Paço dos Henriques
paço em Viana do Alentejo, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
paço em Viana do Alentejo, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Paço dos Henriques, igualmente conhecido como Paço Real da Vila ou Paço das Alcáçovas, é um monumento histórico na vila e freguesia de Alcáçovas, no município de Viana do Alentejo, no Alentejo, em Portugal.[1]
Paço dos Henriques | |
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Vista do Paço dos Henriques, em 2011. | |
Informações gerais | |
Nomes alternativos | Paço Real da Vila / Paço das Alcáçovas |
Inauguração | 1290 |
Website | Página oficial |
Património de Portugal | |
Classificação | Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 45/93, de 30/11) |
DGPC | 73830 |
SIPA | 2861 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Viana do Alentejo |
Coordenadas | 38° 23′ 42,46″ N, 8° 09′ 17,46″ O |
Localização do edifício em mapa dinâmico |
Foi construído nos finais do século XIII, no local do antigo castelo, por ordem do rei D. Dinis, para servir como residência real.[2] Ficou principalmente conhecido por ter sido o local de assinatura do Tratado de Alcáçovas, em 1479.[3] O Paço é considerado um dos principais monumentos no concelho de Viana do Alentejo.[4] Foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1993.[5][6]
O edifício situa-se junto à Praça da República, no centro da vila de Alcáçovas.[7]
O Paço apresenta uma miscelânea de estilos, sendo principalmente baseada na arquitectura gótica, com traços típicos do Manuelino regional.[8] Também tem elementos renascentistas,[8] e algumas influências da Arte mudéjar, nomeadamente nos embrechamentos das fachadas[9]
Além do palácio em si, o complexo inclui uma capela de Nossa Senhora da Conceição e um jardim.[4] Este último, igualmente conhecido como Jardim das Conchinhas[10] ou Horto do Paço dos Henriques, está separado do edifício pela Rua do Paço.[7] Tem uma planta de forma rectangular, ocupando uma área com cerca de 950 m², e é composto pela zona ajardinada com um oratório, várias infraestruturas hidráulicas e de lazer, incluindo um poço, uma nora, um tanque, um aqueduto, uma fonte e um conjunto de janelas conversadeiras.[7] Realça-se igualmente o pavimento, no estilo granadino, e a decoração em embrechados nas paredes e muros.[7]
Depois de obras de restauro em 2016, o edifício passou a funcionar como um espaço cultural e turístico, incluindo o auditório Tomás Ribas,[11] um posto de turismo,[12] e três salas de exposição, duas temporárias e uma permanente, dedicada à arte do fabrico dos chocalhos, classificada pela UNESCO como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.[4]
A ligação entre a povoação de Alcáçovas e a coroa portuguesa poderá ter-se iniciado em 1271, quando o rei D. Afonso III entrou em acordo com o Bispo de Évora, D. Durando I, recebendo o senhorio temporal do Vimieiro, Arraiolos e Alcáçovas, enquanto que o cabido ficaria com o poder espiritual.[13] Segundo o padre Joaquim Pedro de Alcântara na sua obra Breves Memorias da Villa das Alcaçovas, este acordo foi feito na sequência de disputas entre o monarca e o bispado de Évora pela jurisdição naquela região do Alentejo, tendo o antecessor de Durando, D. Martinho I, concedido o foral a Alcáçovas em 1259.[13] O rei D. Afonso III recebeu o título de senhor das Alcáçovas, tendo dando um grande impulso à povoação, e ascendeu-a à categoria de vila.[13] Segundo algumas fontes, o monarca terá confirmado o foral de D. Martinho e elaborado um novo em 26 de Abril de 1279.[14] O processo de desenvolvimento prosseguiu com o seu sucessor, D. Dinis, que concedeu à vila diversos privilégios, incluindo a reformulação do foral afonsino em 28 de Fevereiro de 1283, e em 15 de Fevereiro de 1299 concedeu um novo foral à vila.[14] Terá igualmente ordenado a construção, no local do antigo castelo, de um grande palácio,[13] que foi concluído em 1290.[2] O monarca teve uma especial apreciação pela vila de Alcáçovas, por ser um local que mantinha um clima aprazível durante a maior parte do ano, visitando-a especialmente de Verão.[13] O paço tornou-se numa residência habitual da família real portuguesa no Século XIV.[8]
