Castelo de Alcantarilha
castelo medieval em Alcantarilha, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
castelo medieval em Alcantarilha, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Castelo de Alcantarilha, também referido como Muralhas de Alcantarilha, foi um antigo complexo militar na localidade e freguesia de Alcantarilha, no município de Silves, na região do Algarve, em Portugal. Foi originalmente construído durante o período muçulmano, tendo depois conhecido várias obras de expansão ao longo da sua história.[1] Tinha uma função dupla, tanto para defender o interior do Algarve como para impedir invasões vindas de forças desembarcadas na costa.[1] Entrou numa fase de declínio a partir do século XVIII, que levou à sua quase total demolição, tendo sobrevivido apenas alguns lanços de muralhas.[1]
Castelo de Alcantarilha | |
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Vestígios da muralha na Travessa do Castelo, em Outubro de 2019. | |
Informações gerais | |
Construção | Século XII |
Aberto ao público | |
Estado de conservação | Mau |
Património de Portugal | |
Classificação | Imóvel de Interesse Público [♦] |
DGPC | 74120 |
SIPA | 2824 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Alcantarilha |
Coordenadas | 37° 07′ 42″ N, 8° 20′ 44″ O |
Localização em mapa dinâmico | |
[♦] ^ DL 129/77 de 29-09-1977 |
Castelo de Alcantarilha | |
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Localização do Castelo 37° 07′ 41,87″ N, 8° 20′ 44,38″ O |
Os vestígios sobreviventes do Castelo de Alcantarilha estão classificados como Imóvel de Interesse Público desde 1977.[2]
Os vestígios do castelo estão situados no centro histórico de Alcantarilha, junto à Rua da Misericórdia, à Travessa do Castelo[1] e ao Largo General Humberto Delgado.[3] No local da moderna Rua das Palmeiras foram encontrados indícios de uma antiga estrada, provavelmente utilizado desde os séculos XVI ou XVII, cujo percurso passava junto ao castelo.[4]
O castelo em si consistia numa cerca abaluartada,[5] que no seu auge contava com seis baluartes, uma em cada vértice, e uma porta principal com um arco.[6]
Devido a vários séculos de destruição e abandono, o castelo encontra-se num avançado estado de degradação, restando apenas alguns troços da muralha, parcialmente ocultos por edifícios modernos.[1] O maior lanço de muralha descoberto situa-se junto à Travessa do Castelo, sendo composto por pedras de pequenas dimensões e organizadas de forma irregular, sistema de construção totalmente diferente dos encontrados nos castelos islâmicos no Algarve.[1] Este tipo de construção, de peças afeiçoadas, é considerado por diversos autores como sendo do período medieval.[5] Este lanço tem cerca de 12 m de comprimento e 4,5 m de altura, estando anexa a edifícios a Noroeste e Sudeste.[5] Junto à Rua de Nossa Senhora do Carmo, no lado Sudeste, é visível o canto de um baluarte, sendo uma das faces de um cunhal em calcário que vai estreitando da base para o ponto mais elevado.[5] Anexo à Travessa do Castelo está um vão de cantaria de forma curva, rasgado a Sudoeste por uma porta, e a Noroeste por uma janela a cerca de quatro metros de altura-.[5]
Os muros do Castelo de Alcantarilha ainda apresentam aberturas para seteiras e ameias, o que demonstra a existência de um caminho de ronda, que no entanto já desapareceu totalmente.[1] Ao longo do lado nascente da Rua do Lagar está outro lanço da muralha e parte de um torreão, no qual foi construído uma residência particular, conservando ainda o seu orelhão.[7] Este torreão apresenta uma estrutura semelhante a outros encontrados nas Muralhas de Lagos, nomeadamente os de Santo António, Gafaria, Quartos e Paiol.[5] Este lanço continua para Norte, além do entroncamento com a Rua das Escadinhas do Lagar.[5]
O Castelo de Alcantarilha foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 129/77, de 29 de Setembro de 1977.[8] No entanto, a zona de classificação apenas engloba o maior lanço sobrevivente da muralha, apesar de ter sido identificada outra parte junto à Rua do Lagar, que não foi alvo de protecção.[5] Apesar de estar quase totalmente destruído, o Castelo de Alcantarilha é considerado um dos principais monumentos da vila, e de grande importância na sua evolução histórica.[9]
