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Treinamento do Corpo e Mente Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Desenvolvido como um método de treinamento que permite ao indivíduo, ultrapassar de forma rápida, eficiente e segura qualquer obstáculo utilizando somente as habilidades e capacidades do corpo humano,[1] o parkour foi desenvolvido inicialmente na França entre meados e final da década de 1980.[2] O termo é proveniente de uma adaptação da palavra original parcours e foi sugerido por um amigo de David Belle, o qual por sua vez, junto com alguns amigos de adolescência, é considerado como fundador do parkour. Ainda, o termo parcours tem relação com o "Parcours du combattant", mais conhecido como a pista de obstáculos do pentatlo militar.[1] A modalidade tem diversas influências de práticas corporais e entre estas, destacam-se as ginásticas e o Método Natural de Educação Física de Georges Hébert, também conhecido como "Méthode Naturelle", o qual também se utilizava de habilidades e capacidades corporais para superar obstáculos e desafios tanto em ambientes urbanos como quantos naturais.[3] A modalidade pode ser praticada tanto individualmente quanto em grupo.
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Ao praticante do sexo masculino, este é denominado traceur e seu equivalente feminino é traceuse.[1][2] Ambas grafias são de origem francesa, porém para maior disseminação e facilidade de pronúncia, o termo em inglês 'tracer' [trey-ser],[4] foi o mais difundido.[1][2] O parkour tornou-se uma prática reconhecidamente esportiva no Reino Unido,[5][6][7][8][9][10][11][12][13][14][15] embora a concepção de esporte seja diferente daquela empregada no Brasil, dado aos diferentes tipos de esportes que a Educação Física nacional concebe.[16]
O fundador do parkour, David Belle atribui a inspiração para criar o método de treinamento, a seu pai e mentor Raymond Belle (1939-1999),[2][17][18][19] o qual foi treinado na guerra da Indochina (período pré-guerra do Vietnã) e posteriormente atuou como soldado pelas forças armadas francesas.[2][17] A partir de 1958, Raymond deixou o exército e entrou para o corpo de bombeiros de Paris na França.[17] Raymond também é lembrado pelos seus feitos na ginástica, no esporte e pelos recordes em saltos, arremessos com vara e subida em corda, feitos estes que construiu enquanto fez parte da corporação.[1][2][17]
O parkour é uma forma de prática corporal pouco explorada no quesito de fundamentação teórica e de produção científica no cenário acadêmico, o que torna a modalidade um pouco difícil de ser categorizada.[19] De acordo com o seu fundador, David Belle, o parkour consiste essencialmente em superar todos os obstáculos, seja eles físicos ou mentais em qualquer tipo de ambiente, natural ou urbano.[20]
A prática requer treinamento físico metódico, dedicação, comprometimento e visa principalmente a eficácia, poupando energia para ultrapassar os obstáculos e evitando ferimentos de quaisquer ordem.[17] Os praticantes do parkour atribuem ao mote être et durer ('ser e durar', traduzido do francês), a importância do fortalecimento e da longevidade na prática por meio do treino constante, buscando sempre melhorar a si enquanto ser humano.[17] Essa ideia de manter o corpo forte e vigoroso a longo prazo foi absorvida do Método Natural de Georges Hébert e ainda é propagada por muitos praticantes.
A prática do parkour é comummente vinculada em uma visão grosseira e deturpada de que seus praticantes são "puladores de prédios",[21] arruaceiros e desocupados. Porém, somente quem realmente adentra a prática ou busca informações sobre, seja por curiosidade, ou por vontade, acaba por descobrir que o parkour é, acima de tudo, uma disciplina de cunho de exercício físico e moral, voltada para o desenvolvimento de habilidades e capacidades do corpo, usando de corridas, variações de movimentos quadrupedais, diversos tipos de rolamentos, formas de escaladas, equilíbrios, saltos e outras formas de movimento[17] para ultrapassar os obstáculos de maneira rápida, eficiente e segura, os quais podem levar a novos patamares de exploração do movimento humano.[17][19]
Existem outras duas formas de expressão com vínculo direto com a prática e em muitos países são tratados também como sinônimos do parkour: A "Art du déplacement" ('Arte do deslocamento', em português) e o "Free Running" (Corrida livre', em português).[2][19]
O termo Art du déplacement foi o primeiro nome dado a prática corporal que viria a ser mais tarde também nomeada como parkour.[19] Esse nome foi sugerido por Sébastien Foucan,[2][22] considerado por muitos o co-fundador do parkour e também fundador do Free Running. O nome perdurou através dos Yamakasi,[19] considerados o primeiro grupo de parkour.[1]
Por sugestão de seu amigo Hubert Koundé, David Belle remodelou a palavra parcours ('percurso', em português), primeiramente retirando a letra 's', a qual não é pronunciada pela voz e substituiu o 'c' por um 'k' para sugerir agressividade e causar mais impacto ao pronunciar, e também como forma de universalizar o termo.[1][2][19]
Sébastien Foucan, co-fundador do parkour também é considerado o fundador do Free Running.[2] Embora semelhantes, a prática estabelecida por Sébastien Foucan expressa uma vertente mais artística do parkour, onde são realizadas acrobacias e a estética do movimento é ressaltada em detrimento da objetividade. O nome Free Running foi sugerido por Guillaume Pelletier para uma apresentação de Sébastien Foucan no documentário Jump London para o Channel 4 do Reino Unido,[1][2] visando maior facilidade na comunicação com a língua inglesa e entendimento da prática.
Traceur e traceuse são derivados do termo fracês tracer [tʀase],[23][24] cuja grafia, que embora semelhante a grafia em inglês tem pronúncia diferente e normalmente significa 'traçar',[25] ou melhor dizendo, 'aquele que percorre um caminho'.[1][19] O termo foi originalmente utilizado como o nome do grupo de parkour Original Tracers, que era liderado por David Belle, também eram parte deste grupo Sébastien Foucan e Stéphane Vigroux.[1][2][19][26]
O parkour surgiu de uma necessidade de movimentar-se impetrada por David Belle, seus primos e seus amigos durante a sua adolescência,[18] inicialmente em Fécamp na Normandia e posteriormente, nos subúrbios de Paris, em Lisses e Sarcelles,[1] onde David Belle buscou reforçar os laços com seu pai e começou a ter os primeiros insights sobre o que viria a ser o parkour, como a importância do fortalecimento físico e mental e os elementos que David Belle descreve com um tipo de filosofia.[1][19] Entretanto, a ideia do movimento tem suas raízes que remetem ao final do século XIX com Georges Hébert, criador do Método Natural e posteriormente no século XX, com Raymond Belle, ex-soldado, atleta, bombeiro francês e uma das grandes inspirações para o desenvolvimento do parkour.
