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A Terceira Guerra Púnica foi a terceira e última de três guerras travadas entre Roma e Cartago. As duas potências lutaram pela supremacia por quatro anos em confrontos inteiramente dentro do território cartaginês no Norte da África. A Segunda Guerra Púnica tinha acabado em 201 a.C. e um dos termos de paz proibia Cartago de guerrear sem a permissão de Roma. O rei númida Massinissa, aliado romano, explorou essa proibição e atacou o território cartaginês repetidas vezes com impunidade. Cartago enviou em 151 a.C. um exército sob Asdrúbal contra Massinissa apesar dos termos do tratado. Esta campanha terminou em desastre na Batalha de Oróscopa, com o exército cartaginês se rendendo. Facções anticartaginesas em Roma usaram essa ação como pretexto para o envio de uma expedição punitiva.
Terceira Guerra Púnica | |||
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Parte das Guerras Púnicas | |||
Mediterrâneo antes da Terceira Guerra Púnica: Roma em vermelho, Cartago em cinza e Numídia em roxo. | |||
Data | 149 a.C. até 146 a.C. | ||
Local | Cartago | ||
Desfecho | Vitória romana | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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Um grande exército romano desembarcou em Útica mais tarde, em 149 a.C.. Os cartagineses esperavam aplacar os romanos, porém estes seguiram para cercar a cidade de Cartago apesar dos cartagineses terem rendido todas as suas armas. A campanha romana sofreu vários reveses no mesmo ano, aliviados apenas por Cipião Emiliano, um oficial de médio escalão que se distinguiu várias vezes. Um novo comandante assumiu em 148 a.C., mas os resultados romanos continuaram igualmente ruins. Cipião recebeu um apoio popular tão grande durante as eleições consulares de 147 a.C. que as restrições de idade foram ignoradas para que ele pudesse ser nomeado cônsul e comandante na África.
Cipião logo aumentou a pressão no cerco. Os cartagineses reconstruíram parcialmente sua frota e surpreenderam os romanos em uma surtida; o confronto foi inconclusivo, mas os cartagineses perderam muitos navios na retirada. Os romanos então construíram uma grande estrutura na área do porto, mais alta que as muralhas da cidade. Cipião liderou uma força que invadiu o acampamento do exército cartaginês e forçou a maioria das cidades próximas a se renderem. O ataque final ocorreu em 146 a.C., com os romanos sistematicamente destruindo Cartago e matando seus habitantes no decorrer de seis dias; os sobreviventes foram vendidos como escravos. Os territórios cartagineses conquistados se tornaram a província da África Proconsular. Cartago foi reconstruída como uma cidade romana, um século depois.
A principal fonte para quase todos os aspectos das Guerras Púnicas[nota 1] é o historiador Políbio, um grego originalmente enviado a Roma em 167 a.C. como refém.[2] Seus trabalhos incluem um agora quase perdido manual sobre táticas militares,[3] porém ele é mais conhecido por Histórias, escrito em algum momento após 146 a.C..[4][5] Políbio acompanhou o general romano Cipião Emiliano, seu amigo e patrono, durante suas campanhas na Terceira Guerra Púnica;[6][7] isto faz com que o normalmente confiável Políbio reconte as ações de Cipião sob uma luz favorável.[8][9] Além disso, partes significativas de Histórias sobre a Terceira Guerra Púnica se perderam.[10][11]
O relato do cronista romano Lívio do século I a.C., que muito se baseou em Políbio, também é usado por historiadores modernos sobre as Guerras Púnicas,[12] mas tudo que sobreviveu de seus relatos dos eventos após 167 a.C. é uma lista de conteúdos.[13][14] Outros relatos antigos sobre a Terceira Guerra Púnica ou seus participantes que também já foram perdidos são aqueles escritos por Plutarco, Cássio Dião[15] e o grego Diodoro Sículo.[16] Historiadores modernos também usam o relato do grego Apiano do século II a.C..[17][18] O historiador moderno Bernard Mineo afirmou que este "é o único relato completo e contínuo desta guerra".[15] Acredita-se que Apiano também muito se baseou no trabalho de Políbio, porém vários problemas foram identificados.[9][19] Estas questões significam que, das três Guerras Púnicas, a terceira é aquela da qual menos se conhece de forma confiável.[20] Outras fontes incluem moedas, inscrições, evidências arqueológicas e evidências empíricas vindas de reconstruções.[21]