A povoação de Alcantarilha foi habitada desde a antiguidade, como pode ser comprovado pelo grande número de vestígios arqueológicos encontrados em obras privadas, no centro histórico.[1] A povoação primitiva de Alcantarilha poderá ter sido um castro lusitano, ocupado no período de transição do neolítico para o calcolítico, e que teria sido conquistado pelos exércitos romanos cerca de 198 A.C., passando a ser utilizado como uma base militar, em ligação com o porto de Armação de Pêra.[2]
Durante o período islâmico, Alcantarilha tinha uma grande importância do ponto de vista estratégico, pois situava-se junto a uma ponte na estrada entre Faro e Silves, então as principais cidades na região.[1] Com efeito, terá sido devido a esta ponte que a povoação terá recebido o seu nome, al-qantarâ, que foi depois modificado para Alcantarilha.[1] Nesse sentido, terá sido neste período, durante o século XII, que foi construído o castelo.[2]
No século XIII, Alcantarilha foi conquistada pelas forças cristãs de D. Paio Peres Correia, durante o reino de D. Afonso III.[2] Durante este período, o castelo conservou a sua importância, pelo que o monarca terá ordenado a realização de grandes obras naquela fortaleza, sendo um dos possíveis vestígios desta intervenção a forma relativamente ovalada das ruas mais altas de Alcantarilha.[1] Segundo alguns autores, só nesta altura, após a reconquista, é que terá sido construído o castelo.[7]
No século XVI, possivelmente durante o reinado de D. João III, foram iniciadas as obras para a construção das muralhas de Alcantarilha.[10] No entanto, a povoação foi atacada por piratas mouros em 1550, quando foi saqueada,[7] e em 1559, levando ao refúgio das mulheres e das crianças em Silves, devido à falta de defesas.[5] Em 1571, o rei D. Sebastião ordenou a conclusão das muralhas,[10] e em 28 de Janeiro de 1573 visitou Alcantarilha durante uma viagem ao Sul do país, de forma a ver se as obras já tinham sido terminadas.[10] O cronista João Cascão, que fez parte do grupo do rei, escreveu que «Alcantarilha, aldeia de 150 vizinhos, que ora se cerca de muro toda em roda, e com baluartes em lugares convenientes, por ser perto da costa [...] Entrou El-Rei pela principal rua da aldeia que, de uma banda e de outra, estava cheia de gente, e às janelas algumas moças bem parecidas. [...] e andaram na Alcantarilha vendo o novo edifício».[7] Nessa altura o Castelo ainda era bastante significante do ponto de vista militar, servindo para defender tanto o interior da região, como para prevenir contra possíveis desembarques de inimigos na costa.[1] Estes trabalhos modificaram profundamente a estrutura do castelo, que perdeu assim quase totalmente a sua arquitectura original islâmica.[1] Alguns investigadores avançaram a teoria de que o castelo só teria sido construído ou reparado nesta altura, devido aos ataques anteriores a Alcantarilha.[7] Segundo a obra Corografia do Reino do Algarve, escrita por Frei João de São José em 1577, a cerca de Alcantarilha ainda estava em construção.[7] Em 1621, o engenheiro militar italiano Alexandre Massai descreveu Alcantarilha na sua obra Descrição do Reino do Algarve, aconselhando que fossem terminadas as obras nas muralhas, estando nessa altura concluído apenas o baluarte e feitos parcialmente os muros.[7] Segundo Massai, apenas tinham sido feitos os lanços virados para o mar, não tendo sido concluída devido à falta de verbas.[5] Muitos dos muros estavam apenas começados, tendo aconselhado que fossem levantados até à altura do baluarte já existente, utilizando uma estrutura de pedra e cal.[5] Recomendou igualmente que fossem feitas as obras do lado terrestre, e colocada uma cava em redor, e que fosse aproveitado o apoio da população, que se tinha disponibilizado a ajudar nas obras.