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Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (pronúncia em francês: [aʁtyʁ ʁɛ̃bo] (ⓘ); Charleville, 20 de outubro de 1854 – Marselha, 10 de novembro de 1891) foi um poeta simbolista francês,[1] parte do movimento decadente, que produziu suas obras mais famosas quando ainda era adolescente, influenciando imensamente a arte moderna. Era conhecido por sua fama de libertino e por uma alma inquieta, viajando de forma intensiva por três continentes antes de morrer de um câncer aos 37 anos de idade.
Arthur Rimbaud | |
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Rimbaud aos 17 anos, retratado por Étienne Carjat, provavelmente em dezembro de 1871 | |
Nome completo | Jean-Nicolas Arthur Rimbaud |
Nascimento | 20 de outubro de 1854 Charleville, França |
Morte | 10 de novembro de 1891 (37 anos) Marseille, França |
Nacionalidade | francês |
Período de atividade | 1870–1875 (principal período criativo) |
Gênero literário | Romance e drama |
Movimento literário | Simbolismo |
Magnum opus | Uma Temporada no Inferno |
Assinatura | |
Arthur Rimbaud nasceu no seio da classe média provincial de Charleville (hoje parte de Charleville-Mézières) em Ardenas, departamento no nordeste da França. Ele foi o segundo filho de Vitalie Rimbaud (Cuif, antes de se casar) e o Capitão Frédéric,[2] que lutou na conquista da Argélia e foi premiado com a Légion d'honneur. Logo depois que o casal teve a quinta criança (Frédéric, Arthur, Victorine [que morreu um mês depois do nascimento], Vitalie e Isabelle), o pai deixou a família. Crescendo separadamente de seu pai, pelos escritos de Rimbaud é evidente que nunca se sentiu amado por sua mãe. Quando garoto era impaciente, inquieto, porém um estudante brilhante. Pela idade de quinze anos ganhou muitos prêmios e compôs versos originais e diálogos em Latim. Em 1870 seu professor Georges Izambard se tornou o mentor literário de Rimbaud e seus versos em francês começaram a melhorar rapidamente.
Rimbaud fugia frequentemente de casa e pode ter se unido por pouco tempo à Comuna de Paris de 1871, que foi retratada em seu poema L'orgie parisienne (“A Orgia Parisiense” ou “Paris Repovoada”); pode ter sofrido violências sexuais por soldados bêbados da comuna, e seu poema Le cœur supplicié (“O Coração Torturado”) parece sugerir. Esse fato é pouco provável já que Rimbaud continuou a apoiar os Comunardos escrevendo poemas que simpatizavam com suas reivindicações.[3] Nesta época ele se tornou um anarquista, começou a beber e se divertia chocando a burguesia local com suas vestes rotas e o cabelo longo.[4] Neste mesmo tempo escreveu para Izambard e Paul Demeny sobre seu método para atingir a transcendência poética ou o poder visionário através do “longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos.” (Les lettres du Voyant [As Cartas do Vidente]).
Ele retornou a Paris em setembro de 1871 por um convite do eminente poeta influenciador do simbolismo Paul Verlaine (depois que Rimbaud lhe mandou uma carta contendo vários exemplos do seu trabalho) e residiu brevemente em sua casa. Este, que era casado, apaixonou-se prontamente pelo adolescente calado, de olhos azuis e cabelo castanho-claro comprido. Enquanto é provável que Verlaine já havia tido um caso homossexual, ainda permanece incerto se o relacionamento com Verlaine foi o primeiro de Rimbaud. Os amantes levaram uma vida ociosa, regada a absinto e haxixe.[5] Escandalizaram o círculo literário parisiense por causa do comportamento ultrajante de Rimbaud, o arquétipo do enfant terrible, que durante este período continuou a escrever notáveis versos visionários.