Inicialmente, as maiores influências para o desenvolvimento do parkour foram Raymond Belle[19] e o Método Natural de Educação Física de Georges Hèbert (1875-1957), método este ao qual Raymond Belle foi instruído na infância e adolescência.[17] Georges Hébert foi um oficial da Marinha e profissional de Educação Física francês[19][27][28] que observou o comportamento e o movimento dos homens das tribos africanas[19][21][27][28] e de diversas outras partes do mundo durante as suas viagens como tenente da marinha francesa. Georges Hébert também pregava que um corpo sadio e atlético deveria combinar também coragem e altruísmo.[27]
Georges Hébert desenvolveu seu método com base em 10 grupos de habilidades: marcha, corrida, saltos, movimento quadrupedal, escalada, equilíbrio, lançamentos, levantamentos, defesa pessoal e natação.[21][27] Todos esses movimentos deveriam ser imbuídos com o desenvolvimento de outros elementos como força de vontade, coragem, frieza, resiliência, benevolência, honra e honestidade, e também havia a necessidade de desenvolver a respiração e a musculatura.[27] O treinamento pelo Método Natural de Hébert se expandiu pelas forças armadas e posteriormente por escolas, academias e clubes.[2] Ainda, os estudos de Georges Hébert deram origem a um livro publicado em 1912 intitulado L’education physique virile et morale par la méthode naturelle ('A Educação Física, virilidade e moral pelo Método Natural', em português).[27]
Ainda, Georges Hébert, idealizaria uma pista de obstáculos para o treinamento da marinha francesa a qual foi denominada de parcours du combattant (ou 'percurso do combatente', literalmente).[29] Mais tarde, esse sistema de treinamento e a pista de obstáculos ganhariam o respeito e admiração por forças armadas diversas ao redor do mundo, sendo copiado e adaptado por países como os EUA em decorrência das grandes guerras mundiais que viriam nos anos seguintes.[29]
Posteriormente, Raymond Belle usaria alguns do elementos do Método natural de Georges Hébert para incentivar a busca pelo movimento em seu filho, David. Assim, seja pela influência de Raymond, ou pela sua relação com o treinamento de Hébert, futuramente o parkour viria a usar alguns do elementos do Método Natural como a marcha, a corrida, os saltos, o movimento quadrupedal, a escalada e o equilíbrio, (lançamentos, levantamentos, defesa pessoal e natação não são considerados como elementos essenciais para a prática do parkour, pois envolvem combate ou movimentação em meios que não são comuns para os praticantes - nadar, por exemplo). Dessa forma é possível estabelecer uma relação, mesmo que pequena entre o Método Natural e o parkour, como "primos distantes". Nesse ponto, cabe ressaltar que o Método Natural desenvolvido por Hébert frisava aumentar as resistências orgânicas, realçar as aptidões para a execução de exercícios naturais e utilitários (os seus 10 grupos) e, sobretudo, desenvolver a energia, a qualidade de ação, a virilidade, para então subordinar esse conjunto de qualidades físicas bem treinadas a uma moral altruísta e física.[27]
O pai de David Belle, Raymond Belle (1939-1999) nasceu e cresceu no Vietnã.[2][17] Seu pai morreu e ele foi separado de sua mãe, sendo criado pelos tios do lado materno,[2][17] os quais abusaram de Raymond em sua infância.[17] Com sete anos de idade foi enviado para um orfanato militar onde colocou-se sob duras provações e treinamentos para tornar-se mais forte.[2][17]
Durante as noites, enquanto todos dormiam, Raymond saía do orfanato e treinava nas árvores e corria pela mata, desenvolvendo suas habilidades e fortalecendo seu corpo realizando saltos, flexões e equilíbrios.[2][17] Isso permitiu que Raymond sobrevivesse ao duro período o qual durou sua infância e início da adolescência. Depois da batalha de Dien Bien Phu em 1954, Raymond retornou à França onde permaneceu nas forças armadas até os 19 anos de idade, em seguida juntou-se ao corpo de bombeiros de Paris.[2][17]
Em sua estadia na França e a reaproximação com seu filho David, Raymond lhe apresentou a palavra 'parcours', a qual seu filho David, relembra: "Ele me contou como, quando era criança no orfanato militar, acordava todas as noites para ir treinar, sozinho e maliciosamente, no 'percurso de assalto', mas também em outros percursos que ele havia inventado sozinho. Para mim, essa palavra, "parcours", era muito abstrata e não significava nada. Ele explicou que havia diferentes tipos de percursos - ou parcours - lá, como percurso de resistência, percurso de agilidade, percurso de resiliência, e assim por diante.".[17]
Seu filho David, ressalta que existe uma diferença crucial entre o que seu pai fazia e o parkour que é praticando por muitos atualmente: "Para muitos, hoje em dia, parkour é algo divertido, mas para meu pai, era vital - uma questão de vida ou morte [...], [...] Para meu pai, parkour era suor, lágrimas e sangue.".[17]
Ainda, Raymond é lembrado pelos seus feitos heroicos no corpo de bombeiros sendo voluntario para missões perigosas. Raymond tinha um senso de coragem, autocontrole e auto-sacrifício excelentes.[17] Foi apelidado pelos companheiros de esquadrão com o nome Kamikaze.[17] Ao longo de sua carreira, realizou difíceis resgates que lhe renderam inúmeras honrarias e medalhas[17] e também se destacou com feitos atléticos sendo membro da equipe de treinadores de ginástica de Bombeiros de Paris, realizando demonstrações para jovens bombeiros ou grandes públicos. Ele também foi várias vezes campeão nacional militar em salto em altura e salto em distância.[17]
Embora Raymond tivesse em seu passado uma vida com diversas conquistas e feitos memoráveis, este viveu seus últimos dias amargurado com seus próprios dilemas e memórias amargas e obscuras, os quais tiveram fim quando cometeu suicídio (um tiro em sua cabeça com uma espingarda calibre 12) na virada de ano entre 1999 e 2000.[17][30] Antes de morrer, Raymond deixou uma mensagem para seu filho David, onde escreveu: 'La garde meurt mais ne se rend pas' ('O guarda morre, mas nunca se rende', em português).[17][30]
Em 1973 nasce David Belle, um dos filhos de Raymond e Monique Belle.[31] Este viria a ser o herdeiro dos ensinamentos de Raymond Belle e de suas técnicas de ultrapassar obstáculos.[18][22] David teve experiências com diversas modalidades como: ginásticas, atletismo e artes marciais, porém seu rendimento escolar e seu comprometimento com atividades esportivas não era assíduo.[17] Durante boa parte de sua infância, David Belle viveu e aprendeu com seu avô materno Gilbert Kitte, sendo este, além de Raymond Belle, um dos pilares da educação e formação de David.[17]
Conforme crescia, David tornava-se mais curioso a respeito da vida do pai e por meios de conversas com este decidiu que necessitava e queria desenvolver suas habilidades para caso tivesse necessidade na sua vida.[2] Nessas conversas David aprendeu mais sobre essa forma de treinamento que seu pai chamava de 'le parcours' e sobre as diversas repetições que ele havia feito para encontrar o seu próprio caminho.[2][17] Raymond ensinou a David que treinar não é uma brincadeira, mas algo altamente vital que permitiria a ele sobreviver e proteger as pessoas com as quais ele se importava.[2][17][20] David então percebeu que este era o caminho que ele buscava e começou a trilhá-lho.[2] Isso veio a tornar-se mais importante que a escola e David colocou toda a sua atenção em seu treinamento.