Posteriormente, o rei D. Pedro entregou a vila de Alcáçovas ao Conde de Castro Xerez, D. Fernando de Castro, que tinha fugido para Portugal devido à perseguição do rei Henrique II de Castela durante a Guerra dos Dois Pedros, que opôs aquele monarca ao seu irmão, Pedro I de Castela.[13] Uma vez que D. Fernando de Castro prosseguiu depois a sua viagem para Inglaterra, Alcáçovas regressou à posse da coroa portuguesa.[13] A vila foi depois entregue por D. João I a Nuno Álvares Pereira, passando a fazer parte da Casa de Bragança.[13]
O Duque D. Fernando II ofereceu-a depois ao seu irmão João, senhor de Montemor-o-Novo, regressando para a coroa após a sua morte.[13] Em 1435, D. Duarte confirmou a classificação de Alcáçovas como vila.[14] Em 1447, D. Afonso V recebeu em Alcáçovas o embaixador castelhano Garcia Sanchez de Toledo,[13] tendo nesse ano sido ali assinado o contrato nupcial da princesa D. Isabel com o Rei de Castela, D. João II.[15] Em 1457 foi organizado um segundo tratado de casamento em Alcáçovas, entre a princesa D. Beatriz e o Infante D. Fernando, Duque de Viseu.[15] Em 4 de Setembro de 1479, foi assinado no paço o importante Tratado das Alcáçovas, que terminou a Guerra de Sucessão de Castela, e que poderá ter sido o primeiro no mundo a regular a partilha do globo entre duas nações, ao determinar que colónias é que pertenciam a cada país.[15] Anteriormente nesse ano, também tinha sido assinado em Alcáçovas o Tratado das Terçarias de Moura, que serviu como preliminar ao tratado de 4 de Setembro,[3] e que foi relativo à sucessão dinástica.[15] O Tratado das Alcáçovas foi depois ratificado em 6 de Março de 1480, na cidade de Toledo, em Espanha.[3]
Posteriormente, D. Afonso V cedeu a vila a D. Fernando Henriques, que lutou pelo lado português, apesar de ser filho do rei Henrique II de Castela, tornando-se no primeiro Senhor das Alcáçovas.[13] Desta forma, iniciou-se um período de domínio feudal sobre a vila, que perdurou até ao Século XIX, tendo alguns dos Senhores das Alcáçovas granjeado fama pelos seus feitos militares, tanto em Portugal continental como no ultramar.[16] O palácio passou assim a ser utilizado como a sede do condado.[17] O rei D. João II também residiu no paço, tendo sido ali que recebeu D. Afonso da Silva, embaixador da coroa castelhana,[13] e escreveu o seu testamento, em 20 de Setembro de 1495, onde nomeou D. Manuel como seu sucessor.[18] D. Manuel confirmou os privilégios já concedidos pelos seus antecessores a Alcáçovas, e concedeu à vila um novo foral, em 10 de Setembro de 1512.[14] O edifício também ficou conhecido por ter sido o local de vários casamentos da família real.[4] Foi também neste período que um dos senhores de Alcáçovas ordenou a construção da Capela junto ao Paço, originalmente dedicada a São Jerónimo, mas que mudou de invocação após ter-se instalado no seu interior a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, em 1680.[19] A instalação da capela levou a grandes alterações na área residencial.[20]
O Paço sofreu grandes obras de modificação durante o século XVI, que incluíram a instalação da Capela de São Jerónimo.[8] Por seu turno, o jardim poderá ter sido instalado entre os séculos XVI e XVII, de forma a criar uma zona de lazer junto ao Paço.[7] Durante sondagens arqueológicas em meados da Década de 2010, foram encontradas várias estruturas enterradas, como muros e pavimentos, e camadas de aterros, provavelmente ligados a obras de modelação do jardim, durante o século XVII.[7] Porém, a zona já tinha sido ocupada antes desta data, uma vez que foram igualmente descobertos muros e pavimentos, e níveis de aterro e derrube, que pertencem a um período anterior ao século XVI.[7]
Posteriormente, o edifício foi utilizado como Casa Nobre, e como solar pela família Henriques e outras importantes dinastias da região, não tendo sobrevivido quaisquer traços do palácio do século XIV.[8] Nos finais do século XIX, parte do antigo jardim foi eliminado, de forma a se poder instalar a Praça da República.[7]
Em 1924, o edifício estava arrendado a uma das principais famílias de Alcáçovas.[17] O Paço dos Henriques foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 45/93, publicado no Diário da República n.º 280, Série I-B, de 30 de Novembro de 1993.[5]