O tempestuoso caso amoroso entre ambos levou-os a Londres em setembro de 1872,[6] Verlaine abandonando sua esposa e um filho pequeno (ambos sofriam de abusos durante as iras alcoólicas de Verlaine). Os amantes viveram em uma pobreza considerável, em Bloomsbury e em Camden Town, desprezando uma vida de ensino [necessário esclarecer] e uma pensão da mãe de Verlaine.[necessário esclarecer][7] Rimbaud passou seus dias na sala de leitura do Museu Britânico onde "calor, luz, penas e tinta eram de graça".[7]
Em junho de 1873, Verlaine voltou para Paris, tendo enfrentado dificuldade para suportar a ausência de Rimbaud. Em oito de julho, ele mandou um telegrama ao jovem poeta, lhe dando instruções para ir ao Hotel Liège em Bruxelas; Rimbaud concordou imediatamente. O encontro em Bruxelas foi péssimo; um reclamando do outro e Verlaine bebendo constantemente.[8] Na manhã de dez de julho, Verlaine comprou um revólver e munição; à tarde, numa "fúria de bêbado", disparou dois tiros em Rimbaud, um deles ferindo o poeta de dezoito anos no pulso.[8]
Rimbaud considerou o ferimento superficial e a princípio não acusou Verlaine. Após isto, ele e sua mãe acompanharam Rimbaud a uma estação de trem em Bruxelas, onde Verlaine se comportou como um louco. Isto fez Rimbaud sentir medo do poeta, que então se virou e foi embora. Em suas palavras "então eu [Rimbaud] implorei para um policial o prender [Verlaine]".[9] Ele foi detido por tentativa de homicídio e submetido a um exame médico humilhante.[10] Também foi interrogado sobre sua correspondência íntima com seu amante e sobre as acusações de sua mulher sobre a natureza de sua relação com Rimbaud,[10] que eventualmente[necessário esclarecer] retirou suas queixas, porém o juiz condenou Verlaine a dois anos de prisão.[10]
Rimbaud retornou a sua casa em Charleville e completou sua prosa Une saison en enfer (Uma Estação no Inferno), considerada pioneira nas instâncias do simbolismo moderno e escreveu uma descrição sobre sua vida de drôle de ménage (farsa doméstica) com Verlaine, seu frère pitoyable (lamentável irmão) e a vierge folle (virgem louca) por quem ele era um l'époux infernal (noivo infernal). Em 1874 retornou para Londres com o poeta Germain Nouveau[11] e suas arrasantes Illuminações.
Rimbaud e Verlaine se encontraram pela última vez em março de 1875, em Stuttgart, Alemanha, depois que o último saiu da prisão e se converteu ao catolicismo.[12] Rimbaud acabou por desistir de escrever e decidiu-se por uma vida fixa, de trabalho. Alguns especulam que ele ainda possuía vivo o seu antigo estado selvagem, enquanto outros sugerem que ele buscou ficar rico e independente para algum dia poder viver como um poeta despreocupado; de qualquer forma, continuou a viajar intensivamente pela Europa, principalmente a pé.
Em maio de 1876, ele se alistou como soldado no Exército Colonial Holandês[14] para poder viajar livremente para Java (na Indonésia) onde, após quatro meses, desertou, retornando para a França por navio.[15] Na residência oficial do major de Salatiga, uma pequena cidade a 46 km do sul de Samarão, capital da Província Central de Java, existe uma placa de mármore declarando que Rimbaud um dia esteve na cidade.
Em dezembro de 1878, Rimbaud chegou a Larnaca, Chipre, onde trabalhou como capataz na pedreira de uma empresa de construção.[16] Em maio do ano seguinte, teve que deixar Chipre por causa de uma febre, que mais tarde, na França, foi diagnosticada como febre tifóide.
