e à Igreja Católica, a Cruzada das Mulheres Portuguesas assumia-se como uma colectividade de carácter republicano e democrático, sem no entanto impor qualquer militância associativa às mulheres que nela tomavam parte. Seria um dos primeiros e raros casos em Portugal, onde mulheres sufragistas, apoiantes do Partido Republicano e da Primeira República Portuguesa, familiares de membros do governo da União Sagrada e posteriormente do regime de Sidónio Pais, ou sem qualquer ideologia partidária trabalhariam em conjunto.
O núcleo fundador da Cruzada contava, em 1916, com 80 sócias e tinha sede em Lisboa. Nos seguintes anos, várias subcomissões seriam criadas em várias cidades não só do país (Leiria,[7] Torres Novas, Ponte de Sor, Viana do Castelo, Setúbal, entre muitas outras) como nas colónias portuguesas (Amboim, em Angola) e países aliados (Brasil).[8]
Com o envolvimento de Portugal na frente europeia, durante a presidência de Bernardino Machado, a partir de 1917, como consequência da mais antiga aliança do mundo, a aliança luso‑britânica, e no espírito do tratado de Windsor, a Cruzada das Mulheres Portuguesas encarregou-se não só pelas campanhas de recolha de donativos, confecção e distribuição de bens e agasalhos aos mais carenciados, como também pela organização dos cursos de enfermagem necessários para preparar enfermeiras para os hospitais militares portugueses, incluindo os hospitais de campanha na frente europeia. A CMP confiaria, inicialmente, à médica Sofia Quintino a missão de dirigir os primeiros cursos de enfermagem, de modo a poderem ser preparadas as mulheres que pretendessem ir para a frente de combate, auxiliando os feridos, servindo os ideais da nação, tal como os entendiam Ana de Castro Osório e Elzira Dantas Machado na criação do movimento.[9]
De modo a ingressarem nos seus cursos, a CMP pedia que as suas candidatas tivessem entre 20 e 30 anos de idade - durante a guerra o período seria alargado até aos 40 anos -, robustez física, ausência de qualquer doença contagiosa, literacia ao nível do exame do segundo grau da instrução primária, bom comportamento civil e uma perfeita dignidade moral. Dava-se ainda a preferência às candidatas que já tivessem prática de enfermagem (mesmo que pouca ou como auxiliar), fossem estudantes de medicina e soubessem francês e inglês.[10]
Os cursos funcionavam no Instituto Clínico, um hospital policlínico organizado pela instituição e presidido por Alzira Costa, no antigo convento de Arroios e no antigo Colégio Jesuíta de Campolide, em Lisboa.[1] Este último, era dirigido pelo médico Francisco Gentil, sendo frequentemente referenciado simplesmente como Instituto da Cruzada. Destinava-se à convalescença dos feridos de guerra, funcionando como importante campo de experimentação para a organização do futuro Instituto de Reeducação dos Mutilados de Guerra.[11]
A Cruzada das Mulheres Portuguesas manteve um grande número de iniciativas beneficentes e assistências durante a Primeira Guerra Mundial, centrando-se no apoio às famílias dos soldados mobilizados para integrar o Corpo Expedicionário Português, em Flandres, e no auxílio aos prisioneiros de guerra portugueses. Uma das suas iniciativas seria "As Madrinhas de Guerra", onde dezenas de mulheres davam ânimo aos prisioneiros através das suas cartas.[12][13] Criaram ainda, em França, o Hospital Militar Português, também denominado Hospital Central de Hendaia, no antigo Casino de Hendaia, dispondo de 106 camas, uma sala de radiografia e outra de operações. O material hospitalar havia sido parcialmente adquirido em Portugal, sendo complementado com utensílios provenientes do Hospital Militar de Bayonne. Destinava-se a funcionar como ponto de transição no transporte de doentes e feridos entre França e Portugal.
Na obra "Os Portugueses nas Trincheiras da Grande Guerra", publicada pela própria Cruzada, o Major Bento Roma, na altura Capitão da 1ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 13, em Flandres, dedicou um trecho às mulheres de Portugal que partiram com a missão de auxiliar os militares: «Mas no meio de tudo isto, os que não morriam e ficavam somente feridos, tinham momentos felizes indo para os hospitais. Livravam‑se por algum tempo da trincheira, e entre os "poilus", havia mesmo a chamada "bonne blessure", o ferimento que sem ser perigoso livrava contudo dos horrores da trincheira. E nos hospitais os nossos iam encontrar – oh! suprema dedicação – mãos femininas para os tratar e mãos femininas de portuguesas. Não quiseram as mulheres da minha terra que outras fossem a olhar pelos nossos feridos e vá de partirem; pondo de parte o seu bem‑estar, pondo de parte preconceitos, que sempre existem para irem, numa cruzada santa, levar, com o seu sorriso, com as suas palavras doces, com as suas mãos de fadas, conforto, alívio e alento a esses que por lá andavam, por terras de França, batendo‑se a cumprir com o seu dever. E elas, habituadas a respirar o encanto e o perfume do seu "home", para lá foram, para lá partiram, para junto do sofrimento e da dor.» Muitas das suas enfermeiras não se confinavam apenas a missões de retaguarda, partindo muitas vezes com os militares para a frente do campo da batalha.[14]
Foram também construídos inúmeros estabelecimentos, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades profissionais e o acolhimento dos mais desfavorecidos, nomeadamente a Casa de Trabalho em Xabregas, nas quais as mulheres e viúvas de militares podiam usufruir de uma formação profissional para melhorar a sua situação laboral,e a abertura de várias creches, escolas primárias e orfanatos em zonas mais desfavoráveis de todo o país. Em diversos casos, ainda trabalharam em conjunto com as mulheres monárquicas e católicas da Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra e as "Damas Enfermeiras" da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, nas iniciativas do jornal O Século, denominadas de "Venda da Flor", entre outras, para arrecadarem fundos de apoio às suas diversas obras.[15]
Para além dessas actividades, em 1916, a iniciativa "Obra Maternal" da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, criada por Maria Veleda, com o intuito de ajudar as crianças abandonadas, órfãs, mendigas, ou em risco de ingressarem no mundo do crime e da prostituição, tornou-se responsabilidade da Cruzada das Mulheres Portuguesas de modo a se incluir e prestar auxílio aos inúmeros órfãos de guerra.[16]
Até a sua extinção, em 1938, a instituição teve uma grande expansão, criando núcleos locais nas principais cidades e vilas portuguesas.[1][17]
A 12 de junho de 1919, a CMP foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito pelo regime ditatorial da República Nova de Sidónio Pais.[18] Em simultâneo, concedeu-se à sua presidente-geral, Elzira Dantas Machado, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, enquanto esta vivia no exílio, em França, com o seu marido e filhos.[19][20]
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