Roma era a potência dominante na região do Mar Mediterrâneo em meados do século II a.C.,[22] enquanto Cartago era uma grande cidade-Estado localizada no Norte da África.[23] As duas lutaram durante 23 anos na Primeira Guerra Púnica entre 264 e 241 a.C. e depois por dezessete anos na Segunda Guerra Púnica de 218 a 201 a.C.. Ambas as guerras terminaram em vitórias romanas, com a segunda terminando especificamente quando o comandante romano Cipião Africano derrotou o comandante cartaginês Aníbal na Batalha de Zama, aproximadamente 160 quilômetros ao sudoeste da cidade de Cartago.[24] Cipião impôs um tratado de paz sobre os cartagineses que os despojou de todos os seus territórios de além mar e também alguns de seus africanos. Uma indenização de dez mil talentos[nota 2] de prata deveria ser paga no decorrer de cinquenta anos.[25] Reféns foram tomados e Cartago foi proibida de guerrear fora da África e na África apenas com expressa permissão romana. Muitos cartagineses queriam rejeitar o tratado, mas Aníbal o defendeu e ele acabou firmado na primavera de 201 a.C..[27][28] Ficou claro depois disso que Cartago estava politicamente subordinada à Roma.[29]
Massinissa, um aliado de Roma, emergiu como o mais poderoso governante entre os númidas, a população nativa do Norte da África.[30] Pelos cinquenta anos seguintes ele repetidas vezes aproveitou-se da proibição cartaginesa de guerrear. Roma sempre apoiou Massinissa e recusou todas as vezes que Cartago peticionou por compensação ou permissão para uma ação militar.[31] Os ataques e saques de Massinissa dentro do território cartaginês tornaram-se cada vez mais descarados. Cartago formou um grande exército em 151 a.C. sob o comando do previamente desconhecido Asdrúbal,[32] que contra-atacou os númidas apesar dos termos do tratado. Esta campanha terminou em desastre na Batalha de Oróscopa e o exército se rendeu;[33][34] muitos cartagineses foram depois massacrados pelos númidas.[32] Asdrúbal conseguiu escapar e voltar para Cartago, onde, para tentar aplacar Roma, ele foi condenado à morte.[35]
Cartago terminou de pagar a indenização em 151 a.C.[36] e estava na época prosperando economicamente,[37] mas mesmo assim não era uma ameaça militar a Roma.[38] Porém, há muito existia uma facção dentro do Senado Romano que desejava uma ação militar contra Cartago.[39] Por exemplo, o desdém por Cartago pelo senador Marco Pórcio Catão era tão conhecido que desde o século XVIII ele é lembrado por terminar todos os seus discursos com a frase "Carthago delenda est" ("Cartago deve ser destruída").[40][41] A facção oposta incluía o senador Cornélio Cipião Násica, que argumentava que um inimigo forte como Cartago manteria as pessoas comuns sob controle e evitaria divisão social.[32][42] Catão participou de uma embaixada para Cartago provavelmente em 153 a.C. e percebeu seu crescimento militar e econômico;[42] Násica provavelmente também participou dessa embaixada.[43] Roma começou a preparar uma expedição punitiva[44] usando a ilícita operação militar cartaginesa como pretexto.[39]
Acadêmicos modernos já levantaram várias teorias sobre o motivo de Roma querer uma guerra.[46] Estas incluem: temor da competição comercial cartaginesa;[47][48][49] desejo de prevenir uma guerra mais ampla que poderia estourar com a morte de Massinissa, que na época tinha 89 anos;[50] uso faccionário de Cartago como um "bicho-papão" político, independentemente de seu verdadeiro poder;[51][52] ganância por glória e pilhagem;[47][53] e desejo de extinguir um sistema político considerado um anátema.[51] Não há nenhum consenso sobre essas e outras hipóteses.[54] Embaixadas cartaginesas tentaram negociar com Roma, que respondeu evasivamente.[35][55] A grande cidade portuária norte-africana de Útica, aproximadamente 55 quilômetros ao norte de Cartago,[56] passou para os romanos em 149 a.C.. O Senado e a Assembleia Popular de Roma, cientes que esse porto muito facilitaria um ataque contra Cartago, declararam guerra.[33][57]
Os romanos elegiam anualmente como magistrados dois cônsules que também podiam liderar um exército em tempos de guerra; seus mandatos poderiam ser estendidos ocasionalmente.[58][59][60] Um grande exército romano desembarcou em Útica em 149 a.C. sob os dois cônsules daquele ano: Mânio Manílio comandando o exército e Lúcio Márcio Censorino a marinha. Os cartagineses continuaram a tentar aplacar os romanos e enviaram uma embaixada para Útica. Os cônsules exigiram a rendição de todas as armas, algo que foi relutantemente cumprido. Grandes comboios levaram enormes quantidades de equipamentos de Cartago para Útica. Registros que sobreviveram ao tempo afirmam que incluíam vinte mil conjuntos de armadura e duas mil catapultas. Todos os navios de guerra cartagineses navegaram para Útica e foram queimados no porto.[61] Censorino, assim que os cartagineses estavam desarmados, exigiu que os habitantes de Cartago abandonassem sua cidade e se mudassem para dezesseis quilômetros longe do mar; Cartago seria então destruída.[61][62] Os cartagineses abandonaram as negociações e se prepararam para defender sua cidade.[63]