Vale lembrar que David Belle também treinou o Método Natural enquanto esteve na marinha francesa em Vannes, e nesse ponto ele já havia percebido a diferença entre o 'parcours du combattant' e o método que viria a ser conhecido como parkour.[17] Ou, nas palavras do próprio David Belle: " [...] meu pai e eu decidimos perceber os obstáculos de uma maneira diferente e mudar esse curso passível de algo positivo, pacifista e útil. E eu vi a diferença com o método de Hébert quando fiz o meu serviço militar na Marinha em Vannes.".[17]
No livro escrito por Sabine Gros La Faige, David Belle ressalta diversos aspectos do que era o parkour enaltecendo o mais importante que seria a mentalidade do praticante e o entendimento dos seus princípio acima de tudo.[17] Para Belle, o que vale é a o que o praticante tem em sua mente e não um amontado de vídeos de exibição: "o importante a ser desenvolvido é a auto confiança, o aprendizado da técnica, só assim ele entenderá os princípios do parkour"[17] . Belle ainda ressalta as palavras de seu pai quando se trata de direcionar a disciplina no parkour: "Se dois caminhos se abrirem para você, sempre escolha o mais difícil, pois você sabe que pode trilhar caminho fácil".[17]
David é considerado fundador e o mais influente propositor do método parkour pelo mundo.
Durante o final da década de 1980 e início da década de 1990, David Belle conhece aqueles que viriam a ser seus parceiros de treino.[2] Entre visitas frequentes à seu pai, que residia em Sarcelles e a vida com sua mãe que morava em Lisses, David conheceu amigos que por fim juntaram-se em um único grupo com a intenção de se movimentar, treinar e se fortalecer.[2] Este grupo era originalmente formado por David Belle,[32][33] Châu Belle Dinh,[33][34][35] Williams Belle,[33][36] os irmãos Yahn[33][37] e Frederic Hnautra,[33] David Malgogne,[33] Malik Diouf,[33][38] Guylain N'guba Boyeke,[33] Laurent Piemontesi[33][39] e Charles Perrière.[33] Um dos fatores que influenciaram definitivamente esse garotos foram suas famílias, onde vários deles tinham pais e parentes que serviram as forças armadas, corpo de bombeiros, foram praticantes de artes marciais e até atletas.[30] Uma menção de destaque cabe a presença, na época, de Katty Belle, única mulher a fazer parte do grupo original, porém, pouco lembrada ela era mais um integrante que carregava a força do nome da família Belle.[2] Katty fez parte do surgimento do movimento por meio de seu tio Raymond Belle pois, quando criança, o mesmo Raymond buscava a ela e a seus irmãos na escola e os levava para treinar nas matas de Ecouen.[2]
Estes amigos tornaram-se um grupo forte e unido, os quais realizavam desafios físicos como corridas de oito quilômetros ou realizar elevações em barras com um colega agarrado às costas,[30] treinavam sem comer ou beber água, sem dormir ou sob baixas temperaturas, ou, nas palavras de Laurent Piemontesi: '[...] era divertido treinar com "os lobos" '.[30] Não era permitido atrasar-se, todos deveriam completar o desafio, não era permitido ser negativo ou reclamar, o pulo deveria ser feito, mesmo que descalço! Entretanto, todos sempre deveriam ter a sabedoria para conhecer seus limites. Para o grupo um movimento executado apenas uma vez não era o suficiente, era necessário repeti-lo exaustivamente sem lesionar-se, mantendo a força e o fôlego até o desafio estar completo, caso alguém errasse, o movimento era repetido do início e quando fosse necessário treinariam em casa, antes da escola ou onde fosse, realizariam flexões, fariam barras, levantariam pesos, agachamentos, qualquer coisa![30] Ou, como fazia Châu: '[...] até mesmo realizar 5 mil abdominais ao longo do dia ou em sequência'. Humildade também era um dos princípios fundamentais, ninguém era superior ao outro, não poderia haver mentiras sobre o que faziam e como faziam na prática de sua movimentação, considerando que, na época ainda não haviam dado um nome para o que faziam. Somente adentravam novos membros no grupo se estes fossem "recomendados" e se passassem nos testes de avaliação e motivação. Era obrigação de cada membro do grupo encorajar os outros.[30] Caso alguém violasse as regras, era punido. Estas eram as maneiras com as quais o grupo lidava para manter seus valores. David e Yahn eram considerados os membros mais fortes e eram extremamente respeitados por isso.[30]
Uma das curiosidades sobre o grupo recai na TV e nas influências advindas dela. Atores como Jean-Claude Van Damme, Bruce Lee e Jackie Chan e seus filmes influenciaram aspectos da flexibilidade, força e movimentação respectivamente do grupo todo.[30] Ainda, os jovens eram fãs assíduos de Goku, personagem do mundialmente aclamado anime Dragon Ball, onde o herói desenvolvia sua força e técnica a cada episódio, os garotos viam o desenho como inspiração para seus próprios treinos.[30]
O ano de 1997 marca as maiores mudanças para David e seus amigos.[2] Instituições como o departamento do corpo de Bombeiros de Paris pediram para o grupo realizar uma apresentação durante um evento.[2] Ainda no mesmo ano, o irmão mais velho de David, Jean François Belle conseguiu a chance de uma apresentação para o programa Stade 2 e também um convite para o musical 'Notre Dame de Paris',[2] o qual levou os praticantes a conhecimento do diretor de cinema Luc Besson que ficou fascinado com os movimentos dos rapazes.[2] O fenômeno que viria a ser conhecido como parkour eclodiu no final dos anos 1990 e início do novo século.[2] Assim, a mídia começou a apresentar interesse pela modalidade, levando a prática para a grande tela por meio dos filmes B-13 (2004)[19] ou "13º Distrito" e B-13 Ultimato (ambos estrelados por David Belle e Cyril Rafaelli), "Yamakasi - os samurais dos tempos modernos" (2000) e Yamakasi - os filhos do vento (2003), ambos estrelados pelos membros do grupo Yamakasi.[2]
Cabe ressaltar que durante mais de uma década o grupo treinou junto e em determinado ponto, por volta do ano de 1997, ideias começaram a divergir.[2][17] Nesse momento, David Belle e Sébastien Foucan se afastam do grupo original que também era composto pelos primos de David: Châu e Williams (que residiam em Sarcelles), os irmãos Yahn e Frederic Hnautra (moradores de Lisses), e seus amigos David Malgogne, Malik Diouf, Guylain N'guba Boyeke, Laurent Piemontesi, Charles Perrière,[1][2][17][19] estes decidiriam usar o termo 'Art du déplacement' para a sua prática. Mais tarde David Belle e Sébastien Foucan também seguiriam caminhos separados por divergências em seu modo de pensar e treinar,[1][2][17] dessa divisão surgiriam respetivamente, o parkour e o free running.