[5] Segundo a obra de Lívio da Costa Guedes Aspectos do Reino do Algarve, nos Séculos XVI e XVII, Massai terá referido que «a mim parece certo o sobredito lugar digno e merecedor de se lhe acabar o sobredito cerco, por quanto junto dele está o outro lugar acima dito de Pera, que ambos estão arriscados a um assalto [...] e também pela segurança das armações junto deste lugar que são de Pera e Pedra da Galé, onde na costa está a família destes armadores».[5] Relatou ainda que Alcantarilha dispunha de uma boa força de milícia, composta por 27 homens a cavalo e 221 a pé.[5] Massai desenhou uma planta do projecto para o castelo, que devia apresentar a forma de um polígono hexagonal, estendendo-se ao longo da crista da elevação, com parte dos muros virados para Sul, enquanto que o resto deveria estar cercado por um fosso.[5]
O Castelo sofreu novamente obras de restauro em 1640, no âmbito da Guerra da Restauração da Independência.[2]
No século XVIII, o Castelo de Alcantarilha entrou num profundo estado de decadência, que poderá ter sido causado pelo Sismo de 1755.[1] Em 1758 o Marquês de Pombal ordenou que os párocos informassem sobre os estragos causados pelo sismo, tendo o pároco de Alcantarilha relatado apenas danos ligeiros na Igreja, não fazendo quaisquer referências às muralhas.[7] Segundo o Plano Director Municipal, o arco da Porta da Vila terá sido derrubado durante este século, e os materiais reaproveitados para a construção da ponte sobre a Ribeira de Alcantarilha.[3]
Em 2 de Julho de 1934, foi inaugurado o edifício do Mercado Municipal de Alcantarilha, adossado parcialmente à muralha.[11] Na década de 1940, o Castelo de Alcantarilha ainda era considerado como estando em bom nível de conservação, embora a progressiva expansão urbana da cidade tenha levado à destruição de grande parte da estrutura, tendo sido modificada profundamente a zona dentro dos muros, enquanto que grandes partes da muralha foram sendo demolidas.[1]
Em Agosto de 1973 a Secretaria de Estado da Instrução e Cultura – Direcção Geral dos Assuntos Culturais enviou um ofício à autarquia de Silves, informando-a que tinha sido tomada a decisão de classificar o Castelo de Alcantarilha como Imóvel de Interesse Público.[7] Em 1974, teve início o processo para a Constituição da servidão administrativa do Castelo de Alcantarilha, de forma a se proceder à sua classificação, e no Jornal do Algarve de 27 de Julho desse ano, surgiu o edital para a criação da servidão administrativa, uma zona de protecção genérica com 50 m de raio.[7] No entanto, foram feitas três reclamações a este processo, duas destas feitas por proprietários de prédios e terrenos em Alcantarilha, e uma terceira por parte da dona do castelo em si, que receavam não poder construir novos edifícios nem modificar os existentes dentro da zona abrangida.[7] Estas reclamações foram respondidas por um ofício de 20 de Agosto, que informou que este processo não impedia a construção ou alteração dos edifícios dentro da zona, apenas que este tipo de obras tinham de ser autorizadas pelo governo.[7] Este ofício declarou igualmente que, por decisão do Secretário de Estado da Cultura e Educação Permanente, as reclamações não impediam a classificação do castelo como Imóvel de Interesse Público.[7] O processo de classificação do castelo foi concluído cerca de dois anos depois, em 29 de Setembro de 1977.[8]
Em 2000, o Castelo foi alvo de trabalhos de prospecção arqueológica, no âmbito do Projecto de Emparcelamento dos Perímetros de Vale da Vila e Alcantarilha, em Silves.[3]
Em 2011, foram feitos trabalhos arqueológicos de acompanhamento na Rua das Palmeiras, de forma a tentar encontrar vestígios antigos, e identificar um possível lanço da muralha.[4] Em Maio de 2015, foi organizada uma recriação histórica em Alcantarilha, para comemorar a visita régia de 28 de Janeiro de 1573.[10] Em Janeiro de 2016, o Arquivo Municipal de Silves organizou uma exposição sobre o Castelo de Alcantarilha nos Paços do Concelho.[12]
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