Em 1880, Rimbaud finalmente adaptou-se em Aden como um empregado principal na agência de Bardey.[17] Ele teve várias mulheres nativas como amantes e por algum tempo viveu com uma amante da Etiópia.[carece de fontes] Em 1884, ele deixou o trabalho na Bardey para se tornar um mercador por conta própria em Harar, Etiópia. Notavelmente, as vendas de Rimbaud incluíam café e armas. Nesse período, fez uma grande amizade com o governador de Harar, Ras Makonnen, pai do futuro imperador da Etiópia, Haile Selassie.[18]
Rimbaud desenvolveu sinovite em seu joelho direito e, subsequentemente, um carcinoma no mesmo joelho. Seu estado de saúde o forçou a partir para a França em 9 de maio de 1891,[19] onde foi admitido num hospital em Marselha, e ali teve sua perna amputada no dia 27 de maio.[20] No pós-operatório foi descoberto que Rimbaud sofria de câncer.[21] Após uma curta estada na casa de sua família, voltou a viajar para a África, mas a sua saúde piorou durante a viagem, sendo readmitido no mesmo hospital em Marselha. Lá, após algum tempo de sofrimento e eventuais visitas de sua irmã Isabelle, Rimbaud morreu a 10 de novembro de 1891, com apenas 37 anos, e seu corpo foi enterrado no jazigo da família na cidade de Charleville.[22][23]
A poesia de Rimbaud, bem como sua vida, impressionou escritores, músicos e artistas do século XX. Pablo Picasso, Dylan Thomas, Allen Ginsberg, Vladimir Nabokov, Bob Dylan, Patti Smith, Giannina Braschi, Léo Ferré, Henry Miller, Van Morrison e Jim Morrison foram influenciados por sua poesia e por sua vida.[24] Rimbaud é também considerado o precursor do surrealismo.
A vida de Rimbaud foi retratada em vários filmes. No filme Una stagione all'inferno (Uma Temporada no Inferno), de 1970, do cineasta italiano Nelo Risi, o escritor francês é interpretado por Terence Stamp e Verlaine por Jean-Claude Brialy. Em 1995, a cineasta polonesa Agnieszka Holland dirigiu Eclipse Total de uma Paixão, no qual Leonardo DiCaprio interpreta Rimbaud e David Thewlis, Paul Verlaine.
Rimbaud que partiu para traficar armas de fogo no norte da África de um lado e deu cor às vogais (revista em Alquimia do Verbo) por outro, tornou-se uma referência para a poesia no século seguinte: servindo como argumento à tese que nascia sobre a impossibilidade de ser considerada a dissociação entre o poeta e sua poesia.[carece de fontes]
O norte-americano Henry Miller, um dos grandes admiradores da poesia simbolista de Rimbaud, diz, diante disso, que Rimbaud chegará a superar clássicos comportamentos; como o introspectivo e inquieto jovem estampado pelo personagem Hamlet, de Shakespeare. "Acho que existem muitos Rimbauds neste mundo afora e que esse número aumentará com o passar dos anos. Também acho que Rimbaud vai eliminar, do mundo futuro, Hamlet e Fausto. Até que o velho mundo desapareça por completo, o indivíduo 'anormal' tende a ser cada vez mais a regra. O novo homem só se descobrirá quando terminar o conflito entre a coletividade e o indivíduo. Aí então veremos o homem em sua plenitude e esplendor".[25]
Já Paulo Leminski escreveu no curtíssimo ensaio "Poeta Roqueiro" que "se vivesse hoje, Rimbaud seria músico de rock" e que Rimbaud "pasmou os contemporâneos com uma precocidade poética - (escrevendo) obras-primas entre os 15 e os 18 anos". Georges Duhamel vai pela mesma picada: "O que Mallarmé não parece ter adivinhado é que o 'Viajante notável' voltaria, que ia ficar, que não pararia de crescer, que sua influência se estenderia sobre todas as gerações e que aquele garoto seria no século novo não o mestre, e sim, melhor ainda, o mensageiro, o profeta de toda uma juventude febril, entusiasta, rebelde". A imagem mais conhecida de Rimbaud, esta mesma que ilustra o verbete, reforça a ideia de enfant terrible que se relaciona à sua personalidade.[carece de fontes]
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