Os membros remanescentes dos Yamakasi, fundaram a Parkour Generations, considerada atualmente a maior autoridade em se tratando de Parkour e Art du déplacement no mundo.[15] A Parkour Generations também é responsável pela qualificação A.D.A.P.T. (Art du Déplacement And Parkour Teaching), reconhecida por traceurs pelo mundo todo e pelo governo britânico.[15][19]
Sébastien Foucan continuou a divulgação de sua visão da prática no Reino Unido e ainda esta atuante no mundo do parkour e do Free running.[1] Além do documentário Jump London[15][19] ele atuou como vilão no filme 007-Cassino Royale (2006)[1] e posteriormente no filme "The Tournament" (em português "Vingança entre Assassinos"), como o assassino Anton Bogart. Também apareceu no videoclipe da canção Jump, e acompanhou a cantora Madonna em sua tourné de 2006 Confessions Tour.[1][40] Atualmente ele tem sua própria academia de Free Running e é o presidente da Parkour UK.[41]
David Belle fez comerciais para diversas empresas como BONT, Nike, Cannon, Nissan, Coca-Cola, BBC e pequenas aparições na mídia no início de sua carreira, mas sua força real seria mostrada nos filmes Bairro 13 (B-13) e Bairro 13 - Ultimato (B-13: Ultimatum), bem como uma série de participações em eventos pela Europa e EUA divulgando o parkour.[1][2][17] Em 2014, participou de um remake hollywoodiano de B-13, lançado com o nome Brick Mansions (Bairro 13, no Brasil) onde contracena com Paul Walker (1973-2013) da franquia Velozes e Furiosos,[1] além de também aparecer em uma entrevista para Tim "Livewire" Shieff no mesmo ano, para apresentar alguns de seus pontos de vista sobre a prática do parkour atual.[42] Recentemente, David esta divulgando a série Brutal: Taste of Violence.[43][44][45] Além disso, David Belle também trabalhou com assessoria para produtores de jogos[46][47][48][49] e filmes com cenas de parkour.[50][51]
Durante os anos que transcorreram entre o início das atividades que viriam a originar o art du deplacement, o parkour e o Free running, a prática em si era regida de maneira bem diferente do que a maioria se utiliza nos dias atuais.[2][52][53][54]
David Belle, fundador do parkour, manteve por muito tempo a ideia de que seu método de treinamento era uma arma camuflada, uma maneira de livrar-se de situações perigosas ou ainda para ajudar pessoas em necessidade ou empregar perseguições.[20] Sua visão era a de que o parkour deveria dar autonomia ao praticante, sendo este capaz de realizar ações e tomar decisões por si.[20] Para Belle, o parkour consistia em treinar, repetir e alcançar seus objetivos além de objetivar uma movimentação fora dos padrões ditos "normais" pela sociedade.[20] Sobre a consistência da repetição e da dedicação ao treino, Stephane Vigroux, um dos discípulos de David, descreve que eram costumeiros os desafios quando iniciou seu treinamento com David, além da intensidade do treino,[55] sendo a sensibilidade e o fortalecimento físico os dois pilares essenciais da prática,[55] este último demandando sempre atenção total. Nesse tempo, David Belle também ressaltava para seus companheiros de treino e seus aprendizes, a importância do respeito e humildade.[55]
Acerca da prática consciente, David também ressalta uma frase seu avô: "você deve usar e não abusar", proferida em um documentário denominado 'Eu salto de telhado em telhado' (2009), nesse ponto a ideia de David Belle é a de que cada praticante deve saber conhecer e respeitar seus limites sem colocar a própria vida em risco.[20] Entre vários pontos abordados por David Belle acerca da prática cabe destaque ao ponto sobre ser negligente e sobre aprender a seguir regras, mencionando inclusive o respeito ao treino, ao lapidar do movimento e as consequências de atitudes desvairadas.[20]
Stephane Vigroux, um dos discípulos de David e atual membro da Parkour Generations, descreve que existem duas formas de se treinar parkour, uma delas é voltada para o aspeto da diversão, como uma brincadeira e a outra, muito mais séria e comprometida, é voltada para o treino regrado, para alcançar um patamar diferenciado de evolução na prática do parkour, Stephane também menciona que o praticante deve escolher qual o tipo de treino quer realizar e levar consigo,[55] que não existe problema algum com a escolha e com qual caminho seguir, mas que o praticante deve ter em mente que ambos são diferentes e tem exigências diferentes.[55] Dessa forma, fica evidente que a prática do parkour na sua primeira década e anos seguintes era mais voltado para sua essência, visando o fortalecimento do indivíduo e uma visão utilitarista da modalidade,[20][52][53][54] ou, novamente citando Vigroux: "[...] uma prática baseada no movimento, que ajuda a tornar indivíduos mais fortes fisicamente e mentalmente, tornando-os seres humanos equilibrados que então ajudarão à comunidade e outros indivíduos com essas bases sólidas".[53]
Com o advento da internet e a explosão digital mundial, o parkour tornou-se um fenômeno mundial, porém, a maioria das pessoas ainda desconhece o que vem a ser a prática.[21] Muitos dos novos praticantes adentram a prática instigados por vídeos na rede mundial, entretanto, esses vídeos em sua maioria tem pouca ou nenhuma qualidade de informação,nas palavras de Charles Moreland: "[...] eles são terríveis, a maioria deles são horríveis!".[21] Ainda, é possível lembrar das palavras do fundador da modalidade, David Belle em uma entrevista para o canal FreerunningTV.com, onde diz o que pensa acerca dos vídeos em geral sobre parkour disponíveis na rede: "[...] a maioria só esta interessada nas aparências, eles querem se exibir [...]"[22] . Embora existam diferentes discursos e interpretações, existe atualmente uma dicotomia entre os grupos que procuram preservar a essência original do parkour e aqueles com uma mente "mais aberta" que defendem uma nova roupagem para a modalidade, ressaltando a evolução da mesma no decorrer dos anos como algo natural, motivo que veio a causar disputas de poder e momentos de tensão na comunidade mundial.[2] Malik Diouf, dos Yamakasi em uma entrevista apresentou sua opinião sobre o assunto: "Acredito que existem dois tipos de pessoas, os puristas e os com mente aberta", mostrando que a prática encontra-se atualmente dividida na forma e nas opiniões.[52][56] É notório que os novos praticantes tem o desejo de desenvolver sua própria movimentação e que os grupos de praticantes vem crescendo exponencialmente, dessa forma várias novas interpretações acerca da modalidade vão surgindo e entrando em conflito com conceitos mais conservadores de praticantes mais velhos, ou mesmo daqueles que seguem a linha purista da prática.[56] Sobre a transmissão de conhecimento do parkour para as futuras gerações, o praticante Valentin Dubois, do grupo Parkour Lyon ressalta que: "[...] quando você ensina parkour a alguém... você não pode força-los a pensar como você", assim sendo torna-se algo muito complicado tentar imbuir os valores pessoais dos praticantes mais antigos na nova geração, a qual enxerga a modalidade sob um novo espectro.[56] Essa mudança drástica tem causado não somente discussões acirradas, mas também conflitos de ideias e da forma como se encontra a prática na atualidade, a qual torna-se quase irreconhecível por pessoas que se espelham nos vídeos mais antigos, embora muitos outros praticantes estejam produzindo conteúdos de seus próprios modos de ver o parkour, mas ao realizar uma análise visual, é notória a mudança, tanto na movimentação quanto no pensamento dos praticantes.[56]