A cidade de Cartago era incomumente grande para a época: historiadores modernos estimam que sua população ficava entre noventa e oitocentos mil habitantes. Qualquer número dentro desta margem faria de Cartago uma das cidades mais populosas na região do Mar Mediterrâneo na época.[64][65] Ela era muito bem fortificada com muralhas de mais de 35 quilômetros de circunferência.[66] Protegendo a principal área de aproximação por terra estavam três linhas de defesa, das quais a mais forte era uma muralha de tijolos com nove metros de grossura e entre quinze e vinte metros de altura, mais um fosso de vinte metros de largura localizado na sua frente. Alojamentos capazes de abrigar mais de 24 mil soldados foram construídos dentro dessa muralha.[62][67] Cartago tinha poucas fontes confiáveis de água, mas possuía um complexo sistema para pegar e canalizar água da chuva e muitas cisternas para armazená-la.[68]
Os cartagineses levantaram uma força entusiástica para guarnecer a cidade a partir de seus cidadãos e da libertação dos escravos dispostos a lutar.[63][69][70] Eles também formaram um exército de campo com pelo menos vinte mil homens[71] sob o comando de Asdrúbal, libertado de sua sentença de morte. O exército ficava em Néferis, 25 quilômetros ao sul de Cartago.[72] Apiano afirmou que o exército romano tinha 84 mil soldados; historiadores modernos estimam que tinha na verdade entre quarenta e cinquenta mil homens, dos quais quatro mil eram de cavalaria.[67][73]
O exército romano seguiu para Cartago e tentou sem sucesso escalar suas muralhas, se contentando com um cerco. Eles estabeleceram dois acampamentos: Censorino ficou protegendo os navios romanos, enquanto Manílio abrigou as legiões. Asdrúbal moveu seu exército para perturbar as linhas de suprimentos e grupos de forrageamento romanos.[74] Estes lançaram mais um ataque contra a cidade, novamente derrotado pelos cartagineses. Cipião Emiliano, neto adotado de Cipião Africano que estava servindo como tribuno, uma patente de médio escalão, segurou seus homens e conseguiu usá-los para barrar os cartagineses em perseguição, impedindo maiores perdas.[75][76]
O acampamento estabelecido por Censorino estava localizado em um local ruim, ficando tão pestífero no início do verão que precisou ser movido para uma localização mais saudável. Entretanto, este local não era defensável e os cartagineses infligiram grandes perdas à frota romana com brulotes.[75] Os romanos em resposta construíram fortificações adicionais para dificultar esses tipos de ataque.[77] Os cartagineses mesmo assim continuaram a atacar os acampamentos. Cipião distinguiu-se ainda mais por sua atuação durante esses ataques, combates muitas vezes confusos; a disciplina que ele impôs entre suas tropas contrastava com o comportamento da maioria do resto do exército romano.[78]
Manílio decidiu atacar o principal acampamento cartaginês perto de Néferis, mesmo este estando em uma posição vantajosa e fortificada. O cônsul ordenou um ataque imediatamente assim que chegou, contra os conselhos de Cipião. A investida inicialmente seguiu bem, porém os romanos avançaram até uma posição que não conseguiriam manter. Ele foram atacados pelos cartagineses quando tentaram recuar e sofreram enormes perdas. Cipião liderou trezentos cavaleiros em uma série de ataques limitados e bem disciplinados, ameaçando os cartagineses a tal ponto que eles pausaram por tempo suficiente para permitir a retirada completa da infantaria romana. Na mesma noite, Cipião liderou sua cavalaria de volta a fim de resgatar um grupo de romanos que tinham ficado encurralados.[79] A coluna romana recuou de volta para seu acampamento próximo de Cartago, onde um comitê do Senado chegou para investigar o progresso da guerra. A performance de Cipião foi destacada em seu subsequente relatório.[80] Cipião fez contato com vários líderes da cavalaria númida de Cartago, em seguida juntando-se a uma expedição mais bem preparada sob Manílio contra Asdrúbal em Néferis. Apesar do maior planejamento, os romanos novamente não fizeram progresso, porém um dos númidas contatado por Cipião desertou com 2,2 mil homens. Manílio recuou depois dos romanos terem ficado sem comida, enquanto Cipião liderou os novos aliados romanos em uma expedição de forrageamento bem-sucedida.[81][82]