Depois de vários anos encerrado, o paço foi alvo de profundas obras de requalificação na Década de 2010, no sentido de reaproveitar o edifício para fins culturais e turísticos, tendo sido planeada a instalação de uma biblioteca, um posto de turismo, um núcleo museológico, um auditório e um centro documental.[21] Esta intervenção também abrangeu a zona envolvente, como o horto, a Capela das Conchinhas e a Praça da República.[22] Esta intervenção foi feita pela Câmara Municipal de Viana do Alentejo, tendo sido entregue à empresa Constructora Vila Franca.[21] Custou mais de um milhão e setecentos mil Euros,[4] financiados em 85% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional,[22] como parte do Quadro de Referência Estratégica Nacional / Alentejo,[4] após uma candidatura da autarquia ao INALENTEJO - Programa Operacional Regional do Alentejo.[22] Em Abril de 2015, as obras estavam a decorrer a bom ritmo,[10] estando em fase de acabamento em Dezembro desse ano, tendo já sido concluídas na capela e no oratório, faltando ainda alguns trabalhos no interior do edifício, no horto e na Praça da República.[23] As obras já estavam concluídas em Julho de 2016, estando nessa altura planeada a instalação de espaços pedagógicos e de exposições temporárias no piso térreo, enquanto que o primeiro andar iria albergar um centro de documentação, salas para exposições semipermanentes sobre a UNESCO, a produção de chocalhos, a paisagem, a história da vila e do concelho, e um espaço de trabalho.[24]
O Paço dos Henriques foi inaugurado, após as obras de requalificação, em 4 de Setembro de 2016, numa cerimónia que teve a presença do ministro adjunto, Eduardo Cabrita, do ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, do subdirector geral do Património Cultural, David Santos, e outros representantes do governo e das autoridades regionais e locais.[25] O presidente da Câmara Municipal de Viana do Alentejo, Bernardo Bengalinha Pinto, recordou a importância histórica do paço, e destacou a forma como o plano de requalificação fez com «o espaço regresse às suas origens e volte a ser um espaço global», passando a ser uma «peça fundamental na salvaguarda do nosso património cultural e na sua relação moderna com o turismo».[25] Eduardo Cabrita classificou o processo como «um bom exemplo a nível local que deve ser repetido em todo o país».[25] A cerimónia incluiu uma série de conferências sobre o programa PAGUS, que tem como finalidade a promoção do turismo sustentável e a preservação da paisagem e do património cultural imaterial euro-mediterrânico, e uma missa evocativa da família Henriques na Igreja Matriz de Alcáçovas.[25]
Entre Junho e Agosto de 2020, albergou a exposição de miniaturas Janelas do Alentejo, de Carlos Figueira.[26] Igualmente em Agosto, a Direcção Regional de Cultura do Alentejo organizou uma visita ao monumento, no âmbito do seu programa Alentejo, Patrimónios, que tinha como fim divulgar a cultura e as artes tradicionais, e promover novas dinâmicas económicas e turísticas na região.[27] Em Setembro, foi organizado um ciclo de quatro conferências no Paço dos Henriques, em comemoração dos 541 anos da assinatura do Tratado de Alcáçovas.[28] Em Outubro desse ano, o monumento foi visitado pelo embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal, George Glass, durante uma viagem pelo país, organizada no âmbito do final do seu mandato.[29]
Entre 2015 e 2016, foram feitos trabalhos arqueológicos no horto, no âmbito de um programa de recuperação daquela área, tendo sido descobertos vários níveis de alterações, incluindo aterros dos Séculos XIX e XX para nivelamento do solo, e várias estruturas e camadas de datas anteriores.[7] Desta forma, constatou-se que anteriormente o horto estava dividido em duas zonas distintas, uma funcional, composta por um logradouro e o espaço do engenho hidráulico, e outra com fins recreativos, assinalada pela presença de elementos decorativos.[7] Estes dois espaços eram divididos por outras estruturas, como nichos ou o aqueduto.[7] Foram encontrados indícios de um edifício antigo, que estava dividido em três compartimentos, sendo um deles uma cozinha com lareira, enquanto que o outro deveria ser um local de repouso ou uma sala, pelo qual se fazia o acesso ao horto, e que tinha um armário embutido na parede.[7] O terceiro compartimento, de pequenas dimensões, poderá ter sido utilizado como sala de arrumos.[7] Este provavelmente poderá ser a Casa do Hortelão, que foi referida num documento de 1680.[7] Foram igualmente descobertos vestígios de estruturas lúdicas, como janelas conversadeiras, e de jardinagem, como floreiras, canteiros e canalizações, além de partes do pavimento no estilo granadino, e elementos decorativos.[7] Em termos de espólio, foram recolhidos principalmente peças de cerâmica comum e de construção.[7]
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