Dessa forma, criou-se acerca dos praticantes atuais uma conotação de irresponsabilidade onde os jovens realizam acrobacias perigosas, com o único objetivo de conseguir visualizações no Youtube.[21] Stephane Vigroux destacava já em 2006 que a pratica do parkour estava se tornando muito superficial pelos novos adeptos: 'Esta acontecendo tudo muito rápido, Muito fácil. Muito show.'[55] . Nesta mesma linha de pensamento, questiona-se veementemente a validade da necessidade que os praticante da nova era buscam ao gravar novos vídeos que crescem exponencialmente nas mídias digitais, onde o desejo de partilha de conhecimento tem sido usurpado pela busca frenética de produção de material cada vez mais radical, na caça incessante por visualizações e likes.[56] Embora existam diversas críticas sobre como a modalidade evoluiu (ou involuiu), cabe dizer que notadamente que o parkour foi modificado e adaptado ao longo dos anos em diversos aspectos, entre estes podem ser citados: a adesão das acrobacias por muitos praticantes,[2] o uso como ferramenta pedagógica de ensino por profissionais de Educação Física no cenário escolar,[57][58][59][60][61][62][63][64] a miscigenação confusa com outras culturas corporais como a dança,[65][66] além da aplicabilidade do jogo e o caráter lúdico da prática.[67][68] Somado a isso, novos horizontes se abriram para diferentes faixas etárias adentrarem na modalidade, desconstruindo o olhar que a sociedade em geral tem acerca da prática, dessa forma, foram inseridos, crianças, adultos e até idosos praticantes de Parkour.[69][70][71]
Entretanto, um cuidado deve ser observado ao adentrar a prática e ao disseminá-la também, sendo um consenso entre boa parte dos praticantes que: "parkour não é tudo e nem tudo é parkour!"[56] . O parkour é uma ferramenta que pode ser inserida em outros contextos, mas daí a dizer que ele é o novo contexto, torna-se algo totalmente diferente, embora existam defesas pouco fundamentadas e interpretações pessoais pouco usuais em que o parkour pode ser uma nova forma de ver uma outra prática cujas características são totalmente diferentes da prática original. Cabe ressaltar que as pesquisas em nível acadêmico ainda estão florescendo com os assuntos em questão e que novos pontos de vista estão sendo construídos acerca da prática que tem se mostrado extremamente mutável devido a diversas interpretações a cada ano que passa.
Ademais, muitos discursos do que é ou do que não é parkour permeiam blogs, sites, fóruns de discussão, postagens do facebook e acrescentando-se ainda a grande confusão com a prática da Free running, a qual muitos consideram ou não "como sendo a mesma coisa que o parkour", e poucas pessoas se atém a ouvir os fundadores de ambas as modalidades, ler e conhecer mais sobre ambas, bem como os indivíduos mais próximos das práticas originais desde sua criação.[72] Somado a isso, as diferentes veiculações apresentadas pelas mídias e por alguns praticantes enaltecem ainda mais essas diferenças.[72] Um dos exemplos, são as falas de Stephane Vigroux sobre o Free running: "A definição original dessa palavra se perdeu e também foi devorada pelo grande parasita e agora representa algo completamente diferente de seu ponto de vista inicial"[53] e também sobre o parkour atual: "A palavra “parkour” tem sido usada excessivamente e erroneamente. Ela perdeu força e significado".[53] Essa falas são corroboradas por Chris "Blane" Rowat, um dos membros mais respeitáveis da Parkour Generations em um texto para seu próprio blog, escrito em 2012, onde o próprio Blane ressalta o crescimento desenfreado de praticantes, grandes pulos com péssimas aterrissagens, o surgimento de competições, um pequeno grupo se mantendo sobre seus antigos valores morais e um mudança sem precedentes creditada ao parkour.[54] Acerca deste assunto em particular, Dan Edwardes, co-fundador da Parkour Generations e Châu Belle-Dinh deixam claro que não se deve focar em nomeclaturas e sim no movimento que se pode realizar,[72] infelizmente até mesmo essas falas acabaram por serem deturpadas com o passar do tempo.
Existe ainda, o discurso de que o grande desafio do parkour, é o fato dele ser algo novo e por si, ser algo desafiador pois tira o indivíduo da sua zona de conforto e o leva a pensar e a mover-se de maneira não usual, diferenciada, a tentar algo diferente.[21] Atualmente, a locomoção humana tornou-se algo extraordinário pelo simples fato de quase não haver mais movimento como em outrora, com o advento da tecnologia o ser humano tornou-se mais ocioso e passou a estar mais tempo sem realizar movimentos que antes lhe eram naturais e dessa forma, quando alguém se equilibra sobre um corrimão ou sobe um muro alto, isso torna-se algo impressionante.[21]
Para alguns instrutores e praticantes da atualidade, não existe no parkour atual, algo que determine ou pressione o indivíduo praticante a realizar movimentos difíceis ou complicados, a ideia é tentar manter o zelo para com o corpo, como forma de preservação.[21] Porém, cabe ressaltar que mesmo sem uma pressão explícita, existe uma relação não formalizada do aspecto competitivo dentro de grupos de praticantes, como uma forma de competição latente, que leva seus integrantes a evoluir, se desafiar e se desenvolver individualmente e em grupo.[73] Entretanto, uma das falas de Sebastién Foucan sobre o uso indiscriminado do corpo para a prática recai justamente na consequência da lesão: "Seu ambiente é seu equipamento, a menos que você o utilize adequadamente, você irá machucar a ele e a você mesmo [...]".[74] As falas de Foucan podem ser incrementadas com o pensamento de que o maior sucesso está sempre relacionado ao maior risco quando os praticantes tentam provar o poder de suas capacidades tanto para si quanto para outros (GUZZO apud PIROLLO, 2015, p. 51).[75] Dessa forma, é possível verificar duas situações as quais os praticantes de parkour em processo de iniciação acabam por submeter-se que são: a realização de vídeos e a necessidade de se auto afirmar perante outros praticantes em treinos em grupos.[75]
E ainda que a mídia, em geral tendenciosa e sensacionalista, tende a vincular a modalidade como um esporte radical, embora sua prática esteja longe de ter qualquer relação com tal denominação[21] Talvez, o grande problema seja justamente a grande quantidade de discursos espalhados e disseminados, tantos por praticantes quanto por não praticantes os quais, ao invés de trazerem os ensinamentos da prática à luz, fazem justamente o contrário, confundem cada vez mais os novos praticantes e os deixam às escuras com informações e diálogos cada vez mais confusos.[18]
Sem limitações de espaços para ser praticado, o parkour é acessível a todos,[21][76] possibilitando o autoconhecimento do corpo humano e mente como o desenvolvimento da força, resistência, coordenação motora e equilíbrio, ao mesmo tempo que desenvolve a concentração, força de vontade, determinação e coragem — qualidades que favorecem o bem estar e a qualidade de vida, educando crianças, jovens e adultos ávidos por novas experiências.
