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Em química orgânica, a tensão alílica ou tensão 1,3-alílica é uma energia de tensão que resulta de uma conformação molecular desfavorável para o grupo alilo, produto da interação entre um substituinte em um extremo de uma olefina com um substituinte alílico do outro extremo.[1] Se os substituintes (R e R ') são suficientemente grandes em tamanho, podem interferir estericamente entre si, de forma que um confórmero se vê favorecido em grande medida sobre o outro.[2] A tensão alílica foi descrita pela primeira vez em 1965 por Johnson e Malhotra. Os autores investigaram as conformações do cicloexano incluindo ligações duplas endocíclicas e exocíclicas, e se deram conta de que certas conformações eram desfavorecidas devido às limitações causadas pela geometria da dupla ligação.[3] Os químicos orgânicos usam essa rigidez resultante da tensão alílica para obter reações assimétricas.[2]
Os tipos de moléculas mais simples que exibem tensão alílica são as olefinas (concretamente, os compostos alílicos). Dependendo dos substituintes, as olefinas mantêm diferentes graus de tensão alílica. O representante mais simples dos alilos, o propeno, em seu estado fundamental tem a ligação C-H do grupo metilo eclipsado com a ligação dupla carbono-carbono. Quando esta ligação aponta para fora, a conformação desfavorável resultante é conhecida como bissecada. No caso do 3-metil-1-buteno, as interações entre o hidrogênio e os dois grupos metilo no sistema alílico causam uma alteração na entalpia de 2 kcal/mol (ver imagem à direita).
A energia de ativação para a rotação em torno da ligação carbono-carbono alílico é 1,98 kcal/mol.[5]
Este tipo de tensão também se estende aos carbonilos.
As energias de interação 1,3-diaxiais não ligantes são utilizadas normalmente como cálculos aproximados da energia de tensão em moléculas cíclicas. Além disso, alguns valores para estas interações estão disponíveis. Ao tomar a diferença nas interações não ligantes para cada confórmero, a entalpia de equilíbrio pode ser estimada. A energia de tensão para o metilencicloexano foi calculada em 4,5 kcal/mol utilizando estimativas para os valores da tensão 1,3-diaxial (0.9 kcal/mol), tensão alílica metilo/hidrogênio (1.3kcal/mol), e tensão alílica metilo/metilo (7.6 kcalmol−1).[2]
Muitos fatores influem na penalização energética associada à tensão alílica. Com o fim de aliviar a tensão causada pela interação entre os dois grupos metilo, os cicloexanos muitas vezes exibirão uma conformação tipo barco ou bote torcido. A conformação barco tiende a ser a principal conformação da cadeia.[2] O efeito da tensão alílica em alquenos cis cria uma preferência por estruturas mais lineares.[1]
O tamanho dos substituintes que interagem nas posições 1 e 3 de um grupo alilo é muitas vezes, o fator mais importante que contribui para a magnitude da tensão alílica. Como regra geral, os substituintes maiores criarão uma maior magnitude da tensão. A proximidade de grupos volumosos provoca um aumento nas forças de Van der Waals de repulsão, o que aumenta rapidamente a magnitude da tensão. As interações entre o grupo de hidrogênio e o metilo no sistema alílico causam uma alteração na entalpia igual a 3,6 kcal/mol.[4] A energia de tensão neste sistema foi calculado em sendo de 7,6 kcal/mol devido às interações entre dois grupos metilo.[2]
A polaridade também tem um efeito sobre a tensão alílica. Quanto à estereosseletividade, os grupos polares atuam como grupos maiores e volumosos. Apesar de que ambos grupos (um polar e outro apolar) podem ter aproximadamente o mesmo valor A, o grupo polar atuará como se fosse muito mais volumoso. Isto é devido ao carater doante do grupo polar. Os grupos polares aumentam a energia do HOMO do sistema-σ no estado de transição. Isto faz com que o estado de transição esteja em uma posição muito mais favorável quando o grupo polar não está interagindo em uma tensão 1,3 alílica.[6]
Com certos substituintes polares, pode dar-se alguma ligação de hidrogênio no sistema alílico entre os substituintes. Em lugar da tensão que ocorreria normalmente na proximidade deste substituinte polar concreto, a ligação de hidrogênio estabiliza a conformação e faz com que seja muito mais favorável energeticamente. Esta situação é produzida quando o substituinte alílico na posição 1 é um doador de ligação de hidrogênio (no geral um hidroxilo) e o substituinte na posição 3 é um aceptor de ligação de hidrogênio (no geral um éter ou amina). Nestes casos em que o sistema alílico poderia ajustar-se para ter um ligação de hidrogênio, essa conformação será muito mais favorável.[7]
Os solventes também têm um efeito sobre a tensão alílica. Quando se utiliza de maneira complementar com o conhecimento dos efeitos de polaridade na tensão alílica, os solventes podem ser muito úteis para dirigir a conformação de um produto que contém uma estrutura alílica em seu estado de transição. Quando um solvente polar e volumoso é capaz de interagir com um dos substituintes de um grupo alilo, o complexo do solvente pode forçar de maneira enérgica ao complexo volumoso da tensão alílica para fora, em favor de um grupo menor.[8]
A conjugação aumenta a tensão alílica porque obriga aos substituintes a estar em uma configuração que faz com que seus átomos estejam mais próximos, o que aumenta a força de Van der Waals de repulsão.[9] Esta situação se produz mais notavelmente quando o ácido carboxílico ou cetona intervém como um substituinte do grupo alílico. O efeito de ressonância no grupo carbonílico desloca a ligação dupla CO a um grupo hidroxi. Este grupo carbonílico transformado, como um grupo hidroxilo, tenderá uma grande tensão alílica para formar e cancelar os efeitos de estabilização da conjugação estendida. Isto é muito comum nas reações de enolização[2] e pode ser vista na figura abaixo de condições ácidas.
Em situações nas que a molécula pode estar tanto em um sistema conjugado ou evitando a tensão alílica, se tem demonstrado que a forma principal da molécula será a que evita a tensão. Isto tem sido encontrado através da ciclização na figura inferior[10] Sob tratamento com ácido perclórico, a molécula A se cicla no sistema conjugado mostrado na molécula B. Entretanto, a molécula será reorganizada (devido à tensão alílica) na molécula C, obtendo-se a molécula de C de forma maioritária. Portanto, a magnitude da desestabilização através da tensão alílica supera a estabilização causada pelo sistema conjugado.[2]
Nos casos nos quais uma enolização pode ocorrer em torno a um grupo alílico (no geral como parte de um sistema cíclico), a tensão 1,3-alílica pode produzir que seja quase impossível que se produza. Nestas situaçõs, o tratamento com ácido normalmente faz com que o alqueno se protone, movendo a dupla ligação do carbonilo, formando-se enol. A tensão alílica resultante entre o álcool e o outro grupo envolvido no sistema alílico é tão grande que a reação não pode ocorrer sob condições termodinâmicas normais.[11] Esta mesma enolização é produzida muito mais rapidamente em condições básicas, devido a que o grupo carbonilo tem realizada no estado de transição e permite que a molécula adote uma conformação que não cause tensão alílica.[11]
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