Os romanos elegeram dois novos cônsules em 148 a.C., mas apenas um deles foi enviado para a África: Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino, com Lúcio Hostílio Mancino comandando a marinha como seu subordinado. Pisão recuou e afrouxou o cerco de Cartago em favor de um bloqueio em uma tentativa de tomar as outras cidades cartaginesas na área. Ele falhou: apesar de Neápolis ter se rendido e sido em seguida saqueada, Áspis resistiu aos ataques tanto por terra quanto por mar, enquanto Hipo teve um cerco sem resultado. Uma surtida cartaginesa de Hipo destruiu as máquinas de cerco romanas, fazendo com que estes encerrassem a campanha e fossem para seus quartéis de inverno. Enquanto isso, Asdrúbal derrubou a liderança civil de Cartago em um golpe de estado e assumiu ele próprio o comando. Cartago se aliou com Andrisco, um pretendente ao trono da Macedônia. Este invadiu a Macedônia Romana e derrotou o exército que a defendia, coroando-se rei como Filipe VI e iniciando a Quarta Guerra Macedônica.[83][84]
Cipião tinha a intenção de concorrer ao cargo público de edil, uma progressão natural para ele naquele momento em sua carreira, nas eleições de 147 a.C.. Ele tinha entre 36 e 37 anos, muito novo para concorrer a cônsul, cuja idade mínima por lei era de 41 anos. Houve consideráveis manobras políticas nos bastidores. Cipião e seus apoiadores destacaram seus sucessos nos dois anos anteriores e o fato de que era o neto adotivo de Cipião Africano, que tinha conquistado a vitória romana na África durante a Segunda Guerra Púnica. O povo romano exigiu que ele fosse nomeado cônsul e assim assumisse a responsabilidade pela guerra na África, e consequentemente o Senado dispensou os requerimentos de idade para todos os postos naquele ano. Cipião foi eleito cônsul e nomeado o único comandante militar na África; teatros de guerra normalmente eram entregues a um dos cônsules por sorteio. Lhe foi concedido o usual direito de recrutar à força homens suficientes para compensar as perdas sofridas e também o direito incomum de aceitar voluntários.[85][86]
Cipião mudou o principal acampamento romano de volta para próximo de Cartago, sendo observado por um destacamento cartaginês de oito mil homens. Ele discursou exigindo disciplina mais rígida e dispensou os soldados que considerou indisciplinados ou desmotivados. Em seguida liderou um ataque noturno, invadindo a cidade com quatro mil homens. Os defensores cartagineses entraram em pânico, fugindo após uma feroz resistência inicial. Cipião concluiu que essa posição seria indefensável assim que os cartagineses se reorganizassem depois do amanhecer e, portanto, recuou.[87] Asdrúbal ficou horrorizado com o modo que as defesas cartaginesas ruíram e fez com que prisioneiros romanos fossem torturados até a morte nas muralhas, à vista do exército romano. Esta ação também reforçou nos cidadãos cartagineses o desejo de resistência, pois deste ponto em diante não haveria possibilidade de negociação ou mesmo rendição. Alguns membros do conselho municipal criticaram suas ações, porém Asdrúbal ordenou que eles fossem mortos, tomando controle completo da cidade.[88][89]
O cerco cerrado renovado cortou a entrada terrestre para a cidade, porém uma interdição marítima completa era praticamente impossível com a tecnologia naval disponível na época. Cipião ficou frustrado com a quantidade de comida que estava entrando na cidade e assim ordenou a construção um molhe imenso para cortar acesso ao porto por parte de violadores de bloqueio. Os cartagineses responderam criando um novo canal de seu porto para o mar. Eles construíram uma nova frota assim que o canal ficou pronto e atacaram, pegando os romanos de surpresa. Na subsequente Batalha do Porto de Cartago, os cartagineses tiveram um bom desempenho, mas, ao recuarem no final do dia depois do combate, muitos de seus navios ficaram presos contra a muralha marítima da cidade, afundando ou sendo capturados.[90][91] Os romanos tentaram aproveitar para avançar contra as defesas cartaginesas na área portuária, acabando por conquistar o controle do ancoradouro. Pelos vários meses seguintes construíram uma estrutura de tijolos mais alta que as muralhas da cidade, o que permitiu que até quatro mil romanos disparassem contra os reparos cartagineses a curta-distância.[92][93][94]