É essencial lembrar que parkour demanda treino e dedicação, bem como uma adequada orientação por parte de praticantes experientes, sendo assim é imperativo que, ao adentrar a prática, o iniciante busque instrução por meios de praticantes ou grupos ou até mesmo academias. Vídeos da internet ou tutoriais, são, de longe o último recurso para conhecer a modalidade. É necessário ser criterioso quando se busca informação sobre o parkour.
O que podemos perceber no decorrer dos anos, é que desde a criação e o desenvolvimento dessa disciplina no final dos anos 80 até os dias de hoje, que são em torno de 30 anos, ainda se mantêm a essência e o objetivo real do parkour em encurtar caminhos, facilitando seus trajetos e sempre superando seus medos e limites e paralelamente estar sempre associando a situações da vida, do cotidiano. Graças à imensa dedicação e anos de estudo de seu criador, David Belle, o parkour pode ter influências consideráveis do método natural, de treinamento de guerra e de salvamento dos bombeiros, o que fez com que essa nova disciplina possuísse uma gama de conhecimentos corporais, mentais e filosóficos. (Côrtes, 2007)[77]
Outro ponto importante e um dos focos do estudo foi perceber como essa disciplina, hoje tratada como um esporte, devido sua organização, disciplina de treinos e dedicação, chegou a se espalhar no Brasil. Através do meio de comunicação, como jornais, revistas, TV, internet e outros o parkour chegou como uma novidade e rapidamente virou febre entre os jovens do País inteiro, devido sua diversidade de movimentos e por utilizar o corpo como único instrumento. (Côrtes, 2007).[77]
A pergunta que se faz como objetivo do artigo é como e porque esses jovens escolhem o parkour como a principal atividade corporal. Observamos que devido a diversos fatores tanto sociais quanto psicológicos, os jovens encontram no parkour as respostas que precisam e que jamais os adultos entenderiam como a liberdade de expressar o corpo e as palavras, superar alguns desafios pessoais, como o medo, visão do espaço ao seu redor, relacionamento com outras pessoas de culturas diferentes, buscando assim um amadurecimento não só pessoal, mas geral com relação a todos que convivem a sua volta. (Côrtes, 2007).[77]
Concluímos que o parkour é uma disciplina corporal completa na visão de quem pratica, pois trabalha o corpo de uma forma geral como saúde e condicionamento físico e prepara a mente para novos desafios e obstáculos não só concretos, mas da vida também, pois permite que os jovens se sintam mais à vontade para expressar suas sensações de liberdade, felicidade ou até mesmo de alguma frustração ou angústia, canalizando diretamente essas sensações na forma de movimentos durante a prática do parkour. (Côrtes, 2007).[77]
O parkour oferece grande liberdade de movimento e custo mínimo para ser praticado, sendo recomendados (embora não obrigatórias) roupas e calçados que sejam confortáveis[21] para os praticantes como:
Não são utilizados protetores de cotovelo, protetores de joelho, capacete ou luvas para a prática. O objetivo é conhecer e fortalecer o próprio corpo, pois este já oferece todas as possibilidades de salva-guarda necessárias para a prática da modalidade. Propõe-se inclusive que deve haver treinos sem calçados e com os pés em contato direto com as superfícies onde se pretende treinar para melhorar a sensibilidade com a qual os movimentos são realizados.
O parkour demanda uma prática de treinamento tanto físico quanto mental. Dessa forma é necessário observar os elementos dos exercícios de tonificação e fortalecimento muscular, como: agachamentos, abdominais, flexões, puxadas em barras e outros. Muitos praticantes agregam à sua pratica, elementos da calistenia e da musculação, visando o fortalecimento. A repetição constante dos movimentos básicos traz polimento à técnica e molda o praticante, preparando-o para novos desafios e movimentações mais complexas.
Também é recomendado que o praticante tenha comprometimento com a sequência de treinos, bem como assiduidade, ou seja, que este estruture e treine constantemente suas técnicas, bem como tenha em mente que o fortalecimento é parte fundamental para a melhora das condições físicas, além de preparar o praticante para desafios mais complexos.
O parkour requer não somente absoluta concentração e consciência sobre seu corpo e o ambiente onde você irá se movimentar, mas também é necessário preparo físico e mental.[19][20] Se em situação de treinos outdoor é necessário sempre uma avaliação de distância, de sua capacidade e risco ao qual você estrá incorrendo. O conjunto mental é combinado ao controle e poder do corpo e da mente.[19] Os praticantes costumam adotar a seguinte frase para descrever parte de sua prática: "é ridículo procurar liberdade e acabar quebrado numa cadeira de rodas". Mesmo assim, o parkour é uma arte que requer disciplina, treinando sua mente com bom-senso,[20] e respeitando seus limites.[19] Desse modo, acidentes podem ser amenizados ou até evitados.[19]
Recentemente tem crescido o número de acidentes relacionados à prática, devido a fatores como superexposição pelas mídias sociais e um número crescente de autoproclamados praticantes que frequentemente deixam de lado os aspectos morais da prática.[2][18] Devido a se subestimarem os riscos da prática e à excitação dos jovens em fazer algo incrível que viram dos amigos, colegas ou vídeos na TV ou internet.[18] Infelizmente, as palavras de David Belle acerca de que "o excesso mata..."[20] e a remissão do mesmo David mencionando o ensinamento de seu avô: "Você precisar usar, e não abusar!"[20] se tornaram reais. Alguns exemplos:
Outro problema que tem se tornado recorrente são as invasões de propriedades privadas ou estruturas de prédios abandonados, geralmente áreas que oferecem periculosidade aos praticantes para simplesmente gravar vídeos visando divulgação posterior na internet em busca de reconhecimento ou em nome do roof culture. Isso vai na contramão dos valores relacionadas ao respeito a si e a outrém, tão prezados pelos fundadores,[20] bem como o respeito a propriedade alheia. Estas ações danosas à prática estão começando a se tornar muito comuns e estão ganhando as manchetes dos tablóides[133]:
Vidal (2017) ressalta que, ao postar um vídeo na internet o pretenso praticante torna-se referência para muitos pretensos adeptos, os quais irão pensar que invasões são algo correto ou permitido.[165] Ainda, "Essas crianças não tem o mesmo preparo que você, e na cabeça delas, o que elas estão fazendo é parkour. Assim como nos influenciamos em grande parte pelos vídeos que vimos na internet, seus vídeos também podem servir como referência pra outros."
