Ângela do Amaral Rangel (Rio de Janeiro, 21 de maio de 1725 — Rio de Janeiro, ?) foi uma jornalista e poetisa brasileira.[1]
Primeira voz feminina, registrada pelos historiadores, a se expressar na poesia brasileira diante dos intelectuais da época, Ângela do Amaral Rangel era cega de nascimento e deixou fama de talento. Foi a única mulher a participar da Academia dos Seletos onde, em 1752, quando foi recebida entre as mais altas figuras do estado (juízes, médicos, eclesiastas de categoria, etc.), que formavam o especial grupo dos Seletos- fato raríssimo de acontecer com qualquer figura do sexo feminino.
Filha de Antônio Marcos Vale e Custódia Rangel, representantes de uma família ilustre no Rio de Janeiro, as informações a respeito de sua vida de tal maneira são escassas que não é possível sequer identificar com precisão a data de seu falecimento.
Cega de nascimento, sendo conhecida como Ceguinha, compôs sonetos e romances líricos em espanhol em louvação a pessoas gradas. O fato de alguns poemas seus terem sido incluídos na antologia Júbilos da América (que a Academia dos Seletos dedicou ao governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, e foi editada em Lisboa, em 1754), deu a Ângela Rangel a oportunidade de sobreviver na memória da literatura brasileira.
Segundo a crítica, apesar de seu artificioso cultismo do claro-escuro, a poetisa revela em seu diminuto acervo, capacidade de versificar corretamente e com alguma espontaneidade. Vale a pena notar que seus poemas apresentam uma linguagem singela, direta e profundamente melodiosa, deixando fluir uma certa erudição, elogiada por intelectuais seus contemporâneos.
Embora alguns estudiosos de literatura não lhe reconheçam grandes méritos, é incontestável que a sua existência é um fato notável, digno de registro, numa sociedade em que as mulheres eram mantidas, por via de regra, na ignorância absoluta e quando não havia meios de viabilizar uma instrução pública aos que eram privados da visão.
Mais informação Poesia, Ano ...
Poesia |
Ano |
Título |
Editora |
Pg |
1754 |
Júbilos da América (coletânea) |
Officina do Dr. Manoel Alvares Sollano, Lisboa |
364p. |
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- "Primeira Máxima Militar"
- (da obra "Júbilos da América", p. 272)
- "Já retumba o clarim, que a Fama encerra
- Na vaga Região seu doce acento
- De Gomes publicando o alto alento,
- Por não caber no âmbito da terra
- Declara, que se está na dura guerra,
- Tudo acaba tão rápido, e violento,
- Que o mais forte Esquadrão, em um momento,
- Seus alentos vitais ali subterra
- Vosso Nome será sempre exaltado,
- Que se voais nas asas da ventura,
- Vosso Valor o tem assegurado;
- Porque nos diz a Fama clara, e pura
- Que outro Herói, como Vós, não tem achado
- Debaixo da Celeste Arquitetura."
- "Máximas Cristãs e Políticas"
- (da obra "Júbilos da América", p. 271)
- "Ilustre General, vossa Excelência
- Foi por tantas Virtudes merecida,
- Que, sendo já de todos conhecida,
- Muito poucos lhe fazem competência:
- Se tudo obrais por alta inteligência,
- De Deus a graça tendes adquirida,
- Do Monarca um afeto sem medida,
- E do Povo sua humilde obediência:
- No Católico zelo, e na lealdade
- Tendes vossa esperança bem fundada;
- Que, na presente, e na futura idade,
- Há de ver a Virtude premiada
- Na terra com feliz serenidade,
- E nos Céus com a glória eternizada."
- "Romance Lírico"
- (da obra "Júbilos da América", p. 273)
- "Generoso Portugués,
- Cuyo sublime Valor
- Cabe en el conocimiento;
- Más no en la explicación.
- Merecen vuestras hazañas
- Que ese Planeta mayor
- Las imprima en letras de Oro
- En su esfera superior.
- Ah dichoso Portugués
- De Lusitana blasón,
- Gloria de Vuestra Excelencia,
- De su nobleza esplendor!
- Albricias, noble Milicia,
- Que es vuestro Caudillo hoy
- Quien por sus méritos goza
- La mayor estimación.
- El Portugués más perfecto,
- El Lusitano mejor,
- Que en las Escuelas de Marte
- Vio el bélico rumor.
- Porque con su Nombre solo
- Da al enemigo temor,
- A la Milicia do tema,
- Y al Orbe admiración.
- A los Animales fuertes
- Diera muerte su furor,
- A los Cesares envidia,
- A los Carpíos confusión,
- De los Aquiles, y Hectores
- Quitara la presunción,
- Que les dio la fama en cuanto
- A Gomes no conoció.
- Son tan altas las hazañas
- Diste nuevo Campeador,
- Que es respetado, y temido
- De cuanto ilumina el Sol.
- Acueste nombre dichoso
- Tanto la Fama esparció,
- Que en el más remoto clima
- Le rinde veneración.
- Es tal su valiente brío,
- Que a Marte diera terror,
- Si se vieran en campaña,
- Desazonados los dos
- De Minerva el ejercicio
- Vuestro ardimiento dejó;
- A dos hacíais progresos
- De tanta ponderación.
- À las Armas, y à la Guerra
- Tan solamente os llevó
- Vuestro espirito valiente;
- Y animoso Corazón.
- Fueron tantos los trofeos,
- Que vuestro Valor ganó;
- Que no quisiera Mavorte
- Ser vuestro Competidor.
- Que sirve inútiles plumas
- Escribieren tanta acción,
- Si es cada letra un oprobrio;
- Cada alabanza un baldón?
- Ya aquí, Generoso Gomes,
- La humilde pluma paró,
- Que para decirlo todo,
- Basta nombraros a Vos."
- "Fundar Casa en Dios (Romance Lírico)"
- (da obra "Júbilos da América", p. 275)
- "Fundar Casa para Dios
- En un desierto país,
- Solo una Ilustre Excelencia
- Lo pudiera conseguir.
- Hacer Corte a un desierto
- Tan opulenta, e feliz,
- Que de octava maravilla
- Bien pudiera presumir.
- Es esa fábrica hermosa
- O ese hermoso pensil
- De cándidas Azucenas
- Un bellísimo jardín.
- Corte de la Primavera,
- Ado siempre hade asistir
- Sin dependencias de Mayo;
- Y fin favores de Abril.
- Pues corre por vuestra cuenta,
- A ese Vergel conducir
- Divinas flores que en Alva,
- No las pueda competir.
- Es un nuevo Paraíso,
- Porque se fuelle decir,
- Que es cada Teresa un Ángel,
- Cada Monja un Serafín.
- Do a pesar del Inferno,
- Han de brillar, y lucir
- Prodigios de ciento en ciento
- Virtudes de mil en mil.
- Dese sagrado Palacio
- Quisiste el nombre excluir,
- Que no quiso la modestia
- Tal vanidad consentir.
- Diciendo que solo à Dios
- Se ha de alabar, y servir,
- Que solo su nombre santo
- Allí se ha de proferir.
- Vivid edades Nestóreas
- Gloria de Vuestro Brasil;
- O como el Ave de Arabia,
- Que mucre para vivir."
- CAVALCANTI, Nireu Oliveira. O Rio de Janeiro setecentista. Zahar: Rio de Janeiro, 2004.
- COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: 1711-2001. Escrituras Editora, 2002.
- BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro Vol.1. Typografia Nacional, 1883.