Cipião, assim que essa estrutura ficou pronta, destacou uma grande força e a liderou-a contra o exército de campo cartaginês em Néferis. Os cartagineses, sob o comando do grego Diógenes, tinham estabelecido um acampamento fortificado como seu alojamento de inverno. Cipião ordenou um ataque contra o acampamento a partir de várias direções, subjugando-o. Os cartagineses que fugiram foram perseguidos pela cavalaria númida aliada dos romanos, com poucos sobrevivendo. A cidade de Néferis foi então cercada e se rendeu depois de três semanas. A maioria das posições fortificadas ainda resistindo no interior de Cartago se renderam também.[94][95]
A posição de Cipião como comandante na África foi estendida em mais um ano para 146 a.C..[96] Ele lançou na primavera um ataque em grande escala a partir da área portuária, conseguindo penetrar nas muralhas.[97] No decorrer de seis dias,[98] os romanos avançaram sistematicamente pela parte residencial da cidade, matando todos que encontravam e incendiando os edifícios que deixavam para trás.[92] Cipião concordou em fazer prisioneiros no último dia, exceto por novecentos desertores romanos que tinham servido por Cartago; estes lutaram em frente a um templo de Eshmun e o incendiaram quando não havia mais escapatória.[99] Asdrúbal se rendeu para Cipião sob a promessa de sua vida e liberdade, enquanto sua esposa se matou junto com seus filhos entrando no templo em chamas.[100]
Aproximadamente cinquenta mil prisioneiros foram vendidos como escravos.[101] A popular noção de que os romanos semearam a terra com sal é provavelmente uma invenção do século XIX.[102][103][104] Muitos itens religiosos e estátuas que os cartagineses tinham saqueado de templos e cidades da Sicília foram devolvidos com grande cerimônia.[105]
Roma estava determinada em garantir que Cartago permanecesse em ruínas. Uma comissão foi enviada pelo Senado e Cipião recebeu ordens de realizar mais demolições. Uma maldição foi colocada sobre qualquer um que tentasse repovoar o local.[106] A área da antiga cidade foi confiscada como ager publicus, terra pública.[107] Cipião celebrou um triunfo e assumiu o agnome "Africano", assim como seu avô adotivo.[100][101] Não se sabe o destino de Asdrúbal, porém ele se rendeu com a promessa de que poderia se aposentar em uma propriedade na Itália.[100] Os antigos territórios cartagineses foram anexados por Roma e reconstituídos para formarem a província da África Proconsular, com Útica como capital.[107][108] A província se tornou uma grande fonte de grãos e outros alimentos.[109]
Cidades cartaginesas que mantiveram-se leais até o fim tornaram-se ager publicus ou, como no caso de Hipo, foram destruídas.[106][107] As que sobreviveram puderam manter alguns elementos de seus tradicionais sistemas de governo e cultura.[110][111] Os romanos não interferiram na vida particular dos locais, assim a cultura, idioma e religião púnicas sobreviveram, sendo conhecida pelos historiadores como "civilização neopúnica".[112][113] A língua púnica continuou a ser falada no Norte da África até o século VII.[114][115]
Uma facção reformista dentro de Roma liderada por Caio Graco queria realizar em 123 a.C. uma reforma com o objetivo de redistribuir terras, incluindo terras públicas. Essas incluíam o local da antiga Cartago, de modo que uma lei controversa foi aprovada ordenando o estabelecimento de um novo assentamento lá, chamado Junônia. Conservadores foram contra a lei e começaram a espalhar rumores após sua aprovação dizendo que marcadores delimitando o novo assentamento tinham sido cavados por lobos, um mau presságio. Estes rumores, mais outras maquinações políticas, fizeram o plano ser abandonado.[116][nota 3] Uma legislação de 111 a.C. repetiu a proibição contra qualquer novo assentamento.[119] Júlio César, um século depois da guerra, planejou reconstruir Cartago como uma cidade romana, porém pouco foi feito. O imperador Augusto reavivou o projeto em 29 d.C. e levou o plano até sua finalização. A Cartago romana tornou-se uma das principais cidades romanas na África na época do Império.[120][121]
A cidade de Roma existe até hoje como a capital da Itália, enquanto as ruínas de Cartago estão localizadas a dezesseis quilômetros ao leste da Túnis moderna, a capital da Tunísia.[122] Um tratado de paz simbólico foi assinado por Ugo Vetere e Chedli Klibi, respectivamente os prefeitos de Roma e Cartago modernas, em uma vila italiana no dia 5 de fevereiro de 1982, 2 131 anos depois do fim da guerra.[123] O assentamento moderno tunisiano de Cartago é um distrito da cidade de Túnis.[122]
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