Em adendo, cabe esclarecer que os difusores do roof culture, foram os membros de uma equipe de parkour chamada Storror, que divulgou um vídeo em 2014 e enalteceu justamente o fato de que os locais por onde foram realizadas as filmagens foram feitas SEM autorização e por intermédio de invasões, ainda, os mesmos membros se apropriaram do termo 'cultura' para sua prática, o que acaba por causar grande confusão entre leigos e praticantes pois estes assimilam a prática como tal.[166] As falas utilizadas para a divulgação do vídeo, embora cheias de um desejo de mostrar algo inovador e diferenciado: "Este projeto segue um grupo de jovens renegados em uma aventura contra a multidão e com o desejo de lançar luz sobre uma perspectiva e abordagem diferente para a vida",[166] escondem uma verdade sombria, a de que eles estão incentivando uma prática perigosa e criminosa.
Além disso, muitos se utilizam da desculpa de que os fundadores também realizavam algo semelhante ao roof culture, mas estes mesmos defensores desta prática não consideram o contexto histórico e a realidade na qual ocorriam as night missions (missões noturnas, em português) da época. O ambiente dos arredores dos subúrbios nos anos de 1980 era mais hostil, sem opções de lazer ou espaços para práticas esportivas, entre os membros originais dos Yamakasi havia uma busca pelo fortalecimento e por desafios, como ressalta Vidal (2017): "Era uma outra realidade, um outro contexto."[165]
Outro fator extremamente desconsiderado pelos autoproclamados adeptos do roof culture é a relação do nível de experiência, bem como a consciência da da responsabilidade: "[...] é completamente diferente um praticante experiente, com anos de treino, vez ou outra, se desafiar em silêncio, por conta própria, ciente de todas as responsabilidades dos seus atos e pronto para assumi-las com honra e humildade caso algo dê errado, de um moleque sem experiência que quer subir no alto de um prédio para tirar fotos e fazer alguns vídeos no alto de um prédio só pra “ser radical”. São situações completamente diferentes entre si... e independente da situação é imprescindível sempre lembrar que: INVASÃO É CRIME!!! (Artigo 150 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940[167]) e fere o Artigo 5º da constituição federal, que diz respeito ao direito sobre propriedade" (VIDAL, 2017).[165]
Essa palavras podem ser endossadas por quem entende do assunto, Paula Duran (ADVOGADAS - Advocacia de resultado) deixa claro que você não pode praticar parkour de qualquer jeito: "Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências” é um crime, previsto no art. 150 do Código Penal. E a pena é agravada - se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas. Assim, fica fácil entender que se juntar com amigos para praticar parkour naquela construção do condomínio durante a noite é crime, certo? A expressão “casa” compreende qualquer compartimento habitado; aposento ocupado de habitação coletiva; e compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Portanto, escolas, parques particulares, locais de trabalho, padarias, mercados, shoppings, etc. se enquadram como local privado. É preciso que se compreenda que a ação não se limitar à prática de “adentrar”, como se fosse necessário uma cerca, um muro ou quatro paredes para configurar a “casa”. Um telhado, um jardim aberto ou uma área de lazer também se configura como local eminentemente privado! Havendo ciência e aprovação do dono do local, o crime fica descaracterizado e você estará liberado para o Parkour!"[168]
É necessário ressaltar que qualquer prática corporal e de exercícios físicos estão sujeitas a acidentes e a ideia central do parkour é a de fortalecer o corpo e a mente, fazendo-os durar a longo prazo, isso significa ter uma vida de treino longeva e sem lesões. Muitas organizações ao redor do globo tem realizado esforços de conscientização da prática visando a conservação física do praticante e também dos locais onde são realizadas as práticas. Um exemplo é a 'Leave No Trace' ('Não Deixe Marcas', em português), iniciativa da Parkour Visions que preza pela conservação dos ambientes onde os traceurs realizam seus treinos, deixando-os como estavam inicialmente, ou, em caso de danificar algo, arcar com os custos de sua recuperação ou manutenção.[169][170][171]
Devido ao seu crescimento desenfreado,[172] o Parkour tornou-se objeto de desejo da mídia, de grandes empresas, de negócios e com o tempo tornou-se objeto de espetacularização.[173][174] Dessa forma foi inevitável que surgissem concepções sobre formatos de competições para a prática com diferentes objetivos e formas de propagação. O aspecto competitivo do parkour embora imbuído essencialmente em seu âmago, ou seja, no pensamento de que o único a ser desafiado, o único contra quem deve-se competir é o próprio praticante, em um embate pessoal contra suas limitações e medos[172][175] tomou rumos diferentes com a propagação do método mundo afora.[173] Novas ideias e concepções fluíram pela mente de praticantes mais jovens, ávidos por um novo desafio ou pela busca do reconhecimento fornecido pelas mídias e empresas que observaram possibilidade de obtenção de lucro com tal modalidade,[173] porém a somatória de tal pensamento causou tumulto no mundo do Parkour, dividindo opiniões.[174]
Do lado dos praticantes que são contra a competição ou propagam a ideia de um parkour como prática não-competitiva incluem-se nomes de peso acerca da prática como: Sebastién Foucan,[74] Erwan Le Corre,[176] Naim, ParkourUK,[175] Fédération Internationale des Arts du Déplacement (FIADD), Parkour Generations,[172][177] entre outros, os quais defendem um parkour voltado para o indivíduo, para a busca de sua própria essência e autoconhecimento.
Do lado dos defensores a favor das competições ecoam vozes da World Freerunning Parkour Federation (WFPF),[181] e personalidades de renome construídos recentemente pelos campeonatos e vídeos da internet como Tim “Livewire” Shieff, Ryan Doyle e Oleg Vorslav, os quais vislumbram as competições com algo positivo, seja na divulgação de amplo espectro, seja no uso do dinheiro arrecadado, segundo eles, para uso e construção de locais apropriados para a prática, embora na realidade, os próprios divulgadores tenham como objetivo-mor a propagação de campeonatos e auto-promoção mundo afora.[179]
Entre tantos discursos torna-se deveras complicado para alguém que esta chegando e conhecendo o Parkour hoje, opinar. De um lado um grande levante de praticantes que procuram buscar a manter os preceitos originais da prática, a disseminação consciente, o treinamento organizado, a construção de um espírito forte, viril, honesto. Do outro lado, um grupo cada vez maior de indivíduos cujos discursos se baseiam em diversos aspectos, algumas vezes fundamentados como apontam os pesquisadores Chagas, Rojo e Girardi (2015, p. 30): "[...] na concepção de que políticas públicas são destinadas para a disseminação de esportes, e isto se evidencia quando o interesse do mesmo é para esportes de rendimento, havendo assim um grande interesse em esportivizar o Parkour, pensando que desta forma teriam mais espaços físicos para a prática além de investimento financeiro para a disseminação da mesma enquanto reconhecida como esporte."[186]
Nos últimos anos tem sido uma tendência a nível nacional, ainda que em desenvolvimento, de esportivização da prática, e dessa forma já foram realizadas quatro competições, todas na cidade de São Paulo (Art of Motion, 2011; Desafio Urbano, 2014/15, 2015/16 e 2016/17).[186] Entretanto, grande parte dos praticantes não consente com esta tendência realizando protestos como o Disaster of Motion[187] e manifestos tanto em redes sociais quanto pessoalmente contra estas competições.[186] Essa negativa ocorre pela desaprovação na criação de elites as quais vem a causar uma distinção entre os participantes (Marque apud Chagas, Rojo e Girardi, 2015, p. 24).[186]
Embora os defensores do aspecto competitivo preguem que não existe um sistema divisor entre os praticantes, que todos são iguais e que não existem elites, dentro das competições, exercer pressão ou ser pressionado é uma afirmação e uma imposição.[188] Claramente, nas competições de Parkour o objetivo é se afirmar e impor como superior ao outro.[188]
Em última instância, estão aqueles cujo pensamento se coloca a frente de tais discussões, ponderando sobre suas decisões, suas falas e seu posicionamento com relação à questão das competições, um dos exemplos é Alberto Brandão, um dos traceurs mais antigos e conhecidos do Brasil, que ressalta que praticantes de Parkour são em essência, competitivos e que, embora essa competição seja algo intrínseco é necessário estar aberto a novas ideias e questionamentos quando se trata do assunto.[189] Ainda, o mesmo Alberto Brandão relembra a importância de se pensar sobre a prática de maneira introspectiva: "Quando a gente só valoriza aqueles que são tecnicamente melhores estamos esquecendo o Parkour que estamos tentando alcançar. Não sei para você, mas para mim, Parkour é sobre seres humanos melhores, tudo aquilo que torná-lo fora disso, merece ser descartado."[189]
Eduardo Rocha, conhecido traceur, ex-presidente da Associação Brasileira de Parkour e co-responsável por vários dos eventos de Parkour mais notórios na região do nordeste do Brasil apresentou uma série de ponderações que todo traceur deveria (ou, pelo menos, poderia) ter acerca dos aspectos competitivos para o Parkour.[190] Eduardo ressalta a importância de observar os dois lados do aspecto competitivo, a importância do cuidado com pré julgamentos, os problemas com a idolatria nos participantes, inspirações, acidentes, responsabilidade, liberdade e o abraço do futuro inevitável das competições no Parkour.[190] Outro aspecto relevante ressaltado por Eduardo é a influência que as competições irão causar na vida, treino e pensamento de cada traceur espalhado pelo mundo, enaltecendo que cada pensamento e forma de treinar é única, bem como a decisão de tomar partido favorável ou contrário com relação as competições.[190]
Sobre posicionamentos acerca das questões relacionadas à competição, David Belle em 2014 discorre que as competições são um elemento do processo de evolução do Parkour e que cabe a cada praticante a decisão de ser ou não favorável a elas, porém é necessário que cada um saiba o caminho que esta escolhendo, pois este caminho deve ser movido por vontade, felicidade, e bem estar.[191] O próprio David diz que prefere não competir mas que não irá dizer o que fazer e como fazer a outras pessoas e tampouco irá se posicionar a favor do banimento de competições pois para ele, o que importa é o respeito.[191]
Em contrapartida às dificuldades e problemas, existem diversos praticantes envolvidos com a disseminação consciente da prática do Parkour no cenário nacional, podendo ser a partir de iniciativas pessoais, de grupos, de organizações e de projetos esportivos e sociais, trazendo a modalidade de forma lúdica, divertida e enaltecendo como uma forma de melhora na qualidade de vida e saúde do praticante.
O Parkour ganhou o mundo por meio das mídias, inicialmente pela TV, depois ganhou força pelo cinema e explodiu como fenômeno pela internet. Existem produções de todos os tipos e a cada ano diferentes canais de comunicação auxiliam na divulgação da modalidade.
Nas séries de vídeo jogos 'Assassin's Creed', 'Batman: Arkham Asylum', 'Batman: Arkham City', 'Mirror's Edge', 'Mirror's Edge 2', 'Prince of Persia', Brink, Tron: Evolution, Crackdown, Crackdown 2, Dying Light, inFamous 1 e 2, os personagens jogáveis, fazem uso do Parkour, andando por cima dos telhados das cidades, saltando muros, etc.
A movimentação do Parkour é permeada de variáveis, entretanto, muitos praticantes iniciantes preocupam-se demasiadamente com nomeclaturas e pouco com os aspectos mais relevantes do movimento em si e do ambiente onde pretende-se realizar a movimentação. Assim, é possível observar diversos aspectos e curiosidades acerca da movimentação, bem como do ambiente onde esta será realizada.[75]
É necessário observar ainda que, quando são abordadas as técnicas do Parkour, o aprendiz não pode simplesmente apenas reproduzir o que acabou de aprender, é necessário que o movimento aprendido lhe traga subsídios para melhorar a sua própria movimentação.[75] David Belle (2009, p. 59) ressalta esse aspecto do aprendizado e desenvolvimento do movimento único de cada pessoa: 'Quando um jovem me pergunta: "Você pode me mostrar como fazer isso?" Eu simplesmente respondo: "Não, eu vou te mostrar como faço, então você terá que aprender com sua própria técnica, sua própria maneira de se mover, seu estilo, suas habilidades e suas limitações. Você vai aprender a ser você mesmo, não outra pessoa."[17]
Entretanto, mais do que decorar uma lista infindável de movimentos ou nomes, são necessárias observações e ponderações sobre outros elementos mais importantes ligados à movimentação como:
As variáveis dos obstáculos são de grande valor e importância pois oferecem questionamentos aos praticantes durante o percurso.[75] Ainda segundo Angel (2011, p. 109) o "[...] ambiente é seu amigo, seu rival e seu parceiro [...]", mostrando que o cenário onde o praticante se coloca é rico em possibilidades de movimentação, oferecendo diversas maneiras de interagir com o ambiente.[2]
Embora existam diversos discursos, inúmeras fontes de informação e um sem-número de praticantes espalhados pelo mundo, é necessário ter discernimento para entender a modalidade, a qual vem passando por adaptações e modificações ao longo dos anos. Buscas minuciosas por documentários, livros e produções de cunho científico podem trazer muita informação proveitosa, enquanto utilizar-se de qualquer fonte como vídeos produzidos por canais do youtube ou blogs (com raríssimas exceções como os vídeos da série Parkour Literally[254][255][256][257][258]) em sua maioria, podem vir a elevar o grau de confundimento da prática, repassando informações sem proveito algum.
O parkour é uma prática saudável, pode ser considerado um esporte ou até mesmo um jogo, tem várias influências ginásticas e pode ser praticado em qualquer ambiente e por pessoas de várias idades, desde crianças até idosos, basta lembrar que deve ser uma prática responsável, visando uma melhor qualidade de vida e a própria saúde e, quem sabe, futuramente, níveis atléticos.
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